domingo, 22 de setembro de 2019

Quanta ferroada!



José Pacheco Pereira no seu melhor! Como diz um dos seus comentadores, escolheu o momento certo para desancar tudo e todos do tal PSD - a que diz pertencer? Tão repelente, afinal, no seu desprezo senhorial, como o é qualquer lambe-botismo em que também se filia, como sempre fez, afinal, já quando tramou Passos Coelho, a apontar para Costa, e hoje que chafurda na lama que descreve do “seu” partido, aparentemente para virtuosamente o condenar, na realidade para apontar novamente para Costa. Outros comentadores o disseram melhor. O meu estômago repele o tema. Assustador de maquiavelismo.
OPINIÃO
A semana da hipocrisia
A honra perdida dos partidos políticos é um factor da actual crise da representação democrática. E é assim que ela se perde.
JOSÉ PACHECO PEREIRA
PÚBLICO, 21 de Setembro de 2019
Estamos a chegar à semana da hipocrisia no PSD aquela em que os mais violentos críticos da direcção de Rio vão aparecer com grande publicidade na campanha eleitoral “para apoiar o partido” e… o seu líder. Infelizmente, é uma velha prática hipócrita no partido, com muitos precedentes como quando Passos Coelho, depois de organizar uma fracção contra Manuela Ferreira Leite, apareceu numa arruada singular, e Santana Lopes, especialista nestas coreografias, com Barroso e Passos.
Alguém acredita que alguns dos que anunciaram a sua aparição na campanha, por coincidência todos putativos candidatos ou apoiantes de uma liderança pós-Rio, desejam que o PSD tenha um bom resultado eleitoral, sabendo que isso legitimaria aquele que querem derrubar? Num partido em que a conflitualidade interna é muito agressiva, toda a gente sabe que este tipo de actos diz muito mais respeito às carreiras e expectativas dos que aparecem do que a qualquer genuína vontade de contribuir para um bom resultado. Estas afirmações podem parecer um exercício de cinismo, mas, insisto, não deve haver um único militante activo que não saiba que é o dia seguinte e o afiar das facas que conta nestas aparições. Nesse dia eles dirão que também estiveram a “lutar pelo partido”.
O problema deste tipo de “aparições” não se limita apenas a ambição, falta de carácter e maus hábitos políticos, mas à manipulação de um certo tipo de cultura partidária do PSD, que já foi real e genuína e hoje é ficcional e instrumental. O PSD tinha uma cultura de militância muito própria, a das “bases”, que muitas vezes era comparada ao PCP. Penetrava profundamente no “povo” do partido e dava uma identidade forte às suas iniciativas, como eram as festas do Pontal ou do Chão da Lagoa na Madeira e que, em momentos de lideranças como as de Sá Carneiro ou Cavaco Silva ou de Alberto João Jardim, ou de alguns autarcas, tinham uma genuinidade mobilizadora. Embora esse “animus” não tenha de todo desaparecido, é uma sombra do que era. O partido foi sendo cada vez mais dominado por personalidades sem capacidade de mobilização na sociedade, sem prestígio profissional ou pessoal e cujas carreiras dependem essencialmente do controlo das estruturas interiores do partido, de lóbis, fracções, sindicatos de voto, tornando-se profissionais da política. Grupos de interesses e fidelidades maçónicas controlam muitas estruturas distritais, à revelia da história do PSD. Com excepção dos líderes nacionais, e dos dirigentes históricos, desafio a alguém minimamente interessado por política a dizer meia dúzia de nomes desta nova geração, apesar do seu enorme poder dentro do PSD.
Esta evolução negativa para o carreirismo facilitou a ruptura com a génese social-democrática durante os anos da troika, porque este tipo de dirigentes não é de esquerda, nem de direita, pensa apenas em termos do seu próprio poder e carreira e tem uma especial aptidão para “cheirar” as modas. A cultura das “bases” tornou-se instrumental para o carreirismo que a usava como mecanismo de legitimação e para abafar críticas e discussões políticas, mas nunca os impediu de organizarem fracções e grupos, cada um mais “patriótico” do partido do que o do lado. Embora grupos dissidentes tenham sempre existido no PSD, o salto ocorrido com Passos Coelho–Relvas foi exactamente a criação de uma organização paralela com financiamentos próprios, contactos regulares com grupos económicos e embaixadas, agências de comunicação e operações de manipulação nas redes sociais. Deixou de ser uma questão de opinião para ser um partido dentro do partido, cujos restos ainda aí estão.
