Mas…
A política vice-versa
Como se distinguem os pagamentos
extraordinários de Costa dos de Montenegro? Não distinguem. São o resultado da
política vice-versa: aquela em que cada líder opta por fazer o mesmo que o seu
contrário.
HELENA MATOS Colunista do Observador
OBSERVADOR, 18 ago. 2024, 01:12121
Marcelo veio agora pedir um pacto entre
os maiores partidos na área da Saúde. Em Portugal, quem quer ficar bem na
fotografia pede um pacto e creio que essa foi a intenção do Presidente. Não só porque este é um momento em que
está politicamente vulnerável, mas também porque quem pede um pacto dá de si a
imagem de consensualizador. Afinal está implícito que o pacto só
não se consegue porque os outros só não aderem ao pacto por interesses ocultos,
segundas intenções ou, o que para o caso vai dar ao mesmo, por cálculo político. Mas não
só. Pedir um pacto para a Saúde é
muito fácil porque, em 2024, o pacto para a Saúde não mudaria nada no estado do
SNS. Oito anos de governação socialista, durante os quais o
Presidente foi irresponsavelmente conivente com medidas como a aprovação das 35 horas para os
trabalhadores do SNS, afastaram os portugueses do SNS, quer como
utentes quer, ironia das ironias, como trabalhadores. Nada disto se resolve com
pactos, mas sim com competência e pondo os interesses dos utentes em primeiro
lugar.
Mas
se o Presidente quer mesmo promover um pacto pode e deve virar-se para a
Segurança Social, uma área em que um pacto é talvez a única forma de salvar da
pobreza os actuais contribuintes e futuros pensionistas: segundo as projecções
da Comissão Europeia, o valor das reformas vai cair para quase metade nos
próximos anos. Actualmente o valor da reforma é equivalente a 84,9% do último
vencimento. Em 2050 será de 43,5%. (As almas pias que andam para aí a dizer
como quem reza um credo que os imigrantes estão a salvar a Segurança Social já
pensaram que esses imigrantes terão uma reforma proporcionalmente muito mais
baixa que aquelas que eles agora pagam?)
A degradação do valor das
pensões não só é um tabu como a política dos pagamentos extraordinários
inaugurada por Costa e prosseguida por Montenegro reforça a ilusão de que está
tudo bem. Pior, agrava a politização da gestão da Segurança Social: cada vez
menos o que se recebe é visto como o resultado de uma carreira contributiva,
mas sim como o resultado da bondade de quem governa.
A
opção do PSD de Rio e agora de Montenegro em não defender a importância dos
governos de Passos levou não só a que Costa agarrasse a bandeira das
contas certas como permitiu que se instalasse o dogma de que então se tinha governado contra os pensionistas. O
resultado está aí à vista de todos no que se pode designar como política
vice-versa: como se distinguem os pagamentos extraordinários de Costa dos de
Montenegro? Não distinguem. Montenegro encurrala Pedro Nuno Santos ao anunciar os pagamentos
extraordinários porque o líder socialista gostava de anunciar o mesmo. E, valha
a verdade, podia fazê-lo nos mesmos termos.
Sim, nós temos muitos problemas por não
existir continuidade nas políticas, embora
essa falta de continuidade só cause preocupações quando o governo deixa de ser
socialista. Mas os nossos
dramas resultam precisamente do contrário: da continuidade. Basta olhar para a
Segurança Social para o percebermos. Arriscamos que quem se reformar em 2050
tenha uma reforma por metade do que teria actualmente porque em matéria de
Segurança Social vivemos a continuidade.
Sim, faz-nos falta um pacto nesta área.
Não para que exista a continuidade do tal empobrecimento silencioso, mas sim
para que se possa fazer a ruptura indispensável que o minore. Mas disso o
Presidente não quer ouvir falar. E Montenegro também não. E Pedro Nuno Santos
ainda menos. É o chamado consenso vice-versa: aquele
assunto-momento em que cada um pode dizer ou fazer o mesmo que o seu contrário.
É precisamente esse o ponto em que a linha do empobrecimento se cruza com a da
mediocridade. Podem chamar-lhe sina. Eu chamo mediocridade.
