sexta-feira, 22 de março de 2019

Ainda me lembro



Vagamente, é certo, na imprecisão dos dados, de quando a Crimeia foi anexada pelos russos, e cujas referências procuro na Internet, para melhor entender o texto de Inna Ohnivets e seus comentadores. Mas a Rússia é um país forte e rijo, não se deixa convencer assim. E nem sequer se trata de descolonizações, a Rússia era chamada de URSS, por algum motivo. Ó senhores, hein!?, como diria, repito, a aluna Catarina d’Os Batanetes.

Crise da Crimeia de 2014
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Crise da Crimeia de 2014 foi uma crise político-institucional ocorrida na sequência da revolução ucraniana de 2014, em que o governo do presidente Viktor Yanukovych foi deposto. Trata-se de protestos de milhares de pessoas russas étnicas que se opuseram aos eventos em Kiev e reivindicam laços estreitos ou a integração com a Rússia, além de autonomia expandida ou possível independência da Crimeia. Outros grupos, incluindo os tártaros da Crimeia, têm protestado em apoio a revolução.
Adversários armados das novas autoridades de Kiev tomaram uma série de edifícios importantes na Crimeia, incluindo o edifício do parlamento e dois aeroportos. Kiev acusou a Rússia de intervir nos assuntos internos da Ucrânia, enquanto o lado russo negou oficialmente tais alegações. Sob cerco, o Conselho Supremo da Crimeia indeferiu o governo da república autónoma e substituiu o presidente do Conselho de Ministros da Crimeia, Anatolii Mohyliov por Sergey Aksyonov.
As tropas russas estacionadas na Crimeia em acordo bilateral foram reforçadas e dois navios da Frota do Báltico da Rússia violaram as águas ucranianas.
Em 1 de março, o parlamento russo concedeu ao presidente Vladimir Putin a autoridade para usar a força militar na Ucrânia, na sequência de um pedido de ajuda não-oficial do líder pró-Moscou, Sergey Aksyonov. Os Estados Unidos e seus aliados condenaram uma intervenção russa na Crimeia, incentivando a Rússia a retirar-se.
Múltiplos interesses estão direccionados na invasão da Crimeia, sendo elas por parte da Rússia pela extensão de gasodutos e a base militar da Crimeia, cuja localização entre o Mar Mediterrâneo e o Mar Morto é estratégica.

