De reflexão severa
e cada vez mais acabrunhada – do Dr. Salles da Fonseca - sobre costumes e ética e educação - características que têm a ver,
naturalmente, com as idiossincrasias dos povos, talvez em relação com os
próprios climas, propiciadores das ousadias ou das cobardias específicas de
cada etnia. Sim, malhamos em nós, julgo que com tristeza, no desejo de corrigir
o que há muito não nos parece bem, como fez o Eça, entre tantos ao longo da
História, com virulência mas amor sempre, pelo rincãozinho de pequenez e
primitivismo, mas de encantamentos também. Tarefa inglória de Velhos do Restelo
agoniados. Ou amantes.
I - E NÓS POR CÁ?
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO02.08.24
Nota prévia – O presente texto é sequente ao publicado
em 14 de Julho no qual ensaiei uma tipificação do francês actual.
* * * Mélanchon acertou na «mouche»
quando intitulou o seu Partido «A França Insubmissa». A sorte de França foi a
de nem todos os insubmissos franceses terem seguido Mélanchon.
E
nós por cá?
Ora
bem, também nós somos fruto da História, sobretudo da nossa, pois a maior parte
dos portugueses só começou a ouvir sobre «o lá fora» quando, basbaques, lhes
puseram uma televisão à frente do nariz. Não ia longe o tempo de «uma sardinha
para quatro», da proibição do «pé descalço» e da mendicidade nas cidades. Como
se essas proibições acabassem com a miséria…
Aquela
era uma época difícil para muita gente em que muitos tinham “uma sardinha para
quatro”, não havia Segurança Social universal e a saúde era para quem a podia
pagar. E a «enxada
para a vida», a instrução, era rudimentar ou menos que isso. Abundava a
ignorância e havia mesmo quem dissesse que «a ignorância é a felicidade do
povo». Diziam «boutades» destas, mas iam à Missa no Domingo seguinte.
Passaram, entretanto, 60 ou 70 anos e
eis que o Census 21 nos revela a persistência do analfabetismo
nuns medonhos 3,08% da população (308 mil portugueses com mais de 14 anos de
idade não sabiam ler, escrever nem contar). A
maior parte da população em idade activa não completara o ensino obrigatória e
apenas uma minoria da população com mais de 25 anos tinha formação
pós-secundária. Tudo resultando num baixíssimo nível médio cultural.
Ou seja, o português típico, hoje, é
inculto e, espicaçado pelas políticas de incentivo ao consumo, recorre
desenfreadamente ao «xico-espertismo» e ao crédito. Especificamente, há que
assinalar três grupos:
Os
«desprezados» pelas elites desde a fundação da nacionalidade
Os
«desenrascados» que se dedicam a pouco mais do que prestar serviços, que
são o grosso da coluna, mas sem acréscimo de valor tecnológico;
Os
«burros de carga» que são os que vencem toda a inércia e, ainda assim, a
minoria, conseguem puxar o país para a frente.
* * *
Num outro registo, o da ética, o «travão nacional que é o dos compadrios,
dos corruptos e os delinquentes.
Aqui fica um pretexto para meditação,
a relação entre cultura e ética. A isso irei em breve.
Agosto de 2024
Henrique Salles da Fonseca
2 COMENTÁRIOS
Antonio Fonseca 03.08.2024 22:04: Doutor Henrique Salles da Fonseca, Confesso que fui
assolado por dupla incongruência ao ler este blogue 1. como é que uma nação
onde grande parte do seu povo vivia com “uma sardinha para quarto” e pouca
instrução, pôde criar um Império espalhado pelo mundo e 2. como é que esse
mesmo povo pôde organizar os seus espaços nacionais em pitorescas aldeias e
cidades, edifícios e monumentos admiráveis e uma cultura que continua a nos
fascinar? Bom fim de semana.
Miguel 04.08.2024 18:10: Os compadrios e a corrupção, Henrique, percorrem todos
os escalões da sociedade...
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