Um passe para a GP – Greves de Portugal. No Pontal, Luís Montenegro anunciou o
passe ferroviário a 20 euros e logo o país desatou a fazer contas sobre as
vantagens e desvantagens deste anúncio. Mas não adianta fazer contas e muito
menos criticar ou elogiar o Governo por este anúncio pois custe o passe o que
custar em muitos dias ele não serve para nada porque a CP na verdade não é CP –
Comboios de Portugal mas sim GP – Greves
de Portugal. Estava
Montenegro no Pontal a anunciar o passe ferroviário a 20 euros e já decorria a
greve convocada pelo Sinfb e pelo Stmefe, respectivamente Sindicato
Independente Nacional dos Ferroviários e Sindicato dos Trabalhadores do
Metro e Ferroviários, entre 9 e 31 de Agosto. Entretanto o Sinfb já convocou
uma nova greve entre 29 de Agosto e 9 de Setembro, a partir da sexta hora de
serviço e ao trabalho extraordinário.
Tendo em conta o muito que os contribuintes
pagam à CP pelo serviço público de transporte o que precisamos
não é tanto que os passes baixem (o que só aumenta ainda mais o valor a
transferir para a CP), mas sim que a CP preste o serviço de que praticamente
detém o monopólio em Portugal: transportar os passageiros dentro dos horários
previstos.
Lusa, a nossa agência “noticiosa”: “Milhares de opositores reclamam por “verdade” e Maduro mobiliza caravana
motorizada”. Esta verdade entre aspas usada no texto da Lusa
logo replicado em várias notícias é um bom símbolo da forma como a agência Lusa
nos mostra o mundo: os opositores a Maduro pedem “verdade”. Cautelosa a nossa Lusa coloca verdade
entre aspas porque como é mais que óbvio quem pede verdade pode estar a mentir
e portanto usam-se aspas, faz-se uma citação e fica tudo acautelado.
Curiosamente ao mesmo tempo que coloca aspas na verdade exigida pelo
opositores a Maduro, a nossa Lusa (sim, todos nós contribuintes somos
obrigatoriamente accionistas da Lusa) escreve sem aspas “Mortos em Gaza ultrapassam os
40.000″ A fonte deste número é o Ministério da Saúde de Gaza
controlado pelo Hamas, que para a nossa Lusa merece uma credibilidade várias
vezes superior à oposição venezuelana e portanto está dispensado de ter as suas
declarações entre aspas.
Nada disto espanta na Lusa. O que espanta e deve suscitar perguntas é
a opção do Governo de Luís Montenegro de enterrar ainda mais dinheiro dos
contribuintes na Lusa. Note-se que o Estado português já era maioritário na Lusa, mas os
50,15% que aí detinha passaram em Julho deste ano a 96 % quando
o Governo de Luís Montenegro comprou as participações da Global Media e da sua
accionista maioritária Páginas Civilizadas no capital da Lusa. Não sei quais os
planos governamentais para a Lusa mas, para começar, vale certamente a pena que
a Lusa explique aos seus accionistas, ou seja a todos nós, quais os seus
critérios para o uso de aspas. Ficava tudo mais claro, o que é naturalmente de
agradecer.
POLÍTICA GOVERNO PS PRESIDENTE DA
REPÚBLICA
COMENTÁRIOS (de 121)
Miguel Nobre Menezes: Os médicos nunca
passaram para as 35 horas. Há 15 anos que trabalho 40 horas no SNS como médico.
Ouço sistematicamente os jornalistas falharem sempre neste ponto. Todos. Sem
excepção. É como o tema da falta de médicos. Há falta de médicos no sector
privado? Não. Nem em Portugal, que produz há bastos anos médicos a mais. O que
há é um SNS com um sistema ultrapassadíssimo, disfuncional, incapaz de promover
a produtividade, alicerçado em ideologia em vez de pragmatismo. Quem trabalha
bem fá-lo por brio profissional e está sempre a lutar contra toda a estirpe de
disparates. É exasperante. Por isso tantos saem, e cada vez mais. Não é com
“horas” que se resolve isso. A maior parte da actividade em Medicina não se
mede em horas. Quando tivermos um ambulatório funcional, deixamos de viver para
as urgências. Não é preciso inventar a roda. Basta olhar para os sistemas que
funcionam na Europa ou mesmo em Portugal fora do SNS e mudar. Enquanto
insistirmos no velho modelo inglês (as coisas no UK também estão péssimas, com
problemas idênticos aos nossos) não saímos disto. É preciso pensar muito mais
longe que a uns meses. E perceber que só uma reforma de fundo resolverá o
problema - e demorará anos, não meses. José B Dias: É sempre bom recordar a aprovação do
regresso das 35h para a Função Pública ... e do que Marcelo afirmou que faria
se se viesse a constatar efeitos perversos da medida! Os portugueses têm a
memória muito fraquinha ... Fernando CE: Marcelo “só” se preocupa com a sua
popularidade. Agora os portugueses talvez descubram a diferença de um estadista
como foi Aníbal Cavaco Silva. Nunca quis agradar, apenas preocupado com a ideia
que ele tinha e tem sobre o futuro do país e dos portugueses. Nuno Abreu: O problema é que nós, os velhos que somos já quase 50% dos
eleitores votamos em quem nos garante o pagamento das pensões e nos fazem
promessas de aumentos. Quem vier que feche a porta. Pobres dos nossos netos! bento guerra > Maria Fernanda Louro: Puro cinismo Vítor Araújo: Confirma-se que o socialismo de
Montenegro não é diferente do de Costa, do de PNS e mesmo do de Rui Rio, que
felizmente nunca chegou a acontecer. O que se vem constatando é que o
socialismo do Chega converge também com os demais, na aprovação de medidas
populistas e eleitoralistas no que toca à questão económica. Parece não haver
opção no espectro político após o único homem de estado ter deixado de governar
há já quase 10 anos. Jorge Espinha: Sobre a Lusa Helena, já os leitores do
Observador andam a reclamar há anos nas caixas de comentários. O Observador faz
copy paste daquilo que a Lusa noticia sem sentido crítico. E o mesmo acontece
com a AP e a Reuters. Talvez o JMF deva ler a sua crónica. Quando à segurança
social, qual a solução? Aumentar as contribuições dos trabalhadores e dos
patrões? Há espaço para isso? Cada um de nós tem de ter o seu plano de poupança
reforma paralelo ou seguir os conselhos da “casa de investimentos “ Alfaiate Tuga: Perdi a esperança, Portugal está
condenado à miséria, ajudei a eleger um governo supostamente de direita, que
todos os dias aumenta a despesa pública em troca de futuros votos, o PS não foi
tão longe e até poderia ter ido. Este governo desde que tomou posse, mais não
fez do que distribuir dinheiro pelos funcionários públicos mais ruidosos ou
grevistas, agora vai tocar 400 milhões aos pensionistas, afinal são
muitos e é preciso mantê-los contentes não vá haver eleições amanhã.
Ou seja, este governo só implementou políticas de esquerda, que em nada
reformam o país e apenas acrescentam despesa. A baixa de IRS até ao
oitavo escalão como prometido na campanha afinal é só até ao sexto, ou
seja os que são mais esbulhados em impostos para o governo distribuir dinheiro
pelos acomodados improdutivos vão continuar a ser esbulhados. Portanto
Montenegrino, sejam as próximas eleições quando forem, o meu voto não vais
voltar a ter. Rui Lima: Temos mais médicos, formamos mais
médicos , temos o dobro de escolas de medicina , em relação a Europa. Se houver
uma governação socialista no deserto do Sarah após um ano estarão a importar
areia. O socialismo tudo desgoverna e o actual governo é primo dos socialistas,
com as suas últimas medidas dá uma mensagem errada ao povo , afinal tudo
depende do estado é tão popular distribuir dinheiro sem resolver os problemas. Ana Luís da Silva: Quando leio artigos como este de
Helena Matos, em que são reveladas as verdades ou, melhor dito, a mediocridade
e a manipulação políticas e os seus protagonistas (PR, PM, LUSA), apesar de ser
feia a realidade sinto sempre que a sanidade ainda existe sobre a Terra. Montenegro
acusa outros de populismo, mas ele próprio é a outra face desse populismo.
Rendeu-se sem apelo nem agravo ao salva-vidas dos medíocres: o facilitismo. Mais:
sem coragem de propor e realizar o que precisa ser feito para mudar Portugal
(designadamente no transporte ferroviário), aderiu ao miserável pão e circo
dos socialistas. Sem competência (sem competentes?) o PSD afunda-se no
imediatismo popularucho.
Antonio Sennfelt: Cada vez tenho
mais apreço por Pedro Passos Coelho!
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