Sempre me pareceu ser o seu – digo, de Centeno
- e por isso acreditei nele, atida que estava, tal como o Topaze nos seus primórdios
de mestre-escola incorrupto, à sabedoria das sentenças populares, neste caso
reportando-se ao valor áureo do silêncio, a palavra relegada para o desprezível
lugar da prata. Para além disso, também ouvia falar na expressão minimizante “caladinho
que nem um rato”, e como na lenga-lenga aliterativa o rato roera conscienciosamente
a rolha da garrafa do rei da rússia, sem ninguém dar por isso - o que
constituiria hoje um feito valioso, sobretudo se lhe roesse outras partes do
corpo mais susceptíveis de fazer destruir os efeitos catastróficos causados provavelmente,
pelos excessos de abertura diária da rolha da garrafa de vodka, mitigadora da
sua sede régia – mais confirmo a tal valorização do silêncio, contra a
verborreia generalizada, que por vezes – e é nossa pecha habitual – alardeia
muito da nossa mediania espiritual. Até muitas vezes me penalizou a postura
tímida de Centeno, que atribua não só ao seu conhecimento do provérbio em
causa, como a uma competência de acção, movida por um sentimento pátrio de
salvação nacional.
O certo é que ele soube bem tratar da
sua vida, sempre caladinho, mas seguro de si, a timidez sendo apenas um modus faciendi de respeitabilidade própria
e desprezo alheio.
"Desfaçatez". Ensaio
presidencial de Centeno não comove o Governo (nem o PS)
Centeno disse que queria ser
reconduzido como governador do Banco de Portugal. Mas entrevista do ex-ministro
foi vista como tentativa desesperada de preparar candidatura a Belém. O PS tem
dúvidas.
MIGUEL SANTOS CARRAPATOSO: Texto
OBSERVADOR, 07 ago. 2024, 12:4041
Um
grande descaramento. Foi desta forma que o núcleo mais próximo de Luís
Montenegro recebeu a entrevista de
Mário Centeno ao Expresso, em que o ainda governador do Banco de Portugal assumiu
o desejo de continuar no cargo por mais um mandato, quando é já há muito uma
evidência que o antigo ministro das
Finanças não tem a confiança política do Executivo para ser reconduzido como
governador. Aliás, para os sociais-democratas ouvidos pelo Observador,
não há grandes dúvidas: Centeno está a
tentar vitimizar-se por antecipação para, dessa forma, alimentar uma
pré-candidatura presidencial.
Já no início de abril, o Expresso sugeria
que a ideia de Mário Centeno (que termina as suas funções no verão de 2025) continuar
governador do Banco de Portugal era uma impossibilidade prática.
Desde aí, nada mudou, confirmou o Observador junto de fontes próximas de
Montenegro. Ora, Centeno, melhor do que ninguém, estará consciente de que o
Governo não conta com ele para um segundo mandato, pelo que a insistência nesse
cenário por parte do próprio só pode ser lida como uma forma de ganhar algum capital de queixa quando for
afastado do cargo e alimentar uma narrativa que lhe permita ambicionar uma
candidatura presidencial.
De resto, e esse facto também não passou
despercebido, na mesma entrevista em que assumiu o desejo de continuar no Banco
de Portugal, Mário Centeno não
descartou uma eventual corrida à sucessão
de Marcelo Rebelo de Sousa, o que foi visto como sendo de uma enorme “desfaçatez”.
“Já quis ser tudo. E vai continuar a querer”, ironiza um elemento da equipa de
Luís Montenegro. “Nunca soube estar à altura
do cargo. Não seria de esperar que tivesse aprendido a saber estar”, completa
outra fonte do Executivo.
A verdade é que a entrevista de Centeno
já está a provocar alguns efeitos no setor. “Seria um escândalo não reconduzir
Centeno”, afirmou José Maria Ricciardi ao jornal Eco. “O papel de Centeno, como ministro das
‘contas certas’ e como governador, com a solidez da banca, além do seu
prestígio internacional… Se não o fizerem, será um saneamento político“,
defendeu o antigo banqueiro. Para Montenegro ouvir.
Mas é pública e conhecida a antipatia política
mútua entre Mário Centeno e Joaquim Miranda Sarmento, o ministro das Finanças
que terá uma palavra a dizer neste processo, desde os tempos em que o primeiro
era ainda governante e o segundo o homem das contas de Rui Rio. Daí para cá, o
episódio da demissão de António Costa e a sugestão do socialista de deixar
Centeno no lugar de primeiro-ministro, levando o nome a Marcelo Rebelo de
Sousa, irritou profundamente os sociais-democratas — Luís Montenegro, então
ainda líder da oposição, chegou a sugerir que, no lugar de Mário Centeno, teria
apresentado a demissão.
A
Comissão de Ética do Banco de Portugal saiu em defesa de Centeno, mesmo
admitindo que os efeitos desse caso poderiam causar “danos” à imagem do Banco
de Portugal. No mesmo dia, nesse novembro quente de 2023, os eurodeputados
do PPE, da família política de PSD e CDS, escreveram a Christine Lagarde, do
Banco Central Europeu, questionando a
independência do português. António Leitão Amaro, hoje ministro da
Presidência, foi ainda mais claro, dizendo que Mário Centeno tinha perdido “legitimidade e condições objectivas
para ser governador do Banco de Portugal”.
Atendendo ao contexto, é difícil
imaginar um cenário em que Luís Montenegro escolha reconduzir Mário Centeno — é
tão difícil imaginar que não é sequer alimentado como hipótese académica. Por
outras palavras: a porta está mesmo fechada. Pelo que a entrevista do
ainda governador do Banco de Portugal, por ter surgido num contra-ciclo
evidente, causou ainda maior estupefação. Aos olhos dos sociais-democratas,
sobra a única explicação razoável: Mário
Centeno quer pôr-se na posição de mártir político para ganhar pontos junto da
opinião pública.
Centeno, melhor do que ninguém, estará
consciente de que o Governo não conta com ele para um segundo mandato, pelo que
a insistência nesse cenário por parte do próprio só pode ser lida com uma forma
de ganhar algum capital de queixa quando for afastado do cargo e alimentar uma
narrativa que lhe permita ambicionar uma candidatura presidencial
Socialistas também não estão inteiramente convencidos
Entre alguns elementos do PS ouvidos
pelo Observador, o gesto de Mário Centeno foi percecionado da mesma forma. “Também tenho vontade de ser muita coisa.
Mas é preciso mais”, comenta com o Observador um destacado socialista.
Existe inclusivamente quem aponte dois
pecados no percurso de Centeno e que lhe complicam as contas presidenciais: ter sido número dois de António Costa,
não fazendo dele um verdadeiro protagonista, e ter ocupado apenas cargos executivos,
quando o perfil para ocupar o Palácio de Belém é necessariamente diferente.
Além disso, há um problema político bem
maior. Mário Centeno dificilmente
teria capacidade de agregar e liderar uma frente de esquerda para tentar
derrotar o candidato da direita — algo que não acontece desde que Jorge Sampaio
conseguiu a reeleição, em 2001. Daí para cá, o PS tem tido muitas dificuldades
em organizar-se em torno de uma única candidatura e a esquerda tem-se
fragmentado por vários presidenciáveis. “A falta de capacidade para agregar a
esquerda seria um problema. É evidente”, nota a mesma fonte socialista.
A somar a isto, existe a própria vontade
de Pedro Nuno Santos. O líder socialista já garantiu que o PS, ao
contrário do que vem acontecendo, vai mesmo apoiar activamente uma candidatura
à sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa. Um cenário de frente esquerda seria, em
teoria, do agrado do líder socialista, mas é difícil imaginar como é que
Centeno teria condições políticas para liderar essa plataforma comum — logo ele,
que ficou conhecido como o ministro das cativações para os então parceiros de
‘geringonça’ e era apresentado sistematicamente como um obstáculo à
concretização das medidas acordadas entre PS, Bloco e PCP.
Em contrapartida, o estatuto de pai das
‘contas certas‘ e a ideia de que Centeno pode ganhar alguma tracção junto do
eleitorado mais moderado — instrumental para vencer as eleições — pode ser um trunfo
para o ainda governador do Banco de Portugal. No PS, sobretudo junto da ala
mais ao centro, já há quem o defenda
abertamente, como Ascenso Simões, João Soares ou Adalberto Campos
Fernandes. “Daria um excelente
Presidente da República se tiver disponibilidade e vontade para isso”, sintetizou
o antigo ministro da Saúde, que manteve com Centeno um debate público
precisamente à boleia das cativações e que celebrizou a frase “somos todos
Centeno”.
Afastados os dois candidatos favoritos
no universo socialista — António
Costa e António Guterres –, Mário
Centeno e António Vitorino — escolhido recentemente pelo Governo para
presidir ao novo Conselho Nacional para as Migrações e Asilo — são as figuras que vão surgindo em
melhores condições políticas para enfrentar os candidatos da direita nas
próximas eleições, ainda que consistentemente a uma distância considerável nas
intenções de voto. No último estudo de opinião, da Intercampus para o
Negócios e CM, Centeno estava abaixo dos 5%. Se quiser de facto avançar — e
existe, no PS, quem jure que tem tudo pronto para o fazer — o ainda governador
do Banco de Portugal tem de dar corda aos sapatos.
MÁRIO CENTENO PAÍS ELEIÇÕES
PRESIDENCIAIS ELEIÇÕES MARCELO
REBELO DE SOUSA PRESIDENTE DA
REPÚBLICA
COMENTÁRIOS (de 41)
Alberico Lopes > Joaquim Rodrigues: Joaquim: "luminária",
não: "c.avalgadura", sim!
Joaquim Rodrigues: A resposta ao “artista” CENTENO já foi cabalmente dada em tempo num artigo de
opinião apresentado no Observador pelo Alexandre Patrício Gouveia. Está lá
explicada por A+B a grande mentira das políticas do Centeno. Conseguiu pôr os
cidadãos portugueses a pagar a maior quantidade de impostos de que há memória. Conseguiu
piorar a qualidade dos serviços públicos a níveis que não achávamos possíveis. Entretanto
no tempo do Centeno fomos ultrapassados por mais três Repúblicas da ex-União
Soviética e, com o lastro que Centeno deixou, seremos ultrapassados por mais
três ou quatro dessas Repúblicas que aderiram à União Europeia e tinham saído
do “socialismo” na mais pura e absoluta miséria. Com mais alguns anos de
Governação CENTENO ele ficaria na história como a “luminária” que conseguiu pôr
Portugal no último lugar da Europa a 28. António
Abreu: O Centésimo a PR? Esta espécie de república já deu provas mais que
suficientes, que qualquer coisa serve para esse efeito... Joao
Cadete: A questão aqui é outra na minha opinião, quem é mais palerma? O Centeno ou
a comunicação social miserável que lhe dá um palco que não tem qualquer adesão
à realidade? Eu acho que é a comunicação social que vive para estes pseudo
dramas / palermices. Jorge
Tavares: Lembrem-se só da ética demonstrada por este indivíduo ao longo dos anos de
António Costa - ao nível da ética deste último. É preciso dizer mais alguma
coisa? Diogo
Sousa: Este Sr é o tipo gajo do aparelho que quer subir de tacho em tacho seja
como for! Começou com a passagem de ministro para o banco e continua..... Que
falta de nível João
Alves: Um cabeça de vento incompetente que foi instalado no cargo pela sua
lealdade ao PS. Um sujeito sem qualquer valor acrescentado sem ser gerar
noticias inúteis como esta
António Fernandes: O senhor cativações um sem vergonha socialista José Rego: Este tipo não tem a mínima
noção. António
Lamas: Centeno, nem para porteiro de prédio. John Doe: Este tipo a
Presidente? Nem a brincar... Aliás, dos vários nomes que têm vindo a público -
Marques Mendes, Guterres, PPC... - este era o "candidato" em quem eu
votaria 100% CONTRA, nunca a favor. Ele que vá fazer "cativações"
para outro lado. joão Melo: Há pessoas que não têm a
"noção", como dizia o outro... Como é possível, que lhe passe
pela cabeça, apenas a ideia, de poder algum dia vir a ser presidente da
República??? Já assistimos ao disparate alucinado do Santos Silva, que é outro
sem qualquer noção da realidade, e agora temos este "show" triste do
homem dos bancos. O que mais impressiona no meio de tudo isto, é que é esta
gente, sem qualquer ligação ao mundo real, que nos vai (des)governando ao longo
dos tempos. Não se apercebem da figura ridícula que fazem... eu também queria
ser astronauta :-) Pedro
Ferro: Bom bom, era saber com o que Centeno chantageou António Costa naquela ida
noturna à residência do 1º ministro, em que foi para lá como ministro das
finanças e passado uns tempos estava no lugar de governador (com o vencimento
que sempre almejou)... Americo
Magalhaes: Este senhor tem todas as caracteristicas para ser PR ou continuar como
Governador do BP , ou mesmo presidente da Comissão Europeia, ou seja , é
mentiroso , aldraba as contas com cativações , é arrogante e convencido , em
suma é Socialista. David
Antunes: O coveiro do SNS, e dos serviços públicos em geral. Antonio
C.: Vade retro
Satanás… Vai mas é descansar que já levas uma desmerecida e gorda reforma. Eduardo Costa:
Nem Banco de Portugal nem
Belém. Regresso ao ISEG como professor associado e ponto final. JOSÉ MANUEL: SemTino e SemNoção... André
Ondine: Eu acho que o SNS deveria passar a ser SNC, Serviço Nacional Centeno. Desde
que o sonso Centeno iniciou a sua prática de fazer belos orçamentos (com grande
propaganda) e ainda mais belas cativações (com menos propaganda) que, na
prática, anulavam os investimentos previstos nesses orçamentos, a decadência do
nosso Estado Social atingiu o seu apogeu. Se a saúde, a segurança, a educação e
os transportes estão no estado em que estão, isso deve-se a Centeno e ao
Habilidoso e à sua obsessão pessoal em fazer figura para a Europa. Safaram-se
os dois. Luis
Martin: Era mais uma das desgraças a que Portugal iria ser submetido! Ele nem para
presidir à Assembleia de Condominio l´do burgo onde mora, quanto mais ser
Presidente da República! Lápis
Afiado: Pedante e cativador mor....rua. Maria Paula SilvaAntónio Lamas: ele e o Medina só para
arrumadores de carros!!!!
Joaquim Silva: A
gente às vezes abre a página do observador e tem este tipo de choque, mas quem
é esta criatura dass, já não chega o Costa para o PE. Maria
Paula Silva: um espertalhão, como sus hermanos do clube da chucha. Este e o Medina
metidos num barco sem fundo a caminho do Oceano Árctico era um mimo... Fernando
Magalhães: Grande grande
Centeno. Espero que o Governo o liberte do difícil encargo de ser Governador do
Banco de Portugal e que se candidate à Presidência. Ele merece e nós também!!!!😂😂😂😂
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