O sentimento é geral, de desamparo pela
saída do UK da U E. O texto de Vicente
Jorge Silva é bem explícito e provocou uma dinâmica de
contestação ou defesa que achei muito curiosa, por isso transcrevo os
comentários, por nos situarem em diferentes perspectivas a respeito de uma
questão que nos porá a todos – ou não – em maus lençóis. Eu continuo a ter
pena, e julgo que foi uma partida pouco desportiva de um povo altivo e
impacientemente desgostoso da promiscuidade que a dita democracia subentende,
não há dúvida.
OPINIÃO
Depois do “Brexit”, o “Democrexit”?
Pelo caos imprevisível que suscitou, o
“Brexit” é um aviso para o perigo fatal do “Democrexit” – ou seja, da
democracia que se dissolve, esquece e foge de si mesma.
VICENTE JORGE SILVA
PÚBLICO, 17 de Março de 2019
A
mais antiga democracia do mundo perdeu-se num labirinto sem fim e vem exibindo,
sem parar, cenas típicas do teatro do absurdo. Mas já não se trata apenas de um
problema britânico e cuja solução se encontra nas mãos dos súbditos de Sua
Majestade: o “Brexit” está também a conduzir a Europa a uma situação de
quase paralisia e tornou-se uma obsessão que domina todas as agendas. Para além
dos inenarráveis episódios que se têm sucedido na Câmara dos Comuns (convertida
em verdadeira câmara dos incomuns e virtual manicómio político), põe-se a
questão de saber se o “Brexit” não se tornou um
veneno fatal para a União Europeia (UE).
De
qualquer modo, é já evidente que o “Brexit” poluiu de forma quase irreparável a
campanha para as eleições europeias de Maio, ultrapassando (ou
potenciando) os temores de uma vaga de fundo populista e eurocéptica. Além
disso, caso se confirme nas votações da próxima semana em Westminster a recusa
simultânea do acordo do “Brexit” e do “Brexit” sem acordo – o que implicaria a sua extensão
indeterminada no tempo até um eventual acordo futuro ou um novo
referendo que poderá não resolver o problema –, os eleitores britânicos serão
provavelmente chamados a votar nessas eleições europeias, apesar de já se terem
pronunciado a favor do “Brexit”, uma vez que o Reino Unido continuará
entretanto a estar ligado à UE e não deve/pode prescindir de fazer ouvir a sua
voz dentro do espaço europeu... Um
cenário que ninguém anteviu e parece totalmente surreal e absurdo, mas não pode
ser descartado, suscitando a incredulidade pública e o descrédito das
instituições de além e aquém Mancha.
É
nesta situação-limite (ou seja, entre
“eu ou o caos”) que Theresa May aposta para sobreviver politicamente e
ultrapassar os sucessivos e humilhantes desafios à sua autoridade,
inclusivamente por membros do seu Governo. Em resumo: para evitar o
prolongamento indeterminado da permanência do Reino Unido na UE, os deputados
recalcitrantes poderão ver-se obrigados a aceitar o mal menor – ou seja, o
“Brexit” já negociado com Bruxelas, como alternativa ao mal maior (que seria o
“Brexit” sem acordo, com todas as suas consequências imprevisíveis e
assustadoras, nomeadamente para a unidade da Grã-Bretanha e a paz entre as duas
Irlandas). É certo que um punhado de
“hard-brexiters” continua militantemente activo, mas parece duvidoso que o
seu aventureirismo à laTrump – esse Trump que não se cansa de
incentivá-los – acabe por impor-se ao que ainda resta de racionalidade em
Westminster.
Entretanto, há males que vieram para
ficar – ou para funcionar como sintoma do desconcerto da vida política
britânica e europeia. De facto, nunca imaginámos que se chegaria a este ponto
tão dramático (que se diria cómico se não fosse trágico), desde os tempos em
que o Reino Unido se ufanava do seu estatuto (mais exactamente, nostalgia)
imperial para recusar a integração no espaço comunitário europeu, passando
pelos vetos do general De Gaulle a essa integração e, finalmente, até à sua
sempre muito reticente e distanciada adesão à Europa – que foi, afinal, a
antecâmara do “Brexit”. Mas a lição
aí está: apesar de tudo é muito mais fácil entrar do que sair. E o “Brexit”
veio trazer à superfície os riscos da dissolução democrática a que assistimos
não só no teatro do absurdo de Westminster mas também, mais subterraneamente,
através das instituições comunitárias (ou seja, de uma Europa construída como
uma abstracção face à vida concreta dos seus cidadãos e estimulando as derivas
eurocépticas). Pelo caos imprevisível que suscitou, o “Brexit” é um aviso para
o perigo fatal do “Democrexit” – ou seja, da democracia que se dissolve,
esquece e foge de si mesma.
COMENTÁRIOS:
bento guerra, 17.03.2019:
Baboseira
ridícula.A Europa vai-se fazendo e não é a irresponsabilidade dos ingleses,que
a "destroem"Amigos assim são piores do que inimigos
4a
República, República Bananeira da Tugalândia
(ex-Portugal) 17.03.2019: A única razão por que o Brexit representa um perigo para a
UE é porque expõe a nu o totalitarismo subjacente a este projecto. E mostra, em
pleno continente Europeu, como os sistemas imperialistas odeiam a liberdade dos
povos. Ainda estou para ver se o Reino Unido não pagará com um bloqueio e
sabotagem tal como Cuba o fez. Mesmo que mais subtil, pois interessa à UE
mostrar aos seus membros que sair da UE significa menor prosperidade, ou pura e
simplesmente mostrar que serão punidos. Em última análise, e olhando para a
postura da EU, de uma coisa tenho a certeza. Tal como no caso de Cuba,
interessa boicotar para convencer as pessoas que não há outro rumo que não
aquele determinado pelas elites burocráticas de Bruxelas. A UE não tolerará
que se veja que há vida para lá da subserviência a Bruxelas.
Darktin, Anti Comunistas da Extrema-Direita17.03: Isto é tão exagerado e tão demagógico que nem vale a pena
responder 4a República. Procurar chifres em cabeça de porco já teve o seu
tempo. Penso que estamos fartos de ler estas mentiras que a UE é totalitária
quando somos portugueses e quando pertencemos a UE. Só com um profundo desconhecimento
do Mundo é que pode escrever tal coisa. Para não dizer da UE. Se houve algo
ímpar na UE, foi o respeito pelo povo britânico e pelo seu acordo. Contudo a UE
defenderá os interessas da Irlanda, que pertence a UE, mais do que os
interesses do RU que quer sair da UE. Nem poderia ser diferente e nem poderia
ser de outra coisa. O que escreves, é pura demagogia.
4a República, República Bananeira da Tugalândia (ex-Portugal) 17.03.2019: Veremos quanto tempo demorará a UE a
mostrar tiques declaradamente totalitários, pois essa é a natureza de
organizações burocráticas, megalómanas e que se consideram donas da razão. Já
para não falar dos muitos milhares de tachos que se quererão defender a todo o
custo. O meu problema não tem a ver com a defesa dos interesses da UE, mas com
a postura e declarações sobre o referendo do RU. A forma arrogante e
sobranceira como se desdenha e humilha a vontade de um povo expressa de forma
livre e democrática. E isso já mostra sinais muito preocupantes. Também me
preocupa que governos eleitos para gerir os seus países assinem tratados onde
cedem parcelas das suas soberanias sem perguntar ao povo. Nenhum governo foi
eleito e mandatado para tal! Quem os autorizou a abdicar de independência?
Darktin, Anti
Comunistas da Extrema-Direita17.03.2019: Ok.. chamaste-me a atenção,. Vamos a factos e sem discursos
floreados. Tens aqui um gajo que já apanhou um pouco de tudo. Ditadura
Militar, Livre Democracia, logo o pós 25 de Abril, Portugal antes da UE e
depois da UE. Da-me exemplos da ditadura da UE. Concretos e sem falácias
abstratas. Sei o que é viver dentro da UE e Europa e fora dela. Portanto, vamos
os dois fazer comparações. Expõe os teus medos em relação à UE.
4a
República, República Bananeira da Tugalândia
(ex-Portugal) 17.03.2019 : Só o facto de não haver referendos que envolvam
questões de soberania nacional, ou de serem repetidos até dar o que convém à UE
já são sinais suficientes. A engenharia social que está a ser feita com uma
postura autista em relação à preocupações manifestadas pelos povos.
Preocupações que são consideradas legítimas noutros continentes mas são logo
chamadas de xenofobia e racismo por cá, atente-se. As negociatas com
Sauditas e Chineses abrindo as portas a sistemas políticos, económicos e
sociais antagónicos a tudo aquilo que a Europa representa e que você próprio
afirma ser quase único no mundo. A interferência nas economias dos países com
quotas, o garrote do Euro... A questão é a subtileza deste controlo aprendido
dos Americanos, contrariamente ao autoritarismo explicito do passado.
