Argumentos válidos em defesa das políticas
de Passos Coelho que mereceriam comentários de vileza mas também comentários de
honesta ponderação. Já tudo se disse, mas o texto de João Marques de Almeida desmascara
bem o complot em torno de Passos
Coelho aquando das últimas eleições, e os arreganhos musculados, travados
contra ele na assembleia, e as suas políticas de “austeridade” que,
necessariamente também existem hoje, mais ocultamente, é certo, dando com uma
mão, para satisfazer parceiros, e tirando com a outra para satisfazer
compromissos. E a nau – os navios tragados como inúteis mamarrachos no nosso
desprezo do passado próximo – vai lentamente encaminhando-se para a parte
incerta das águas turvas em que navega.
Vi há dias um retrato de Passos
Coelho e fiquei preocupada com o seu aspecto. Desejo, como um dos
comentadores, que ele volte um dia a agarrar no leme, mas os próprios do seu
partido parece terem-no abandonado. Pobrezinho! Pobrezinhos! Pobre nau! Pobre
da língua, também maculada… Afinal, Álvaro de
Campos já o previa, alargando o conceito no sentido do efémero,
como já tantas vezes se disse:
Depois de
certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em
que foram escritos os versos.
Morrerá
depois o planeta girante em que tudo isto se deu…. (“Tabacaria”)
Não gostaríamos, é certo, que a altura fosse já.
A grande vitória de Passos Coelho /premium
OBSERVADOR, 8/9/2019
Costa e o PS não mudaram porque
descobriram de repente as virtudes do controlo da despesa pública. Mudaram
porque os portugueses os forçaram a mudar e perceberam-no quando perderam as
eleições de 2015
Como
mostra o início da campanha eleitoral, agora todos os partidos políticos são
anti-despesistas. Até Catarina Martins, no debate com António Costa,
quis sossegar os portugueses, dizendo que o Bloco é a favor das contas públicas
equilibradas. Longe vão os tempos em que o Bloco fazia campanha contra
as regras fiscais da zona Euro, ou quando os dirigentes do PS, como Pedro Nuno
Santos, procuravam assustar os alemães com a ameaça da recusa do pagamento da
dívida. Aliás, a famosa reestruturação da dívida ainda nem entrou na campanha,
nem entrará a sério.
Na
relação dos partidos portugueses com o défice a dívida há o pré-Passos Coelho e há o pós-Passos
Coelho. Antes de Passos Coelho, como se viu com os governos de
Guterres e sobretudo com os de Sócrates, para o PS a despesa pública não era um
factor central das suas políticas económicas.
Como resultado, veio o desastre de 2011 e a intervenção da troika. Mas nem assim, os socialistas aprenderam, e atacaram
o governo de Passos e Portas pelas políticas de consolidação orçamental, o que
chamavam de “austeridade”. Mas Passos Coelho insistiu e explicou aos
portugueses que deveria haver limites para as despesas. Caso contrário, a
economia nunca recuperaria e o país continuaria nas mãos dos seus credores.
O
resultado das eleições de 2015 obrigou o PS e António Costa a mudarem. A vitória
eleitoral de Passos e Portas, apesar dos anos difíceis entre 2011 e 2015,
forçou Costa a reconhecer que os portugueses ainda não confiavam no PS. Por isso, Costa fez tudo para se distanciar do
despesismo de Sócrates e percebeu que Mário Centeno seria o ministro mais
importante do seu governo. No essencial, em matérias orçamentais,
Centeno pensa como Vitor Gaspar: ambos olham para o Euro como o elemento
indispensável para disciplinar as contas públicas, e ambos se identificam com a
ortodoxia do FMI (onde Gaspar trabalha numa posição de grande destaque e para
onde Centeno não se importaria de emigrar).
Costa impediu Passos Coelho de se
tornar PM, mas aceitou as suas políticas fiscais. O derrotado, Costa, aprendeu com o vitorioso,
Passos, que para ganhar no futuro teria que adoptar as suas receitas
orçamentais. Costa e o PS não mudaram porque descobriram de repente as virtudes
do controlo da despesa pública. Mudaram porque os portugueses os forçaram a
mudar, e perceberam isso quando perderam as eleições de 2015.
A
‘Europa’ também explica a mudança das esquerdas em matérias fiscais. Há uma
relação ambígua entre o Portugal socialista e a União Europeia: as regras do
Euro ajudam a disciplinar os socialistas portugueses mas, ao mesmo tempo, os
dinheiros de Bruxelas são indispensáveis para manter o Estado e as suas
clientelas partidárias a funcionar. Se o Euro estabelece as regras, a ‘Europa’
é o ‘petróleo’ do regime socialista, que dá o dinheiro para distribuir.
