O texto de Pacheco Pereira, de apoio à
independência da Catalunha, define bem o “homem” faccioso, dos que defenderam há
cerca de cinco décadas as descolonizações, ponto capital para a sua afirmação
de literato pedante, para quem a palavra pátria não passa de patranha sem
passado nem história, e que apenas serve a sua animosidade e o seu desprezo, não
só para com os que a habitam, mas para com o espaço que ajudou a reduzir,
suficiente, contudo, para nele arrumar os livros e documentos da sua sabedoria
de vento - vento agreste, contudo, para o seu trabalho de sapa, de condução venenosa
e traiçoeira, como por várias vezes demonstrou, ao longo dos anos, e entre
essas, a condução do seu discurso para derrotar Passos Coelho, a quem talvez
invejasse o carácter e a determinação, de trabalhar para livrar o país da
ignomínia. Este seu texto de ataque aos portugueses que, sentimentais e brandos
– e afinal respeitando valores – não apoiam as lutas independentistas dos
catalães, mais uma vez nos mostra o homem arrogante e venenoso que se refugia
no culto do saber, para as suas dissertações de facciosismo e maldade. Não vou
referir razões outras que as da consciência patriótica de um país vizinho que
defende, naturalmente, a sua integridade, no respeito pelos tais valores que
Pacheco Pereira despreza. Transponho os comentários dos que dele discordam,
omitindo os dos pedantes como ele (com excepção do de Jose, que refere
factos) que o apoiam e endeusam. Pobre Pacheco Pereira, tão diminuto e balofo,
joguete apenas da sua vaidade sem nobreza.
OPINIÃO
Ao nosso lado
Para Portugal, a doença espanhola vai
chegar com um pólo espanholista agressivo aqui ao lado que irá condicionar a
política portuguesa.
JOSÉ
PACHECO PEREIRA
PÚBLICO, 16 de Março de 2019
Em
que países da Europa é que seria hoje possível fazer um processo por “sedição”?
Dois: a Rússia e a Espanha.
Neste momento estão a ser julgados em Madrid um conjunto de dirigentes
políticos catalães eleitos, com funções na Catalunha durante o movimento pela
independência, por
“rebelião, sedição e peculato”. A acusação de “peculato” é ridícula,
destina-se apenas ao esfregar das mãos dos seus adversários, dizendo que eles
“roubaram” alguma coisa, quando a acusação diz respeito ao uso de dinheiros
públicos, geridos pelo governo legítimo da Catalunha, para organizar os
processos de referendo. Aliás, os argumentos jurídicos são a maneira neste caso
de deixarmos de ver o essencial: estes homens foram eleitos para fazerem o
que fizeram, contam com o apoio dos catalães e conduziram um processo pacífico
destinado a garantir a independência da região da Catalunha, algo que não é
alheio a direitos e garantias do próprio estatuto catalão e dos compromissos
para a sua revisão. É um processo político puro, e os presos catalães são presos políticos puros.
A
outra coisa do domínio do político é o silêncio cúmplice de toda a União
Europeia, que não mexe uma palha perante o que se está a passar em Madrid, onde
a comunicação social se comporta como partidária do “espanholismo” mais radical
e mobiliza os seus leitores, ouvintes e telespectadores para exigirem a condenação
dos catalães, como se de criminosos de delito comum se tratassem. Este silêncio
cúmplice é mais uma pedra no abandono de valores da União, que se mobiliza para
todas as causas longínquas e oculta as que estão bem dentro dela.
E
não adianta vir com a demagogia de comparar o “nacionalismo” catalão com a onda
nacionalista que atravessa a Europa, xenófoba, hostil às liberdades, populista,
sobre a qual as autoridades europeias mostraram sempre grande complacência. O
movimento independentista catalão é até o único exemplo, juntamente com o
nacionalismo escocês, de um movimento pacífico, moderado, cosmopolita, com enorme
apoio popular, mas sem nenhuma das perversões do nacionalismo
basco do passado, nem do irlandês, nem, registe-se, do nacionalismo espanhol,
uma das correntes políticas mais agressivas de Espanha, como, aliás, se vai ver
em breve nas próximas eleições.
Mas, já o escrevi e repito, nós,
nesta matéria, somos uma vergonha. Estamos ao lado da Espanha, cujo
nacionalismo tememos ao longo de toda a nossa história, com raros momentos de
descanso, e apenas de descanso porque a Espanha estava fraca, e fazemos de
conta que somos os três macaquinhos de mão a fechar a boca, os olhos e os
ouvidos. Os presos políticos estão lá e
nós caladinhos a pensar que não é connosco.
Somos
capazes de juntar umas dezenas de pessoas para causas remotas e obscuras –
e quase sempre bem –, mas quanto a Espanha ou ficamos apáticos e
indiferentes, ou, o que é pior, alinhamos com o coro espanholista. Esse
coro vai varrer o PSOE e vai trazer o PP e o neo-PP, os Cidadãos, o Vox e muitos grupos junto dos
quais o nosso Chega é um pacífico menino. O espanholismo dos dias de hoje, posterior à tentativa catalã, é
genuinamente franquista, mergulha fundo na trágica história de Espanha do
século XX.
