terça-feira, 10 de setembro de 2019

“Saudades de meu bem”



Argumentos válidos em defesa das políticas de Passos Coelho que mereceriam comentários de vileza mas também comentários de honesta ponderação. Já tudo se disse, mas o texto de João Marques de Almeida desmascara bem o complot em torno de Passos Coelho aquando das últimas eleições, e os arreganhos musculados, travados contra ele na assembleia, e as suas políticas de “austeridade” que, necessariamente também existem hoje, mais ocultamente, é certo, dando com uma mão, para satisfazer parceiros, e tirando com a outra para satisfazer compromissos. E a nau – os navios tragados como inúteis mamarrachos no nosso desprezo do passado próximo – vai lentamente encaminhando-se para a parte incerta das águas turvas em que navega.
Vi há dias um retrato de Passos Coelho e fiquei preocupada com o seu aspecto. Desejo, como um dos comentadores, que ele volte um dia a agarrar no leme, mas os próprios do seu partido parece terem-no abandonado. Pobrezinho! Pobrezinhos! Pobre nau! Pobre da língua, também maculada… Afinal, Álvaro de Campos já o previa, alargando o conceito no sentido do efémero, como já tantas vezes se disse:

Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu…. (“Tabacaria”)

Não gostaríamos, é certo, que a altura fosse já.

