segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Afinal havia outros…


Textos de SF, sobre um tema tão relevante como este ligado à Economia. Ei-los:
HENRIQUE SALLES DA FONSECA     A BEM DA NAÇÃO, 09.09.19
Letras, livranças, cheques e outros títulos cambiários titulados em Bitcoins…  
Pergunta- Como é que uma moeda que se pretende imaterial assume a materialidade inerente àquele tipo de títulos?
Resposta: Não assume.
Conclusão Até prova em contrário, as moedas virtuais serão, na sua funcionalidade, moedas de utilização parcial, moedas de segunda, moedas menores.
Pergunta: – Como é feito o endosso inequívoco dos títulos cambiários caso também eles evoluam para a imaterialidade?
Resposta – Não se faz.
Conclusão Chacota à parte, vinga a opinião daquele que dizia que «as dívidas não são para pagar».
Mas como não me quero pôr na posição de um «botas de elástico» e, pelo contrário, acho que se deve evoluir,  transcrevo o que ao Dr. Palhinha Machado parece necessário para que um novo sistema de pagamentos funcione:
[Tudo poderá funcionar] se a Base de Dados for consistente e se a sua consistência for testada movimento a movimento e a qualquer momento. Ora, a regra das “partidas dobradas” nos movimentos carregados, só por ela, não garante a ausência de discrepâncias e de erros (como a acção do BdP tem demonstrado à evidência). Outros testes de consistência bem mais robustos terão de ser adoptados, mas não tenho ouvido falar de quaisquer outros, para lá da prevista existência de imagens repetidas da Base de Dados (como se fossem múltiplos back-ups) por toda a rede (alguns outros testes de consistência vêm-me à ideia, mas talvez violem a legítima confiança dos utilizadores). E ficam sempre por saber duas coisas: (i) como serão corrigidos erros e discrepâncias que sejam detectados, uma vez que este “sistema de pagamentos” não está dotado de uma infra-estrutura institucional? (ii) como será possível proceder a auditorias independentes sem libertar a chave de desencriptação? No mundo da finança, estar convencido (como os promotores das Bitcoins parecem estar) de que erros e discrepâncias são de todo em todo impossíveis, é perigoso. E presumir que a ausência de uma infra-estrutura institucional torna supérfluos o dever de prestação de contas e o trabalho de auditores independentes não parece especialmente sensato. Pois, como diz o Autor que vimos seguindo, «se»…
E pergunto-me se esta iniciativa inventiva de moedas descontroladas não terá apenas como objectivo lançar o caos global para, daí, sacarem tudo em proveito deles próprios, os inventores dessas moedernidades.
Setembro de 2019 Henrique Salles da Fonseca
BIBLIOGRAFIA: «Bitcoin & Libra» - A. Palhinha Machado, Julho de 2019
COMENTÁRIOS
Anónimo, 09.09.2019: Confiar em Bitcoins? Eu nem no Euro ou dólar confio! Os "donos" da finança fazem o que querem e ainda dão risada na cara dos Bancos Centrais
HENRIQUE SALLES DA FONSECA     A BEM DA NAÇÃO09.09.19
Para além das funções descritas anteriormente de garante da confiança na moeda que emite, o Banco Central faz também (e passe o pleonasmo) de centro dos vários sistemas de pagamento que funcionam na sua zona monetária. E corresponde-se de igual para igual com os outros bancos centrais com quem constitui solidariamente uma rede que se pauta pelos mesmos princípios, os tais que pretendem garantir a idoneidade das moedas respectivas. No nosso caso, o Banco de Portugal faz parte do Sistema Europeu de Bancos Centrais cujo cume é, naturalmente, o Banco Central Europeu, o «dono» do Euro.
Super resumidamente em relação ao texto do Dr. Palhinha Machado que venho seguindo e que refiro na bibliografia, eis uma infraestrutura institucional cuja função mais importante (penso eu) consiste em nos permitir confiar na moeda com que nos pagam os nossos créditos.
Ora, se as criptomoedas – Bitcoins, Libras do Facebook e outras que tais – se vangloriam de dispensarem toda essa burocracia inerente à infraestrutura institucional, põe-se a questão de saber que confiança podemos ou não depositar nessas tais moedas encriptadas apenas registadas em computadores como mera Base de Dados. E se esses computadores forem «visitados» por hackers?
Do texto base que venho seguindo, transcrevo:
A ausência de uma infra-estrutura institucional suscita perguntas incómodas: (i) quem assegura a manutenção da Base de Dados? (ii) quem detecta, contraria e elimina tentativas de violação da Base de Dados e/ou de corrupção dos registos que dela constem? (iii) ou presume-se que os algoritmos de encriptação dos movimentos e dos próprios registos (daí a designação de “criptomoeda”) a tornam completamente invulnerável (santa ingenuidade)? (iv) quem submete a Base de Dados a testes de consistência (para verificar se tudo, nela, continua a bater certo, ou se há discrepâncias e/ou erros), quem avalia os resultados e quem corrige o que estiver mal? (v) quem faz back-ups e os repõe quando a Base de Dados colapsa? (vi) ou confia-se em que as imagens redundantes da Base de Dados espalhadas pela rede de computadores lhe conferem suficiente resiliência (eu não me fiaria muito nisso)? Para já e até cabal esclarecimento destas dúvidas, manter-me-ei bem afastado dessas «moedernidades».    Setembro de 2019    Henrique Salles da Fonseca
BIBLIOGRAFIA: «Bitcoin & Libra» - A. Palhinha Machado, Julho de 2019
COMENTÁRIO:
Henrique Salles da Fonseca, 09.09.2019: Sobre a questão dos bitcoin, não creio que haja uma tentativa de destabilização global, mas sim uma de tentar fugir a quaisquer tipos de controles. De resto, sem um Banco Central, não há moeda que possa funcionar sem perigo. Não sou um liberal em economia política e sou contra a desregulação dos sistemas financeiros. Já me bastou a crise de 2018 que daí resultou. Abr Jorge Gaspar de Barros
Henrique Salles da Fonseca 09.09.2019: Tás a brincar não? Como é k a moeda é fiável se as políticas do Banco Central de fiável não têm nada, se os políticos são corruptos, se as estatísticas k vêm para o povinho ver são viciadas, se é tudo tão conivente k ninguém ou quase ninguém vai «dentro»? Peço desculpa pelafalt5a de lembrança, o Isaltino foi «dentro» mas foi o único. Esqueci de mais algum? Como é k a moeda é fiável no meio do contexto global? Deve ser da idade mas eu confio desconfiando. Isabel Pedroso

