Lengalengas repetitivas, no marcar-passo
da nossa constância regressiva. Para ir lembrando, apenas, para que possa ser
diferente, mas…
I
- ANGOLA:
Marcelo e os banhos de multidão: a história revisitada
OBSERVADOR, 10/3/2019
Os
banhos de multidão não traduzem por inteiro o estado das relações entre
Portugal e Angola. O desanuviamento só é de saudar se for acompanhado por
medidas concretas e não se limitar a frases feitas.
A
visita de Marcelo Rebelo de Sousa a Angola está a ser pautada por sucessivos
banhos de multidão. Para muitos analistas, a marca da vida habitual sabendo o
relacionamento privilegiado de Marcelo com a água e com as multidões.
De
facto, quem não se lembra do candidato Marcelo a atirar-se ao Tejo em 1989 na
tentativa, ainda que infrutífera, de nadar até à presidência da Câmara
Municipal de Lisboa? Ou dos banhos sazonais no Algarve, uma forma de continuar
a gozar de protagonismo mediático na silly season? Sem contar com o
tradicional banho de ano novo, um episódio com cobertura televisiva garantida,
mas com concorrência popular de outras praias.
Essa
relação com a água – e, obviamente com os mass media – não foi quebrada quando
Marcelo chegou a Belém. Quem não se lembra dos banhos de água doce nas praias
fluviais das zonas atingidas pelos incêndios de 2018 e carentes de afectos? Ou
dos mergulhos em águas açorianas aquando da visita ao arquipélago? Ou do banho
nas cálidas águas da baía de Luanda quando Portugal aceitou que o processo que
envolvia Manuel Vicente fosse confiado – coisa diferente de julgado pela – à
justiça angolana?
Por
falar em Luanda, na visita de Março de 2019 Marcelo voltou a não esquecer o
banho de mar. Só que não se contentou com esse retemperar do corpo. O espírito
exigiu mais e logo à saída do aeroporto. Quis um banho de multidão. Melhor:
banhos no plural.
O
Presidente das selfies está sempre disponível – um sinónimo
imperfeito de «ávido» – para um mergulho na multidão. As imagens televisivas
não mentem. Seja em Luanda ou no Cubango. Uma recepção apoteótica e com direito
a gritos entusiásticos de «Marcelo, nós te amamos». Uma forma africana de
bem-receber as visitas, sobretudo quando a paragem não é demorada.
Imagens
que trazem à memória outras ainda a preto e branco da RTP. Imagens de outra
visita e de outro Marcelo. Aquele que deveria ter sido o padrinho do actual
Presidente da República. Imagens datadas de 1969. Uma ocasião em que milhares
de angolanos, de todas as cores, encheram as ruas para aplaudir o Presidente do
Conselho Marcelo Caetano.
Para
o regime então vigente era a portugalidade a encher as ruas de Luanda. Uma
leitura com objectivos políticos e claramente redutora. A assistência era
marcadamente heterogénea. Muitos desconheciam ou recusavam a definição de
portugalidade. Limitavam-se a dar corpo à forma angolana de estar na vida. Uma
angolanidade que não dispensa uma novidade agradável que quebre a rotina
diária. Afinal, como Hemingway escreveu, a vida é – ou deveria ser – uma festa.
Por
isso, na conjuntura actual, o tio Célito foi o feliz usufrutuário desse
espírito angolano. Feliz porque os angolanos começam a ter motivos para serem
mais pródigos nas comemorações. As alterações políticas internas estão a
assumir a condição de catarse de uma ânsia longamente controlada e reprimida
sempre que o Poder se sentiu incomodado.
Porém,
agora como no Estado Novo, querer ver nessas imagens mais do que aquilo que
realmente representam é gostar de persistir no erro. Uma escola a que não
faltam seguidores. Não foi em vão que Maquiavel alertou Lourenço de Médicis
para o perigo representado pelos aduladores ou lisonjeadores.
Os
banhos de multidão não traduzem por inteiro o estado das relações entre
Portugal e Angola. O desanuviamento actual só é de saudar se for acompanhado
por medidas concretas e não se limitar a mais uma verborreia de frases feitas.
Quanto
ao próximo banho presidencial até pode dispensar a água como aconteceu nas
Jornadas Mundiais da Juventude. O que não pode faltar é a multidão, ou, em
alternativa, a comunicação social que alimente essa multidão.
A
vida e a agenda de um populista, perdão, de um Presidente, são assim!
II - PSD:
Rui Rio e o interesse nacional
JOSÉ PINTO,
Professor de Ciência Política
OBSERVADOR, 8/2/2019
O
eleitorado do PSD já percebeu, parece que ao contrário do líder do partido, que
manter Costa à frente dos destinos do país não serve em nenhuma circunstância o
interesse nacional. Bem pelo contrário.