A grande vitória de Passos Coelho /premium
OBSERVADOR, 8/9/2019
Costa e o PS não mudaram porque descobriram de repente as virtudes do controlo da despesa pública. Mudaram porque os portugueses os forçaram a mudar e perceberam-no quando perderam as eleições de 2015
Como mostra o início da campanha eleitoral, agora todos os partidos políticos são anti-despesistas. Até Catarina Martins, no debate com António Costa, quis sossegar os portugueses, dizendo que o Bloco é a favor das contas públicas equilibradas. Longe vão os tempos em que o Bloco fazia campanha contra as regras fiscais da zona Euro, ou quando os dirigentes do PS, como Pedro Nuno Santos, procuravam assustar os alemães com a ameaça da recusa do pagamento da dívida. Aliás, a famosa reestruturação da dívida ainda nem entrou na campanha, nem entrará a sério.
Na relação dos partidos portugueses com o défice a dívida há o pré-Passos Coelho e há o pós-Passos Coelho. Antes de Passos Coelho, como se viu com os governos de Guterres e sobretudo com os de Sócrates, para o PS a despesa pública não era um factor central das suas políticas económicas. Como resultado, veio o desastre de 2011 e a intervenção da troika. Mas nem assim, os socialistas aprenderam, e atacaram o governo de Passos e Portas pelas políticas de consolidação orçamental, o que chamavam de “austeridade”. Mas Passos Coelho insistiu e explicou aos portugueses que deveria haver limites para as despesas. Caso contrário, a economia nunca recuperaria e o país continuaria nas mãos dos seus credores.
O resultado das eleições de 2015 obrigou o PS e António Costa a mudarem. A vitória eleitoral de Passos e Portas, apesar dos anos difíceis entre 2011 e 2015, forçou Costa a reconhecer que os portugueses ainda não confiavam no PS. Por isso, Costa fez tudo para se distanciar do despesismo de Sócrates e percebeu que Mário Centeno seria o ministro mais importante do seu governo. No essencial, em matérias orçamentais, Centeno pensa como Vitor Gaspar: ambos olham para o Euro como o elemento indispensável para disciplinar as contas públicas, e ambos se identificam com a ortodoxia do FMI (onde Gaspar trabalha numa posição de grande destaque e para onde Centeno não se importaria de emigrar).
Costa impediu Passos Coelho de se tornar PM, mas aceitou as suas políticas fiscais. O derrotado, Costa, aprendeu com o vitorioso, Passos, que para ganhar no futuro teria que adoptar as suas receitas orçamentais. Costa e o PS não mudaram porque descobriram de repente as virtudes do controlo da despesa pública. Mudaram porque os portugueses os forçaram a mudar, e perceberam isso quando perderam as eleições de 2015.
A ‘Europa’ também explica a mudança das esquerdas em matérias fiscais. Há uma relação ambígua entre o Portugal socialista e a União Europeia: as regras do Euro ajudam a disciplinar os socialistas portugueses mas, ao mesmo tempo, os dinheiros de Bruxelas são indispensáveis para manter o Estado e as suas clientelas partidárias a funcionar. Se o Euro estabelece as regras, a ‘Europa’ é o ‘petróleo’ do regime socialista, que dá o dinheiro para distribuir.
A mudança de paradigma introduzida por Passos Coelho e pelo seu governo tem um triplo significado. Em primeiro lugar, a recusa do despesismo impede outras políticas que os comunistas, os bloquistas e muitos socialistas gostariam de implementar, como nacionalizações e a introdução de obstáculos ao investimento externo.
Em segundo lugar, quando a direita regressar ao governo (daqui a alguns anos e seguramente no pós-Rio), as esquerdas terão uma enorme dificuldade para contestar as políticas orçamentais mais ortodoxas dos governos de direita. Quando o PCP e o Bloco forem para as ruas contestarem as políticas económicas, bastará mostrar-lhes os orçamentos que aprovaram entre 2015 e 2019. Eles continuarão nas ruas e a fazer barulho, mas a maioria dos portugueses não os levará a sério.
Por fim, Passos Coelho preserva capital político para um dia regressar. Muitos políticos podem chegar a PM, mas são poucos os que provocam uma revolução no discurso e nos consensos políticos de um país.
COMENTÁRIOS:
Joaquim Moreira: Mais uma crónica com que não posso deixar de concordar, não em tudo, mas no essencial que pretende demonstrar. De facto, Pedro Passos Coelho obrigou muito boa gente a ter que pensar. Mas o que não posso deixar de elogiar, foi a coragem das medidas que foi obrigado a tomar. Não por pensar a si ou no futuro do partido, mas por estar muito preocupado, com Portugal e o seu caminho de futuro, que precisava de ser muito rapidamente alterado. E se não aconteceu pior, depois de o seu Governo ter sido assaltado, foi porque, para a vinda do “diabo” ter alertado. O que fez com que a chamada Geringonça fizesse uma aliança oportunista, para provar que podíamos ter um “governo” socialista. Mas também, e sobretudo, para que esta seita, “apeasse” o Governo de direita. O que não posso concordar é que, depois de tudo isto que acaba de dizer, insista em o Rui Rio combater. À parte diferenças de estilo, Rui Rio e Pedro Passos Coelho, são dois verdadeiros Estadistas e não políticos de aparelho. Por isso, não insista neste conselho!
maria perry: Se Passos Coelho tivesse continuado a governar: 1) Portugal estaria a crescer a pelo menos 3% com a redução planeada no IRC e consequente aumento de investimento.2) - O SNS continuaria em bom estado pois não teria havido a redução de horário para 35 horas e os aumentos no orçamento da saúde poderiam ser usados para aumentar salários de médicos e enfermeiros e comprar equipamento. 3) - Não teria ardido tanto território nem mortes nos incêndios pois o pessoal experiente da Protecção Civil não teria sido demitido e continuaria a haver boa coordenação com os bombeiros voluntários.4) - A educação estaria a atingir máximos de desempenho com Crato, em vez da bandalheira actual que fez com os pais voltassem a colocar os filhos em colégios privados.5) - Não haveria falta de medicamentos como acontece agora, nem atrasos nas pensões, nem o aumento em pequenos roubos, nem caça desenfreada às multas, etc., etc., todos os sinais de que um país está a ficar cada vez mais pobre.
