Justificativas do acidente, a do gelo nas asas não estando confirmada.
O horror dos horrores, esse é,
em definitivo, a expressão máxima superlativante de tal tragédia, à maneira do Cântico dos Cânticos salomónico, que nos
apetece
usar, em face das imagens do avião a despenhar-se nos céus, a que o
desenvolvimento das tecnologias nos permite assistir, hoje, como o das torres
gémeas há 23 anos, – pese embora a diferença da dimensão humana e de impacto,
além das razões – provocatórias ou involuntárias desses “espectáculos”
proporcionados pelas tecnologias ou pelas irracionalidades humanas, ambas de
monstruosa dimensão, cada vez mais visionáveis, num mundo instantaneamente
visualizado.
Do gelo nas asas à falha nas hélices. O
que poderá explicar a queda do avião que matou 62 pessoas no Brasil?
Ainda é cedo para saber aquilo que
realmente levou o avião da companhia Voepass a cair, mas já se vão formando
algumas teorias. A que reúne mais apoio diz respeito à formação de gelo nas
asas.
OBSERVADOR, 10 ago. 2024, 19:55
As causas ainda não estão apuradas, mas
já há algumas hipóteses em cima da mesa para explicar o que levou à queda
do avião da companhia aérea Voepass em Vinhedo, no interior do
estado brasileiro de São Paulo. Aquela
que tem reunido maior apoio é a formação de gelo no avião, mas há quem defenda
também uma falha na posição das hélices. Especialistas afastam possibilidade de
falha eléctrica e falta de combustível.
Na
passada sexta-feira, o Brasil viveu o pior acidente de aviação desde junho de 2007,
quando um avião chocou com um prédio ao tentar pousar no Aeroporto de
Congonhas, em São Paulo, matando 199 pessoas, disse a Força Aérea brasileira
citada pela CNN. O avião
partiu de Cascavel e dirigia-se para Guarulhos, mas a 8 minutos do destino caiu
a pique, levando à morte das 62 pessoas que seguiam a bordo.
As
autoridades já recuperaram uma das caixas negras do avião — pouco
tempo depois da queda — mas ainda não conseguiram explicar o que terá corrido
mal. No entanto, uma das hipóteses que mais apoio tem
reunido é a acumulação de gelo nas asas do avião. Isto
porque foi emitido um alerta
meteorológico que indicava que podia formar-se gelo e vento severo entre
os 12 mil e os 21 mil pés, sendo que o avião circulava a 17 mil pés (5181
metros), detalha o Globo.
Gelo nas asas
“A asa tem um perfil
aerodinâmico e a acumulação de gelo, geralmente na frente da asa, pode
fazer com que esse avião perca as características aerodinâmicas que ele
tem”, dificultando a sua
deslocação, apontou Geraldo Portela, engenheiro aeronáutico e professor da
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, ao Globo.
O especialista em segurança de voo,
Roberto Peterka, concorda. Em declarações à Folha de S. Paulo diz que este “avião voa a um
nível [de altitude] onde há muito gelo, então o gelo pode ter-se acumulado nas
asas e alterado o perfil de sustentação”, ou seja, as asas pararam de trabalhar, deixando de sustentar o avião. Ao
sofrer esta alteração, o avião “perde
velocidade e vem abaixo”, remata
o especialista.
Contudo, Hildebrando Hoffman, engenheiro e professor jubilado de Ciências
Aeronáuticas na Universidade Católica do Rio Grande do Sul, afasta esta
hipótese. À Folha de S. Paulo começa por dizer
que, mesmo que se tivesse
formado gelo nas asas do avião, isto não seria suficiente para levar a que o
avião caísse na vertical em direcção ao solo (denominado “flat spin”, em
inglês).
E depois
explica que o modelo de avião em causa (o ATR-72-500) tem um sistema
para prevenir a formação de gelo. Uma das características deste avião é que tem
a possibilidade de direccionar ar quente saído do motor para partes críticas do
avião, evitando que se forme gelo, explica. Mas o Globo escreve
que este sistema anti-gelo não é automático, tendo de ser accionado pelo
piloto — algo que não se sabe ainda se terá acontecido.
Falha nas hélices
Para Hoffman, a origem do
problema está nas hélices do avião. A queda da aeronave aconteceu porque, “por algum motivo, deixou de ter tracção”. “Os motores deixaram de funcionar
normalmente. O avião perdeu tracção e veio em queda livre, praticamente na
vertical, a girar. Isso pode ter ocorrido porque algo aconteceu com o
sistema de hélices, que precisa de estar na posição correcta para causar tracção”, disse
à Folha.
A mudança de posição das pás das
hélices pode ser explicado por “uma série de motivos”, como por exemplo
uma determinada manobra”, acrescenta o engenheiro.
As teorias que ficam de fora
Ainda é cedo para saber o que levou a
que o avião com 62 pessoas se despenhasse. Mas os especialistas ouvidos pela Folha de São Paulo já descartaram
algumas hipóteses, nomeadamente uma falha eléctrica, porque há sistemas de
emergência previstos para assegurar quando algo falha. E também falta de
combustível, porque este queimou no solo após a queda do avião.
Além disto, o engenheiro Hildebrando Hoffman recusa a ideia de ter havido um problema
de aerodinâmica, porque nas imagens da queda do avião não se via a fragmentação
e queda de qualquer peça importante, diz.
Até ao momento não há informações
concretas sobre a causa do acidente, tendo a Força Aérea brasileira accionado
o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) para
analisar a situação. Mas o CEO da companhia aérea Voepass, Eduardo
Busch, garantiu que a tripulação do
voo era experiente e muito competente e disse que todas as teorias que têm
circulado, inclusivamente nas redes sociais, é especulação, escreve a BBC.
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