sexta-feira, 1 de março de 2019

Origens históricas



Um trabalho criterioso, este de Salles da Fonseca, sobre o sucessivo povoamento do terreno que nos forjou como povo, trabalho enriquecido com fotos ou mapas que apenas nomeio, incapaz de os transpor para o meu blog, mas disponíveis sempre, no “A Bem da Nação”. Um trabalho sério, de quem se preocupa com os descaminhos que vamos levando, apelativo, talvez, de mais cordura nos destinos que vamos forjando, impassíveis e esquecidos.
 HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO
 (24.02.19)
Os livros de História, quando mencionam os antepassados dos portugueses, fazem referência sobretudo aos Lusitanos, à presença Romana e aos Mouros. No entanto, os povos que deram origem aos portugueses estão longe de ser apenas esses.
Ainda antes dos Lusitanos, muitos povos habitaram o território que hoje corresponde a Portugal. Alguns desses povos não deixaram vestígios e tudo o que sabemos sobre eles provém da leitura das crónicas históricas dos gregos e dos romanos. É o caso, por exemplo, dos Estrimníos, dos Sefes ou dos Cempsos, cuja história apenas pode ser conhecida através das crónicas do escritor latino Avieno, no século IV.
Note-se ainda que muitos povos são catalogados como pertencendo a tribos celtas e falar de todos eles é uma tarefa complicada. Exemplo disso são os Tamagani, na zona de Chaves, ou os Gróvios, na zona do Minho. E há ainda algumas surpresas, como os escravos negros que foram usados para povoar a zona do Sado ou os Franceses que vieram povoar algumas partes do Alentejo no século XII.
São 17, os povos antepassados dos portugueses que deram origem à Nação que somos hoje.
1 - Estrimnios
Os Estrimnios (em latim: Oestremni) são dados como o primeiro povo nativo conhecido de Portugal. Oestremni significaria (povo do) extremo ocidente. Estendiam o seu território da Galiza até ao Algarve. Este povo de hábitos rudes dormia no chão, alimentava-se de carne de bode, de pão feito a partir de farinha de bolotas e praticava sacrifícios humanos durante os quais examinavam as vísceras das vítimas para predizer o futuro.
Foto: Castros
Vindos de leste, chegaram os Sefes, guiados pela sua deusa-serpente, Ofiusa. Estes eram menos numerosos que os Estrimnios. No entanto, os Estrímnios eram um povo de agricultores pacíficos e os Sefes, além de bons guerreiros, possuíam uma religião mais desenvolvida e quase exterminaram os Estrímnios, tendo sobrevivido apenas alguns povoados dispersos pelo território que antigamente dominavam.
Recebido por e-mail, Autor não identificado
Gentileza de António Benoliel de Carvalho
(COMENTÁRIO DE ADRIANO LIMA 24.02.2019: Já conhecia. É uma informação que convém divulgar, porque normalmente cai-se na simplificação quando se fala nas origens do povo português - os lusitanos. A realidade da origem dos povos é muito mais complexa.)
2- Ofis ou Sefes  ( 24.02.19)
A passagem dos Sefes como força invasora pelas planícies do Alentejo encontra-se arqueologicamente documentada, seja pelo desaparecimento súbito e inexplicável de povoados na Serra de Huelva e nas duas margens do Guadiana (o povoado de Passo Alto, na margem direita do Chança, é um caso paradigmático), seja pela alteração do modelo de povoamento no Alentejo Central, com as populações abandonando as suas quintas na planície, sem preocupações defensivas e recuperando ou construindo grandes povoados fortificados no cimo dos montes como se pode comprovar nos povoados da Serra d’ Ossa.
Foto: Cromeleque dos Almendres
Fundam uma primeira cidade, Dipo, que sobrevive até à época romana e que muitos acreditam estar no subsolo de Évora Monte. E avançando para oeste e para noroeste fundam sucessivamente Beuipo (Alcácer do Sal), Olisipo (Lisboa) e Colipo (Leiria), avançando até às margens do Mondego. A terminação em “-ipo” das povoações que fundaram (os topónimos que o tempo não devorou), não nos ilude quanto à sua proveniência, pois a esmagadora maioria dos povoados em “-ipo” encontra-se a sul do Guadalquivir.
3 – Cempsos (25.02.19)
Os Cempsos foram uma tribo que habitou o sudoeste da Península Ibérica na Antiguidade. Habitavam a região do Cinético, nome dado na Antiguidade ao Algarve (?) e faziam parte dos cinetes, motivo pelo qual, mais tarde, Avieno deu o nome de lugum cempsicum ao actual cabo Espichel. Os cempsos viveram na região conhecida como Cuneum Ager (“Campo Cónio”), sendo assim uma variante étnica dos cónios, talvez com fortes influências lígures ou célticas.
