Um texto que a maioria dos comentadores
exalta, como excelente, alguns fornecendo achegas de grande pertinência. Eu, a
respeito dos pedantismos actuais de desumanização, que Helena Matos refere, só
recordo os meus primeiros espantos, quando comecei a ouvir jovens colegas a
chamar “crias” aos seus bebés: “a minha
cria” – o que me punha em transe admirativo, pela pujança
manifesta.
AMBIENTE: O corpo
humano no planeta do bom tempo /premium
O corpo humano desumaniza-se. Já o
corpo dos animais gera ternura, carinho e tudo nele obedece a esse mantra do
nosso tempo: ser natural num planeta em que o clima oficial é um eterno bom
tempo.
1 .A
diferença tornou-se-me óbvia num consultório veterinário. No início algo
parecia estranho, fora de sítio. O veterinário tocava no animal. Apalpava-o.
Via-lhe os olhos, os dentes, as orelhas, as patas. Tocava-lhe uma e outra vez.
De repente, fez-se um clique e percebi o que ali me surpreendia: há quanto
tempo não têm os humanos uma consulta assim? Uma consulta em que o médico os
olhe e lhes toque? E não, a culpa não é apenas do monitor do computador
em volta do qual giram agora as consultas médicas (nesta matéria do computador
como protagonista principal da consulta, público e privado não se distinguem).
A
verdade é que a nossa relação com o corpo humano é cada vez mais desumana. E
nada como ir a um consultório veterinário para o constatar: ali não há medo de
tocar, nojo dos vómitos, nem horror a ter de limpar um animal incontinente. As
pessoas lidam actualmente com muito mais naturalidade com o corpo dos seus cães
e gatos do que com o dos seus familiares.
A própria linguagem acusa esta
humanização dos animais e desumanização dos humanos: ao mesmo tempo que num consultório veterinário ou num
jardim é cada vez mais difícil marcar que gostando nós muito do nosso animal
ele é isso mesmo – um animal e não o “nosso rapaz” ou “a menina” – criou-se
para os humanos um Estatuto do Cuidador Informal que se não tivermos atenção
acabará com as referências a pais, filhos, mães, irmãos… transformando-nos a
todos em assépticos cuidadores. O apagar do parentesco ou a sua
transformação numa ficção ideológica – crianças com duas mães ou dois pais no
seu registo de filiação – é um reflexo desse presente desencontro entre o corpo
humano e a ideologia.
Não por acaso tudo neste nosso corpo se tornou pretexto para aplicação
de uma moldura ideológica: o corpo
tem sexo mas ao sexo há que aplicar a grelha do género. Se do sexo
passarmos para a cor da nossa pele entramos no despotismo do absurdo: oficialmente
combate-se o racismo mas simultaneamente racializa-se de forma obscena a
sociedade. Veja-se a candidata por Lisboa do partido Livre que
transforma a sua candidatura numa questão de cor de pele, declarando esta coisa
que seria patética não fosse um exercício de má fé:“Os eleitores vão
decidir se desejam uma mulher negra no Parlamento”…
Sim,
o corpo humano é cada vez mais a matéria-prima da demagogia neste admirável
mundo novo.
2. Na Amadora passeiam pelas ruas porcos vietnamitas provavelmente largados por alguém que nunca imaginou
como ia crescer o porquinho que levara para casa.
Na
televisão e revistas da especialidade somos regularmente informados naquele tom
reservado às notícias fofinhas que o artista A se tornou vegan para não
provocar impacto ambiental no planeta, como se uma alimentação
exclusivamente de legumes e cereais não tivesse impacto ambiental algum, nomeadamente
nas maiores áreas que teriam de ser afectas à agricultura. (Amiguinho,
amiguinho mesmo não digo do planeta no seu todo mas pelo menos do ambiente
em Portugal era pelo menos uma vez por mês trocar o tofu pelo cabrito!)