Joaquim Moreira > Zeca Quinta: Até pode viver "no mundo encantado da fantasia", mas não é como um qualquer Zeca da Quinta, que, pelos vistos, gostam mais de quem lhes minta. Mundo encantado da fantasia, é este em que estamos a viver, em que pouco interessa o que na realidade está a acontecer, o que interessa é o que parece ou o que deva parecer.
maria perryZeca Quinta: Todos os indicadores teriam continuado a evoluir normalmente, em vez da interrupção observada 2 anos depois de a geringonça ter tomado o poder de assalto.  
d f > maria perry: Estaríamos bem melhor e não outra vez rapidamente a caminho da cauda da Europa.
VILAR DE MAÇADA: Fantástico artigo! Parabéns!
Joaquim Zacarias: O João Almeida tem falhas de memória. Passos cortou na despesa por necessidade e por convicção, e só não fez mais cortes, porque o T.C. não o permitiu. Já Costa, imitou-se a fazer cativações, degradando os serviços públicos, e distribuiu dinheiro, endividando o país, e m mais 20.000 milhões, aumentou o número de F.P.,e tem compromissos para este ano com a F.P.,que podem aumentar a despesa em mais 900 milhões. Comparar os dois governos como o cronista faz, é comparar o olho detrás com a feira das Galveias.
Fernando Almeida: Centeno teve muito melhores condições para governar. O trabalho difícil foi feito por Passos. O preço do barril desceu e permitiu a Centeno aumentar o imposto. Os juros da divida caíram permitindo poupar. A economia mundial cresceu dando mais receita e ao mesmo tempo impulsionando o turismo. Centeno não cortou na despesa, optou por ganhar o voto da função pública á conta dos serviços públicos. Nem o PS aprendeu nada com Passos Coelho, porque Passos Coelho governou para tirar o país  da bancarrota, Costa governou para ganhar votos. Duvido que se Passos Coelho tivesse optado por este caminho tivesse resultado. Teríamos tido mais desemprego e mais emigração e uma retoma económica mais difícil. Qualquer merceeiro teria feito igual ou melhor que Centeno. A lenda do Ronaldo das finanças foi tecida pelo PS para ganhar votos. No final há uma mensagem clara, se queres ter tacho lixa te no país e não cortes nos salários.
Joaquim Moreira > Fernando Almeida: O que é profundamente de lamentar, é haver quem ainda não viu que Pedro Passos Coelho governou a Nação, num período, numa fase e numa situação que não é passível de qualquer comparação. Nem com as bancarrotas anteriores, quanto mais com o “governo” de um Artista, e defensor dos Recreios, que só governou quando viu que já tinha os Cofres Cheios.
Carlitos Sousa: Só alguém de má-fé questiona que Passos Coelho retirou Portugal de um buraco bem fundo para onde tinha sido atirado por governos socialistas e por esse corrupto Sócrates. PPC foi providencial e só teve azar em ter recebido um país em agonia, e ter de cumprir uma check list da troika assinada pelo socras. Nunca saberemos que política faria se hoje tomasse o poder. Costa aprendeu com Passos? É claro que sim e as políticas de Centeno são prova disso. Mas Costa não se limitou a imitar, e corrigiu algo que PPC fez mal, no domínio da Despesa. Enquanto PPC preferiu aumentar a Receita (a enorme carga de impostos) afectando directamente os "sagrados" salários dos contribuintes, Costa repôs (e aumentou residualmente) os salários e cortou drasticamente na Despesa com as cativações, e no investimento público. Com Costa os portugueses são igualmente prejudicados, não nos vencimentos, mas nos serviços públicos degradados. É fácil concluir pelas sondagens, o que os eleitores escolhem. Passos Coelho teria tido mais êxito (menos contestação), se tivesse cortado Despesa (à moda de Centeno) e não agravasse impostos nem aplicasse o imposto extraordinário.
Se PPC teve uma grande vitória, os factos e a próxima eleição mostrarão que a vitória de Costa não é menos pequena.
Pedro Ferreira: Fico feliz, por poder concordar com o autor, artigo brilhante, a propósito, Passos deve dar uma ajuda para evitar que a direita perca por muitos. Porém, a mudança nas esquerdas é hipócrita e perigosa, agem assim, porque sabem que ao menor abalo na Europa, teremos novo resgate e isso é mais difícil de aceitar pelo eleitorado anestesiado pela propaganda. Reitero, estamos mais perto do precipício de que nas vésperas do anterior resgate. É assim como passar pela A1 e não saber que junto a Fátima está uma pedreira com uma enorme cratera.
maria perry: Não concordo. No início, Centeno e Costa apresentaram orçamentos despesistas que foram enviados para trás por Bruxelas. A esquerda será sempre irresponsável e despesista, corre-lhes no sangue a sede de poder e vigarice. Sem controlo, levarão sempre um país à ruína. Naquilo em que Passos Coelho sobressaiu foi em ser um grande Estadista, que conquistou a admiração de muitos e ganhou eleições apesar da maior campanha de ódio que alguma vez foi dedicada a um político em Portugal.
William Smith: JMA, pelos vistos, ainda acredita no Pai Natal. Quando a direita voltar a ser governo e tiver que aplicar políticas económicas mais ortodoxas, tanto o PCP como o BE e principalmente o PS contestarão essas políticas como se nunca as tivessem aplicado. E para isso terão o apoio da maior parte da comunicação social que lhes é abjectamente subserviente, além da aprovação dum qualquer presidente da república que seja de esquerda, i é, que se preocupe primeiro com o PS e só depois com o país, como se viu com o Soares e o Sampaio.


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