Anónimo10.09: Isabel, há meio século não eras tão radical… Não confundas pessoas com instituições, nem estas com sectores de actividade. Tampouco deves generalizar a uma classe as características de alguns dos seus membros. Mas deixa lá, não estás sozinha. Pelo menos, desde o século XIX que se diz que os “políticos são corruptos”. E o exemplo que apontas não é o único, na realidade. O Mundo, a Europa e, particularmente, Portugal devem muito ao Banco Central Europeu (BCE), e ao seu actual Presidente, em fase de saída, Mário Draghi, pelas politicas adoptadas de defesa do Euro e das dívidas soberanas, particularmente da grega e da portuguesa. Escuso-me de recordar como Portugal chegou a um nível incrível de dívida externa (pública e privada, e nesta última a das Famílias não é despicienda). E com essa enorme dívida externa, quer em valor absoluto, quer relativamente ao PIB, ainda discutimos se o Orçamento do Estado deve ou não apresentar défice, sabendo que este gera dívida pública. “A dívida não se paga, gere-se”, ensinava quem sabia. Temo que a próxima política do BCE sobre quantitative easing, venha a ter reflexos negativos sobre o nível de taxa de juro da dívida pública. Prevejo que a saída de Mário Draghi seja aproveitada pelos seus críticos para que seja imprimida alguma inflexão nessa política, até com o argumento que aquela não proporcionou o crescimento europeu nem o nível de inflação desejados. Sobre as bitcoins, e outras cripto moedas, nunca me debrucei sobre elas, pois tenho o sentimento (talvez errado) que devem ser usadas, em geral, para fins pouco confessáveis. Pelo menos o Banco de Portugal tem alertado sucessivamente para a sua perigosidade e, admito, que os outros Bancos Centrais Nacionais também o tenham feito. Duas notas finais, Isabel: Não creio que as estatísticas divulgadas em Portugal sejam viciadas. O que pode acontecer é que sejam destacados determinados aspetos em detrimento de outros. Aliás, há dias o Henrique e, modestamente, eu tratámos desse assunto nos dois artigos intitulados “Apirexia”. Finalmente, estamos condenados a ter confiança no Euro. A alternativa actual – dólar dos EUA – não comporta menos riscos, e a moeda chinesa ainda não é solução. Quando se fala de moedas, lembro-me sempre da Lei de Gresham, segundo a qual a má moeda tende a expulsar do mercado a boa moeda. E isto aplica-se também aos políticos como ficou demonstrado na sequência de um artigo publicado no “Expresso” em 2004 pelo Prof. Cavaco Silva, cujo título era algo como isto: “A má moeda expulsa a boa moeda”. A seguir houve eleições. Carlos Traguelho


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