«Trouxe o filho de Jápeto do Céu
O fogo que ajuntou ao peito humano,
Fogo que o mundo em armas acendeu,
Em mortes, em desonras (grande engano!).
Quanto milhor nos fora, Prometeu,
E quanto pera o mundo menos dano,
Que a tua estátua ilustre não tivera
Fogo de altos desejos, que a movera! (OS LUSÍADAS; IV, 103)
O fogo que ajuntou ao peito humano,
Fogo que o mundo em armas acendeu,
Em mortes, em desonras (grande engano!).
Quanto milhor nos fora, Prometeu,
E quanto pera o mundo menos dano,
Que a tua estátua ilustre não tivera
Fogo de altos desejos, que a movera! (OS LUSÍADAS; IV, 103)
Excertos de PROMETEU AGRILHOADO
de Ésquilo (< “CLÁSSICOS DO TEATRO GREGO” –Ediclube):
(Entram
em cena Força e Violência arrastando o corpo de Prometeu. Hefesto segue-os
coxeando)
FORÇA – Eis-nos chegados aos confins do mundo,
o país dos Citas, um deserto nunca pisado. Hefesto, executa as ordens dadas por
teu pai. Amarra este celerado no cimo desta rocha escarpada com cadeado diamantino
que ninguém possa quebrar. Porque roubando o tesouro que era teu, o fogo
fulgurante, pai de todas as artes, dele fez oferta aos mortais. Justo é que os
deuses o castiguem por este crime, para aprender a resignar-se ao domínio de
Zeus e assim abdicar de favorecer os homens…..
…. (Entra
o Coro das Oceânidas, num carro alado)
CORO: Nada temas, pois amigo é o bando que,
num bater veloz de asas chegou a este cume, após ter vencido, a custo, a
relutância de um pai. Conduziram-nos os rápidos ventos, pois o ressoar de aço
batido penetrou até às profundezas da nossa caverna, expulsando de nós a
timidez e, descalças como estávamos, nos precipitámos neste carro alado.
PROMETEU: Ai de mim!
Filhas da fecunda Tétis, filhas do Oceano, cujas marés sem repouso rodeiam toda
a terra, olhai-me. Vede com que férreos laços me prendem ao cimo desta escarpa
onde terei de suportar a minha terrível vigília.
CORO: Vejo-te, Prometeu, e um temor encheu de
súbito os meus olhos ao contemplar o teu corpo que definha sobre essa rocha,
ultrajado por grilhões inflexíveis. Novos senhores governam o Olimpo e, em nome
das recentes leis, Zeus reina com tirania e aniquila hoje os fortes de outrora.
PROMETEU: Antes me
tivesse lançado para as profundidades da terra, para o Hades, leito dos mortos,
no imenso Tártaro, e me acorrentasse cruelmente com cadeias inquebrantáveis, de
modo que nenhum deus ou ser algum rejubilasse com o meu sofrimento. Em vez
disso, mísero de mim, eis-me o joguete dos ventos, sofrendo para gáudio dos
meus inimigos.” …….
É certo que a cena de Greta Thunberg,
nos Estados Unidos, chorosa, suplicante e ameaçadora, rodeada do seu coro de
acompanhantes, me lembrou qualquer tragédia do Ésquilo, do Sófocles ou
do Eurípedes, e sobretudo até das
várias heroínas que um destino cruel amarrou, aos seus ódios ou amores, Fedra, Antígona, Medeia, ou mesmo o
desgraçado do Édipo que o destino
inflexível condenou… Mas os lamentos de Prometeu exemplificam igualmente o
castigo imposto quando se desafiam os deuses, daí a escolha do excerto de
Ésquilo.
Paulo
Tunhas, pelo contrário, dá-nos a
lição de Greta, como exemplo de fanatismo - falso
porque se diz iluminado, em condenação ameaçadora, assumindo papel de vítima e de
algoz. Creio que tem razão, Paulo Tunhas, gostei a
valer da sua crónica, e reponho a sua frase em epígrafe, excelente síntese do
que nos informa o seu texto, sobre uma cumplicidade entre jovens e adultos numa
questão que leva aqueles a um ódio pouco sadio, em benefício das posições
ideológicas que valorizam sinistramente esse ódio: “Esta nova exigência de unanimidade em torno de Greta Thunberg
representa uma exigência de regresso à faceta mais negra do pensamento
adolescente, a outra face, a lunar.”
Seja como for, não fora o fogo roubado a
Zeus, pelo atrevido do Prometeu, não estaríamos nós agora em luta titânica com
uma Terra vingadora, os Gregos já o sabiam…
A lição de Greta
Thunberg /premium
Esta nova exigência de unanimidade em torno de Greta Thunberg
representa uma exigência de regresso à faceta mais negra do pensamento
adolescente, a outra face, a lunar.
PAULO TUNHAS
OBSERVADOR, 25 sep 2019
Gosto
muito de ver aqueles grupos de adolescentes que, antes ou depois dos concertos
dos seus ídolos nesses festivais rock que hoje em dia há em todo o lado, são
entrevistadas pela televisão e cantam as músicas favoritas deles. Naquelas
idades, a experiência da música é muito a experiência da repetição e,
sobretudo, a experiência de uma comunidade de gosto que é quase uma exigência
de unanimidade, que, de uma maneira geral, governa as amizades nessa altura. E aquele entusiasmo que se vê naquelas caras e
naquelas vozes diz precisamente isso nos seus momentos felizes.
Com
a idade, essa exigência de unanimidade vai-se, graças a Deus, perdendo, embora
subsista sempre em nós, em matéria de gosto, uma reivindicação tácita de
universalidade, que aprendemos, pelo menos na aparência, a dominar. Noutros domínios, como o político, a exigência de
unanimidade é mais superficial, menos originária, e mais facilmente
controlável. E, quando não o é, o feroz desejo de um acordo integral conduz a
resultados que não são nunca bons, para falar delicadamente.
O
meu desconhecimento da música pop contemporânea roça desgraçadamente o
absoluto, embora de vez em quando faça um esforço ridículo para ganhar alguma
ciência no capítulo. De qualquer maneira, isso não interessa. Li no outro dia,
numa história da música soul, o excerto de uma entrevista de uma cantora gospel
(gosto muito de música gospel), Cissy Houston (a mãe de Whitney Houston),
onde ela dizia que “quando se fala sobre uma coisa viva – e eu acredito que
a música é uma coisa viva, que respira – temos de compreender que ela avançará
e mudar-se-á para sobreviver”. A música pop de hoje em dia, sobre a qual
nada sei, passado há muito o transcendente saber dos meus treze anos, é
certamente o resultado dessas metamorfoses necessárias à sua sobrevivência. As
formas desenvolvem-se, sem que seja por qualquer necessidade própria
determinável, mas a partir de invenções de profundidade variável, umas a partir
das outras. O importante é que dêem prazer.
Mas voltemos ao princípio, à
exigência de unanimidade. Ela é natural na idade certa e no lugar certo, que é
o das miúdas de que falei no princípio. E, nesses casos, tem a graça própria ao
natural. Transposta para outros contextos, há nela qualquer coisa de inquietante
e de ameaçador. Ora, vivemos em tempos mediáticos de uma exigência de
unanimidade como não me lembro de alguma vez ter vivido, isto é, tempos de
regressão sistemática e generalizada. Na
maior parte das vezes, uma exigência de unanimidade negativa, definida a partir
da obrigação de detestar – e detestar integralmente, sob a forma da radical
abominação – pessoas tão diferentes como Trump, Bolsonaro ou Boris Johnson.
Qualquer acordo, por mais pontual que seja, com algo que tenham dito ou
escrito, é anátema e faz com que passemos a “trumpistas”, etc. Não é bom viver
assim.
Nos
últimos tempos surgiu, no entanto, na figura de Greta Thunberg, um
novo objecto de unanimidade, desta vez positiva. É muito
curioso. Não por causa da questão das “alterações climáticas” em si – uma
questão importante e interessante, entre outras coisas, porque toda a
controvérsia é “impura”, cruzando elementos científicos e políticos numa
proporção extrema –, nem sequer porque há um óbvio drama humano ali, um drama
que só muito dificilmente terá um final feliz. É curioso porque esta nova exigência de unanimidade em
torno de Greta Thunberg representa uma exigência de regresso à faceta mais
negra do pensamento adolescente, a outra face, a lunar, da moeda do
comportamento das miúdas que cantam na televisão as canções dos seus heróis
musicais. E porque há um coro de adultos (excepção feita a Trump, diga-se a
verdade), a começar por António Guterres, que fazem a triste figura da mais
declarada inferioridade e mostram o mais acabado temor reverencial.
O
discurso de Greta Thunberg na “Cimeira do Clima” foi um momento de perfeito
horror. Primeiro, porque, patentemente, a “emoção” foi friamente encenada do
princípio ao fim, algo que saltava aos olhos do mais distraído dos humanos. Não
havia um átomo de veracidade naquela intervenção, se exceptuarmos, concedo, um
ódio cego e monomaníaco. Confesso
que, nunca tendo ouvido um discurso dela, a coisa me surpreendeu: a terrível
simulação surpreendeu-me. Depois, porque todas as palavras transportavam
ameaças de vingança divina. O natural dogmatismo da adolescência assumia
ali as proporções do fanatismo e do “tudo ou nada” mais extremo. “Como se
atrevem?”, diz o doce anjo da vingança, que acusa os seus passivos auditores de
lhe terem “roubado a infância” com as suas “palavras vazias”. Eles que não
contem jamais com o seu perdão.