Sei por experiência como a hostilidade ao debate e às críticas políticas eram a face visível da complacência com os grupos paralelos, que acompanhava também com uma grande indiferença face à corrupção. Duarte Lima ganhou eleições no interior do PSD quando já se sabia praticamente tudo sobre o seu modus operandi. Talvez o melhor exemplo dessa cultura de clube e camisola tenha sido Santana Lopes e veja-se no que deu: na criação de um partido hostil ao PSD, pelo maior “patriota” do partido, do “PPD-PSD”.
A verdade é que foi também no PSD que ocorreram as únicas tentativas de combater este tipo de deriva, ambas na direcção de Marcelo Rebelo de Sousa. Uma foi resistência ao lóbi do futebol no totonegócio, outra foi a primeira tentativa de travar os negócios da PT e do BES e, por fim, o processo de refiliação conduzido por Rio para acabar com as manipulações nas inscrições e o pagamento de quotas por caciquismo. Todas falharam, graças a uma enorme resistência interna. Os nomes dos que sabotaram a “verdade” partidária são sempre os mesmos e Rio meteu-o simbolicamente nas listas, desautorizando-se a si próprio.
Por que é que isto é relevante e não é apenas a “cozinha” interior de um partido do poder? Porque a honra perdida dos partidos políticos é um factor da actual crise da representação democrática. E é assim que ela se perde.
Colunista
COMENTÁRIOS
DNG, 21.09.2019 Acho que faz mal e este texto bem podia ser um exercício de consciência acerca de uma opção errada. Rui Rio nunca esteve à altura do país. Foi uma decepção em todos os aspectos no que diz respeito à organização profissional de uma oposição activa e eficaz. Não se desculpe desta forma, afinal Rio também o decepcionou. Claro que Rio teve todas as oposições internas do passismo remanescente mas, só as empolou, por absoluta falta de eficácia em matéria de imagem. Costa roubou o discurso à Direita colando-se às contas certas mas Rio nunca acrescentou valor responsável à classe média flagelada por impostos. E tinha todas condições para isso por ser um moderado...
AndradeQB, 21.09.2019: Por momentos ainda pensei que Pacheco Pereira apoiava Rui Rio, mas este seu urgente manifesto anti-PSD devolveu-me a certeza de que afinal o mundo ainda é o que era. A função do PSD para Pacheco Pereira é o de lhe servir de bombo de festa. Um exercício a que encontra oportunidade na véspera das eleições, não vá o seu amigo Costa não ganhar a maioria absoluta.
Leitor Registado, 21.09.2019: JPP e o seu ódio a Passos Coelho....patético!
Mendonça, 21.09.2019: É impossível ter dois palmos de testa e não ter, não ódio pessoal a Passos Coelho, mas aversão total ao que ele fez, ao que tentou fazer, e ao que pensava fazer no futuro. Isto é: o seu pensamento politico é repulsivo. Sobretudo por ser ignorante, quando tentou importar e impingir critérios de condução económica de grandes economias que nada têm que ver com este país. Mas também pelo completo desprezo e pela manhosa má-fé com que quase rebentou com tudo o que era riqueza nacional, entregando-a ao controle exterior e à sua própria clientela através de privatizações duvidosas - acusando até a população vulnerável de viver acima das suas possibilidades quando era roubada da forma mais vil por uma sacanagem exclusiva. Ele e o 44 foram duas pragas que este país não devia esquecer nunca.
Joao Vieira de Sousa, 21.09.2019: Eu acho que as críticas que ele faz aos que atacam Rui Rio, têm toda a razão de ser, mas o que o Pacheco Pereira, fez ao Passos Coelho, foi pelo menos tão mal ou pior do que aqueles que ele agora critica.
Fernando Costa, 21.09.2019 : "Tão mal" ... bem, "mal" é um substantivo, a palavra certa que V.Ex.cia queria era usar o adjectivo mau, mas o erro deve ser não do Pacheco... mas do AO90 ... e agora são tudo sinónimos, dá jeito.
Joao Vieira de Sousa, 21.09.2019: Fernando Costa Se nunca se enganou, parabéns
Nuno Silva, 21.09.2019: Acho que os passistas não vão aparecer na campanha, depois de enterrarem bem fundo o PSD. Há limites para a falta de vergonha na cara.
Mario Coimbra, 21.09.2019: Pacheco Pereira, as suas crónicas sobre o PSD têm mofo. Sempre a mesma lenga lenga. Até parece que você não fez parte dos grupinhos. Com Cavaco presidente do grupo parlamentar com Rui Rio a Câmara do Porto e ele ainda por ai. Um resultadão. O Passos Coelho quer goste quer não foi um bom primeiro Ministro. Aguente-se.
cisteina, 21.09.2019: Como sempre, um analista atento de tudo o que se passa; no retrato do actual PSD, repete-se o que já foi. Mas não intensamente, o PSD foi, apesar dos problemas comuns de todos os partidos, sem excepção, sempre um partido onde o 'sistema' (o seu pior) nunca se arregimentou em máfias, eram mais ataques de poder alguns iluminados, ali sempre discutiu tudo e mais alguma coisa, sem medos. Mas no PSD antigo, o sistema, entendido como a reunião das partes, formando uma estrutura (embora complexa), sempre lutou por um Portugal melhor. Hoje Rui Rio faz o seu melhor, tenta unir e recentrar (sem pacificar, não deve). Logo veremos em 6 outubro: mas, se RR for derrotado, será o caos, o abismo e contínuo declínio, não há alternativa. Não acredito que tal aconteça, o 'sistema' (família) socialista é pior.
Conde do Cruzeiro, 21.09.2019: Desculpe a minha pergunta, mas não vive em Portugal?
Jonas Almeida, 21.09.2019: O retrato fiel do caciquismo institucionalizado pela partidocracia europeísta. O PS não é muito diferente, Os partidos do arco da governação tornaram-se agências de emprego de sobas.
TM, 21.09.2019: Não é diferente dos Tories. Aqueles que você defende Jonas! E o que é que ser pro UE tem a ver com a hipocrisia dos partidos?
Jonas Almeida, 21.09.2019: Os partidos servem quem manda. No UK, Escandinávia, Suíça etc os referendos contêm a longevidade dos caciquismos, recordamdo-lhes quem manda. Na eurozona mandam as regras do austericídio sem alternativa, mandam as Ursulas únicas que ninguém elegeu, mandam os FMIs, os ISDSs, os bancos - os empregadores de Barrosos, Draghis, Gasparez, Laguardes ... e Tiagos em Bruxelas ... Parasitas de uma estagnação social, política, tecnológica e económica que só acabará quando tiverem de trabalhar como aqueles em quem mandam.
TM, 21.09.2019: Não desvie a conversa Jonas. Qualquer pessoa minimamente inteligente percebe a hipocrisia que reina nos Tories e no Boris, aquele que você idolatra! Mas que referendos seu mentiroso? Nem a Escandinávia nem o UK fazem politica por referendos. Aliás dos países da UE, o que mais usa referendos é a Irlanda! Na Eurozona já nem sequer existe austeridade. Aláas, existe mais austeridade no UK do que na maior parte dos países do Euro. A Ursula foi tão ou mais eleita do que Trump ou Boris! Parasitas são os seus neurónios que nem sequer servem escrever disparates! Em vez de andar fugido, volte para a Europa e contribua para ela. E já agora escusa de votar para os eleições que não lhe dizem nada. Já que nada em Portugal o afecta! A não ser claro, a sua falta de impostos para pagar Bruxelas!
Jonas Almeida: O referendo ao tratado de Lisboa foi chumbado na Irlanda que acabou por ceder à pressão de o repetir para dar a resposta certa. O UK até ver não caiu nessa armadilha. Nem caiu a Suíça, Dinamarca, Suécia e Noruega quando os seus referendos negaram a entrada no euro ou na UE que os seus “representantes” políticos queriam intensamente. Está a ver, os países que temos como exemplos o expoente da Europa não parecem tão convencidos pela opção pelo parasitismo totalitário que o Tiago advoga aqui. Por que raio haveria de me esforçar para alimentar os vossos vícios em Bruxelas com os frutos do meu trabalho?
Macuti, 21.09.2019: O habitual rancor de P.P. contra Passos Coelho, que , apesar do que refere, ganhou eleições contra o amigo Costa. O mesmo não aconteceu entre Manuela Ferreira Leite e Sócrates. Mesmo em tempo de eleições, continua de armas apontadas aos seus adversários internos.
paulo da silva ferreira, 21.09.2019: o teor rancoroso desta crónica não podia servir melhor o PS e António Costa. PP nunca conseguiu convencer ninguém sobre as razões de continuar filiado no PSD desde há muitos anos a esta parte e até parece que tb deseja um fraco resultado de Rio para finalmente sair do partido e pôr fim a uma rábula em que só ele acreditava e a esquerda aplaudia.

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