Portugal e os portugueses não podem
ter esta indiferença face à sorte dos nossos irmãos catalães a quem devemos
também uma parte da nossa independência nos idos de 1640. A causa catalã está a
passar momentos difíceis, mas só a cegueira é que pode pensar que vai
desaparecer. Se os presos políticos catalães forem condenados, então aquilo que
já é hoje o principal bloqueio da política espanhola, ancorando-a à direita,
tornar-se-á uma fonte conflitual muito séria em toda a Espanha, onde a
reivindicação nacionalista no País Basco, na Galiza e noutros locais vai
mobilizar uma nova geração de desespero, e o desespero é mau conselheiro. Para Portugal, a doença espanhola vai
chegar com um pólo espanholista agressivo aqui ao lado que irá condicionar a
política portuguesa. E vai ter na nossa direita radical, na alt-right nacional que começa a organizar-se como grupo de
pressão face aos partidos políticos que acha que saíram da linha, como o PSD,
um apoio entusiástico.
Com a memória ainda fresca do passado
recente da troika-Passos-Portas,
não teriam por si próprios muita importância, porque a nostalgia de um passado
escuro não chega para mobilizar para o futuro, mas o apoio de uma Espanha muito à direita pode
ser um factor de desequilíbrio. Também por nós, deveríamos olhar para esse
grupo de homens corajosos que estão a ser perseguidos e julgados em Espanha com
um olhar mais solidário e comprometido.
Colunista
COMENTÁRIOS
aalbertopires115,
16.03.2019 Pois
para mim este JPP é un panfletário anarquista que atiça os piores movimentos
que surgem num país vizinho a que nos ligam séculos de história e com quem
vivemos em paz há mais de 100 anos. Numa altura destas em que a UE se debate
com a possível continuidade, mal grado a insatisfação que os políticos europeus
desencadeiam, é deitar achas para a fogueira. O que acontecer na Espanha vai
afectar-nos, a começar pelos divisionismos de todos os graus. Só indivíduos
comprometidos com o desmantelar da Europa podem dar crédito a este movimento
independentista, que tem tudo e mais o que precisam para se auto-governarem e
ainda desejam no século XXI instituir a desordem, o caos governativo e o
esfrangalhar de um grande país. Parece que toda a gente esquece quem foram os
autores da guerra civil.
JP.FM, Lisboa 16.03.2019 Não se entende como é possível que mais
de um ano depois do dia 1 de outubro de 2017, com o julgamento a ser
transmitido em sinal aberto e permanentemente disponível online, se possa ter a
ousadia escrever um artigo assim. Não quero entrar nas mentiras deliberadamente
proferidas, mas há coisas piores e muito mais perversas aqui. Ou este senhor
é pago para isto ou faz parte de um lobby preparado para o efeito.
Inacreditável.
Sandra,
Lisboa 16.03.2019: Bem, lendo artigo e comentários, nada
muda naquilo que é a verdadeira essência das coisas, sem demagogias, Espanha é
um estado de direito, o que por si só, me serve de argumento para contrapor às
modas independentistas. Não me tenho dado conta de miséria na Catalunha, nem de
opressão. Os que estão presos, estão-no por rebelião, sedição e peculato. Que
sejam julgados em consonância com o direito e, que possam usar de todos os
mecanismos previstos na lei para o uso da sua defesa. Como qualquer um. Não são
presos políticos. São políticos que estão presos. Pacheco Pereira diz que os
argumentos jurídicos nos impedem de ver o essencial. Errado. Os argumentos
jurídicos são o essencial, e bem, a meu ver.
Jose, 16.03.2019: A moda não é o independentismo. A moda é
os Colonialistas voltarem a acção agressiva não só na Catalunha mas também na
Venezuela, Palestina, Nicarágua, Cuba, Brasil, Colômbia, Equador, Ucrânia,
Birmânia e tantos pontos do mundo onde o revivalismo colonialista é vendido em
nome da democracia como ópio do povo. JPP tomou esta posição que repete, em
melhor, a posição já expressa na "Circulatura do Quadrado" da passada
quinta feira. É uma posição pela liberdade, pela autodeterminação dos povos,
uma posição da resistência ao novo totalitarismo global. Uma posição certa,
corajosa que ficará para a história como luz nas trevas da nova ignorância.
Solidariedade para com todos os povos em luta pela autodeterminação,
independência e liberdade. Liberdade imediata e incondicional dos presos
políticos!
Sandra,
Lisboa 16.03.2019 : Pois
eu cá para primaveras, basta-me a meteorológica. Quer a "luta"
catalã, quer a "luta" dos coletes amarelos, para mim vale bola. Sou
mais dada a preocupações com o desemprego, a solidão dos nossos velhos, os
pobres sempre a disfarçar a pobreza, que agora engana-se a dita, tudo coisas
pouco dadas a lirismos e fora das "agendas". É o que é. Sou uma
démodé.
Eu mesmo, Algures de Cima 16.03.2019: Uma das grandes falácias disto tudo é a
ideia de que apenas metade dos catalães quer a independência. Falso. As
eleições regionais contam com a participação dos não-catalães (essencialmente,
espanhóis e hispano-americanos - 30% da população). Extraídos os votos destes
(anti-indep.), chega-se a 65% de catalães favoráveis à independência. E 80% da
população pretende um referendo. Olhem para os resultados das zonas menos
cosmopolitas (com menos não-catalães), e vejam como é óbvio o desejo de
independência!
bento guerra, 16.03.2019: Por acaso, sabe que só 48 por cento dos catalães aprovam
uma independência, que a.Europa rejeita, ou isso é secundário?
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