Montenegro
tinha
um bom mestre – Passos Coelho,
que
não quis seguir, limitado a idênticas manigâncias de benesses governativas anteriores,
generalizadas, macaqueando a arte de governar em termos de aproveitamentos compensatórios
de muito paleio de mistura, a mão no peito sorridente, angariadora da simpatia,
com as distribuições protocolares iniciais buscando améns, como fizeram os
anteriores, que naturalmente agora atacam, poupados e clarividentes e amantes “pátrios”,
os améns substituídos pela conveniência crítica da respeitabilidade própria. Sempre
o mais do mesmo enrolador da “austera,
apagada e vil tristeza” da nossa manha agressiva, invejosa e egocêntrica.
Decisivamente rasteirinha…
Oposição?
As coisas são difíceis nas oposições
mas não era preciso serem tão más: os últimos dias anunciam-nos justamente que
o estado da mediocridade é para continuar.
MARIA JOÃO AVILLEZ Jornalista,
colunista do Observador
OBSERVADOR, 21
ago. 2024, 00:2137
1 Mal Luís Montenegro acabou de
falar uma noite destas no Algarve e logo, como moscas, houve um voo
imparável de palavras, aterrando sobre as ouvidas minutos antes, ao líder do
PSD. Uma sanduíche de palavras sem
nada no meio.
Não que não fosse obrigatório — era —
rever criticamente, racionalmente, numa
palavra rever politicamente, o aguardado speech. (É melhor
dizer semiaguardado: com o país em
férias, distraído e distante, e quatro ou cinco écrãs de televisão a bombarem
“informação”, falar em “rentrée” será um enigma mas é certamente um
equívoco: rentrée de quê?)
2 Voltando ao sul: teria sido
útil, sim, (nacionalmente útil) um olhar avisado sobre alguns passos da
retórica política de Montenegro, (já lá vou), mas para começo de conversa fico com as conversas da oposição,
ouvidas nessa própria noite e nas horas seguintes. Claro que o país
atento já há muito — não é obviamente deste verão — se apercebera
do downgrading ocorrido no espaço público, nas instituições, no
debate político e parlamentar. Desceram-se
não sei quantos lances de escadas na exigência, na qualidade, na vontade, na
liderança; nos comportamentos cívicos, até na decência. No fundo, no
entendimento do que é “servir” politicamente um país (mais que um partido ou uma
clientela).
Mas há dias, não sei se devido ao
intervalo político que não houve, se a férias, moscas ou calor, as apreciações das lideranças da oposição
quanto ao discurso do chefe do governo foram, em vários tons e sons,
confrangedoras. Um alinhamento de trivialidades, ressentimento ou pura
irresponsabilidade. Foi conforme.
Duplamente imperdoável: 1) teria sido preciso perguntar algumas coisas
ao chefe do Governo, entre elas se há algum piloto de contas a bordo ou o que
entende ele por “liberalismo”, por exemplo; 2) Teria porém sido preciso fazê-lo com argumentação séria e não
alinhavando frases que, de tanto ouvidas, sempre as mesmas, a propósito de seja
qual for o tema, menorizam a oposição, toda ela, dinamitando o seu estatuto.
Uma incompreensível auto-desqualificação: há
partidos ancorados exclusivamente num bota-abaixismo compulsivo, e tudo
compulsivamente exigindo ao governo, e pouco ou nada a eles mesmos; outros a
não quererem “ser maçados”, outros ainda achando “pouco” as prendas oferecidas
aos pensionistas e desafiando a que o governo seja “mais” generoso.
As coisas são difíceis nas oposições
mas não era preciso serem tão más: os últimos dias anunciam-nos justamente que
este estado de mediocridade é para continuar. A pobreza argumentativa não pode ser lida de outra maneira. Da
qual é sinal a desfaçatez quase risível, se não fosse tragicamente reveladora,
com que o PS deplora o estado da Saúde, passando ao lado dos estéreis oito anos
de poder socialista que o país testemunhou ao vivo e em directo: sim,
houve muito dinheiro atirado sobre o sector… e para quê? (E os outros
“sectores”? E os milhões do PRR apenas só aplicados em cerca de 26%…?)
Tudo indica assim que o PS se vai manter na sua maledicência
gratuita, insistindo que o “diálogo” e a “cedência” venham apenas do governo,
mas sobretudo de um lado que não seja o seu (como se fosse politicamente
possível, plausível, democraticamente aceitável uma governação feita pelo
Parlamento e à margem do Executivo).
As esquerdas, mesmo que não pareça,
seguirão o PS, precisam dele como de pão para a boca. O orçamento? Até ao
fim haverá tudo o que a nobre arte do teatro fornece a uma encenação:
hesitações, aflições, emoções, acusações, negociações. Toda a política parece ter — tem — hoje o
seu eixo de gravidade assente na passagem do cabo do Orçamento do Estado, mas
que não haja ilusões: a vida política continuará na mesma. Ferida da mesma
fragilidade governativa, contaminada pela mesma medíocre oposição, presa à
mesmíssima instabilidade. É da natureza do quadro político e partidário que aí
está.
Numa palavra: o governo continuará,
não sabemos é se durará. (Não é nada a mesma coisa.)
3 Quanto ao
primeiro-ministro — sobre quem já discorri sobre as suas qualidades de
maestro; a bela escolha de alguns ministros; a preferência pela relação, mais
reservada e sobretudo institucional antes do mais, que escolheu ter com o
Presidente da República; a sua serenidade-sobriedade-bom senso, bom
sistema nervoso, no modo como actua ou intervém publicamente — espantaram-me
duas coisas: 1) o seu
desenvolto à vontade face à despesa pública que (aparentemente) a faz somá-la,
em vez do contrário — e mesmo conhecendo-se o saber técnico do seu prudente
ministro das Finanças, intriguei-me; 2)
o estranho constrangimento de Montenegro face ao “liberalismo”, não se
alcançando de que foge a sete pés no vasto conteúdo e significado da palavra. Claro
que o último resultado eleitoral legislativo colocou politicamente o PSD ao
centro do xadrez político, mas convém acautelar o centro-direita e a própria
direita. Era melhor tratar o “liberalismo “de outro modo, foi à custa destas
e de outras que o Chega cresceu.
E finalmente tomei boa nota do selo
colocado na morte oficial do passismo. O
primeiro-ministro admira Sá Carneiro e inspira-se em Cavaco, está no seu
pleníssimo direito, a responsabilidade da escolha política é exclusivamente
sua, e é boa. Estranhei apenas que — como quem bebe um copo de água — ele
sinalize que já nada lhe dizem os quatro terríveis anos de um combate político
que do princípio ao fim também protagonizou e com verve e fibra política (eu
lembro-me); e cujo epílogo feliz — na vitória eleitoral, na re-credibilização
exterior do país e na herança deixada de contas certas — devia orgulhá-lo mais
do que embaraçá-lo.
Não é novo, mas um dia alguém
terá de contar esta história.
COMENTÁRIOS
(de 37)
André Ondine: O PS é um partido sem vergonha
e com enorme lata. Abusa da ignorância das pessoas para se procurar perpetuar
no poder e assim manter os infinitos tachos dos seus militantes. Foi assim com Passos Coelho,
que teve que implementar um programa austero para levantar o país da herança
socrática e sujeita-se até hoje às humilhações socialistas sem estes assumirem
que foi o seu partido que fez falir o país com consequências devastadoras. E
é assim hoje, com Montenegro, que é igualmente alvo da desfaçatez socialista e
que está a procurar também levantar o país após a degradação trágica em que o
Estado Social ficou depois dos anos habilidosos, que apenas serviram para
promover Centeno e o Habilidoso na Europa. E agora o carismático,
ajudado por outros comparsas como Ana Gomes e outros que tais, fala sem
qualquer vergonha como se o governo tivesse partido do zero. Não partiu. Partiu
do muito negativo. De um Estado Social degradado, decadente e delapidado, ainda
por cima poluído de camaradas do aparelho socialista. A lata deles é chocante.
Mas a cumplicidade dos Media ajuda à festa e o carismático sente-se protegido
mesmo quando só diz disparates. O analfabetismo dos anos pre-25 de abril
manifesta-se hoje em falta de valores, má-educação e até burrice. E é nesse
pântano ético que o PS prolifera… Tim do A
> Carlos Chaves: Mais o criminoso erro de não
pôr a bitola europeia na ferrovia e continuar apenas a apostar no turismo. Carlos
Chaves: Mais um tremendo erro político de Montenegro e a sua “entourage”…
Rejeitar/Omitir o hercúleo trabalho de Pedro Passos Coelho para nos salvar de
uma bancarrota anunciada, criada pelo execrável partido socialista! E mais, pôs
o país a crescer novamente! Que a atitude de amnésia por conveniência, esteja
novamente a ser ensaiada pelo PS, em relação à destruição do SNS que eles
promoveram durante os últimos oito anos, não é de estranhar tamanho
comportamento suíno desta agremiação de malfeitores! Mas que a comunicação
social lhes dê lastro e escondam tamanho crime, deveria interrogar-nos a todos
sobre o que realmente se passa neste mundo da CS, que nos deveria informar
imparcial e independentemente, mas está a fazer exatamente o contrário do que
seria a sua missão.
José
Carvalho: Volta Passos Coelho! Carlos
Quartel: Montenegro
manobrou. Mas o PS é o último com moral para o censurar. Desde
Sócrates que não tem feito outra coisa. Sócrates entrou em bancarrota, Costa
fez-se ao poleiro de pois de perder eleições, com o cuidado de nunca exceder as
exigências da UE. Deixou apodrecer serviços, e a actividade normal de
esquemas, cunhas e manobras duvidosas seguiu, como sempre. Este bodo aos reformados só
nos diz que Montenegro aprendeu depressa e não é boa notícia. Já temos a
nossa dose de habilidosos.... Tim do A: Esta senhora é do PSD como
quem é de um clube de futebol. Quando o PSD tem bons dirigentes, como Cavaco
Silva ou Passos Coelho, aplaude e quando tem maus, como Montenegro, também
aplaude. Assim não serve! Não presta um bom serviço e descredibiliza-se
totalmente. Vasco
Esteves: Brilhante como sempre! No entanto lamento dizer que Montenegro parecia
inicialmente não servir para primeiro ministro, melhorou algo e quase conseguia
mas já não o é desde o populismo do pontal. Pena. Carlos Real: A Maria JoÃo afirma que o
problema resulta da natureza do quadro politico e partidário. O verdadeiro
drama e que ele corresponde ao pensamento da maioria dos portugueses. Vejamos,
o caso dos encerramentos de serviços hospitalares. Ninguém (salvo raras excepções,
como a auditoria realizada em 5 hospitais) se atreve a criticar os médicos, e
sobretudo as chefias que permitem que os médicos façam férias em bloco,
obrigando ao fecho dos serviços. Seria bonito, se os empregados das bombas de
gasolina, os apanhadores do lixo, os técnicos que asseguram a manutenção da
rede elétrica, fizessem o mesmo. Na nação do povo manso ninguém se revolta.
Todos assobiam para o lado. A começar pelo governo do faz de conta do
Montenegro. José
Carvalho André Ondine: De acordo com tudo, incluindo
quando diz que Montenegro está a procurar também levantar o país. O problema é que, imitando o
PS, não vai conseguir levantar coisa nenhuma. Filipe
Paes de Vasconcellos: A oposição, a mídia e o comentariado foram durante o Costismo alimentados
pelo socialismo no bate-papo de banalidades plantados pela enorme
vulgaridade dos políticos que estiveram no poder 8 anos. Acresce que viciados e
dependentes destas discussões nas passarelas da televisão como tendo uma genialidade
e sabedoria muito acima dos políticos eleitos (o que cá para nós até acontecia
frequentemente!) perderam o palco, pois Montenegro deixou a oposição e os ditos
seus dependentes a falarem sozinhos. E isto é o que mais lhes dói! Já estou
como o outro, “habituem-se !
Nuno Abreu > André Ondine: Totalmente de acordo. Nada
tenho a acrescentar! Obrigado!
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