quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Intolerâncias

 

Num mundo já suficientemente marcado por tal “norma”. Que mais irá acontecer?

A desorientação de Trump

A campanha de Trump parece ter sido apanhada de surpresa pela substituição de Biden por Kamala Harris. É como se a máquina de Trump ainda não tenha conseguido ajustar-se ao novo cenário.

OBSERVADOR, 14 ago. 2024, 00:2131

Desde a substituição de Joe Biden por Kamala Harris, a campanha presidencial de Trump parece francamente desorientada. Desde logo por continuar a dedicar demasiado tempo a Biden, mas também pelo enfoque numa sucessão de ataques pessoais contra Kamala Harris que só tenderão a beneficiar a candidata Democrata. Da mesma forma que os processos judiciais lançados contra Trump ajudaram à sua vitimização e foram muito provavelmente uma ajuda decisiva para derrotar Ron DeSantis nas primárias do Partido Republicano (os mais cínicos dirão mesmo que foi esse o objectivo principal da ofensiva judicial), os repetidos ataques pessoais contra Kamala facilitam também um processo de vitimização com amplo potencial eleitoral para os Democratas, em especial junto do eleitorado feminino.

Alguns desses ataques são simplesmente absurdos, como as acusações ou sugestões de que Kamala Harris não é “verdadeiramente” ou “suficientemente” negra. Com um pai de origem jamaicana e uma mãe de origem indiana, Kamala tem, como muitos milhões de eleitores nos EUA, origens multirraciais. Uma característica que aliás partilha também com os filhos do candidato Republicano a Vice-Presidente JD Vance, casado com Usha Chilukuri, de origem indiana (para desespero de alguns felizmente ultra-minoritários verdadeiros racistas, que são incapazes de o apoiar por essa razão).

Como é igualmente absurdo continuar a dedicar tanto tempo e atenção a atacar Biden ao mesmo tempo que se alega que Kamala beneficiou de um alegado golpe interno no Partido Democrata e é uma candidata ilegítima. Quem passou os últimos anos — como Trump fez e bem — a denunciar que Biden não reunia condições para exercer o cargo de Presidente dos EUA (e portanto menos ainda para ser candidato a um segundo mandato), não pode agora vir lamentar não ser esse mesmo Biden o candidato.

A desorientação tem sido tão notória que a campanha de Trump parece ter sido apanhada de surpresa pela substituição de Biden por Kamala. Uma surpresa que é estranha dado o estado de Biden, que a própria campanha de Trump repetidamente denunciou. É como se a máquina de Trump estivesse montada e afinada para enfrentar Biden e ainda não tenha conseguido ajustar-se ao novo cenário.

Para recuperar uma dinâmica favorável de campanha, Trump precisa de rapidamente deixar de se focar em Biden e de reduzir drasticamente os ataques pessoais contra Kamala Harris, focando-se nas diferenças políticas entre os dois e na falta de escrutínio crítico à candidata presidencial Democrata. Como bem explicou Peter Navarro: “He needs votes, and the current rally formula is simply not sufficiently focused on the very stark policy differences — policy differences — between him and Kamala Harris that will swing voters in key battleground states (…) Instead, when Trump attacks Harris personally rather than on policy, Harris’s support among swing voters rises, particularly among women.”

Kamala Harris é uma candidata com muitas fragilidades — desde o seu radicalismo woke até ao facto de ter sido uma das Vice-Presidentes mais impopulares da história dos EUA — mas não será através de ataques e insultos pessoais que Trump as conseguirá explorar. Se desejam realmente ter hipóteses de vencer em Novembro, os Republicanos precisam de se focar nas alternativas políticas que oferecem e no contraste com os Democratas em áreas como o combate à criminalidade, a imigração, a reabilitação urbana das grandes cidades, a educação, a economia e a política externa. Precisam também de insistir na absoluta necessidade de sujeitar Kamala Harris a maior escrutínio, como tem feito já por algumas vezes JD Vance assinalando que a candidata Democrata foge sistematicamente a expor-se em entrevistas que a possam obrigar a explicar as suas posições.

O regresso de Trump ao X e a conversa com Elon Musk são dois sinais de que a sua campanha está consciente das dificuldades que atravessa e da necessidade de fazer alguma coisa para inverter a tendência favorável aos Democratas, procurando recuperar alguma da dinâmica dos dias seguintes ao atentado que teve o candidato Republicano como alvo. Mas mesmo na (muito amigável) conversa com Musk, Trump não pareceu muito interessado em aproveitar a oportunidade para ajustar o rumo da sua campanha. Estando perante alguém — como é o caso de Elon Musk — que declarou ter apoiado Obama no passado e ter sido levado a apoiar Trump pela sua perceção de radicalização extrema do Partido Democrata, Trump teria todo o interesse em explorar essa linha argumentativa. Como deveria ter tido interesse em aproveitar as deixas de Musk para delinear políticas consistentes e racionais de controlo da imigração e de contenção da despesa pública nos EUA. No entanto, e não obstante o contexto amigável, Trump optou por não se comprometer com políticas concretas nesse sentido, repetindo antes slogans eleitorais e reforçando os insultos pessoais contra Biden e Kamala.

Com dois candidatos impopulares como são Trump e Kamala e com os media genericamente predispostos a dar um tratamento bem mais favorável à campanha Democrata, os Republicanos precisam de ajustar a sua estratégia — e de o fazer rapidamente.

