Na questão do
assumir pontos de vista diferentes dos do rebanho da modernidade actual, que
todo este se debruça sobre o papaguear das novas devoções anti-racistas, ou
anti- cientistas, impugnando conceitos de que a ciência e a normalidade provam
a consistência. Sim, já nem sequer podemos ter confiança no que separava os
partidos em termos de ideologias ou preconceitos, que nos faziam pender para os
partidos de pensamento próximo do nosso. Não, pelos vistos já não há disso,
prova-o este texto e alguns comentários, como de resto o provaram atitudes de
risonha subserviência de Montenegro e comparsas, quer ao Costa quer ao PR,
acompanhando-o nas passeatas olímpicas, a exibir presença, quando se pede que
se tente destrinçar a meada de inépcias cometidas pelos Costas e ventres
anteriores, e não começar a percorrer o mundo, como todos os demais fizeram,
que assim se passearam, por conta da nação. Sim, cada vez mais na mesma, para
ventura do Ventura que gosta definitivamente de se ouvir e já ninguém suporta
ouvir, ambicioso e pequeno, como os demais… Não, não há ninguém que ponha ponto
final na festa, encolhido Passos Coelho na sua indiferença altaneira… ou
desiludida, talvez.
Estará o PSD a abarrotar de wokes?
Seria importante que alguém com
posição cimeira no Governo e no PSD — eventualmente, o próprio Luís Montenegro
—, viesse dizer aos portugueses o que pensam os seus líderes a respeito do
wokismo.
JOÃO PEDRO MARQUES Historiador
e romancista
OBSERVADOR, 23
ago. 2024, 00:1611
A polémica estalou de imediato quando,
no passado mês de Julho, a Direcção-Geral da Saúde utilizou, numa campanha
para investigar as características da menstruação, a expressão “pessoas que
menstruam” quando pareceria mais óbvio e consensual — e razoável, digo eu —
usar a palavra “mulheres”. Escreveram-se artigos, ouviram-se pareceres científicos, os cidadãos tomaram
posição nas redes sociais, agitaram-se as bancadas parlamentares. Em
consequência disso o PSD pediu explicações à Ministra da Saúde, o Bloco de
Esquerda pediu-as à Ministra da Juventude e Modernização, Margarida Balseiro
Lopes, e foi esta última que, agora, mais de um mês após a polémica de Julho,
respondeu, dando o seu aval à expressão “pessoas que menstruam”,
preconizando a “utilização de linguagem neutra do ponto de vista do género
para se referir aos produtos menstruais” e desencadeando uma segunda onda da
mesma polémica.
Essa polémica, que vai remexer mais
fundo do que parece, interessa-me, desafia-me a tomar posição e, sobretudo,
inquieta-me. Trata-se de uma inquietação dupla que é, aliás, antiga. Há, por um
lado, o problema desta novilíngua que nos querem impor, problema sobre o qual já escrevi vários artigos e que
continua a preocupar-me não apenas pelo que representa, mas também pelo que
promove em termos de subversão de conceitos e de atitudes. Não tenho a
veleidade de, nesta questão concreta da menstruação, trazer aos que me lêem
ideias inéditas ou, sequer, importantes.
Expliquei, no facebook, a minha aversão ou oposição à expressão “pessoas que
menstruam” — e a minha decepção com a posição da ministra da Juventude e
Modernização —, e várias pessoas vieram comentar e exprimir ideias mais
interessantes, elaboradas e inteligentes do que as minhas. Há, todavia, uma
segunda coisa que me inquieta nesta questão e foi ela que me levou a escrever
este artigo. Falo da posição do PSD e do governo da AD, que, nestes
mares encapelados parecem navegar sem rota certa ou perceptível por quem os
observa de fora.
É verdade que houve vozes dentro do PSD
— com destaque para a do deputado Bruno Vitorino —
que vieram contestar a ministra Margarida
Balseiro Lopes, sugerindo que ela estaria a falar apenas em seu nome próprio e
não no do governo, e pedindo-lhe que se cingisse ao que está no programa desse
governo em vez de se lançar em largos voos woke por coisas que lá não estão.
Mas logo outras vozes no partido
vieram respaldar a ministra, fazendo-o em termos para mim surpreendentes. Foi o
caso do ex-eurodeputado Carlos Coelho, alguém que foi (ou é) politicamente
próximo de Luís Montenegro, e que afirmou que “qualquer reacção contrária” à
posição da ministra “é uma reação desagradável, com sabor do antigamente, de
exclusão, de preconceito.” Acontece que essa “reacção
contrária” à posição da ministra tem sido evidente em muitas centenas,
provavelmente muitos milhares, de pessoas que apoiaram a AD — como é o meu caso
— e que se manifestam contra a fraseologia de que a ministra, Carlos Coelho e
outros/as gostam.
