terça-feira, 6 de agosto de 2024

“Sei um ninho”


Foi o que disse Jesus aos pais, à hora do caldo, contando que ao subir pela árvore em busca do ninho que vira cá de baixo, encontrara nele um ovo, que, ao pegar-lhe, se transformara em passarinho. N’  “Os Bichos” de Torga,

Era o que eu gostaria de afirmar, mesmo que lhe não pegasse, a respeito do filme “Os Maias”, que o “Canal Memória” nos trouxe em quatro ou cinco sessões: que do “ninho” surgisse o passarinho milagroso que em parte, ao menos, reproduzisse a bênção milagreira que o romance de Eça representa, para os que o lêem com seriedade intelectual.

Mas trata-se de um aborto. Se milagre houvesse, seria no sentido oposto, de coisa a banir e não de transformar. Mas somos agarrados aos nossos abortos, que a vaidade e a insensatez produziram, e repetimos a dose, para nos amachucar, sabendo embora que não nos faltam machucadelas, na nossa constância produtora.

Não, não vou desenvolver, conto apenas da minha indignação perante tal descalabro de figuras idênticas e hirtas, por várias vezes alinhadas, sem se saber em que lugar, nem por que motivo debitam pareceres mais ou menos desenquadrados, em propósitos de farsa ou comédia de costumes, a aparelhar com a tragédia de uma relação que o fatalismo acompanha – mas apenas no livro – o filme vergonhosamente deturpando, para mais em vozes que mal se entendem – e em que o libidinoso também é visível, como factor de modernidade saloia e perversa.

Não, não dá para desenvolver, mas para escorraçar de vez, com vergonha e raiva. Inúteis, é certo, estas.

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