No
campo proliferam os javalis. Os
prejuízos são muitos. A medo, as autoridades autorizam mais caça àqueles
animais – a caça agora chama-se “correcção extraordinária da densidade de
javalis”. Não fosse soltarem-se as fúrias dos auto-proclamados amigos dos
animais, o presidente do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas
(ICNF), Nuno Banza, viu-se na necessidade explicar que “a esterilização dos animais não é solução, pois ‘implica
chegar até eles e manuseá-los’ e ‘não se usa em animais selvagens com uma
dispersão territorial como a do javali, simplesmente porque não tem efeito’.”
Nunca
tantas pessoas declararam de forma tão expressiva o seu amor pelos animais e
pela Natureza mas nunca a ignorância sobre a Natureza, o campo e os animais foi
tão grande. É certo que às vezes até é melhor que seja assim porque os animais
no seu estado mais natural têm comportamentos que os activismos não toleram,
como acontece com os galos que estas
senhoras espanholas acusam de violar as galinhas.
Tudo
isto se está a traduzir numa produção legislativa insana feita para agradar aos
eleitorados urbanos — assilvestrados – e numa concepção “bilhete-postal dos
anos 30” do mundo que está para lá das portagens: nenhuma actividade económica,
agrícola ou industrial ali pode ser desenvolvida que não tenhamos de imediato o
problema da descaracterização. Descaracteriza. Exploração de lítio? Descaracteriza… E assim, cheinho de carácter, ao
outrora mundo rural resta ser uma reserva de reformados, com feiras medievais e
festivais gastronómicos.
3. A
cereja no topo do bolo desta comunhão com a Natureza a partir do sofá da sala é
a ansiedade provocada pelas alterações climáticas. Ao ver a histeria e a
desinformação em torno do assunto percebe-se melhor o significado das descobertas
arqueológicas agora feitas no Perú: os esqueletos de centenas de crianças
executadas em sacrifícios humanos entre 1200 e 1450. Estes sacrifícios visavam acalmar os deuses cuja
fúria, acreditavam os autores destas mortandades, se traduzia em inundações e
outras catástrofes meteorológicas.
Hoje
não se sacrificam crianças, sabe-se que o responsável por essas alterações
climáticas foi o El Niño (um fenómeno que provoca o aquecimento anormal das
águas do Pacífico) mas a histeria, essa, mantém-se. Fala-se de travar as
alterações climáticas ou negam-se como se tal estivesse humanamente ao nosso
alcance: por exemplo, os agora comovidos com o funeral do glaciar na
Gronelândia não se interrogaram sobre a data do nascimento desse mesmo glaciar?
É que esse glaciar não esteve sempre lá. Aliás, foi por ele nem sempre ter
existido que a Gronelândia foi povoada pelos vikings. Quero com isto dizer que
as actividades humanas não intervêm no clima? Não. Mas fazer de conta que antes
do aparecimento da indústria (para estas cabeças a agricultura não tem impacto
ambiental) a Terra era um paraíso faz parte de um uso político do catastrofismo
ambiental que tem o seu símbolo naquela fotografia de António Guterres com água
pelos joelhos, num local onde as águas do mar não registam qualquer subida.
A história das alterações climáticas é também a história de como,
perante o que não controla, a humanidade acaba por vezes a virar-se contra
si mesma.
P.S.: Antes que
comece o coro sobre o problemas das armas nos EUA recordo que neste mesmo
sábado foi morto um
jovem em França e feridas oito pessoas por um homem que empunhava uma faca.Que há
semanas, em Inglaterra, um grupo de
adolescentes matou com uma chave de parafusos um homem que
tentou pôr fim à briga em que estavam envolvidos. Que na Alemanha
um homem empurrou com as suas mãos duas mulheres e um criança para a linha do
comboio, tendo a criança de oito anos morrido. Que os ataques
com ácido se multiplicam no Reino Unido: estima-se que
aconteçam 15 ataques com ácido por semana…
COMENTÁRIOS:
Tiago Manso: Um artigo
inteligente e sensato sobre as psicoses eco, climática e social em que nos
querem induzir!
João Brandão: Uma colecção
de situações bem elaborada que ilustra eloquentemente o retrocesso
civilizacional em o ocidente continua a empenhar-se!
Silvia Morim Costa: Excelente
artigo!
J.C. Maya: Mais uma vez uma grande crónica. Sem complexos e muito actual. Parabéns.
Manuel Elias: Parabéns. Grande crónica.
Jorge Maria Soares Lopes de Carvalho: Parabéns
Helena o seu artigo está um assombro !! Obrigado
Maria L Gingeira: Nunca como
hoje adquiriu tanto sentido a expressão “mundo cão”. Parabéns pelas suas
crónicas que nos levam a reflexões profundas
AGS 1951: Texto excelente, verdadeira maravilha de observação!
Pinguim Liberal: Não consigo
entender como a Helena Matos consegue sempre será tão assertiva. A minha
admiração sincera por esta grande mulher. Mais um artigo excelente. Parabéns!
dragone, Pedro: Os animais e
o animalismo, a obsessão doentia com as alterações climáticas e as redes
sociais estão a infantilizar e a imbecilizar milhões de pessoas por todo o
mundo. As pessoas tendem a ganhar uma falsa sensação de poder e importância, que
de facto não têm, e tornarem-se demasiadamente individualistas e centradas
nelas mesmas, num processo destrutivo progressivo das relações interpessoais
convencionais baseadas no contacto presencial com outras pessoas. Contacto que
é insubstituível na formação de relações afectivas com outros seres humanos,
sem as quais a espécie não poderá continuar a evoluir como evoluiu até hoje.
Colocando-se a si própria em alto risco de regressão e extinção. E por que é
que isto acontece? Porque o animal doméstico vai progressivamente
preenchendo o vazio relacional que as pessoas vão criando ao longo da vida e
que se acentua drasticamente com o uso das redes sociais, esvaziando a
substância essencial da relação interpessoal presencial sem a qual caminharemos
para o desastre. A paranóia das alterações climáticas faz o resto
distraindo-nos da verdadeira ameaça que nos espreita que é precisamente a
destruição em massa dessas relações interpessoais afectivas presenciais
potenciada pela combinação venenosa do animalismo com o uso descontrolado das
redes sociais. Este é o diagnóstico e qual, a terapia? É simples: “mandemos
f*der” as redes sociais, o cão, o gato e o periquito e criemos mais e melhores
relações com outras pessoas, a começar pela mais próximas, à moda antiga,
"face-to-face", (almoços, convívios, passeios, visitas,…) porque não
há nada, absolutamente nada, que as consiga substituir. É claro que para fazer
tudo isto não é necessário esquecer o animal de estimação, para quem o tenha,
nem deixar de usar a Internet. O que é necessário e importante é mantê-los no
devido lugar não deixando que se substituam ao que é essencial.
Maria Campos: Está EXCEPCIONAL!
Maria Nunes: Artigo brilhante e muito oportuno.
Maria Madeira: Brilhante
artigo. Parabens Helena Matos. Não desista de assinalar e denunciar as
hipocrisias desta sociedade socialista que nos domina.
Rui Mateus: Excelente
artigo de opinião Helena. Parabéns.
