Com gratidão pelo encantamento revivido
com a simples evocação.
1 - INTRODUÇÃO: Da INTERNET:
Elizabeth Rosemond Taylor DBE (Londres, 27 de fevereiro de 1932 — Los Angeles, 23 de março de 2011) foi
uma atriz anglo-americana. Começou sua carreira como actriz infantil
no início dos anos 1940, tornando-se uma das estrelas mais populares do
cinema clássico de Hollywood nas décadas de 1950 e 1960. Elizabeth Taylor foi a primeira actriz a
assinar um contrato milionário com uma produtora, para estrelar o filme "Cleópatra", em 1963.
Vencedora de dois Oscares de Melhor Actriz, um BAFTA e um,
ela continuou sua carreira com sucesso nas décadas seguintes e permaneceu uma
figura pública muito popular pelo resto de sua vida. Taylor também foi uma
das primeiras celebridades a participar do activismo da AIDS,
liderando campanhas de prevenção e foi co-fundadora da Fundação Americana para a Pesquisa da AIDS, em 1985, e da Fundação AIDS Elizabeth
Taylor, em 1991.
Desde o início da década de 1990 até sua morte, ela dedicou seu tempo à filantropia.
Em 1999, foi nomeada pelo Instituto
Americano de Cinema a
sétima maior lenda feminina do cinema.
2 - O texto de ALEXANDRE
BORGES;
Elizabeth Taylor: a subtil diferença
entre ser actriz e ser uma estrela
OBSERVADOR, 03 ago. 2024, 21:16
Bruscamente este verão, um documentário sobre a última
diva da era de ouro de Hollywood e a primeira celebridade ao gosto
contemporâneo. “Elizabeth Taylor: The Lost Tapes” puxa atrás a fita, na Max.
Há os que morrem cedo e os que vivem cedo. Algumas vidas, simplesmente,
acontecem depressa demais. Mas, ao
contrário de outras figuras do cinema ou da música – entre as quais, alguns dos
seus melhores amigos – Elizabeth Taylor não perdeu facilmente o jogo para a
morte; ficou deste lado como figura póstuma a si mesma, a ser uma estrela e já
não uma actriz e a tentar perceber que utilidade dar, enfim, a esse destino que
lhe parecera traçado desde o princípio.
Há sempre umas cassetes perdidas e vem
isto a propósito delas: as gravações de uma longa entrevista concedida
por Liz ao jornalista Richard Meryman em 1964 (fixe este ano), tinha ela 32 anos e estava no auge da carreira,
no topo do que pode ser uma actriz de cinema. As cassetes deram um
documentário HBO de Nanette Burstein que agora estreia na Max: Elizabeth
Taylor: The Lost Tapes (este domingo, dia 4), e nelas Liz fala
de tudo o que, então, podia falar: da
infância na tela, de ser uma adolescente a fazer de mulher madura, dos filmes,
dos casamentos, dos divórcios, dos amigos, do público, das opções que se vai
fazendo na vida.
Com recurso aos arquivos pessoais de
alguns conhecidos, o depoimento de outros, muitos trechos de filmes a
ilustrarem a vida real e a fita das cassetes a passar nas cabeças do leitor. Tudo já visto, mas tudo competente –
ainda assim, longe de outros documentários do género, como o magnífico The
Last Movie Stars, também da HBO, acerca de Joanne Woodward e Paul Newman.
Falta-lhe um ângulo, uma perspetiva pessoal como a de Ethan Hawke naquele. Mais
assinatura e menos escrúpulo enciclopédico.
Gata em celuloide quente
Para quem tem menos de 50 anos,
Elizabeth Taylor era uma senhora de olhos
violeta, muito arregalados para esconder as rugas, que passeava pelas galas de
prémios e fotos das revistas o ar de velha estrela de outros tempos.
Dela, as duas primeiras coisas que se
diziam eram, quase sempre, que casara oito vezes, duas das quais com o mesmo
marido, e que se tornara a atriz mais bem paga da História ao cobrar uma
fortuna para aparecer nua em Cleópatra e, assim, causar um escândalo do tamanho
das pirâmides. Não eram
coordenadas que, propriamente, a recomendassem, mesmo aos olhos da moral
ligeiramente mais refrescada de quem comentava estes assuntos trinta ou
quarenta anos depois dos factos. Quem quisesse, teria de escavar para
descobrir, ou esbarrar por acaso, na atriz. A figura que se tornava o centro
magnético dos filmes. Que ganhava a cena com um movimento do olhar. A actriz
para as mulheres atormentadas de grandes dramaturgos como Tennessee Williams ou
Edward Albee, muito mais do que as figuras de poster criadas pelos
argumentistas de serviço dos estúdios, nos anos ditos de “ouro” da fábrica de
Hollywood.
[o
trailer de “Elizabeth Taylor: The Lost Tapes”:]
Mas foi precisamente como rainha dessa
era que Taylor se celebrizou, uma história que parecia destinada a acontecer
desde o primeiro dia. Esqueçam os actores que andam anos em castings e a trocar
de agente e a lavar loiça em restaurantes até conseguirem uma oportunidade;
esqueçam também os outros, descobertos ao acaso, um dia, por um produtor quando
vinham a descer a rua; Liz já nasceu do lado de lá da fita.
Filha
de um negociante de arte e de uma actriz de teatro que tinham ido para Londres
em 1929 abrir uma galeria, voltaram para os Estados Unidos dez anos depois,
avisados por amigos influentes, aos primeiros sinais da Guerra. A pequena Liz cresceu, assim, nas ruas de
Beverly Hills, a brincar com os filhos das pessoas que trabalhavam nos estúdios.
Os seus grandes olhos discutivelmente azuis e as suas pestanas anormalmente longas e escuras fizeram o resto: aos 9
anos, já entrava em filmes; aos 11, tinha um contrato de longa duração com a
MGM; aos 12, o primeiro papel principal. Acordar, maquilhar, pentear, mudar de figurino, responder por outro
nome, num mundo de cenários bem iluminados e sonorizados eram para ela a coisa
mais natural do mundo; como a própria diz a Meryman: “O cinema era,
simplesmente, uma extensão do faz-de-conta.”
Uma materialização das fantasias infantis. A realidade nunca existiu para
Elizabeth Taylor; a vida devia ser uma coisa aborrecida, felizmente breve, que
acontecia entre cada vez que se ouvia “corta” e, de novo, “acção”.
Aos
12 anos, já era uma estrela à escala nacional, mérito de National
Velvet, curiosamente traduzido para
português por A Nobreza Corre das Veias. Desta vez, não tinha contado
só o facto de ser uma criança bonita, mas uma criança bonita que sabia andar a cavalo. Que importava que
uma queda durante a rodagem lhe tivesse provocado danos na coluna que a afectariam
para o resto da vida? A partir dali, mais
queda, menos queda, seria sempre a subir. Fenómenos da complexa física das
estrelas.
Dona Liz e seus sete maridos
“Dei
o meu primeiro beijo na vida real uma semana antes do meu primeiro beijo no
cinema. E o do cinema foi melhor.” Talvez nenhuma outra passagem
desta conversa resuma melhor a história de Liz Taylor. Aos 18 anos, já fazia papel de mulher crescida, madura,
contracenando com homens com idade para serem pais dela. Ao contrário
de Judy Garland, Shirley Temple ou outras crianças-estrela do seu tempo, dava-se em
Liz o estranho caso de nunca ter parecido realmente uma criança, como se essa
backstory tivesse ficado de fora do filme da vida dela. Naquele
mesmo ano, casava pela primeira vez, com o herdeiro do império dos hotéis
Hilton. Uma união que duraria oito intermináveis meses e que começaria a
desenhar a imagem muito pouco consensual que teria para sempre na opinião
pública.
Elizabeth Taylor foi a grande estrela de Hollywood dos anos 50. Começa com O Pai da
Noiva, ao lado de Spencer Tracy,
vai para Um Lugar ao Sol, de George
Stevens, continua com Ivanhoe e chega, finalmente, aos grandes papéis
com o épico O Gigante, o
mítico último filme de James
Dean, amigo com quem Liz esteve
ainda naquele mesmo derradeiro dia de vida e que ninguém podia adivinhar,
naquele mesmo Porsche fatal, naquele mesmo zénite de vidas que não podiam saber
que tinham sido desenhadas de outra maneira, cortadas a pique. Jimmy já tinha filmado as suas cenas, mas
Taylor ainda teve de gravar alguns contracampos falando para um amigo que já
não estava lá, apoiada por outro a quem nunca faltaria: Rock
Hudson.
Tinha muitos amigos homossexuais, diz
alguém, a dado passo, em The Lost
Tapes, talvez por
se sentir segura perto deles. Hudson e Montgomery Clift seriam os mais célebres, dois galãs cuja
verdadeira orientação sexual teria destruído as carreiras se fossem conhecidas
à época e um segredo de que Liz foi sempre a mais fiel depositária.
Em
contraste, a vida amorosa dela não podia seguir mais pública. Já
tinha casado uma segunda vez, com Michael Wilding, 20 anos mais velho, e uma
terceira, com o produtor Mike Todd,
de acordo com alguns, “o grande amor”
da vida dela. Mas Todd, uma celebridade ele próprio e carismático
esbanjador de presentes para a esposa, geralmente em forma de jóia, morreria apenas um ano depois, num
trágico acidente de avião, a caminho de uma entrega de prémios.
Desfeita, dizem que a dor que Liz então levou para dentro de Maggie Pollitt
a elevou a outro patamar, a ela, à contracena com Paul Newman e a toda a Gata em Telhado de Zinco Quente.
▲“Dei o meu primeiro beijo na vida real uma semana antes do meu primeiro
beijo no cinema. E o do cinema foi melhor"
Um ano depois, casa com o cantor Eddie Fisher e destrói,
definitivamente, qualquer hipótese de compaixão junto do público… É que Eddie
era
nem mais nem menos do que o melhor
amigo do falecido Todd e ele próprio metade de outro casal muito querido da
América, o que formava com a actriz Debbie Reynolds. Ou seja, de uma penada,
Liz deitava pela janela o luto por Todd, a amizade de Debbie e a simpatia da
nação para com o momento supostamente difícil que vivia. E, no entanto,
na cabeça dela, tudo isto fazia um
estranho, mesmo que amoral, sentido: estar com Eddie era a melhor forma que lhe
restava de estar perto de Todd. Recordá-lo era a única coisa que os unia – como
os anos demonstrariam.
Rainha do Egipto e alguns impérios
mais
E, no entanto, quando as luzes se
acendiam, as câmaras confirmavam que continuava no topo das suas capacidades: o
assombroso Bruscamente
no Verão Passado traz-lhe a
segunda colaboração com Tennessee
Williams, a primeira com o realizador Joseph
L. Mankiewicz e a terceira
nomeação ao Óscar. Comprovava que, muito mais do que o brilho,
Taylor conseguia ser a escuridão – como talvez nenhuma outra actriz principal
do seu tempo. A sua Catherine
Holly, cercada entre as questões de Montgomery Clift e as respostas de Katharine Hepburn,
valer-lhe-iam o primeiro Globo de
Ouro, mas o Óscar só chegaria um ano depois, pela fútil call girl de Butterfly
8 / O Número do Amor, um papel que a própria desprezava.
“Deram-me um Óscar pela minha traqueotomia”, conta em The Lost Tapes.
Sim, porque, entretanto, começara já a em si mesma histórica, épica,
desmesurada rodagem de Cleópatra. 79 cenários, mais de 26 mil figurinos, anos
de rodagem, dinheiro e mais dinheiro investido numa super-produção que, às
tantas, teve de ser interrompida por causa do internamento da protagonista
acometida de uma grave pneumonia (os mais cruéis diriam que talvez tenha sido o
verdadeiro preço a pagar pela cena da nudez). Quando Taylor recuperou, já
depois de uma delicada intervenção cirúrgica, tinha sido preciso trocar de
realizador, de local de rodagem e até de César: Cleópatra seria agora filmada
não nos estúdios de Inglaterra, mas na própria cidade eterna, Roma, dirigida de
novo por Mankiewicz e contracenando com…
Richard Burton.
O resto, dirão, é História. Liz
despiu-se, o filme foi um sucesso de bilheteira, que ainda assim deixaria a
20th Century-Fox em risco de falência; e o amor entre Cleópatra e Marco António, depois da saltar da vida real para o cinema, fazia
agora o percurso inverso. Liz fazia mais um casamento e desfazia dois: tornava
Burton o quinto marido da sua vida, Eddie Fisher o mais revoltado dos exs e a
opinião pública um campo de batalha em que até o jornal do Vaticano tomou
parte, chocado com a sua presença nas proximidades e aconselhando a que as
autoridades americanas lhe retirassem a guarda dos filhos. Estávamos no dito
ano de 1964, aquele em que concedeu a entrevista que dá origem a The Lost
Tapes. Tinha… 32 anos.