Cromeleque do Xerez
Estas hipóteses, no entanto, permanecem em aberto, na falta de qualquer indício significativo que permita elucidar melhor esta questão. Nicolae Densusianu, na sua obra Dacia Pré-histórica, localiza a tribo dos cempsos nas proximidades do Cănicea, numa aldeia da Roménia habitada nessa época pelos coniscos. Os cempsos terão fundado Sesimbra.
4 - Lusitanos (25.02.19)
Os lusitanos são normalmente vistos como uns dos antepassados dos portugueses do centro e sul do país e dos extremenhos. Eram um povo celtibérico que viveu na parte ocidental da Península Ibérica. Primeiramente, uma única tribo que vivia entre os rios Douro e Tejo ou Tejo e Guadiana. Ao norte do Douro limitavam com os galaicos e astures – que constituem a maior parte dos habitantes do norte de Portugal – na província romana de Galécia, ao sul com os béticos e ao oeste com os celtiberos na área mais central da Hispânia Tarraconense.
Foto:Lusitanos
A figura mais notável entre os lusitanos foi Viriato, um dos seus líderes no combate aos romanos. Apesar de as fronteiras da Lusitânia não coincidirem perfeitamente com as de Portugal de hoje, os povos que aqui habitaram são uma das bases etnológicas dos portugueses do centro e sul e também dos extremenhos (da Extremadura espanhola).
5 -  Fenícios (26.02.19)
Os Fenícios eram um povo de navegadores e comerciantes originário do actual Líbano e da zona costeira da moderna Síria. A abundância de peixe das nossas costas interessou os Fenícios na pesca e na salga de peixe, mas também na procura de metais, como a prata, o cobre e o estanho.
Civilização Fenícia (MAPA)
Traziam produtos, como tecidos, vidros, porcelanas, armas e objectos de adorno para fazerem trocas comerciais. Fundaram Feitorias, isto é, postos comerciais, no litoral. Criaram o alfabeto constituído por 22 consoantes e utilizaram o papiro para escreverem. Infelizmente, em termos arquitectónicos temos poucos vestígios sobre este povo (o subsolo do claustro da Sé de Lisboa é um dos poucos exemplos) mas há oliveiras em Tavira e em Santa Iria de Azóia que, devidamente datadas, se concluiu terem sido plantadas pelos fenícios.
6 Cartagineses (6.02.19)
Os Cartagineses descendiam dos Fenícios. Estes dedicavam-se ao comércio de metais e à salga de peixe. Atribui-se-lhes a fundação de Portimão e outras colónias de pescadores na costa algarvia. Além de grandes comerciantes, os cartagineses eram também grandes exploradores. Algures entre o ano 500 aC e 420 aC, o almirante cartaginês Hanão organizou uma expedição para efectuar comércio marítimo em torno da costa africana, possivelmente para fundar colónias a sul.
1 -Mapa (da Europa e do Norte de África).Com Cartago assinalada
2 - Cartagineses
7 – Gregos (26.02.19)
Depois, os Gregos chegaram à Península. Concorrentes comerciais dos Fenícios, fundaram várias colónias, tais como Alcácer do Sal. Introduziram a civilização helénica no Sul e Leste da Península. Como vestígios da sua presença deixaram a ânfora (uma das primeiras peças para armazenar mantimentos), vasos e moedas. Embora se considerem lendas, diz-se que Ulisses fundou Lisboa e o filho deste, Abidis, que fundou Santarém.
Navio Grego (Foto)
A maior contribuição grega na cultura das populações que já se encontravam no nosso território foi sem dúvida a noção de moeda que começou a ser cunhada localmente em Emporion no século V a.C. e em Rodes no século seguinte. Esta prática, porém, só se tornou corrente nos restantes territórios da Península Ibérica nos anos posteriores e sob a influência de Cartago.
8 - Celtiberos  (27.02.19)
Os celtiberos são o povo que resultou, segundo alguns autores, da fusão da cultura do povo Céltico e da do povo Ibero. Habitavam nas regiões montanhosas onde nascem os rios Douro, Tejo e Guadiana desde o século VI a.C. Não há, contudo, unanimidade entre os historiadores quanto à origem destes povos.
Celtiberos (Foto)
Tratar-se-ia, talvez, de um povo Celta que adoptou costumes e tradições iberas. Estavam organizados em gens, clãs familiares que ligavam as tribos, embora cada uma destas fosse autónoma, numa espécie de federação. Esta organização social e a sua belicosidade permitiram a estes povos resistir tenazmente aos invasores Romanos até cerca de 133 a.C., com a Queda de Numância.