Maria Emília Ranhada Santos: Porque
não só, a ideologia de género é uma mentira, mas tudo o que vem com ela, também
o é, as feministas desentenderam-se! Este pequeno resumo explica um pouco, mas
no fim está o artigo que ainda se pode buscar na internet: “Nos Estados Unidos,
médicos estão a fazer mastectomias em meninas de treze anos, levando meninas de
catorze anos para a menopausa e castrando cirurgicamente meninos de dezasseis
anos”, disse Chart, presidente do conselho do Women’s Liberation Front e redactora
no Feminist Current. “Assim, algumas de nós vamos continuar insistindo que a
identidade de género e a autoidentificação são uma forma odiosa de
discriminação contra as mulheres e uma ameaça às crianças, além de silenciar as
nossas reclamações quanto ao assédio sexual”. (do artigo: “Como o exterminismo
de género na ONU ameaça os direitos das mulheres”)
Amélia dos Santos: Parabéns
Helena. O seu artigo é arrepiante, é certo, mas para aqueles de nós que temos
conhecimento directo de muito do que refere, não poderia ser mais factual,
rigoroso e actual. O tenebroso
totalitarismo do comunismo radical está aí, é bem palpável e não conhece ou
aceita limites de qualquer ordem: corpo, sexo, alimentação, animais, natureza,
ensino, história; enfim, tudo - de hoje mesmo é a notícia que logrou já
capturar a organização internacional de museus e está prestes a assegurar que
também estas instituições sejam empregues como instrumentos de doutrinação
marxista. É só mais um passo, num percurso criminoso que se iniciou com a
captura do ensino público, e a subtracção, em larga medida, dos filhos aos pais
pelo estado para fins de doutrinação ideológica. A estupidificação das massas,
através do ensino e da "comunicação social" capturados, como elemento
facilitador da revolução, é agora um objectivo totalmente alcançado pelo marxismo
pós-modernista. A não ser que a razão esclarecida que ainda resta na
Civilização Ocidental Judaica-Cristã opte pela capitulação total, a batalha
pela liberdade individual e colectiva é hoje um imperativo absoluto e o conflito,
de proporções até hoje nunca experienciadas, parece ser inevitável.
António José de Almeida: Cara Helena, o glaciar ter
derretido é perfeitamente natural, o que não é natural é a velocidade com que
derreteu. Essa é a grande confusão dos que defendem que as alterações climáticas
são normais. É óbvio que sempre existiram mas não à velocidade com que estão a
acontecer. Gosto muito dos seus artigos.
Maria José Melo: Algumas das
temáticas das actualidade que demonstram a ignorância e/ou a desonestidade
intelectual que grassam em Portugal e no Mundo “civilizado “. Muito bem,
Helena! Tudo isto se vai virar contra nós. E já está a começar...
Ana Ferreira:
HM prossegue a sua cruzada na vã
tentativa de se livrar da peçonhenta camada de tecnocrata, plena de
simbologias, credos, mesmo eugenias, que lhe ficou para sempre agarrada à pele
do tempo MRPPtista, não obstante tentar refugiar-se no outro extremo, um
desespero que a faz olvidar que estes tocam-se.
Adelino Lopes: Cada vez mais fã da HG. Hoje a proposta é sobre os valores nas pessoas; talvez
a alteração deles. A este respeito refiro 2 pontos. 1) Lembram-se da
politização do humanismo em oposição aos tecnocratas? Pelos vistos, nem
tecnocracia, nem humanismo. Mas os “humanistas” andam bem tratadinhos. 2) É
cada vez mais claro para mim que o fim do serviço militar obrigatório é um erro
e que condiciona as pessoas à saída da adolescência. Não quero saber das armas;
o que interessa é a formação cívica, a qual não era dada ostensivamente como
tal. Mas as pessoas aprendiam-na inconscientemente. Não havia ideologia.
Stra. Anabela Faísca: Bom dia Helena Matos. Grande artigo, como sempre. Pela imposição de visões fanáticas na
alimentação, na relação do homem com a natureza, no papel do estado na
"mediação" nos muito temidos (pelos nossos vidrinhos vegans,
pacifistas e globalistas) conflitos sociais, desarticula-se, a partir das
gerações mais novas, toda uma civilização, que liderou o mundo durante séculos. Perdida a confiança, alguns dos nossos miúdos
não vêem a diferença entre a liderança dos EUA e da Europa e as da China,
Rússia ou Irão. Muitos deles acreditam que
as tecnologias resolverão todos os problemas e que dentro de algumas décadas os
robots farão todo o trabalho, restando-lhes dedicarem-se às actividades de que
mais gostam. Não tenho dúvidas de que o
dinheiro mais mal gasto, a pior aposta que tem sido feita nas últimas décadas
foi a do ensino universitário; os jovens não foram instruídos, foram enganados.
A falta de referências da vida prática nem sequer lhes permitiu desenvolver
sentido crítico sobre o que lhes estava a ser "impingido" pelos
professores, que aliás devem padecer do mesmo mal, pouca experiência fora da
bolha do ensino e da "manjedoura" do estado, ditou este triste
resultado.
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