Era uma vez uma estrela
O que é que se faz depois
disto? Quando se vai no quinto casamento e é a estrela de cinema, homem ou
mulher, mais bem paga até então, cobrando um milhão de dólares e 10% das
receitas do filme? Começa-se a descer. Tem a ver com a lei da gravidade, ou com
justiça divina, ou uma lei qualquer da termodinâmica. Forças superiores.
Ainda haveria Quem Tem Medo de Virginia Woolf? e o segundo Óscar, mas, depois de 11 filmes e 11 anos
juntos, divididos por dois casamentos, um de dez e outro uma fugaz tentativa de
reconciliação de um, “Liz & Dick”, “o casal do século”, separava-se,
definitivamente. Ao sétimo casamento, agora com
o senador John Warner, Liz fazia o que, em tempos, parecera impossível: trocar
Los Angeles por Washington e uma vida debaixo dos holofotes por outra à sombra
do marido. E era: seis anos depois, também essa relação terminava, mas
estávamos já em 1982, Taylor tinha 50 anos e nem ela, nem o mundo, nem muito
menos Hollywood, eram os mesmos.
▲ Cada um se
interessará pela que quiser, mas, por aqui, basta-nos "Gata
em Telhado de Zinco Quente", "Bruscamente no Verão Passado" e
"Quem Tem Medo de Virgina Woolf?"
Um dia, lá atrás, George Stevens
dissera-lhe que não era uma atriz, mas apenas uma estrela; o
Washington Post escreveu que já era famosa simplesmente por ser famosa
(uma tendência que, entretanto, e para mal dos nossos pecados, não parararia de
se disseminar até aos nossos dias); o
próprio Richard Burton repetiria em inúmeras entrevistas como, até Cleópatra,
achava que Elizabeth Taylor era “apenas” isso: uma estrela de cinema, e não uma
atriz. E que, mesmo no set, a gravar as cenas diante dela, lhe parecia não
estar a fazer nada, e de como só depois, ao ver a imagem captada pela câmara,
percebera como estava a fazer tudo, com os olhos, sempre os olhos, a história
dentro dela a que talvez nunca ninguém tenha chegado.
As causas depois das consequências
Liz
ainda viveria muitos anos, até 2011, quando o coração a retirou definitivamente
de cena, com 79 anos. Ainda
frequentou muitas clínicas de reabilitação, muitas páginas de revista, algumas
séries de televisão (talvez o leitor ainda se lembre de a ver em Norte e Sul) e
até os palcos do teatro, quando fundou uma companhia, como se ainda precisasse
de provar a alguém que era mesmo actriz – e das raras. Casou uma
oitava vez, então com Larry
Fortensky, um operário da construção
civil que levou ao altar no rancho de Neverland, do amigo Michael Jackson –
dificilmente, haveria lugar mais parecido com os cenários onde crescera.
Também esse casamento não duraria, mas Fortensky
permaneceu como um dos seus amigos mais próximos até ao fim da vida e, de
resto, um dos maiores beneficiários do seu testamento.
Mas foi a outros
amigos, como Rock Hudson, apanhados pela epidemia da
sida., que Liz mais dedicaria as últimas décadas de vida, criando e financiando
a Fundação Americana para a Investigação da Sida e a Fundação Elizabeth Taylor
para a sida, angariando fundos para a pesquisa e tratamento da doença e
liderando uma guerra contra aqueles que, na era Reagan, entendiam estar perante
apenas um problema de gays, que os gays deviam resolver. Tinha encontrado
enfim, diz-nos The Lost Tapes,
um sentido para a sua fama. Que é como quem diz, a sua vida.
Elizabeth Taylor foi a última diva dos anos de ouro
dos estúdios, quando todas as aparições
dentro e fora da tela eram cuidadosamente preparadas e controladas por estes, e
a primeira estrela do tempo das celebridades, com a vida pessoal continuamente exposta e discutida em praça
pública. Cada um se interessará pela que quiser,
mas, por aqui, basta-nos Gata em Telhado de Zinco Quente, Bruscamente no Verão Passado e Quem Tem Medo de Virgina Woolf?. O resto é melhor com pipocas.
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