OPINIÃO
A Crimeia cinco anos depois da anexação
Por mais que a Rússia tente desinformar leitores menos atentos e distorcer os factos com artigos sem teor fundamentado, a verdade é que a Crimeia é Ucrânia!
Inna Ohnivets
PÚBLICO, 21 de Março de 2019
Sobre o artigo de opinião do embaixador da Federação Russa em Portugal, Mikhail Kamynin, há que referir várias incongruências e deturpação de factos. Começando pelo título, “O povo que regressou a casa”, não se entende a que povo se refere, mas certamente não deverá ser ao povo russo; quando se diz “a Crimeia é o seu povo” só pode estar a referir-se aos tártaros da Crimeia, o povo nativo, o qual, por sua vez, está neste momento a ser novamente expulso da sua terra e é alvo de repressões e perseguições.
O artigo evoca convenientemente comentários de cidadãos que residem em Portugal, mas não dos cidadãos que vivem actualmente na Crimeia. Nem refere que, desde 2014, a Rússia já fez mais de 70 prisioneiros políticos, activistas da Crimeia que estão atrás das grades por pronunciar a sua vontade pró-ucraniana, entre eles o conhecido cineasta Sentsov, por exemplo.
Também é interessante que no referido artigo se faça alusão ao “antigo palácio de Bakhchisaray, único no género”. A este propósito, numa visita a Portugal, em abril de 2018, para participar na conferência internacional na Reitoria da Universidade de Lisboa, a ex-diretora do palácio de Khan em Bakhchisaray, Elmira Ablyalimova, mostrou, com evidências fotográficas e com pareceres de arqueólogos, que o governo ocupante russo está a destruir o valor histórico e cultural do palácio, sob o pretexto de “obras de remodelação”.
Mais, fala-se no artigo que a Ucrânia tentou impedir o ensino do russo, faltando provas de tal acusação, mas não refere que na Crimeia ora ocupada se eliminou totalmente o ucraniano como unidade curricular nas universidades, nem que os professores foram proibidos de falar ucraniano.
Há também incongruências ao referir que em 1783 a Crimeia se tornou parte da Rússia. Note-se que não se tornou parte da Rússia, mas sim do Império Russo. Império este, agora tão louvado neste artigo, que foi destituído pelos bolcheviques, que assassinaram a família real em 1917. E já que falamos em crime, não esqueçamos que, em maio de 1944, Moscovo realizou uma operação criminal em larga escala destinada a limpar totalmente a Crimeia do povo indígena e a substituí-lo por russos étnicos (que afirmam agora que a Crimeia é o seu povo). Moscovo sempre impediu os tártaros da Crimeia de retornar à sua terra natal, cuja repatriação em massa começou já depois da proclamação da independência da Ucrânia. A própria Ucrânia assumiu todas as despesas neste processo. Em 2013, 266 mil tártaros retornaram à Pátria, o que representou 13,7% da população da península, segundo os dados oficiais.
De seguida, a “ponte da Crimeia” é evocada no artigo, mas novamente nada é dito sobre a ilegalidade da sua construção e utilização.
Ora, é também irónico que se refira às visitas de “parlamentares europeus e eurodeputados” para “avaliar a situação na península com os seus próprios olhos”, mas não se refira às equipas de monitorização de paz da ONU e aos seus relatórios oficiais sobre a situação dos direitos humanos na península, nem à Resolução oficial da AE da ONU sobre a “Situação dos Direitos Humanos na República Autónoma da Crimeia e na Cidade de Sevastopol, Ucrânia”. A estes documentos e avaliações oficiais internacionais e imparciais da situação na península, o autor do artigo chama “informação falsa propagada no Ocidente”.
Por fim, e de novo citando as palavras do artigo de opinião “mentira é sempre uma mentira, em geral e em pormenores, até à última gota” – nesse mesmo penúltimo parágrafo, salientem-se duas deturpações (ou, a bem dizer, mentiras). Primeiro, afirma-se que a Crimeia permaneceu na Ucrânia de 1991 a 2013. Ora, como se pode constatar em qualquer fonte histórica, a Crimeia faz parte da Ucrânia desde 1954. É necessário também recordar que em 1918 a República Popular da Ucrânia proclamou a sua independência, a qual foi suprimida pelos bolcheviques posteriormente. E naquela altura a península estava integrada na Ucrânia. Portanto, em 2014 a Rússia capturou-a pela segunda vez. Depois, não se entende ao que se refere o ano 2013, pois a invasão militar russa deu-se em fevereiro de 2014.
A Crimeia pertence, hoje, jurídica e legalmente, à Ucrânia, sendo a anexação ilegal russa considerada oficialmente uma violação das normas internacionais, pela qual a Rússia está a ser penalizada com sanções pela Comunidade Internacional.
É certo que, conforme o “acordo interestatal Rússia-Ucrânia sobre as deslocações da Marinha Russa no Mar Negro no território da Crimeia”, as forças militares russas estavam já no território ucraniano. Pois, e não esqueçamos que também lá estavam quando, em novembro de 2018, dispararam sobre os navios ucranianos que passavam por águas internacionais do Mar Negro, ferindo e fazendo refém a sua tripulação. Estas acções russas constituem uma violação flagrante da Carta da ONU e da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar.
Não podemos deixar de concordar que o povo da Crimeia deve exercer o seu direito legítimo de determinar “livre e democraticamente” o seu próprio destino; para tal, deve haver um referendo livre, monitorizado internacionalmente, e não sob a mira das armas russas, como aconteceu com o anterior referendo, que, já agora, não é oficialmente reconhecido.
Por mais que a Rússia tente desinformar leitores menos atentos e distorcer os factos com artigos sem teor fundamentado, a verdade – e a verdade é sempre verdade “em geral e em pormenores, até à última gota” – é que a Crimeia é Ucrânia!
COMENTÁRIOS
Conde do Cruzeiro, Assinante. 21.03.2019 : Senhora embaixadora sabe que o presidente está em falta, por não ter tido até agora oportunidade de cumprir o que prometeu a quem o apoiou no golpe de Estado da junta de Kiev, em relação à Crimeia dai o desespero do presidente da Ucrânia, "Pyotr Poroshenko, declarou nesta segunda-feira que, se vencer as eleições presidenciais, reforçará a cooperação internacional para "libertar" a Crimeia." A Base que ele tinha negociado oferecer à Nato na Crimeia como prova da sua fidelidade já foi, bem pode esperar o apoio da Federica. " A União Europeia reafirmou o compromisso com a política de não reconhecimento dos resultados do referendo na Crimeia, no qual a península se uniu à Rússia, disse a chefe de política externa da UE, Federica Mogherini, em comunicado no domingo, "
Veaceslav Velisco, 21.03.2019 : Sinceramente, um artigo barato de uma jornalista barata. A senhora "jornalista" está a contar meia verdade. Em primeiro lugar não diz a percentagem de ucranianos que vivem na Crimeia. Para falar em ucraniano, há que haver ucranianos. Não diz nada do que aconteceu às dezenas de cidadãos ucranianos que eram da oposição e arderam de vivos num prédio na cidade Odessa. Disto ninguém fala. Jornalismo barato. Também não fala como todos os dias morrem de bombardeamentos de exército ucraniano mulheres e crianças na região de Donbass. Como em 2014, a oposição com ajuda de EU e USA deu um golpe militar à democracia na Ucrânia e mandaram abaixo um governo eleito democraticamente. E o governo actual está a sufocar a democracia na Ucrânia. Corrupção em todo sentido da palavra.
James Jakub, Mundi 21.03.2019: A senhora é a Embaixadora da Ucrânia em Portugal, então parece-me normal defender os interesses do país que representa. Se tudo o que ela escreve é verdade, não sei, mas fiquei indignado por ela defender o ponto de vista ucraniano... Agora querer afirmar que não existem ou nunca existiram ucranianos na Crimeia é que me parece uma afirmação Barata pois um território que foi parte integrante de um país durante algumas décadas e nunca foi habitado por um único ucraniano... nem uma família... Ninguém nunca falou ucraniano na dita península! Por fim sobre a corrupção, realmente é por isso que a Crimeia deve fazer parte da Rússia pois lá nunca se ouviu falar em corrupção, é realmente o país no mundo onde nunca mas nunca existiu ou existe corrupção.
Darktin, Anti Comunistas da Extrema-Direita 21.03.2019: Bravo! Putin infantilmente aposta numa amnésia europeia. O que não deixa de ser sintomático. Deve pensar que somos lorpas.