Uma nota final para o Comissário Europeu Thierry Breton, que achou por bem chantagear publicamente Elon Musk por causa da emissão de uma conversa com um candidato à presidência dos EUA, confirmando que a UE vai neste momento por um caminho muito perigoso. Estiveram muito bem nas suas reacções os deputados nacionais da IL Bernardo Blanco e Mário Amorim Lopes. Sendo Thierry Breton um membro independente do Partido ALDE (o mesmo da IL), resta esperar que os eurodeputados eleitos pela IL — João Cotrim Figueiredo e Ana Martins — saibam igualmente reagir em conformidade e honrar o legado liberal de defesa da liberdade de expressão contra as crescentes ameaças censórias do poder político e das burocracias da UE.

Donald Trump      Estados Unidos da América      América      Mundo

COMENTÁRIOS (de 52)

Lúcio Monteiro: "Alguns desses ataques são simplesmente absurdos, como as acusações ou sugestões de que Kamala Harris não é “verdadeiramente” ou “suficientemente” negra.» (André Azevedo Alves, in Observador, 14/08/2024). Nem um debiloide conseguiria arranjar um argumento  mais ridículo. Se é que se pode considerar ridículo a isto. Pelo contrário, será antes irracional de todo. Tudo indica que Donald Trampa já terá interiorizado que vai ser derrotado nas eleições de 5 novembro. Para tentar impedir que tal aconteça, entrou num estado delirante tal, em que todos ataques, contra Kamala Harris, servem.              Eduardo Costa: A máquina de Trump ainda não conseguiu ajustar-se ao novo cenário, nem vai conseguir? Porquê? Por causa da inflexibilidade, arrogância, misoginia e boçalidade do próprio Donald Trump.                  Joaquim Almeida > Tim do A: Uns católicos que são verdadeiramente a luz do mundo que nos faltava. Vá lá, vá lá que este  ainda vê a Gestapo da censura a deitar os cor..s de fora na Comissão Europeia.          Eduardo Costa: Para certos comentadores aqui, quem não está a favor de Donald Trump, só pode ser Woke Esquerdista, Socialista ou mesmo Comunista. Chegam a tornar-se ridículos e risíveis. Eu sou contra Donald Trump, porque não posso aceitar que um aldrabão compulsivo, violador, criminoso, ladrão, misógino, hipócrita, narcisista e traidor antidemocracia, possa vir a ser Presidente dos EUA. E não sou nem woke esquerdista, nem socialista e muito menos comunista.               Cisca Impllit: Decente.  Liberal               Tim do A: Mais um comentador da universidade Católica que foi conquistada e aderiu à nova religião socialista dos liberais Woke dos super milionários. A Igreja Woke tomou a universidade Católica. É isso que ensinam lá agora. Ideologia da religião Woke. A religião anti branca. Todos contentes. Vá de retro.                  Pobre Portugal: Os media estão totalmente desesperados. Eles sabem, mas fingem não saber, que Kamala é mais fácil de derrotar por Trump do que era o velho Joe. Se esta crónica se tivesse ficado pela nota final, tinha uma medalha de ouro. Como não se ficou, vai ser desclassificada.               Americo Magalhaes: O Sr.tripple AAA está mesmo desorientado ...........deixo apenas alguns comentários ,que presumo que o sr.tripple AAA jamais poderá contradizer . 1.A marxista/wokista e medíocre Kamala não fez as primárias nestas eleições. Não critica isto?  2.O sr.tripple AAA faz parte permanente da cruzada anti-Trump, imposta

pela UE e pela CS corrupt e subserviente . O Sr.Trump só tem defeitos? Não conseguem encontrar nada nele de positivo, mesmo depois da experiência de 4 anos como Presidente?  3.O sr.Thierry-Bretton representa a Censura e é o Inquisidor-Mor da UE, que nos quer subjugar a todos pela narrativa e pensamento único imposto pela força. Quem elegeu este sr. Bretton,  sra.Ursula van der Leyen e Charles Michel para nos impor o que quer que seja?                  unknown unknown: Não percam tempo com análises profundas, eu vou explicar ao sr doutor: Trump é mau e na história da carochinha os maus nunca ganham, por isso fiquem descansados porque a vossa democracia está salva, acreditem que o povinho americano vai votar numa mulher negra inteligente e honesta!            Manuel Gonçalves: Do manual da comunicação social: Publicar um artigo a favor da Kamala Otavio Luso > Eduardo Costa: Talvez não seja woke, mas o seu sectarismo tolda-lhe o discernimento.                José Tomás > Lúcio Monteiro: Salvo o devido respeito, de entre a pilha de lixo de argumentos de Trump, este é um argumento válido. Harris, tal como Obama, são filhos de casais que se divorciaram quando ambos eram pequenos, e tal como Obama não foi criada pelo pai (no caso dela jamaicano, no caso dele queniano) mas pela mãe e pela família materna (no caso de Obama brancos, no caso de Harris indianos). Vir invocar que são "afro-americanos" com base na "identidade racial" de um progenitor que não os criou, é, parece-me, um caso de oportunismo, e de racismo "do bom", que acaba por legitimar o racismo do mau.                 Joaquim Almeida: É simplesmente vergonhosa a advertência  saída da cartilha totalitária dessa Comissão-Thierry Breton.  contre "misinformation" e "harmfull" não sei quê ( à escolha). O  X está  aberto a toda gente mas o proprietário tem de ficar à  porta... Birras infantis, e pronto !                João Alves: A única desorientação é a destes media vendidos que já não sabem mais o que fazer para evitar o inevitável.

Nenhum comentário: