Há dias ouvi o Ricardo Araújo Pereira em chufas
reiteradas ao “optimismo” balofo do Presidente da República, que o não deve ter
visto nem ouvido, mas mesmo que o tivesse o não teria, já que o que me parece
que ele tem mesmo é impudência, nenhuma lição lhe servindo, “pobre do lusíada, coitado!”, indiferente
a críticas – neste caso a chufas que
o puseram, no dito programa, de RAP, “Gente
que não sabe estar”, a repetir sensaboronamente que “somos os melhores do mundo”. E ninguém o dissuade de envergonhar
o país, com a autoridade do posto que ocupa, tirando selfies e dizendo
baboseiras, o que é uma forma de conquistar votos, mesmo que seja à custa do
ridículo com que enlameia o país. Somos os melhores do mundo, no futebol também
se diz, quando perdemos os jogos, que ganhamos moralmente, ou que fomos
injustiçados, etc.
Mas o texto de Rui Tavares, que começa por se socorrer de referências
bibliográficas para desancar o país do outrora, que conquistou mundos, é certo,
mas onde ele só viu sintomas de atraso, oportunismo manipulador e ostentação, (porque
se tratava de classes mais “à direita”) país que não soube enveredar pelo trabalho
sério, como fizeram os povos nórdicos, ao criarem condições estruturais para usufruírem
inteligentemente das riquezas por nós conquistadas e desperdiçadas, a dada
altura o texto de RT envereda pelo encómio, a lembrar o nosso PR com os seus
encómios de mentirinha, nem sequer patrióticos, pois que patéticos, num espalhafato
de adolescente mimada. Ao considerar que “Portugal
tem condições suficientemente interessantes — geográficas, linguísticas,
culturais e societais — para desejar ser não apenas uma sociedade em
convergência com a média europeia, mas antes uma das sociedades mais
desenvolvidas, cultas e iguais de uma das regiões mais desenvolvidas do mundo”,
Rui Tavares, com tais
contradições inesperadas, entre o que disse antes e o que afirma agora, ou está “em gozação”, ou
está em busca de qualquer outro cargo para si, sabendo que por cá o elogio é um
bom meio de progressão na vida, e ele tem todo o direito de lutar pela sua. Mas
a honestidade intelectual é fundamental, não é aceitável que ele não enxergue o
que se está a passar neste país, e não só ao nível da educação, está visto.
OPINIÃO
Que fazer com este país?
Portugal tem condições suficientemente
interessantes — geográficas, linguísticas, culturais e societais — para desejar
ser não apenas uma sociedade em convergência com a média europeia.
RUI TAVARES PÚBLICO, 27 de
Março de 2019,
António
Ribeiro Sanches, que deixámos na última crónica em 1759 escrevendo sobre
Portugal as suas Cartas sobre a educação da mocidade, deixou implícito que
o problema do país se resume essencialmente a um dilema: mão-de-obra barata ou
valor acrescentado? Como vimos, a
sua crítica precoce (para termos portugueses) à escravatura baseava-se desde
logo só no facto de esta ser imoral — ou, nos seus termos, uma desumanidade —
mas também incluía na sua análise as consequências de um modelo económico
baseado na escravatura para o subdesenvolvimento cultural e social de Portugal.
Enquanto as elites nacionais, no reino ou nas colónias, extraíam recursos
humanos de África para que estes atravessando o Atlântico fossem extrair
recursos naturais do Brasil, outros povos europeus manufacturavam os produtos
mais complexos, mais intensivos em conhecimento e tecnologia, que o ouro
luso-brasileiro ia depois comprar. No curto prazo os portugueses ficavam mais
ricos; a longo prazo ficavam mais pobres, porque não tinham sentido necessidade
de se educar para produzir com mais valor acrescentado.
Como
descrevi então, esta tese atravessou os séculos — de Garrett a Passos Manuel,
de Antero de Quental a António Sérgio — e de certa forma ela é relevante ainda
hoje. Aludi na
crónica anterior à forma como a crise de 2008 foi enquadrada em Portugal
como uma luta entre duas desvalorizações. Uma, a desvalorização interna,
consistia em competir com o resto da Europa e do mundo através dos salários
mais baixos, simulando através deste mecanismo a antiga desvalorização do
escudo que com o euro já não é possível fazer. A segunda era a
desvalorização externa, que consistia em romper com o euro para poder
desvalorizar o novo escudo, nunca se explicando bem que isso consistiria também
num corte de salário. Ora, uma desvalorização — interna ou externa — é sempre
um atalho. Fora de um momento de crise, um atalho não é um caminho de futuro
para o país. E navegar à vista, fazendo um bocadinho de cada coisa, também o
não é.