Localização no mapa
Deste povo desenvolveram-se, na parte ocidental da Península, os Lusitanos, considerados pelos historiadores como os antecessores dos portugueses, que viriam a ser subjugados ao Império Romano no séc. II a. C.
9 – Suevos (27.02.19)
De origem germânica, os Suevos começaram por ser lavradores mas tornaram-se conquistadores e alargaram o seu reino até ao rio Tejo. Converteram-se ao catolicismo por influência de S. Martinho de Dume.
(Foto): Túmulo de S. Martinho de Dume, Braga
Fundaram o Reino dos Suevos, com a capital em Braga. Esta, tornou-se um grande centro de fé e de cultura. Com a expansão do reino para sul, os Suevos instalaram-se em Portucale, na foz do rio Douro.
Suevos (Foto)
O norte de Portugal tem ainda fortes influências dos suevos. As características mais evidentes são o arado quadrado e o espigueiro. Na toponímia, nomes como Freamunde ou Guilhofrei evocam origens germânicas.
10 – Visigodos (27/2/19)
Os Visigodos chegaram à Península Ibérica no ano de 416. Aqui fundaram um reino, submeteram os Suevos e ficaram a dominar longos anos em todo o território. O reino dos Visigodos estava organizado numa monarquia absoluta com a capital em Toledo. Publicaram o Código Visigótico e estabeleceram uma sociedade formada pelo clero, nobreza e povo. Eram grandes artistas, em especial na fabricação de jóias. A pouca arte visigótica que ainda podemos admirar em Portugal está na ourivesaria e na arquitectura.
Visigodos (Foto)
No que diz respeito a edifícios, temos a Capela de S. Frutuoso de Montélios, perto de Braga, aIgreja de S. Pedro de Balsemão, nos arredores de Lamego, e a Igreja de S. Gião da Nazaré.
Claros traços visigóticos presentes em alguns espaços são o arco de ferradura e a planta em forma de cruz das igrejas.
Igreja de São Pedro de Balsemão (Foto)
Também deixaram um importante trabalho na área jurídica. Escreveram Liber judiciorum, uma obra que forneceu as bases do pensamento jurídico na era medieval na Península Ibérica. Também relevantes foram o Código de Eurico, a Lex romana visigothorum.
11 –Romanos (28/2/19)
É dos povos que mais heranças nos deixaram: o latim, a numeração romana, pontes, estradas, aquedutos e cidades.
O mais famoso centro urbano romano é perto de Condeixa onde se localiza Conímbriga mas existem também outros tais como Miróbriga, perto de Santiago do Cacém e a mais sumptuosa, Balsa, vizinha de Tavira, exemplos claros do desleixo cultural de que estamos penosamente afectados nestes tempos que vivemos.
Templo Romano de Évora (Foto)
A calçada portuguesa é também uma criação dos romanos. A lei do mundo ocidental ainda hoje tem uma notória influência romana.
12 – Judeus (28/2/19)
Até à época da Inquisição existiam muitos judeus em Portugal com grande influência na sociedade. Muitos judeus desempenharam um trabalho relevante para o sucesso das descobertas portuguesas nos séculos XV e XVI, trabalhando na áreas da matemática, de astronomia e de cartografia.
Judeus Sefarditas (Foto)
Nesse sentido, desenvolveram grandes instrumentos científicos.
Tomar e Coimbra são ainda cidades que apresentam alguns traços da arquitectura judaica do passado (como fontes).
Já em plena época de perseguição, deixaram marca na gastronomia, com a famosa alheira de Mirandela, a farinheira e outras ocultações gastronómicas.
Uma curiosidade sobre outro tipo de ocultação: os judeus de Belmonte que se diz estarem religiosamente autorizados a não serem circuncisados como forma de dissimulação da sua fé.
Mas deixaram também vestígios em costumes e crenças como, por exemplo, o temor de duas facas cruzadas (o símbolo da cruz).
13 – Muçulmanos 28.02.19)
A presença muçulmana em Portugal durou 500 anos, sendo assim natural que tenha deixado uma forte herança. Temos alguns bairros em Portugal que preservam o mesmo aspecto do tempo dos muçulmanos (como a Mouraria e Alfama), e a casa tradicional do Alentejo e Algarve (chaminés e açoteias) com o estilo muçulmano.
Na agricultura, o tanque, anorae os canais de rega foram invenções islâmicas. Trouxeram árvores/alimentos como o limoeiro, a laranjeira, abóbora, cenoura, arroz e a figueira. Também nos doces há intervenção muçulmana: arroz doce, aletria, açúcar. No nosso actual vocabulário, quase todas as palavras que começam por «Al» têm origem muçulmana.
Nora (Foto)
14 – Africanos (01.03.19)
Embora seja um pormenor desconhecido pela maioria dos portugueses, a zona do vale do Sado foi povoada por escravos negros.