Ao
ouvir aquele discurso, a luz fez-se no meu espírito. O fanatismo – todos os fanatismos –
não vive de nenhum sentimento absoluto da verdade do que se crê ou diz, de onde
qualquer cepticismo se encontra arredado: vive do puro desejo de impor a sua
crença aos outros. Por outras palavras, um fanático não precisa de se encontrar
capturado por uma qualquer iluminação fantástica. Define-se sim pela necessidade de fazer
crer que foi tocado por essa iluminação, como meio para a impor aos outros. É o
desejo de a impor, e não qualquer efectiva expressão do seu íntimo mais
profundo, que o move. Para mim, foi essa a inesperada lição de Greta Thunberg.
COMENTÁRIOS
Marie de Montparnasse: As alterações climáticas são globalmente uma realidade
que toda a humanidade sente. Negar este facto não é inteligente. Por isso é urgente
pôr os especialistas a falar e a apontar eventuais soluções. Não será pacífica
qualquer solução que mude o estilo de vida da humanidade quer nos países
desenvolvidos, quer nos em via de desenvolvimento ou nos pobres. Nada irá mudar
com o choro e a revolta de Greta, os aplausos dos políticos e os seus belos
discursos ou discussões e acções estéreis pelo mundo.
Antonio Fonseca > Marie de Montparnasse:
As alterações climáticas são uma
realidade mas por um lado o alarmismo em torno delas é muito exagerado e por
outro não são, ou só numa pequeníssima parte, responsabilidade.
Isabel Martin Benito: Esta
miúda tem perturbações mentais (que ela própria faz questão de exaltar...) e,
talvez como consequência disso, teve uma reacção totalmente desmesurada a um
documentário que viu na televisão. Assustou-te, e veio para a rua fazer
barulho. Até aqui, nada de extraordinário… Um "fait divers" como
qualquer outro, sem importância NENHUMA. O problema é quando se dá protagonismo
a este tipo de situação, e a notícia corre o mundo inteiro, abrindo
telejornais! A partir do momento em que ela passa a ter visibilidade, há
imediatamente quem a "sugue", e se aproveite, nomeadamente, da falta
de discernimento própria de quem só tem 16 anos…Esta é uma miúda excessivamente
apavorada, sem autoridade ou conhecimentos científicos rigorosamente nenhuns,
para além da lavagem cerebral a que foi submetida, e a quem gente sem
escrúpulos vai alimentando o pânico mais e mais, com o objectivo de que ela
consiga transmitir esse pânico a mais gente, essencialmente aos jovens
facilmente "manipuláveis" como ela.Ora, o pânico e a falta de
discernimento vão SEMPRE de mãos dadas (é, aliás, a razão de haver mecanismos
"anti-pânico"…). Promover o pânico é, consequentemente, promover a
falta de discernimento e o bloqueio do raciocínio, que é o que se está a fazer,
de forma absolutamente premeditada e consciente. O que se deve fazer perante
uma catástrofe iminente é tentar manter a CALMA, e controlar, precisamente, o
pânico…Tendo em conta que se está a fazer precisamente o contrário no caso das
alterações climáticas, é motivo para nos questionarmos…
Maria Mateus > Isabel Martin Benito:
100% de acordo. O que é triste é ver
gente supostamente inteligente tratar esta atrasadinha mental como se fosse a
nova Joana d’Arc ou o oráculo de Delphi. O politicamente correcto destrói.
Isabel Martin Benito > Antonio Vieira Malato:
Eu gostaria de ter visto discursar na
ONU, em vez da Greta, um cientista reconhecido, com 30 anos de experiência, e
com estudos credíveis publicados sobre o clima. Em vez disto, temos uma
adolescente, sem nenhuma autoridade científica, aos berros, a gritar:
"Socorro, que me roubaram a infância e que vamos todos morrer!". Isto
parece-lhe normal?! É este o meio "inteligente" para
"informar" as "massas"?
fernando Simões: Greta é um
caso de exploração de crianças. É descarada a manipulação de uma criança, ainda
por cima com a doença de Asperger.
Ana Ferreira: Deve portanto
concluir-se que, independentemente da realidade aterradora que os rodeia, os
adolescentes deveriam, exclusivamente, cantar alegremente. Como é possível
iludir a alma por uma ideologia!?
Isabel Martin Benit > Ana Ferreira: Não. Deve
concluir-se que esta é uma adolescente em pânico, que precisa de ser acalmada e
não encorajada… Que deve voltar à escola, e tratar do futuro que,
efectivamente, TEM pela frente, e que não é tão curto como a fazem acreditar…O
que estão a fazer com esta miúda é um abuso, e um crime, porque ela sofre
realmente com aquilo de que diz. O aproveitamento é absolutamente óbvio e
vergonhoso! Este aproveitamento, sim, é bem capaz de destruir o futuro dela…
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