Os
dedos das mãos já não chegam para contar as vezes em que Rui Rio fez questão de
frisar que, no cenário pós-eleitoral, privilegiará o interesse nacional em
detrimento do interesse partidário. Uma atitude que parece louvável. De facto,
todos os interesses partidários só fazem sentido se decorrerem daquele que
deverá ser o eixo da roda, ou seja, o interesse colectivo.
Porém,
a circunstância em que Portugal vive aconselha a uma reflexão profunda sobre a
forma de acautelar o interesse nacional. Na verdade, o país é governado, há
quase quatro anos, por uma geringonça conduzida por António Costa. Uma
maquineta empurrada pela troika da esquerda e que fez do co-piloto, Mário
Centeno, a estrela da companhia.
O
ministro de méritos reconhecidos lá fora. Alguém que, internamente, foi
apresentado – e se apresentou – como o ministro da retoma e da prosperidade.
Mesmo que não se perceba se Centeno é o ministro das Finanças ou apenas o
ministro do Orçamento.
Oficialmente
não convém chamar à colação o facto de Portugal caminhar para ser o quinto país
mais pobre da União Europeia. Afinal, que culpa tem Mário Centeno de outros
Estados-membros da comunidade, designadamente a Estónia, a Lituânia, a
Eslováquia, a Eslovénia, a República Checa e Malta, terem resolvido crescer
economicamente mais do que o previsto!
Voltando
a Rui Rio, parece que ainda não percebeu que a disponibilidade manifestada
em nome do interesse nacional está a contribuir para o fragilizar
politicamente. Uma fragilização que resulta, desde logo, do desejo publicamente
assumido por António Costa sobre o cenário pós-eleitoral. O atual
Primeiro-ministro não tem dúvidas. Na ausência de maioria absoluta há que
reeditar a geringonça. Mesmo que à custa de mais algumas concessões à CDU e ao
Bloco que anda mortinho por se sentar nalgumas cadeiras ministeriais.
Assim
sendo, Rui Rio está numa posição semelhante à condição de suplente. Algo que o eleitorado do PSD entende – não é por
acaso que o futebol é líder de audiências – mas não aceita. Desde logo porque
não concorda que o PSD só seja chamado a jogo se o PS não lograr maioria
absoluta e os seus cérebros não tiverem engenho para colocar na estrada a
geringonça numa versão revista ou revisitada.
Esse
eleitorado, parece que ao contrário do líder do partido, já percebeu que manter
António Costa à frente dos destinos do país não serve o interesse nacional. Bem
pelo contrário. Um eleitorado que acompanha com estupefacção a forma como o
Governo socialista prometeu e não cumpriu a contagem integral do tempo dos
professores. Ou a atitude, a roçar a arrogância, que tem relativamente aos
enfermeiros. Partidos tão propensos a apoiar, ainda que por via sindical, as
reivindicações dos trabalhadores não pareceram muito incomodados quando o
Governo de António Costa cortou relações com a Ordem dos Enfermeiros e
classificou a greve desses profissionais como selvagem. Não restam dúvidas
de que o PS sabia o que estava a fazer quando se comprometeu com o PCP a
reverter, tanto quanto possível, a TAP e a impedir a privatização dos
transportes colectivos de Lisboa e Porto.
Face
ao exposto, talvez seja altura de Rui Rio assumir que o interesse nacional só
ficará salvaguardado se uma oposição credível mostrar aos portugueses a
realidade sem filtros cor-de-rosa. Porém, essa condição necessária não será
suficiente. Será preciso dizer claramente aos portugueses que com o PSD no
Governo não voltarão a ser chamados a sacrifícios destinados a pagar a
incompetência – chamemos-lhe assim – de gestores nomeados pelo Governo e que
não se verão confrontados com acordos – como a pseudo regionalização –
negociados às escondidas.
Essa
sim, é a forma de Rui Rio defender o interesse nacional!
COMENTÁRIOS
José Barros: Correctíssimo.
O interesse nacional passa por desmontar a farsa continuada que é este governo.
A geringonça joga com a iliteracia política e consequente susceptibilidade de
manipulação do eleitorado. É um governo de indigentes, como diariamente se
verifica. Quem quer ver, evidentemente.
ALBERICO LOPES: Caro Professor:o Rui Rio é um caso perdido!
Se o PSD tivesse outro líder e outra direcção, nesta altura o governo do sr.
costa/marcelo, já teria ido às urtigas! É que, ao contrário do que as
"sondagens" encomendadas ao socialista da UGT e ao da Aximage-outro
amigo do costa - o povo está cansado de tanta verborreia, tanta mentira e de
ser esmagado com, impostos que, veja bem, o sr. centeno, se atreveu a dizer que
não tinham sido aumentados. Pois não:é só ver os combustiveis e tantos outros
impostos ditos indirectos!
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