Num mundo já suficientemente
marcado por tal “norma”. Que mais irá acontecer?
A desorientação de Trump
A campanha de Trump parece ter sido
apanhada de surpresa pela substituição de Biden por Kamala Harris. É como se a
máquina de Trump ainda não tenha conseguido ajustar-se ao novo cenário.
OBSERVADOR, 14 ago. 2024, 00:2131
Desde a substituição de Joe Biden por
Kamala Harris, a campanha presidencial de Trump parece francamente desorientada. Desde logo por continuar a dedicar
demasiado tempo a Biden, mas também pelo enfoque numa sucessão de ataques
pessoais contra Kamala Harris que só tenderão a beneficiar a candidata
Democrata. Da mesma forma que
os processos judiciais lançados contra Trump ajudaram à sua vitimização e foram
muito provavelmente uma ajuda decisiva para derrotar Ron DeSantis nas primárias
do Partido Republicano (os mais cínicos dirão mesmo que foi esse o objectivo
principal da ofensiva judicial), os repetidos ataques pessoais contra Kamala
facilitam também um processo de vitimização com amplo potencial eleitoral para
os Democratas, em especial junto do eleitorado feminino.
Alguns desses ataques são
simplesmente absurdos, como as acusações ou sugestões de que Kamala Harris não
é “verdadeiramente” ou “suficientemente” negra. Com um pai de origem jamaicana e uma mãe de origem indiana, Kamala
tem, como muitos milhões de eleitores nos EUA, origens multirraciais. Uma característica que aliás partilha também
com os filhos do candidato Republicano a Vice-Presidente JD Vance, casado com
Usha Chilukuri, de origem indiana (para desespero de alguns felizmente
ultra-minoritários verdadeiros racistas, que são incapazes de o apoiar por essa
razão).
Como é igualmente absurdo continuar a
dedicar tanto tempo e atenção a atacar Biden ao mesmo tempo que se alega que
Kamala beneficiou de um alegado golpe interno no Partido Democrata e é uma
candidata ilegítima. Quem passou os últimos anos — como Trump fez e bem —
a denunciar que Biden não reunia condições para exercer o cargo de Presidente
dos EUA (e portanto menos ainda para ser candidato a um segundo mandato), não pode agora vir lamentar não ser esse
mesmo Biden o candidato.
A desorientação tem sido tão notória
que a campanha de Trump parece ter sido apanhada de surpresa pela substituição
de Biden por Kamala. Uma surpresa que é estranha dado o estado de Biden,
que a própria campanha de Trump repetidamente denunciou. É como se a máquina de
Trump estivesse montada e afinada para enfrentar Biden e ainda não tenha
conseguido ajustar-se ao novo cenário.
Para recuperar uma dinâmica favorável de
campanha, Trump precisa de rapidamente deixar de se focar em Biden e de reduzir
drasticamente os ataques pessoais contra Kamala Harris, focando-se nas
diferenças políticas entre os dois e na falta de escrutínio crítico à candidata
presidencial Democrata. Como bem explicou Peter Navarro: “He needs votes, and the current
rally formula is simply not sufficiently focused on the very stark policy
differences — policy differences — between him and Kamala Harris that will
swing voters in key battleground states (…) Instead, when Trump attacks Harris
personally rather than on policy, Harris’s support among swing voters rises,
particularly among women.”
Kamala
Harris é uma candidata com muitas fragilidades — desde o seu radicalismo woke
até ao facto de ter sido uma das Vice-Presidentes mais impopulares da história
dos EUA — mas não será através de ataques e insultos pessoais que Trump as
conseguirá explorar. Se desejam realmente ter hipóteses de vencer em
Novembro, os Republicanos precisam de
se focar nas alternativas políticas que oferecem e no contraste com os Democratas em áreas como o combate à
criminalidade, a imigração, a reabilitação urbana das grandes cidades, a
educação, a economia e a política externa. Precisam também de
insistir na absoluta necessidade de sujeitar Kamala Harris a maior escrutínio,
como tem feito já por algumas vezes JD Vance assinalando que a candidata
Democrata foge sistematicamente a expor-se em entrevistas que a possam obrigar
a explicar as suas posições.
O regresso de Trump ao X e a conversa
com Elon Musk são dois sinais de que a sua campanha está consciente das
dificuldades que atravessa e da necessidade de fazer alguma coisa para inverter
a tendência favorável aos Democratas, procurando recuperar alguma da dinâmica
dos dias seguintes ao atentado que teve o candidato Republicano como alvo. Mas
mesmo na (muito amigável) conversa com Musk, Trump não pareceu muito
interessado em aproveitar a oportunidade para ajustar o rumo da sua campanha.
Estando perante alguém — como é o caso de Elon Musk — que declarou ter apoiado
Obama no passado e ter sido levado a apoiar Trump pela sua perceção de radicalização
extrema do Partido Democrata, Trump teria todo o interesse em explorar essa
linha argumentativa. Como deveria ter tido interesse em aproveitar as deixas de
Musk para delinear políticas consistentes e racionais de controlo da
imigração e de contenção da despesa pública nos EUA. No entanto, e não obstante o contexto amigável, Trump optou por não se
comprometer com políticas concretas nesse sentido, repetindo antes slogans
eleitorais e reforçando os insultos pessoais contra Biden e Kamala.
Com dois candidatos impopulares como são
Trump e Kamala e com os media genericamente predispostos a dar um tratamento
bem mais favorável à campanha Democrata, os Republicanos precisam de ajustar a
sua estratégia — e de o fazer rapidamente.
Uma nota final para o Comissário Europeu
Thierry Breton, que achou por bem chantagear
publicamente Elon Musk por causa da emissão de uma conversa com
um candidato à presidência dos EUA, confirmando que a UE vai neste momento por
um caminho muito perigoso. Estiveram muito bem nas suas reacções os deputados
nacionais da IL Bernardo
Blanco e Mário Amorim
Lopes. Sendo Thierry Breton um membro independente do Partido
ALDE (o mesmo da IL), resta esperar que os eurodeputados eleitos pela IL —
João Cotrim Figueiredo e Ana Martins — saibam igualmente reagir em conformidade
e honrar o legado liberal de defesa da liberdade de expressão contra as crescentes
ameaças censórias do poder político e das burocracias da UE.
Donald
Trump Estados
Unidos da América América Mundo
COMENTÁRIOS (de 52)
Lúcio Monteiro: "Alguns desses ataques são simplesmente absurdos,
como as acusações ou sugestões de que Kamala Harris não é “verdadeiramente” ou
“suficientemente” negra.» (André Azevedo Alves, in Observador,
14/08/2024). Nem um debiloide conseguiria arranjar um argumento
mais ridículo. Se é que se pode considerar ridículo a isto. Pelo contrário,
será antes irracional de todo. Tudo indica que Donald Trampa já terá
interiorizado que vai ser derrotado nas eleições de 5 novembro. Para tentar
impedir que tal aconteça, entrou num estado delirante tal, em que todos ataques,
contra Kamala Harris, servem. Eduardo Costa: A máquina de Trump ainda não
conseguiu ajustar-se ao novo cenário, nem vai conseguir? Porquê? Por causa da
inflexibilidade, arrogância, misoginia e boçalidade do próprio Donald Trump. Joaquim Almeida > Tim do A: Uns católicos que são
verdadeiramente a luz do mundo que nos faltava. Vá lá, vá lá que este
ainda vê a Gestapo da censura a deitar os cor..s de fora na Comissão
Europeia. Eduardo
Costa: Para certos comentadores aqui, quem não está a favor de Donald Trump, só
pode ser Woke Esquerdista, Socialista ou mesmo Comunista. Chegam a tornar-se
ridículos e risíveis. Eu sou contra Donald Trump, porque não posso aceitar
que um aldrabão compulsivo, violador, criminoso, ladrão, misógino, hipócrita,
narcisista e traidor antidemocracia, possa vir a ser Presidente dos EUA. E não
sou nem woke esquerdista, nem socialista e muito menos comunista. Cisca Impllit: Decente. Liberal Tim do A: Mais um comentador da
universidade Católica que foi conquistada e aderiu à nova religião socialista
dos liberais Woke dos super milionários. A Igreja Woke tomou a universidade
Católica. É isso que ensinam lá agora. Ideologia da religião Woke. A religião
anti branca. Todos contentes. Vá de retro. Pobre Portugal: Os media estão totalmente
desesperados. Eles sabem, mas fingem não saber, que Kamala é mais fácil de derrotar por
Trump do que era o velho Joe. Se esta crónica se tivesse ficado pela nota final,
tinha uma medalha de ouro. Como não se ficou, vai ser desclassificada. Americo Magalhaes: O Sr.tripple AAA está mesmo
desorientado ...........deixo apenas alguns comentários ,que presumo que o
sr.tripple AAA jamais poderá contradizer . 1.A marxista/wokista e medíocre Kamala não fez as
primárias nestas eleições. Não critica isto? 2.O sr.tripple AAA faz parte
permanente da cruzada anti-Trump, imposta
pela UE e pela CS corrupt e subserviente . O Sr.Trump
só tem defeitos? Não conseguem encontrar nada nele de positivo, mesmo depois da
experiência de 4 anos como Presidente? 3.O sr.Thierry-Bretton representa
a Censura e é o Inquisidor-Mor da UE, que nos quer subjugar a todos pela narrativa
e pensamento único imposto pela força. Quem elegeu este sr. Bretton,
sra.Ursula van der Leyen e Charles Michel para nos impor o que quer que
seja? unknown
unknown: Não percam tempo com análises profundas, eu vou explicar ao sr doutor:
Trump é mau e na história da carochinha os maus nunca ganham, por isso fiquem
descansados porque a vossa democracia está salva, acreditem que o povinho
americano vai votar numa mulher negra inteligente e honesta! Manuel Gonçalves: Do manual da comunicação
social: Publicar um artigo a favor da Kamala Otavio Luso > Eduardo Costa: Talvez não seja woke, mas o
seu sectarismo tolda-lhe o discernimento.
José Tomás > Lúcio Monteiro: Salvo o devido respeito, de entre a pilha de lixo de
argumentos de Trump, este é um argumento válido. Harris, tal como Obama, são
filhos de casais que se divorciaram quando ambos eram pequenos, e tal como
Obama não foi criada pelo pai (no caso dela jamaicano, no caso dele queniano)
mas pela mãe e pela família materna (no caso de Obama brancos, no caso de
Harris indianos). Vir invocar que são "afro-americanos" com base na
"identidade racial" de um progenitor que não os criou, é, parece-me,
um caso de oportunismo, e de racismo "do bom", que acaba por
legitimar o racismo do mau.
Joaquim Almeida: É
simplesmente vergonhosa a advertência saída da cartilha totalitária dessa
Comissão-Thierry Breton. contre "misinformation" e
"harmfull" não sei quê ( à escolha). O X está aberto a
toda gente mas o proprietário tem de ficar à porta... Birras infantis, e
pronto ! João
Alves: A única
desorientação é a destes media vendidos que já não sabem mais o que fazer para
evitar o inevitável.
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