É frequente atribuir-se ao Marquês de Pombal a iniciativa de promover a fixação de populações negras no vale do Rio Sado mas não é verdade. Existem registos paroquiais e do Santo Ofício que referem a existência de uma elevada percentagem de negros e de mestiços em épocas muito anteriores a Pombal. Segundo tais registos, já no séc. XVI havia pessoas de cor negra vivendo nas terras de Alcácer.
Mulatos (Foto)
No séc. XVI, muitos portugueses embarcavam nas naus, o que agravava ainda mais o défice demográfico existente. Terá também sido esta a razão por que, naquela época, os proprietários das férteis terras banhadas pelo Sado terão resolvido povoá-las com negros, comprados nos mercados de escravos; a outra razão por que optaram por negros foi a de essas pessoas já estarem de algum modo imunizadas contra as sezões (paludismo).
Os mulatos do Sado dos nossos dias são, portanto, descendentes desses antigos escravos negros.
15 – Ciganos (01.03.19)
Segundo alguns documentos, os ciganos estão em Portugal há cerca de 500 anos, tendo chegado à Europa vindos do Nordeste da Índia. Um movimento migratório feito através de longas caminhadas e que levou alguns grupos a ficar pelos países que estavam nas suas rotas de passagem. Esses movimentos originaram a apropriação de culturas e línguas diferentes, mas com raízes comuns. A história dos ciganos em Portugal nunca foi fácil.
Ciganos (Foto)
O primeiro grupo que chegou a Portugal em meados do século XV terá causado alguma estranheza devido ao facto de ser um povo com uma língua estranha e que se vestia de forma exótica, com hábitos e culturas diferentes. Factores que tanto atraem o interesse da sociedade como a afastam - antigamente e na actualidade.
16 – Franceses (01.03.19               )
Em 1199, D. Sancho I doa a Herdade da Açafa à Ordem do Templo. Este território era delimitado, de modo muito sumário, a norte pelo Rio Tejo e a sul detinha parte do território dos actuais concelhos de Nisa, Castelo de Vide e parte do território espanhol junto à actual fronteira.
Territórios Templários de Idanha e de Azafa (Mapa)
Estas doações tinham como objectivo fixar moradores em zonas ermas e despovoadas e consequentemente defender o território. Os Templários edificaram uma fortaleza que os defendesse dos infiéis e sinalizava a posse desses territórios.
Nisa (Foto)
Ao mesmo tempo, o monarca anuncia a vinda de colonos franceses que chegaram de forma faseada, sendo o último grupo destinado ao povoamento do território da Açafa. Instalaram-se junto das fortalezas construídas pelos monges guerreiros e aí ergueram habitações, fundaram aglomerados populacionais a que deram o nome das suas terras de origem. É neste sentido que surge possivelmente o de Nisa, ou seja, sendo os primeiros habitantes oriundos de Nice, ergueram aqui a sua “Nova Nice” ou, melhor dizendo, “Nisa a Nova” que encontramos nos documentos e quando surge o termo “Nisa a Velha”, este refere-se à sua antiga terra de origem, a Nice francesa.
17 – Cónios (01.03.19)
Os cónios (em francês – Occitano; piemontês – Coni; italiano – Cuneo; Latim - Conii) eram os habitantes das actuais regiões do Algarve e Baixo Alentejo em data anterior ao séc. VIII a.C., até serem integrados na Província Romana da Lusitânia. Inicialmente foram aliados dos Romanos quando estes últimos pretendiam dominar a Península Ibérica.
A origem étnica dos cónios permanece uma incógnita. Para os defensores das teorias linguísticas actualmente aceites, a origem comum na Anatólia ou no Cáucaso das línguas europeias e indianas, ou seja, línguas indo-europeias, os cónios teriam uma origem celta, proto-celta, ou pré-céltica ibérica. Estas teorias, relativamente recentes, foram facilmente aceites, principalmente por aqueles que registavam qualquer ligação dos europeus a África. Antes da teoria da origem caucasiana, muitos europeus julgavam-se descendentes de Jafé, conforme escrito na Bíblia, no livro de Génesis 10:5. Cronistas da antiguidade greco-romana, enumeram mais de 40 tribos ibéricas, entre elas a tribo cónia, como sendo a dos descendentes de Jafé, terceiro filho de Noé e pai dos europeus.

O mapa estilizado "T e O" (de Guntherus Ziner, de 1472) faz alusão à Europa como o lar dos descendentes de Jafé, a África sendo dos de Cam (segundo filho de Noé) e a Ásia dos descendentes de Sem (primogénito de Noé).

FIM
Adaptação de texto recebido por e-mail, Autor não identificado
Gentileza de António Benoliel de Carvalho

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