Um
caminho de futuro só pode passar pelo contrário da desvalorização — de qualquer
desvalorização, seja a da austeridade, seja a do rompimento com o projecto
europeu — e projectar a médio prazo aquilo a que poderíamos chamar uma “Grande
Valorização”. Há anos que defendo que essa grande valorização deveria passar
por três eixos fundamentais — valorização das pessoas, do território e do
conhecimento — e mais recentemente tenho defendido que ela seja precedida
de um grande debate nacional que nos permita encontrar em conjunto as metas em
cada um desses eixos. As medidas e as políticas específicas fariam
parte, como é natural é desejável que seja, do terreno contencioso da política,
em que cada partido ou cidadão escolheria as propostas e programas a defender.
Essa pluralidade essencial não sai prejudicada, pelo contrário, pela
existência de objectivos comuns. Foi assim que fizemos a primeira geração de
políticas após o 25 de Abril, e foi assim que muitos países — da Irlanda à
Finlândia — se têm conseguido modernizar.
Uma
valorização das pessoas, do conhecimento e do território passa certamente pela
realização de verdadeiras reformas. Não as reformas erradamente “estruturais”
das falhadas políticas a curto prazo da desvalorização interna. Mas o tipo de
reformas que permitam sustentadamente aumentar produtividade e fazer o país
subir na escala de valor europeia e mundial. Essenciais seriam uma reforma do
ensino superior, uma reforma da administração pública e a regionalização. Sim, eu sei que a última é politicamente uma
batata quente, mas olhemos para um mapa com as regiões mais pobres e mais
ricas da Europa e rapidamente veremos como se tornaram mais prósperas as
regiões espanholas, de que a Galiza é uma ilustração, e como o Norte de
Portugal ficou comparativamente mais distante destas. Uma valorização
das pessoas passaria necessariamente por políticas de micro-economia, ajudando
as empresas a incorporarem conhecimento e tecnologia na sua produção, e por um
reforço das provisões de bens públicos por parte do estado, para não deixar
ninguém para trás enquanto o país se tornasse mais produtivo e especializado. E
um plano deste género não poderia passar por um rompimento com a Europa, mas
antes pelo contrário por uma maior europeização da nossa economia e sociedade,
sendo o estado um ajudante da sociedade civil e dos agentes económicos na
captação de recursos europeus de uma forma mais simples, eficaz, e inclusiva do
que se passa hoje.
No
quadro desse debate nacional haveria talvez uma questão que apareceria mais
tarde ou mais cedo. Essa questão é a da convergência com a média europeia — o
Santo Graal das nossas políticas das décadas anteriores. Será preciso reflectir
sobre se não é preciso ser bastante mais ambicioso do que apenas a
convergência. Ou, em metáfora futebolística, se devemos continuar a jogar para
o empate, maneira mais do que consabida de acabar a perder. Portugal tem
condições suficientemente interessantes — geográficas, linguísticas, culturais
e societais — para desejar ser não apenas uma sociedade em convergência com a
média europeia, mas antes uma das sociedades mais desenvolvidas, cultas e
iguais de uma das regiões mais desenvolvidas do mundo. Talvez precisemos de actualizar
o nosso desafio como sociedade se queremos ir mais longe sem deixar ninguém
para trás.
E
é aí que o regresso a Ribeiro Sanches faz sentido. O Portugal do ciclo imperial foi um país que gastou
todas as cartas sem conseguir dar um pulo de desenvolvimento. O Portugal do
ciclo actual só pode contar consigo, com as suas gentes e com os que aqui
quiserem viver e trabalhar, e com o seu território inserido no espaço político
europeu. Terá chegado finalmente a altura de entender que só chegaremos “lá”
com uma Grande Valorização daquilo que agora temos?
COMENTÁRIOS:
AA...Para a mentira ser segura ... tem que ter
qualquer coisa de verdade, Portugal 27.03.2019: Comentários muito interessantes sobre as
razões do nosso crónico e secular atraso, apesar do ouro que choveu umas 3/4
vezes ao longo dos nossos 900 anos de história. Eis-nos chegados ao século XXI como
o quinto país mais pobre da UE, e em risco de sermos ultrapassados pela Polónia
e pela Hungria. O problema meus caros é a matéria prima das nossas gentes.
Custa muito admiti-lo mas o povo é fraco, a sociedade civil é inexistente e os
políticos, que temos gerado, é do mais rasca que há: completamente
incompetentes e um bando de ineptos. A justiça não funciona e os corruptos de
colarinho branco são totalmente inimputáveis. Para quem quiser ter uma vida
melhor, terá que procurar outros valores que não existem por aqui. Portugal só
tem sol e praia para oferecer. Triste sina a nossa. É a vida.
A NON DOMINO, Terra 27.03.2019 : Nada, neste artigo, é ideia
nova. Anda-se a escrever isto há, pelos vistos, uns 300 anos. Nestas últimas
5/6 décadas não há governo, académico, publicista, comentadeiro, etc. que não
diga o mesmo. Claro que comunistas serôdios (como o José+Jonas) vão buscar o
tema estafado e arcaico do "orgulhosamente sós", versão PCP (não
acham que o PCP não está cada vez mais parecido com o Salazarismo nas suas
posições ultraconservadoras e autárcicas?). Uma ideia nova, por favor.
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