Darktin, Anti
Comunistas da Extrema-Direita17.03.2019: As negociatas com Sauditas e Chineses " Os EUA, a Rússia e
a Austrália por exemplo, não fazem parte da UE e também fizeram negociatas com
estes países. Estás a confundir a UE com o "real politik". Podemos
não concordar, mas aconteceria na mesma sem a UE. Aliás, desde a crise
do petróleo na década de 70 (século XX) que a mundo inteiro fez negociatas com
a Arábia Saudita. Onde está a implicação directa com a UE? Por outro
lado, quando se deu o acordo da Globalização, há cerca de 30 anos, alguém
saberia o que seria a China? Contudo, para mim o que importa saber é se
Portugal estaria melhor ou pior que a UE. O que achas da 3a República,
Portugal estaria melhor fora da UE? O que tens levantado são problemas
universais, que tocam a todos mas que com a UE conseguimos melhores resultados.
É que vejo tu e o jonas (não sei se são mesma conta) a
defenderem muito o que se passa em França, na Inglaterra ou até mesmo na
Itália, mas nunca falam na primeira pessoa: Portugal. Se estás tão preocupado com a
soberania, porque te importas tanto com o que se passa na Inglaterra ou na
França? O teu focus não deveria ser Portugal? Sendo assim, não estás a ser um
demagogo?
E eu até sei porque não falam de Portugal. Porque infelizmente
para vocês, não estamos mal. O vosso discurso de piromania inflamado não se
encaixa com Portugal na UE. Só reclamações aleatórias e comuns a qualquer país
no Mundo que tenha passado uma crise. Eu tenho a certeza absoluta (basta ter
uma pequena noção do que já recebemos do bolo comunitário), Portugal estaria
nas lonas se não fosse a UE. Até a nossa Democracia seria mais fraca. Devemos
muito as directivas europeias. Sem elas, seria impossível mudar a nossa
cultura. E eu lembro muito bem qual era a nossa cultura na década de 80.
Jonas
Almeida, Stony Brook NY, Marialva Beira Alta 18.03.2019: 4a República tem exactamente razão - transferências de soberania
sem referendo ou à revelia de referendo carecem de legitimidade. Eu nunca fui
consultado sobre a transferência da minha e o Darktin pode ter a certeza que
tenho lealdade negativa às "regras" e desmandos da UE desde o não
referendado tratado de Maastricht. A oportunidade da revolta, da sabotagem, da
resistência virá mais cedo ou mais tarde. Pode ter a certeza que o mesmo acontecerá
com milhões de britânicos se não houver saída dia 29. No fim do dia são os
cidadãos que escolhem as suas lealdades, não os seus
"representantes". E os representantes são escolhidos... pelo Papa?!
P
Galvao, Lisboa 17.03.: A clarividência de
VJS, e a aparente facilidade com que constrói um texto onde se diz quase tudo o
que há para dizer sobre a matéria, só tem igual na demagogia servida em doses
industriais e na propaganda política para consumo de massas com que se entretêm
tantos "analistas" e opinantes profissionais. Não devemos confundir os povos com os políticos que
os governam, mas devemos temer qualquer estado que assume as diferenças que
reclama existirem entre o "nós" e os "outros". Foi sempre
assim com o RU, e de certa forma a culpa é de toda uma elite europeia que
acreditou piamente nas "boas intenções" do RU. A história diz-nos que
a relação do RU foi sempre parasitária, senão mesmo de abuso de posição
"dominante". Não contentes, agora dedicam - se a destruir a
construção europeia: Rule Britannia
tiagompereira17.03.2019: Não vejo nenhuma destruição da UE por
parte do UK. Bem pelo contrário. Por exemplo ainda ontem, a liga da Esquerda na
Dinamarca decidiu retirar do seu manifesto um referendo à permanência na UE por
causa do mau exemplo do UK. Preferem reformar a UE a sair dela. A coesão na UE
aumentou. Existe menos pressão migratória e nenhum partido no resto da UE ganha
eleições com propostas de referendos à UE ou Euro
Darktin, Anti
Comunistas da Extrema-Direita17.03.2019: Vejo que o caro nunca esteve na Europa. Posso fazer uma pequena
lista a esclarecê-lo e ajudá-lo no seu desconhecimento acerca da UE. Vive-se
mais em Democracia na UE em quase todo o Continente Americano. Só o Canadá está
em pé de igualdade. Não há nenhum país do Continente africano mais democrático
que UE. Felizmente na Oceânia encontramos paralelo com a UE. Falta a Ásia. Se
retirarmos o Japão e vá lá, a Coreia do Sul, não resta mais nada. Portanto,
dentro de blocos com mais de 100 milhões de pessoas, a UE tem mais que 400
milhões, não existe nada mais democrático que UE. Perfeição? Também não existe.
Contudo, existe debate livre e aberto para obter uma melhoria continua.
4a
República, República Bananeira da Tugalândia
(ex-Portugal) 17.03.2019 : Darktin, uma coisa é a Europa, que é a quem se refere de
forma inconsciente no seu texto. Outra coisa é a União Europeia que é um bicho
totalmente diferente. Já havia democracia, liberdade e justiça na Europa
incomparável com quase todo o resto mundo antes de a UE ter sido sequer
sonhada. A UE é de facto um perigo para a democracia. O centralismo burocrático
distante dos povos nunca foi uma fonte de democracia. Pelo contrário.
Darktin, Anti
Comunistas da Extrema-Direita17.03.2019 : Caro 4a República, estamos em Portugal, certo? Portugal fica na
Europa, certo? Portugal pertence à União Europeia certo? Portanto, refaço a uma
pequena escala para perceberes o alcance. Tiras quase todo o Continente
Americano, quase todo o continente Asiático, todo o Continente Africano, e só
ficas com a Oceânia e Portugal. E voltando à Europa, se retirar alguns países
do Norte da Europa que têm ligações muitos profundas com a UE, a UE é mais
democrática que todos os países fora da UE.
4a
República, República Bananeira da Tugalândia (ex-Portugal): @Darktin: E eu volto a dizer, em 1925 já a Europa tinha mais
democracia, justiça, educação, etc. que praticamente todos os países nos
restantes continentes. Tudo o que refere como de maior nível na UE não se deve
à UE mas por se estar no continente Europeu. Percebe? Se quiser pode trocar, o
ano de 1925, por 1950 ou 1895 e mesmo assim continuará a ter a Europa na frente
no que diz respeito a número de países democráticos e com sistemas de justiça
melhores que a quase totalidade dos restantes países do mundo. A meu ver a
UE está a reduzir a democracia ao retirar poder dos parlamentos nacionais
afastando-a dos eleitores. Eu nunca sentirei que a democracia em Portugal está
mais forte se a "casa" for mudada para Bruxelas em vez de em Lisboa
ou noutra cidade deste país.
Darktin, Anti
Comunistas da Extrema-Direita17.03.2019: Exacto. A Europa já estava à frente. Já estava mais evoluída
em muitos pontos de educação e Democracia. Contudo não evitou as duas grandes
guerras. Mas as duas serviram para acentuar a vontade de liberdade e um maior
sentimento democrático. A partir desde desejo de união, criaram-se os
mecanismos evolutivos que deram origem à União Europeia. A meu ver, a UE está
ainda incompleta. Falta ainda muito caminho para andar. Mas está no caminho
certo. Não há alternativa para a sobrevivência da Europa. E tu sabes bem. Se
não for uma liderança alemã que está muito evoluída e pertence à Europa,
teremos uma liderança Americana ou Chinesa. O mundo continua a ser dos mais
fortes e a União faz a força. Não podes voltar no tempo.
Darktin, Anti
Comunistas da Extrema-Direita17.03.2019: A China não vai
recuar economicamente e nem de população. Nem a Índia. Nem o Brasil (espero) e
nem os EUA. Se a Alemanha se intromete muito, é porque também dá muito
dinheiro. E vamos ver uma coisa, que pedido completamente descabido a Alemanha
fez a Portugal. Se não tivesse havido corrupção dos nossos políticos e
incompetência, a Alemanha teria tido necessidade de se intrometer? Sócrates,
Salgado, Jardim, Santana, Valentim, Barroso, são alemães?
Jonas
Almeida, Stony Brook NY, Marialva Beira
Alta 18.03.2019: Como nos admitiu anteriormente, o Darktin
não é nem Português nem europeu. Não percebo porque se mete no que não lhe diz
respeito.:
Jonas
Almeida,Stony Brook NY, Marialva Beira Alta 18.03.2019 Não ingerência nos assuntos internos dos
outros países é "xenofobia"?! E eu a pensar que era a base do direito
internacional desde o tratado de Westfalia.
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