O Menino Jesus do “Hino de Amor” do João de Deus também safou um
passarinho de ser comido por uma serpente de olhar penetrante, e o passarinho
ficou-lhe para sempre, grato, como por aqui se vê, no poema da “Cartilha
Maternal”, postado na Internet, - e assim se compreender a sensibilidade do
PAN, nas suas frentes de combate, que incluem natureza, animais e pessoas, mas em
que MARGARIDA BENTES PENEDO, positiva e arguta – mesmo
em psicanálise - não alinha, provavelmente considerando de
requinte snob esses pareceres um tanto artificiais do PAN, como causas
angariadoras de sobrevivência, ditadas paradoxalmente pelos ódios – afinal não
democráticos - do fervor doutrinário que se supõe exclusivo. Que o poema de
João de Deus os abrande, em preciosa expectativa de equiparação com o Menino
Divino, tão docemente descrito:
Andava um dia
Em pequenino
Nos arredores
De Nazaré,
Em companhia
De São José,
O bom Jesus,
O Deus Menino.
Eis senão quando
Vê num silvado
Andar piando
Arrepiado
E esvoaçando
Um rouxinol,
Que uma serpente
De olhar de luz
Resplandecente
Como a do Sol,
E penetrante
Como diamante,
Tinha atraído,
Tinha encantado.
Jesus, doído
Do desgraçado
Do passarinho,
Sai do caminho,
Corre apressado,
Quebra o encanto,
Foge a serpente.
E de repente
O pobrezinho,
Salvo e contente,
Rompe num canto
Tão requebrado,
Ou antes pranto
Tão soluçado,
Tão repassado
De gratidão,
De uma alegria,
Uma expansão,
Uma veemência,
Uma expressão,
Uma cadência,
Que comovia
O coração!
Jesus caminha
No seu passeio,
E a avezinha
Continuando
No seu gorjeio
Enquanto o via;
De vez em quando
Lá lhe passava
À dianteira
E mal poisava,
Não afroixava
Nem repetia,
Que redobrava
De melodia!
Assim foi indo
E foi seguindo.
De tal maneira,
Que noite e dia
Numa palmeira,
Que havia perto
Donde morava
Nosso Senhor
Em pequenino
- (Era já certo) -
Ela lá estava
A pobre ave
Cantando o hino
Terno e suave
Do seu amor
Ao Salvador!
Os alvos das atenções do PAN
No fundo o PAN não faz política, faz sentimentalismo.
E um sentimentalismo perverso, porque usa em seu proveito os sentimentos que as
pessoas desenvolvem pelos animais de estimação.
MARGARIDA BENTES
PENEDO Arquitecta e deputada municipal
OBSERVADOR,
01 ago. 2024, 00:1626
Na semana passada, última sessão
plenária antes da pausa para férias, a Assembleia Municipal de Lisboa discutiu
um Voto de Protesto apresentado pelo PAN contra o Festival de Yulin, na China.
Não sabemos ao certo quando se tornou regular esta barbaridade anual: a maior
parte das fontes aponta para 2009, algumas apontam para a década de 1990.
Sabemos que durante o festival as pessoas celebram o solstício comendo carne de
cão – entre outras “tradições” aberrantes que o documento do PAN, com um pé no
sadismo e outro na pruriência, descreve detalhadamente. Para todos os efeitos,
a declaração óbvia: o Festival de Yulin é repulsivo. Não conheço ninguém que
pense o contrário, nenhum grupo municipal mostrou pensar o contrário, e já isto
é sintomático: se uma ideia política não contraria ninguém, ela não é política
nem é uma ideia. Aproxima-se de um facto, ou de um desejo. O PAN representa na
política portuguesa o papel daquele sábio para quem mais vale ser rico e feliz
do que pobre e doente, e apresenta nos órgãos da democracia Votos de Protesto
contra a pobreza e o sofrimento. Isto mostra uma parte da demagogia do PAN,
se não quisermos reconhecer nele a personificação do populismo.
Mas há mais, e por isso o episódio
merece mais umas linhas de relevância. Ele mostra o fanatismo animalista do
PAN. É curiosa a maneira como o PAN recusa limitar o espectro potencial dos
seus eleitores, decretando sobre si próprio “nós não somos de esquerda nem de
direita”. Mas não vemos o PAN apresentar Votos de Protesto pela maneira como
os cidadãos são tratados na Coreia do Norte, ou em Cuba, na Venezuela, ou nos
outros países comunistas. Não vemos o PAN apresentar Votos de Protesto pela
maneira como os homossexuais são tratados na Rússia do sr. Putin, ou no Irão,
ou na confusão islâmica da Palestina. Nem
sequer vemos o PAN apresentar Votos de Protesto pela maneira como os animais
são tratados nas tribos primitivas de África ou da Amazónia, onde o PAN
não tem repórteres de teclado nem representação municipal, e onde suspeito que
os animais não serão respeitados como se respeitam aqui, nos países ocidentais.
Olhamos a toda a volta, com minúcia e
atenção, e não vemos o PAN mexer um dedo por nenhuma destas abominações. Mas
vemos o PAN esgravatar a actualidade à procura de maus-tratos animais
escolhidos a dedo, os mais mediáticos, divulgados em vídeos pelos adolescentes
e pelas celebridades, para o PAN se juntar à procissão.
O PAN nunca arrisca nada. Não enfrenta
nem desafia os poderes instalados do pensamento dominante. No fundo, o PAN
não faz política, faz sentimentalismo. Um
sentimentalismo de má qualidade e um sentimentalismo perverso, porque usa em
seu proveito os sentimentos que as pessoas desenvolvem pelos animais de
estimação. O PAN faz o pior tipo de sentimentalismo, numa sociedade
empobrecida e envelhecida, onde o desespero das pessoas solitárias as
transforma em alvo apetecível das atenções do demagogo. O PAN não se interessa
pelos animais, interessa-se pelos votos dos donos dos animais.
Para se defender, dirá o teórico do PAN,
com o seu arzinho de seminarista inter-espécies, que esta é uma visão antropocêntrica. Tem razão.
É, de facto, uma visão antropocêntrica do mundo e, ao contrário do que lhe
convém a ele, nós devemos continuar antropocêntricos a pensar as coisas da
política e do mundo. Porque a alternativa é descermos à civilização dos animais
irracionais.
__________
P. S.: Farei uma pausa nas próximas semanas.
Desejo a quem estiver de férias umas boas férias, e a todos um bom mês de
Agosto. Regresso em Setembro.
ANIMAIS NATUREZA AMBIENTE CIÊNCIA PAN POLÍTICA
COMENTÁRIOS (de 26)
Pedra
Nussapato: Na verdade, o
"problema" desta posição do PAN é uma certa incoerência ou falha
ideológica. Tanto quando julgo saber, os cães são criados para este festival
tal como são criados outros animais que consideramos "normal" serem
usados na alimentação. Nesse sentido, tanto é criticável (ou não) este festival
da carne de cão como é o festival da carne barrosã ou o festival do leitão. João Floriano: Tinha-me esquecido
completamente de que ainda existe um grupo de amigos que dá pelo nome de PAN.
De certo modo até nem seria mau de todo haver eleições antecipadas para correr
de vez com a Dra. Inês. Carlos F.
Marques: o pan é apenas mais uma agremiação de chico espertos. JOSÉ
MANUEL: Tb parece que não se incomodam muito com a forma como uma certa etnia trata
os seus animais...até correram imediatamente com a única pessoa que falou do
assunto. Tim do A: Nem mais! O PAN não se
interessa pelas pessoas nem pelos animais. Só pelos tachos. João Floriano > Pedra
Nussapato: O PAN já se pronunciou sobre o mistério aqui na margem sul de colónias de
gatos de rua que desaparecem da noite para o dia? Eu já avisei a Lolita e o
Milo para não irem ao quintal depois do anoitecer, porque nunca sabemos quem se
esconde atrás do muro. Prefiro partidos que se interessam pelos problemas dos locais,
em vez de andarem a propor votos de protesto na China. Por acaso já estive em
Guilin. Pescam com o cormorão. O PAN já se insurgiu contra esta forma de
trabalho escravo em que ainda por cima apertam o gasganete do trabalhador? Coxinho: Tem razão a autora do artigo,
como de resto quase sempre naquilo que publica neste jornal. Mas gostaria de acrescentar a minha perplexidade em relação a... ao próprio
PAN ! Serão vegetarianos todos os membros do PAN ?? Suspeito que não -- o que me parece uma falha muito grave de coerência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário