quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Um silêncio tímido

 

Sempre me pareceu ser o seu – digo, de Centeno - e por isso acreditei nele, atida que estava, tal como o Topaze nos seus primórdios de mestre-escola incorrupto, à sabedoria das sentenças populares, neste caso reportando-se ao valor áureo do silêncio, a palavra relegada para o desprezível lugar da prata. Para além disso, também ouvia falar na expressão minimizante “caladinho que nem um rato”, e como na lenga-lenga aliterativa o rato roera conscienciosamente a rolha da garrafa do rei da rússia, sem ninguém dar por isso - o que constituiria hoje um feito valioso, sobretudo se lhe roesse outras partes do corpo mais susceptíveis de fazer destruir os efeitos catastróficos causados provavelmente, pelos excessos de abertura diária da rolha da garrafa de vodka, mitigadora da sua sede régia – mais confirmo a tal valorização do silêncio, contra a verborreia generalizada, que por vezes – e é nossa pecha habitual – alardeia muito da nossa mediania espiritual. Até muitas vezes me penalizou a postura tímida de Centeno, que atribua não só ao seu conhecimento do provérbio em causa, como a uma competência de acção, movida por um sentimento pátrio de salvação nacional.

O certo é que ele soube bem tratar da sua vida, sempre caladinho, mas seguro de si, a timidez sendo apenas um modus faciendi de respeitabilidade própria e desprezo alheio.

"Desfaçatez". Ensaio presidencial de Centeno não comove o Governo (nem o PS)

Centeno disse que queria ser reconduzido como governador do Banco de Portugal. Mas entrevista do ex-ministro foi vista como tentativa desesperada de preparar candidatura a Belém. O PS tem dúvidas.

MIGUEL SANTOS CARRAPATOSO: Texto

OBSERVADOR, 07 ago. 2024, 12:4041

Um grande descaramento. Foi desta forma que o núcleo mais próximo de Luís Montenegro recebeu a entrevista de Mário Centeno ao Expresso, em que o ainda governador do Banco de Portugal assumiu o desejo de continuar no cargo por mais um mandato, quando é já há muito uma evidência que o antigo ministro das Finanças não tem a confiança política do Executivo para ser reconduzido como governador. Aliás, para os sociais-democratas ouvidos pelo Observador, não há grandes dúvidas: Centeno está a tentar vitimizar-se por antecipação para, dessa forma, alimentar uma pré-candidatura presidencial.

Já no início de abril, o Expresso sugeria que a ideia de Mário Centeno (que termina as suas funções no verão de 2025) continuar governador do Banco de Portugal era uma impossibilidade prática. Desde aí, nada mudou, confirmou o Observador junto de fontes próximas de Montenegro. Ora, Centeno, melhor do que ninguém, estará consciente de que o Governo não conta com ele para um segundo mandato, pelo que a insistência nesse cenário por parte do próprio só pode ser lida como uma forma de ganhar algum capital de queixa quando for afastado do cargo e alimentar uma narrativa que lhe permita ambicionar uma candidatura presidencial.

De resto, e esse facto também não passou despercebido, na mesma entrevista em que assumiu o desejo de continuar no Banco de Portugal, Mário Centeno não descartou uma eventual corrida à sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa, o que foi visto como sendo de uma enorme “desfaçatez”. “Já quis ser tudo. E vai continuar a querer”, ironiza um elemento da equipa de Luís Montenegro. “Nunca soube estar à altura do cargo. Não seria de esperar que tivesse aprendido a saber estar”, completa outra fonte do Executivo.

A verdade é que a entrevista de Centeno já está a provocar alguns efeitos no setor. “Seria um escândalo não reconduzir Centeno”, afirmou José Maria Ricciardi ao jornal Eco. “O papel de Centeno, como ministro das ‘contas certas’ e como governador, com a solidez da banca, além do seu prestígio internacional… Se não o fizerem, será um saneamento político“, defendeu o antigo banqueiro. Para Montenegro ouvir.

Mas é pública e conhecida a antipatia política mútua entre Mário Centeno e Joaquim Miranda Sarmento, o ministro das Finanças que terá uma palavra a dizer neste processo, desde os tempos em que o primeiro era ainda governante e o segundo o homem das contas de Rui Rio. Daí para cá, o episódio da demissão de António Costa e a sugestão do socialista de deixar Centeno no lugar de primeiro-ministro, levando o nome a Marcelo Rebelo de Sousa, irritou profundamente os sociais-democratas — Luís Montenegro, então ainda líder da oposição, chegou a sugerir que, no lugar de Mário Centeno, teria apresentado a demissão.

A Comissão de Ética do Banco de Portugal saiu em defesa de Centeno, mesmo admitindo que os efeitos desse caso poderiam causar “danos” à imagem do Banco de Portugal. No mesmo dia, nesse novembro quente de 2023, os eurodeputados do PPE, da família política de PSD e CDS, escreveram a Christine Lagarde, do Banco Central Europeu, questionando a independência do português. António Leitão Amaro, hoje ministro da Presidência, foi ainda mais claro, dizendo que Mário Centeno tinha perdido “legitimidade e condições objectivas para ser governador do Banco de Portugal”.

Atendendo ao contexto, é difícil imaginar um cenário em que Luís Montenegro escolha reconduzir Mário Centeno — é tão difícil imaginar que não é sequer alimentado como hipótese académica. Por outras palavras: a porta está mesmo fechada. Pelo que a entrevista do ainda governador do Banco de Portugal, por ter surgido num contra-ciclo evidente, causou ainda maior estupefação. Aos olhos dos sociais-democratas, sobra a única explicação razoável: Mário Centeno quer pôr-se na posição de mártir político para ganhar pontos junto da opinião pública.

Centeno, melhor do que ninguém, estará consciente de que o Governo não conta com ele para um segundo mandato, pelo que a insistência nesse cenário por parte do próprio só pode ser lida com uma forma de ganhar algum capital de queixa quando for afastado do cargo e alimentar uma narrativa que lhe permita ambicionar uma candidatura presidencial

Socialistas também não estão inteiramente convencidos

Entre alguns elementos do PS ouvidos pelo Observador, o gesto de Mário Centeno foi percecionado da mesma forma. “Também tenho vontade de ser muita coisa. Mas é preciso mais”, comenta com o Observador um destacado socialista. Existe inclusivamente quem aponte dois pecados no percurso de Centeno e que lhe complicam as contas presidenciais: ter sido número dois de António Costa, não fazendo dele um verdadeiro protagonista, e ter ocupado apenas cargos executivos, quando o perfil para ocupar o Palácio de Belém é necessariamente diferente.

Além disso, há um problema político bem maior. Mário Centeno dificilmente teria capacidade de agregar e liderar uma frente de esquerda para tentar derrotar o candidato da direita — algo que não acontece desde que Jorge Sampaio conseguiu a reeleição, em 2001. Daí para cá, o PS tem tido muitas dificuldades em organizar-se em torno de uma única candidatura e a esquerda tem-se fragmentado por vários presidenciáveis. “A falta de capacidade para agregar a esquerda seria um problema. É evidente”, nota a mesma fonte socialista.

A somar a isto, existe a própria vontade de Pedro Nuno Santos. O líder socialista já garantiu que o PS, ao contrário do que vem acontecendo, vai mesmo apoiar activamente uma candidatura à sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa. Um cenário de frente esquerda seria, em teoria, do agrado do líder socialista, mas é difícil imaginar como é que Centeno teria condições políticas para liderar essa plataforma comum — logo ele, que ficou conhecido como o ministro das cativações para os então parceiros de ‘geringonça’ e era apresentado sistematicamente como um obstáculo à concretização das medidas acordadas entre PS, Bloco e PCP.

Em contrapartida, o estatuto de pai das ‘contas certas‘ e a ideia de que Centeno pode ganhar alguma tracção junto do eleitorado mais moderado — instrumental para vencer as eleições — pode ser um trunfo para o ainda governador do Banco de Portugal. No PS, sobretudo junto da ala mais ao centro, já há quem o defenda abertamente, como Ascenso Simões, João Soares ou Adalberto Campos Fernandes. “Daria um excelente Presidente da República se tiver disponibilidade e vontade para isso”, sintetizou o antigo ministro da Saúde, que manteve com Centeno um debate público precisamente à boleia das cativações e que celebrizou a frase “somos todos Centeno”.

Afastados os dois candidatos favoritos no universo socialistaAntónio Costa e António Guterres –, Mário Centeno e António Vitorino — escolhido recentemente pelo Governo para presidir ao novo Conselho Nacional para as Migrações e Asilo — são as figuras que vão surgindo em melhores condições políticas para enfrentar os candidatos da direita nas próximas eleições, ainda que consistentemente a uma distância considerável nas intenções de voto. No último estudo de opinião, da Intercampus para o Negócios e CM, Centeno estava abaixo dos 5%. Se quiser de facto avançar — e existe, no PS, quem jure que tem tudo pronto para o fazer — o ainda governador do Banco de Portugal tem de dar corda aos sapatos.

MÁRIO CENTENO     PAÍS     ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS     ELEIÇÕES     MARCELO REBELO DE SOUSA     PRESIDENTE DA REPÚBLICA

COMENTÁRIOS (de 41)

Alberico Lopes > Joaquim Rodrigues: Joaquim: "luminária",  não: "c.avalgadura", sim!         Joaquim Rodrigues: A resposta ao “artista” CENTENO  já foi cabalmente dada em tempo num artigo de opinião apresentado no Observador pelo Alexandre Patrício Gouveia. Está lá explicada por A+B a grande mentira das políticas do Centeno. Conseguiu pôr os cidadãos portugueses a pagar a maior quantidade de impostos de que há memória. Conseguiu piorar a qualidade dos serviços públicos a níveis que não achávamos possíveis. Entretanto no tempo do Centeno fomos ultrapassados por mais três Repúblicas da ex-União Soviética e, com o lastro que Centeno deixou, seremos ultrapassados por mais três ou quatro dessas Repúblicas que aderiram à União Europeia e tinham saído do “socialismo” na mais pura e absoluta miséria. Com mais alguns anos de Governação CENTENO ele ficaria na história como a “luminária” que conseguiu pôr Portugal no último lugar da Europa a 28.                    António Abreu: O Centésimo a PR? Esta espécie de república já deu provas mais que suficientes, que qualquer coisa serve para esse efeito...                    Joao Cadete: A questão aqui é outra na minha opinião, quem é mais palerma? O Centeno ou a comunicação social miserável que lhe dá um palco que não tem qualquer adesão à realidade? Eu acho que é a comunicação social que vive para estes pseudo dramas / palermices.               Jorge Tavares: Lembrem-se só da ética demonstrada por este indivíduo ao longo dos anos de António Costa - ao nível da ética deste último. É preciso dizer mais alguma coisa?                Diogo Sousa: Este Sr é o tipo gajo do aparelho que quer subir de tacho em tacho seja como for! Começou com a passagem de ministro para o banco e continua..... Que falta de nível                     João Alves: Um cabeça de vento incompetente que foi instalado no cargo pela sua lealdade ao PS. Um sujeito sem qualquer valor acrescentado sem ser gerar noticias inúteis como esta                   António Fernandes: O senhor cativações um sem vergonha socialista                    José Rego: Este tipo não tem a mínima noção.                  António Lamas: Centeno, nem para porteiro de prédio.                   John Doe:  Este tipo a Presidente? Nem a brincar... Aliás, dos vários nomes que têm vindo a público - Marques Mendes, Guterres, PPC... - este era o "candidato" em quem eu votaria 100% CONTRA, nunca a favor. Ele que vá fazer "cativações" para outro lado.                    joão Melo: Há pessoas que não têm a "noção", como dizia o outro...  Como é possível, que lhe passe pela cabeça, apenas a ideia, de poder algum dia vir a ser presidente da República???  Já assistimos ao disparate alucinado do Santos Silva, que é outro sem qualquer noção da realidade, e agora temos este "show" triste do homem dos bancos. O que mais impressiona no meio de tudo isto, é que é esta gente, sem qualquer ligação ao mundo real, que nos vai (des)governando ao longo dos tempos. Não se apercebem da figura ridícula que fazem... eu também queria ser astronauta :-)                      Pedro Ferro: Bom bom, era saber com o que Centeno chantageou António Costa naquela ida noturna à residência do 1º ministro, em que foi para lá como ministro das finanças e passado uns tempos estava no lugar de governador (com o vencimento que sempre almejou)...               Americo Magalhaes: Este senhor tem todas as caracteristicas para ser PR ou continuar como Governador do BP , ou mesmo presidente da Comissão Europeia, ou seja , é mentiroso , aldraba as contas com cativações , é arrogante e convencido , em suma é Socialista.                 David Antunes: O coveiro do SNS, e dos serviços públicos em geral.                        Antonio C.: Vade retro Satanás… Vai mas é descansar que já levas uma desmerecida e gorda reforma.                  Eduardo Costa: Nem Banco de Portugal nem Belém. Regresso ao ISEG como professor associado e ponto final.         JOSÉ MANUEL: SemTino e SemNoção...                    André Ondine: Eu acho que o SNS deveria passar a ser SNC, Serviço Nacional Centeno. Desde que o sonso Centeno iniciou a sua prática de fazer belos orçamentos (com grande propaganda) e ainda mais belas cativações (com menos propaganda)  que, na prática, anulavam os investimentos previstos nesses orçamentos, a decadência do nosso Estado Social atingiu o seu apogeu. Se a saúde, a segurança, a educação e os transportes estão no estado em que estão, isso deve-se a Centeno e ao Habilidoso e à sua obsessão pessoal em fazer figura para a Europa. Safaram-se os dois.         Luis Martin: Era mais uma das desgraças a que Portugal iria ser submetido! Ele nem para presidir à Assembleia de Condominio l´do burgo onde mora, quanto mais ser Presidente da República!               Lápis Afiado: Pedante e cativador mor....rua.               Maria Paula SilvaAntónio Lamas: ele e o Medina só para arrumadores de carros!!!!                 Joaquim Silva: A gente às vezes abre a página do observador e tem este tipo de choque, mas quem é esta criatura dass, já não chega o Costa para o PE.                 Maria Paula Silva: um espertalhão, como sus hermanos do clube da chucha. Este e o Medina metidos num barco sem fundo a caminho do Oceano Árctico era um mimo...              Fernando Magalhães: Grande grande Centeno. Espero que o Governo o liberte do difícil encargo de ser Governador do Banco de Portugal e que se candidate à Presidência. Ele merece e nós também!!!!😂😂😂😂

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