A
mudança de paradigma introduzida por Passos Coelho e pelo seu governo tem um
triplo significado. Em
primeiro lugar, a recusa do despesismo impede outras políticas que os
comunistas, os bloquistas e muitos socialistas gostariam de implementar, como
nacionalizações e a introdução de obstáculos ao investimento externo.
Em
segundo lugar, quando a
direita regressar ao governo (daqui a alguns anos e seguramente no pós-Rio), as
esquerdas terão uma enorme dificuldade para contestar as políticas orçamentais
mais ortodoxas dos governos de direita. Quando o PCP e o Bloco forem para as
ruas contestarem as políticas económicas, bastará mostrar-lhes os orçamentos
que aprovaram entre 2015 e 2019. Eles continuarão nas ruas e a fazer barulho,
mas a maioria dos portugueses não os levará a sério.
Por
fim, Passos Coelho preserva capital político para um dia regressar. Muitos políticos podem chegar a PM, mas são
poucos os que provocam uma revolução no discurso e nos consensos políticos de
um país.
COMENTÁRIOS:
Joaquim Moreira: Mais uma crónica com que não posso deixar de concordar, não em tudo, mas no
essencial que pretende demonstrar. De facto, Pedro Passos Coelho obrigou muito
boa gente a ter que pensar. Mas o que não posso deixar de elogiar, foi a
coragem das medidas que foi obrigado a tomar. Não por pensar a si ou no futuro
do partido, mas por estar muito preocupado, com Portugal e o seu caminho de
futuro, que precisava de ser muito rapidamente alterado. E se não aconteceu
pior, depois de o seu Governo ter sido assaltado, foi porque, para a vinda do
“diabo” ter alertado. O que fez com que a chamada Geringonça fizesse uma
aliança oportunista, para provar que podíamos ter um “governo” socialista. Mas
também, e sobretudo, para que esta seita, “apeasse” o Governo de direita. O que
não posso concordar é que, depois de tudo isto que acaba de dizer, insista em o
Rui Rio combater. À parte diferenças de estilo, Rui Rio e Pedro Passos Coelho,
são dois verdadeiros Estadistas e não políticos de aparelho. Por isso, não
insista neste conselho!
maria perry: Se Passos Coelho tivesse continuado a governar: 1) Portugal estaria a
crescer a pelo menos 3% com a redução planeada no IRC e consequente aumento de
investimento.2) - O SNS continuaria em bom estado pois não teria havido a
redução de horário para 35 horas e os aumentos no orçamento da saúde poderiam
ser usados para aumentar salários de médicos e enfermeiros e comprar
equipamento. 3) - Não teria ardido tanto território nem mortes nos incêndios
pois o pessoal experiente da Protecção Civil não teria sido demitido e
continuaria a haver boa coordenação com os bombeiros voluntários.4) - A
educação estaria a atingir máximos de desempenho com Crato, em vez da
bandalheira actual que fez com os pais voltassem a colocar os filhos em
colégios privados.5) - Não haveria falta de medicamentos como acontece agora,
nem atrasos nas pensões, nem o aumento em pequenos roubos, nem caça desenfreada
às multas, etc., etc., todos os sinais de que um país está a ficar cada vez
mais pobre.
Joaquim Moreira > Zeca Quinta: Até pode viver "no mundo
encantado da fantasia", mas não é como um qualquer Zeca da Quinta, que,
pelos vistos, gostam mais de quem lhes minta. Mundo encantado da fantasia, é
este em que estamos a viver, em que pouco interessa o que na realidade está a
acontecer, o que interessa é o que parece ou o que deva parecer.
maria perryZeca Quinta: Todos os indicadores teriam
continuado a evoluir normalmente, em vez da interrupção observada 2 anos depois
de a geringonça ter tomado o poder de assalto.
VILAR DE MAÇADA: Fantástico artigo! Parabéns!
Joaquim Zacarias: O João Almeida tem falhas de memória. Passos cortou na despesa por
necessidade e por convicção, e só não fez mais cortes, porque o T.C. não o
permitiu. Já Costa, imitou-se a fazer cativações, degradando os serviços
públicos, e distribuiu dinheiro, endividando o país, e m mais 20.000 milhões,
aumentou o número de F.P.,e tem compromissos para este ano com a F.P.,que podem
aumentar a despesa em mais 900 milhões. Comparar os dois governos como o
cronista faz, é comparar o olho detrás com a feira das Galveias.
Fernando Almeida: Centeno teve muito melhores condições para governar. O trabalho difícil foi
feito por Passos. O preço do barril desceu e permitiu a Centeno aumentar o
imposto. Os juros da divida caíram permitindo poupar. A economia mundial
cresceu dando mais receita e ao mesmo tempo impulsionando o turismo. Centeno
não cortou na despesa, optou por ganhar o voto da função pública á conta dos
serviços públicos. Nem o PS aprendeu nada com Passos Coelho, porque Passos Coelho
governou para tirar o país da
bancarrota, Costa governou para ganhar votos. Duvido que se Passos Coelho
tivesse optado por este caminho tivesse resultado. Teríamos tido mais
desemprego e mais emigração e uma retoma económica mais difícil. Qualquer
merceeiro teria feito igual ou melhor que Centeno. A lenda do Ronaldo das
finanças foi tecida pelo PS para ganhar votos. No final há uma mensagem clara,
se queres ter tacho lixa te no país e não cortes nos salários.
Joaquim Moreira > Fernando
Almeida: O que é profundamente de
lamentar, é haver quem ainda não viu que Pedro Passos Coelho governou a
Nação, num período, numa fase e numa situação que não é passível de qualquer
comparação. Nem com as bancarrotas anteriores, quanto mais com o “governo” de
um Artista, e defensor dos Recreios, que só governou quando viu que já tinha os
Cofres Cheios.
Carlitos Sousa: Só alguém de má-fé questiona que Passos Coelho retirou Portugal de um
buraco bem fundo para onde tinha sido atirado por governos socialistas e por
esse corrupto Sócrates. PPC foi
providencial e só teve azar em ter recebido um país em agonia, e ter de cumprir
uma check list da troika assinada pelo socras. Nunca saberemos que política
faria se hoje tomasse o poder. Costa
aprendeu com Passos? É claro que sim e as políticas de Centeno são prova disso.
Mas Costa não se limitou a imitar, e corrigiu algo que PPC fez mal, no domínio
da Despesa. Enquanto PPC preferiu aumentar
a Receita (a enorme carga de impostos) afectando directamente os
"sagrados" salários dos contribuintes, Costa repôs (e aumentou
residualmente) os salários e cortou drasticamente na Despesa com as cativações,
e no investimento público. Com Costa
os portugueses são igualmente prejudicados, não nos vencimentos, mas nos
serviços públicos degradados. É fácil concluir pelas sondagens, o que os
eleitores escolhem. Passos Coelho teria
tido mais êxito (menos contestação), se tivesse cortado Despesa (à moda de
Centeno) e não agravasse impostos nem aplicasse o imposto extraordinário.
Se PPC teve uma grande vitória, os factos e a próxima
eleição mostrarão que a vitória de Costa não é menos pequena.
Pedro Ferreira: Fico feliz, por poder concordar com o autor, artigo brilhante, a propósito,
Passos deve dar uma ajuda para evitar que a direita perca por muitos. Porém, a
mudança nas esquerdas é hipócrita e perigosa, agem assim, porque sabem que
ao menor abalo na Europa, teremos novo resgate e isso é mais difícil de aceitar
pelo eleitorado anestesiado pela propaganda. Reitero, estamos mais perto do
precipício de que nas vésperas do anterior resgate. É assim como passar pela A1
e não saber que junto a Fátima está uma pedreira com uma enorme cratera.
maria perry: Não
concordo. No início, Centeno e Costa apresentaram orçamentos despesistas que
foram enviados para trás por Bruxelas. A esquerda será sempre irresponsável
e despesista, corre-lhes no sangue a sede de poder e vigarice. Sem controlo,
levarão sempre um país à ruína. Naquilo em que Passos Coelho sobressaiu foi em
ser um grande Estadista, que conquistou a admiração de muitos e ganhou eleições
apesar da maior campanha de ódio que alguma vez foi dedicada a um político em
Portugal.
William Smith: JMA, pelos vistos, ainda
acredita no Pai Natal. Quando a direita
voltar a ser governo e tiver que aplicar políticas económicas mais ortodoxas, tanto
o PCP como o BE e principalmente o PS contestarão essas políticas como se nunca
as tivessem aplicado. E para isso
terão o apoio da maior parte da comunicação social que lhes é abjectamente
subserviente, além da aprovação dum qualquer presidente da república que seja
de esquerda, i é, que se preocupe primeiro com o PS e só depois com o país,
como se viu com o Soares e o Sampaio.
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