Com o zelo de quem prepara novos
caminhos, para novas glórias, com os afectos nítidos e serenos, marcas de uma formação
moral condenatória da má-fé alheia, a que tanto nos habituou. Docemente. Falo do
Putin, claro. Em mais um episódio – não dantesco, ou sequer bíblico, com um
Jeová dominador. Apenas putinesco, superior a esses, em sinuosidades malandras,
de muito espectáculo, a merecer consideração. E o mundo dá-lha.
Putin visita Chechénia pela primeira
vez em 13 anos. Antes, passou em Beslan para assinalar 20 anos do massacre
Putin reuniu-se com Kadyrov na Chechénia. A visita histórica, depois de anos de confrontos, foi precedida por um encontro
com familiares das vítimas do massacre de Beslan levado a cabo por chechenos.
OBSERVADOR. 20 ago. 2024, 21:47
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na Ucrânia
O Presidente russo, Vladimir Putin, chegou esta terça-feira à noite
à CHECHÉNIA, para uma visita à república russa do Cáucaso governada com
“mão de ferro” pelo seu aliado Ramzan Kadyrov, onde não se deslocava desde 2011. “O Presidente russo, Vladimir Vladimirovich
Putin, chegou à República da Chechénia. Está agendado
um programa preenchido no âmbito desta visita“, afirmou Kadyrov na plataforma
digital Telegram.
A televisão pública russa mostrou
imagens da chegada de Putin, que saiu de um helicóptero e foi recebido na pista
por Kadyrov e pelos seus assessores mais próximos. “O povo ficará contente. Ficará feliz por
o Presidente [russo] ter vindo à República. Para nós, é estimulante, um impulso
de energia. É uma grande alegria”, declarou ainda Kadyrov à comunicação social.
Segundo o chefe de Estado
checheno, Putin iniciou a visita deslocando-se ao túmulo do seu pai e
antecessor na Presidência da Chechénia, Akhmat Kadyrov, morto num atentado perpetrado por
rebeldes islamitas em 2004.
A
Chechénia foi palco de dois conflitos mortíferos nas décadas de 1990 e 2000,
que opuseram as forças federais russas a uma rebelião separatista que
gradualmente se tornou islamita, se espalhou por toda a região e, em 2015,
jurou fidelidade ao grupo jihadista Estado Islâmico (EI).
A
república russa é desde 2007 dirigida por Ramzan
Kadyrov,
cujas forças são regularmente acusadas de múltiplas violações dos direitos
humanos no território.
O paralelo entre o massacre de Beslan e a ofensiva
ucraniana em Kursk
A
visita de Putin à Chechénia segue-se à efectuada horas antes a Beslan, na
Ossétia do Norte, outra república russa do Cáucaso. Nela, o Presidente russo prestou homenagem às vítimas
do sangrento sequestro numa escola por um comando islamita checheno.
Aqui, o Presidente russo reuniu-se ainda com a organização “Mães de
Beslan”, que
representam os familiares das 334 pessoas mortas, entre as quais 186 crianças,
no massacre de setembro de 2004. Quase
20 anos depois da tragédia, esta foi apenas a segunda vez que Putin se reuniu
com a organização e o primeiro encontro a realizar-se na região — anteriormente
tinham-se reunido em Moscovo.
O Kremlin partilhou um vídeo deste encontro, em que é possível ver o chefe de Estado a
dirigir-se a três mulheres, apresentando as suas condolências, depois de se
ter enganado no número de crianças que foram mortas: afirmou que tinham
sido 136 vítimas, quando foram 186.
O Presidente russo continuou,
traçando um paralelo entre este massacre e a ofensiva ucraniana em Kursk. “Sempre tentámos ajudar Beslan e vamos
continuar a fazê-lo. E os nossos inimigos vão continuar a tentar desestabilizar
o nosso país, isso é óbvio. Estamos a combater aqueles que cometem crimes em Kursk, no Donbass e em Novorossiya. E vamos
atingir os nossos objectivos na luta contra o neo-nazismo, tal como atingimos
na luta contra o terrorismo“, declarou Vladimir Putin.
O massacre de Beslan começou no dia 1 de
setembro de 2004, quando terroristas chechenos tomaram controlo de uma escola e
fizeram mais de 1100 reféns. Só ao fim de três dias de cerco e negociações
falhadas é que as tropas russas entraram na escola. Putin, à data já Presidente, foi profundamente criticado pelo seu
silêncio e pela forma como mandou executar as negociações, que as famílias
consideraram que permitiu a morte das 334 vítimas.
A visita de Putin ocorre numa altura
em que as forças ucranianas lançaram, a 6 de agosto, uma ofensiva terrestre
surpresa na região fronteiriça russa de Kursk, apoderando-se de dezenas de
localidades. Há forças militares chechenas destacadas na região de Kursk precisamente
para repelir essa ofensiva ucraniana.
GUERRA NA
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PUTIN RÚSSIA
NOTAS DA INTERNET
Curiosidades musicais na Chechénia
A Chechénia proibiu toda a música
fora dos 80 a 116 BPM, uma restrição que excluirá inúmeras canções e géneros
musicais como o pop, a música de dança e a música electrónica, que
frequentemente ultrapassam a marca dos 120 BPM.
A república russa da Chechénia terá decretado que toda a música deve
"corresponder a um ritmo de 80 a 116 batidas por minuto (BPM)" - o
que significa que muita da música ocidental moderna seria proibida de ser
tocada em público na conservadora sociedade islâmica.
O novo padrão de música é relativamente lento em comparação com muita da
música pop moderna, bem como com a música electrónica, rave, dubstep e techno -
que tende a ter um BPM mais elevado. A maioria das canções pop varia entre 100
e 130 BPM, um ritmo normalmente utilizado para criar um ritmo cativante e
dançável.
Por exemplo, uma faixa dos Daft Punk tem geralmente tendência para
rondar as 120-127 BPM, ao passo que qualquer pessoa que pense em tocar
"Bad Romance" de Lady Gaga, "Wrecking Ball" de Miley Cyrus ou
mesmo "Tragedy" dos Bee Gees estará a violar a nova censura - tudo em
nome da manutenção dos valores tradicionais.
O líder da república chechena, Ramzan Kadyrov, deu instruções ao
ministro da Cultura, Musa Dadayev, para que a música chechena "se adapte à
mentalidade chechena", segundo o Moscow Times.
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