sábado, 10 de agosto de 2024

Graças à minha neta Mafalda



Tenho o texto que coloquei esta manhã todo fora dos eixos, já dentro das normas, mostrando a relação entre o OBSERVADOR e os nossos Jogos OlÍMPICOS galardoados de 2024. Também a MAFALDA merece uma medalha – minha – como figura gigante para a minha ignorância mediática.

Eis o texto já manipulado:

Uns Jogos Olímpicos não são só um sonho para qualquer atleta; também o podem ser para jornalistas apaixonados por desporto e viciados em contar boas histórias, como o nosso enviado especial a Paris, Bruno Roseiro. Esta quinta-feira, por exemplo, depois de ver a prova da nadadora Angélica André (12ª em águas abertas), tinha um intervalo de quatro horas até começar o ciclismo de pista, em que Iuri Leitão nos daria uma medalha de prata.

Poderia ter aproveitado para dormir e compensar as poucas horas de sono; ou para descansar, depois de ter percorrido 162 km a pé (256 mil passos) desde que os Jogos começaram; ou ainda para procurar um ambiente ameno, depois da chuvada no primeiro dia, do gelo no pavilhão em que viu o basquetebol, e do forno no velódromo onde o ciclista português competiu — mas não resistiu a ir espreitar um bocadinho de Taekwondo, uma das 22 modalidades a que assistiu nestas duas semanas.

Tropeçou logo na história incrível de Kimia Alizadeh, primeira iraniana medalhada de sempre em 2016, que decidiu deixar o Irão com críticas à falta de liberdade; competiu pela equipa dos refugiados em Tóquio em 2021 (sendo ostracizada pela televisão pública iraniana, que não mencionou o seu nome e se referiu a ela como “sem abrigo”); e agora estava em Paris a representar a Bulgária, país que a acolheu e pelo qual já se sagrou campeã europeia. Enfrentou uma iraniana que era a sua melhor amiga, com quem dividia quarto nos estágios e nas competições, e perdeu o combate a dois segundos do fim. Ambas passaram de forma muito tensa pela zona mista: a agora búlgara não falou aos jornalistas; a iraniana foi chamada para ouvir os parabéns de um representante do governo, respondeu apenas a duas perguntas aparentemente combinadas de uma jornalista do seu país e desapareceu.

Na redação do Observador, apesar de não haver a excitação de estar tão perto dos super-atletas e de os ver ao vivo, os Jogos têm sido acompanhados com muito entusiasmo, à mistura com algumas dúvidas sobre as regras estranhas de certas modalidades menos conhecidas — e, claro, com um complemento da cobertura em permanência no nosso liveblog no site. Na Rádio Observador, além das atualizações de meia em meia hora, temos preparado emissões especiais sempre que há hipótese de medalhas.

Foi assim com a judoca Patrícia Sampaio, com Nuno Delgado no estúdio e a mãe da medalhada a entrar emocionada no ar; foi assim quando Gabriel Albuquerque ficou em quinto lugar nos trampolins; foi assim na medal race da Vela, que depois acabou por não se concretizar; foi assim com Pablo Pichardo esta sexta-feira, em que até contámos com o presidente da junta de Pinhal Novo, onde o vice-campeão olímpico treina todos os dias; e foi assim com Iuri Leitão, na última das quatro provas de ciclismo de pista, em que alcançou o segundo lugar para Portugal.

Para estas emissões especiais, muitas delas improvisadas com pouca antecedência quando se torna realista esperar um resultado histórico, tentamos contar com quem perceba da modalidade, para ajudar a interpretar o desempenho dos atletas; mas também com quem os conheça melhor, desde colegas de equipa, a dirigentes, familiares e amigos de infância. No caso do ciclista de Santa Maria Portuzelo, a emissão foi salva pelo padre da sua paróquia, que não só entrou no ar assim que acabou a missa como facultou os contactos dos amigos que pedalam com o Iuri em Viana do Castelo e de um antigo treinador, que se emocionou em directo assim que ele conquistou a medalha de prata, à conversa com o Miguel Videira e o Diogo Varela. Mais emocionada ainda estava a mãe de Iuri Leitão, ao ponto de não conseguir entrar em directo na emissão, por estar a soluçar — mas a quem a nossa produtora Inês Galrito não deixou de dar os parabéns pelo resultado épico e inesquecível do filho.

Este sábado mudámos o alinhamento das manhãs de fim-de-semana para poder acompanhar em directo depois do meio-dia a final de Fernando Pimenta na canoagem, com comentários de Eduardo Gomes, canoísta que fez parte da primeira equipa olímpica portuguesa da modalidade em 1988 (Seul), do ex-campeão nacional Diogo Raposo, e ainda de Emanuel Silva, vice-campeão olímpico em 2012 precisamente com Fernando Pimenta. E às 16h59, lá voltaremos a seguir em directo o regresso à competição de Iuri Leitão no ciclismo de pista, desta vez com Rui Oliveira. Se voltar a dar medalha, talvez desta vez já consigamos ouvir a emoção da mãe do Iuri em directo.


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