Um artigo de consolação, também via Internet:
Poroshenko promete buscar a 'libertação' da Crimeia se for reeleito na Ucrânia
O presidente da Ucrânia, Pyotr Poroshenko, declarou nesta segunda-feira que, se vencer as eleições presidenciais, reforçará a cooperação internacional para "libertar" a Crimeia.
"Minha primeira decisão e minha prioridade número um [depois da vitória eleitoral] será aumentar a cooperação internacional para libertar Crimeia por meio político e diplomático", afirmou ele em uma entrevista ao canal de televisão ICTV.
Poroshenko chamou a recente visita do presidente russo Vladimir Putin à Crimeia de uma "violação da soberania da Ucrânia."
Putin participou nesta segunda-feira de uma reunião com representantes dos círculos sociais da Crimeia e Sevastopol e disse que a Rússia vai começar a desenvolver as suas relações com a Ucrânia, quando "o senso comum se imponha" a Kiev.
Por enquanto, declarou o presidente russo, as acções das autoridades ucranianas causam estupor.
A Crimeia separou-se da Ucrânia e voltou a fazer parte da Rússia após um referendo em 2014, no qual a esmagadora maioria dos eleitores — mais de 96% — endossou essa opção.
Já Kiev considera que a Crimeia é "temporariamente ocupada" e parte do território ucraniano.
O governo russo tem afirmado repetidamente que o povo da Crimeia, democraticamente e em plena conformidade com o direito internacional e da Carta das Nações Unidas, votou pela reunificação com a Rússia.
Para o presidente Vladimir Putin, a questão da Crimeia "está definitivamente fechada".
As eleições presidenciais na Ucrânia serão realizadas em 31 de março de 2019, com um total de 39 candidatos aspirantes ao cargo.
Lidera as pesquisas o comediante Vladimir Zelenski (24%), seguido pelo presidente Poroshenko (20%) e pela ex-primeira-ministra Yulia Timoshenko (13%).


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