Foi o que disse Jesus aos pais, à hora
do caldo, contando que ao subir pela árvore em busca do ninho que vira cá de
baixo, encontrara nele um ovo, que, ao pegar-lhe, se transformara em
passarinho. N’ “Os Bichos” de Torga,
Era o que eu gostaria de afirmar, mesmo
que lhe não pegasse, a respeito do filme “Os Maias”, que o “Canal Memória” nos
trouxe em quatro ou cinco sessões: que do “ninho” surgisse o passarinho
milagroso que em parte, ao menos, reproduzisse a bênção milagreira que o
romance de Eça representa, para os que o lêem com seriedade intelectual.
Mas trata-se de um aborto. Se milagre
houvesse, seria no sentido oposto, de coisa a banir e não de transformar. Mas somos
agarrados aos nossos abortos, que a vaidade e a insensatez produziram, e
repetimos a dose, para nos amachucar, sabendo embora que não nos faltam
machucadelas, na nossa constância produtora.
Não, não vou desenvolver, conto apenas
da minha indignação perante tal descalabro de figuras idênticas e hirtas, por várias vezes alinhadas,
sem se saber em que lugar, nem por que motivo debitam pareceres mais ou menos
desenquadrados, em propósitos de farsa ou comédia de costumes, a aparelhar com
a tragédia de uma relação que o fatalismo acompanha – mas apenas no livro – o filme
vergonhosamente deturpando, para mais em vozes que mal se entendem – e em que o
libidinoso também é visível, como factor de modernidade saloia e perversa.
Não, não dá para desenvolver, mas para
escorraçar de vez, com vergonha e raiva. Inúteis, é certo, estas.
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