Há aqui, portanto, uma zona de contradição (e de atrito) entre os
rumos do partido do governo e a sua base social de apoio, e há sobretudo perplexidade
e incerteza quanto ao que, no plano da ideologia e dos valores, serão esses
rumos. Ora isso não é bom. É verdade que, os partidos políticos democráticos
e, por maioria de razão, os que agregam muita gente, albergam no seu seio
várias correntes de opinião. Isso é inescapável. Contudo, neste
caso estamos a falar de correntes opostas e, para além disso e acima disso, de
uma inquietante indefinição ou pouca clareza da direcção do partido (e do
governo) na área das chamadas guerras culturais. O problema é que não está clara a posição
do partido relativamente à agenda woke. A sua falta de nitidez nessa matéria
ou, pior, a frequente emissão de opiniões e decisões políticas de cariz woke
vindas da gente que está ou esteve nas suas fileiras, de gente que lá milita ou
militou, desgosta todo um sector da opinião pública que se considera não-woke
ou anti-woke, empurra-o para propostas políticas mais claras e assumidas e terá
contribuído, e muito, para o crescimento exponencial do partido Chega.
Em tempos, tendo em mente a questão das
exigências de pedidos de desculpa e de reparações por factos ligados à nossa
história colonial, pedi ao PSD e ao PS que esclarecessem o que tencionavam
fazer naquilo a que chamei a “Era da Expiação”. Ambos os partidos preferiram ficar em
silêncio. É justo reconhecer que o governo do PSD quebrou, e muito
adequadamente, esse seu mutismo no dia 27 de Abril de 2024. Recordemo-nos que,
no dia anterior, num jantar com jornalistas e correspondentes estrangeiros, Marcelo
Rebelo de Sousa achara por bem comprometer o país em “reparações” por factos
ocorridos na sua história colonial, ou seja, por crimes ou
comportamentos/actividades que agora consideramos crimes. Reagindo rapidamente,
o governo de Luís Montenegro veio assegurar que
não existia da sua parte qualquer plano para proceder a reparações, e assim
mostrou aos portugueses que não alinhava nas intenções e promessas woke do
Presidente da República.
Ora, da mesma forma que, no final do mês de Abril, o governo sentiu
necessidade de cortar o mal da incerteza pela raiz, talvez fosse agora
importante que alguém com uma posição cimeira dentro desse governo e do partido
— eventualmente, o próprio Luís Montenegro —, viesse dizer aos portugueses o
que pensam os seus líderes a respeito do wokismo, da chamada linguagem
inclusiva ou, mais simples e prosaicamente da substituição da palavra “mulher”
pela expressão “pessoa que menstrua.” Não o fazendo poderá crescer a suspeita
em muitas das pessoas que apoiaram a AD de que, debaixo dos seus silêncios,
este PSD estará a abarrotar de wokes.
PSD POLÍTICA IDENTIDADE DE
GÉNERO SOCIEDADE
COMENTÁRIOS (de 11)
Maria Cordes: Esta hipocrisia das chefias do PSD, fingindo que não pasa nada, é
insuportável. É assim que uma minoria, que ou menstrua, ou não menstrua, tenta
impor sobre uma maioria, que nada quer ver com a cultura woke, os seus doentios
pontos de vista e a sua cultura de expiação, nouvelle cuisine. Preparem-se, não
vamos deixar que este assunto fique por esclarecer. Se n for a bem, é a mal,
nas urnas. Em bicos de pés, querendo parecer muito modernos, não passam de
figuretas jolis, bem representadas no piroso, e tenebroso espectáculo, projectado
em Paris. José Neto: Desengane-se quem pensa que
este PSD ainda é o partido de Sá Carneiro, de Cavaco Silva ou de Passos Coelho. Não, este PSD é a
"direita de que a esquerda gosta", sendo que a própria
"esquerda" já não é a esquerda democrática que resistiu à deriva
comunista do PREC. A esquerda de hoje, não só cá, mas também em muitos
outros países do mundo ocidental, segue uma agenda woke, em que tudo se
desconstrói, a ponto de se substituir a noção clara e simples de sexo (há dois,
masculino e feminino) pela ideia de género - que ninguém consegue definir e
ainda menos contabilizar. Quem está ao comando deste processo? Parece-me
que está a cumprir-se a proposta de Gramsci: o maravilhoso mundo novo não será
uma iniciativa da classe operária (isso ainda existe?), mas sim do mundo
universitário. É das universidades, e também da comunicação social, que vemos
surgir as ideias e as propostas que visam pôr este mundo em pantanas. O
elementar bom-senso sente-se atordoado, não sabe reagir e vê-se, de repente
perante uma proposta de lei sobre um qualquer "tema fracturante".
E assim, por via da introdução de um palavreado estranho - a tal novilíngua
-, vemos de repente que o aborto foi consagrado como direito da mulher, a
eutanásia como direito universal, a fronteira de um país parece um conceito
ultrapassado e um grupo terrorista pode ser equiparado a um estado de direito.
Matérias que me davam que pensar já estão legisladas - a liberdade que
tínhamos para discutir foi-nos roubada. Estamos a entrar numa ditadura? Também
este Luís Montenegro já não é o líder parlamentar do tempo de Passos Coelho.
Este é o Luís Montenegro fraco, que pediu ao PS que o deixasse governar,
prometendo-lhe que nunca faria entendimentos com o Chega. Este é o Luís
Montenegro tonto, que se fartou de esbracejar para levar António Costa a
presidir ao Conselho Europeu. Caríssimo João Pedro Marques, sou leitor
assíduo dos seus artigos, com os quais tenho aprendido muito. Desta vez, porém,
não estou na mesma onda. Este Luís Montenegro foi quem escolheu a ministra
woke. Lourenço
de Almeida: É o 1984 all over again! Já tivemos a URSS, o maoismo, o trotskismo e o nazismo,
todos a inventar novilínguas e a impor sociedades como tão bem descreve o
Orwell. Infelizmente a ignorância e a estupidez continuam enormes e se as
monstruosidades daqueles regimes já quase não permitam que mesmo os mais
imbecis continuem a louvá-los, os mesmos estão sempre prontos para inventar uma
nova monstruosidade! Pertinaz: O ps dois está “entalado” pelo
chega, o que os empurra para o colo da esquerdalha depois de terem caído na
armadilha dos jornaleiros avençados… “não é não”… aguentem…!!! Antonius Caucasianus: Nem é preciso ler o artigo de
J. Pedro Marques, para responder positivamente. Sim, o Psd está a abarrotar
de defensores da "teoria crítica/marxismo cultural/wokismo". A
prova dos nove está declaradamente na sua militante (?) ministra da Juventude e
Modernização (que deveria ter ido pastar para o Bloco de esterco) com as
declarações identitárias de género, que fez; nas declarações de outro
destacado Psd, Carlos Coelho, coordenador da Academia de Formação (esta malta
está sempre com algum tacho!) e antigo director de campanha de Montenegro, o
tal que deu a entender que quem afirme que os Humanos (e a regra geral de todos
os seres vivos), se dividem em macho e fêmea, Homem e Mulher, é do
"antigamente, d(a) exclusão (e) d(o) preconceito", ou seja retrógados
e atrasados! Como é que este senhor e outros/as como ele adquiriram em
tão pouco tempo e já entradote na idade, uma tal elasticidade de pensamento
para a aceitação de tantas irracionalidades!? O
sinal mais claro de que o Psd tem as pernas abertas a estas correntes de ar da
cloaca identitária, é que este partido é um lobo com pele de cordeiro (símbolo
inicial dos fabianos) que pretende enganar os Portugueses com as suas oposições
e alardeadas destruições fictícias do socialismo em Portugal, anunciadas por
Montenegro e apaniguados, durante a campanha! Pura aldrabice e show "p'ra
boi dormir"! Como poderia um partido da área do socialismo
(democrático, dizem-se...) querer acabar com o socialismo? Pura demagogia! Este
partido, assim como todos os da área socialista, com o reboque do dito
conservador e cristão CDS, há 50 anos que andam a "mijar fora do
testo" e a sacanear os Portugueses com toda a espécie de mentiras e
traições. O sistema tem de ser refundado, com novos partidos e parlamento
mais controlados pelo povo e mais vigiado pelas instituições próprias, sujeitos
a duras penas legais se praticarem erroneamente a democracia (liberal). Agir
como nos países de leste que foram sujeitos aos crimes socialistas e proibir
constitucionalmente a sua existência. Estes cancros identitários só serão
extirpados de todas as leis e instituições, quando não houver sombra de
socialismos neste país e na Europa ocidental! Rui
Pereira: Partilho da sua inquietação e tb espero uma clarificação do PSD.
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