“Mais cinco dias inúteis”, título da Crónica de Alberto Gonçalves, trouxe-me a recordação desse outro génio musical e
literário que foi António
Variações, espécie de fogo fátuo para nós, infelizmente, tão
breve foi a sua passagem nos palcos da sua vida, de insatisfação e busca.
Também Alberto Gonçalves me parece um
eterno insatisfeito, não de si próprio, liricamente, mas do comportamento
alheio, satiricamente, preferindo usar as armas da mordacidade atacante, embora
no fito de querer elevar a uma esfera um pouco mais condigna – moral, social
económica, política – este pobre país a descambar em tanta inanidade. Vejamos
esses cinco dias, que os comentadores explicam.
Mais 5 dias inúteis /premium
OBSERVADOR,
23/3/19
Claro que o ar do tempo começa a
tornar-se irrespirável e que uma sociedade fundamentada na desconfiança e na
delação não promete um futuro risonho. Claro que me apetecia fazer queixa. Mas
a quem?
Segunda-feira:
O
prof. Marcelo promete assistir à estreia de uma telenovela. Para mim, é
espantoso ainda haver telenovelas. Para o prof. Marcelo é um acontecimento a
não perder: “(…) tenho de arranjar a minha vida porque tinha um jantar de
trabalho já organizado (…)”. E acrescentou: “Hoje é fácil, puxa-se para trás e
vê-se, mas é outra emoção ver no momento da estreia. Vou ver. Depois digo a
minha opinião”. A opinião permanece um mistério. O facto de o prof. Marcelo
ser Presidente da República também.
Terça-feira
Fui
enganado. Fui enganado pela família, pelos amigos, pela escola e sobretudo por
esse veículo essencial de socialização: os filmes sobre o universo do crime
organizado ou desorganizado. Todos me garantiram não haver coisa
pior do que um denunciante, um delator, um bufo, um chibo, um rato, um reles,
muito reles, queixinhas – e isto num “ranking” que já incluía molestadores,
necrófagos e vereadores com pelouro. Tendo crescido nessa convicção, hoje não
reconheço o mundo. É um mundo onde os denunciantes treparam dos fundilhos da
humanidade para os respectivos píncaros. Pior, é um mundo onde os denunciantes
são estimulados a sê-lo e recompensados por isso. Essa virtude, dantes apenas
apreciada nos regimes totalitários do tipo nazi ou comunista, é agora louvada
nas democracias. Ou nas mistelas esquizofrénicas como a nossa.
Há
dias, Manuela Moura Guedes emitiu uma opinião televisiva acerca da associação
LGBTEtc. que celebremente “interveio” numa escola do Barreiro. Num ápice, a não
menos célebre ILGA apresentou uma queixa à ERC, a Altíssima Autoridade
para a “comunicação social”. Um acontecimento fortuito? Não: um modo de vida.
Para não criar equívocos, a OLGA até tem uns cartazes com os seguintes
dizeres: “A televisão (p)e(r)mitiu [que giro] discriminação? Denuncia!”
Escusado notar que “discriminação” é aqui um conceito lato, que consiste em
divergir, mesmo que ao de leve, dos dogmas que orientam a ILDA. Um
mafarrico qualquer na SIC ousou desviar-se dos padrões que a ALGA acha
aceitáveis? Denuncia! Delata! Bufa! Chiba! E por aí afora, sob pena de
integrares as multidões de hereges que as inquisições modernas se esforçam por
calar e, preferencialmente, expelir. Claro que a GULA é só uma entre largos
milhares de agremiações que, em Portugal e no Ocidente em peso, lutam para
encostar os hereges à parede, por enquanto metafórica. Claro que a “causa”
LGBTEtc. é só um entre centenas de pretextos para que os sensíveis se ofendam e
arranjem uma espécie de vida a reclamar o extermínio dos ofensores. Claro que o
desmesurado ódio aos “discursos de ódio” é no mínimo um instrumento de censura
e, no máximo, um “case study” psiquiátrico. Claro que o ar do tempo começa a
tornar-se irrespirável e que uma sociedade fundamentada na desconfiança e na
delação não promete um futuro risonho. Claro que me apetecia fazer queixa. Mas
a quem?
Quarta-feira
Confesso
que, por absoluta falta de interesse, não conheço 90% dos membros do governo.
Em compensação, os membros do governo conhecem-se muitíssimo bem. A cada dia,
somos informados de mais um familiar directo de ministros ou secretários de
Estado que caiu num ministério, numa secretaria de Estado ou noutro cargo
acessório e igualmente simpático. Por regra, o argumento em prol (não confundir
com “prole”, a qual por acaso também vai sendo enfiada nos postos disponíveis
ou inventados para o efeito) deste método de selecção consiste em proclamar que
as criaturas em questão não podem ser prejudicadas em função do parentesco. O argumento
contrário consiste em garantir que as criaturas não deviam ser beneficiadas.
Não
sei porquê, ninguém repara que, ao invés de prejuízo ou benefício, as criaturas
têm exactamente aquilo que merecem. O facto de serem cônjuges ou descendentes
de grandes figuras do PS indicia com alta probabilidade, por hábito ou
genética, uma imbec…, perdão, percepção limitada da realidade. A percepção
limitada da realidade condena-as desde logo a empregos de escassa exigência e
nenhuma responsabilidade. Não há empregos tão fáceis e irresponsáveis quanto os
disponíveis numa administração socialista. Em suma, tudo está bem.
Em
eras remotas, desaconselhava-se a endogamia pela propensão a gerar filhos
malucos. Hoje, porém, os filhos, esposos, sobrinhos, cunhados, primos e compadres
que não regulam bem possuem adequadas saídas profissionais à sua espera. Os
casos perdidos deixaram de representar um fardo – excepto para o povo, que, são
como um pêro e lúcido como uma batata, patrocina, legitima e aplaude o arranjo.
Quinta-feira
Manter
sob controlo do Estado um símbolo da soberania, um ex-libris da “lusofonia”,
uma companhia bandeira, um baluarte da portugalidade, um bastião dos preços
altos tem um preço. Exactamente, 118 milhões de euros anuais, que foi o
prejuízo da TAP em 2018. Estão de parabéns todos os que contribuíram para
“reverter” a privatização da empresa e que agora não contribuirão para pagar a
factura entre eles.
Sexta-feira
Um
dia, um nacionalista/ecologista/comunista/supremacista/anarquista/libertário
(definições do próprio) assassina muçulmanos na Nova Zelândia e assume-se de
imediato que o sujeito representa o homem branco e judaico-cristão em geral,
que como se sabe ocupa as horas de lazer a chacinar gente. Quase todos os dias,
um muçulmano mata infiéis onde calha e parte-se do princípio de que não
representa ninguém: quando muito, foi movido por distúrbios mentais, emprego
precário ou permissividade no porte de
armas (e camiões). Em Utrecht, avançou-se com a hipótese de crime passional,
que tipicamente convence um tipo comum a disparar sobre autocarros. No
limite das mesuras, as “autoridades” e os “media” ocidentais são capazes de
culpar a micose ou o degelo do árctico antes de admitir, contrariados, que o
tipo matou em nome da religião. Perante isto, é natural que a Organização da
Cooperação Islâmica exija “medidas concretas, abrangentes e sistemáticas” para
acabar com o “flagelo” da “islamofobia”. Para a semana, o Rei dos Leitões vai
emitir um comunicado contra o vegetarianismo.
COMENTÁRIOS
Ping PongYang: Fracote... gostei mais dos comentários do Cipião e do Prof.
Pardal. Quanto à Manuela M Guedes é um recurso
importantíssimo do país: quem tenha miúdos pequenos, perante a ameaça da
aparição súbita de tão temerosa avantesma, não há prato de sopa ou de
hortaliças que fique por devorar. E mais: se comerem demasiados Macs ficam
ASSIM !
Cipião Numantino Uma crónica
espécie low cost do nosso excelso AG. Quiçá para contrapor ao preço high cost
com que a TAP revertida pelo Costa, nos encosta à parede, e nos vergasta os costados
com os "costos" das viagens em que detém o monopólio.Mas vamos ser
seguidistas em relação ao AG. Aí vai:
Segunda-
feira: A hiperactividade do nosso inefável
PR começa logo aqui. E nas horas em que não está a apoiar uns quantos marginais
no bairro da Jamaica ali para os lados do Fogueteiro (não sei se repararam como
as afrontas e ofensas à polícia estão a aumentar de número e de tom - os sinais
errados que o PR e o Microfones deram à sociedade, estão a ser, quanto a mim,
fatais), pode muito bem ver telenovelas. Por mim até lhe sugeria rever o Bem
Amado. Talvez imitando nos gestos e atitudes do Odorico Paraguaçu, aprenda a
comportar-se mais condignamente nem que se ponha à espreita na porta de um
cemitério, para ver se a falta de vergonha Geringonceira se fina.
Terça-feira: A bufaria foi e é uma espécie de
instituição transversal à história deste país. Poderia por aqui contar
excelentes episódios históricos, mas que tomariam demasiado tempo. A ILDA (ou
algo de acrónimo similar) será uma espécie de confraria habitual destinada a
infernizar a vida dos demais. E a lucrar com isso!!! Um célebre diplomata
antigo já nessa altura se queixava que os bufos acusavam mais gente de ritos
judaizantes do que as próprias pedras que ornamentavam a calçada da própria rua
onde morava. Gente desocupada e calaceira é naturalmente impelida a entrar em
esquemas desse teor. No limite, como ninguém lhes dá peva de importância
encenam tais mast@ur-bações psicológicas para alimentarem os seus próprios egos
mais tostados e rançosos do que pata de porco condignamente chamuscada. Gente
mesquinha que se alimenta de infligir sofrimento ao seu semelhante. Miséria
humana que fará vomitar de desprezo e comiseração o mais empedernido dos
cidadãos.
Quarta-feira: Isto não é um regime. Trata-se mais
de um sistema de troca direta do género "toma lá dá cá".
Ou como dizem os ingleses "coça-me as costas,
para eu te coçar as tuas". Que esta trupe que tomou conta dos destinos do
país não tinha qualquer tipo de vergonha já era sabido. Mas que chegavam a tal
despudor era por muitos insuspeitado. Mas a culpa não é só deles. Tenho por
aqui escrito que o povão tuga é moralmente venal e corrupto. O resto vem
por acréscimo. Esta malta política já há muito que interiorizou que a um crime
não se segue normalmente consequente castigo. E actuam em conformidade. Quanto
mais não seja porque quem muitas das vezes os elege, são os beneficiários do
sistema e não "aqueles que pagam o pato". E é assim que vão
proliferando os Socras, os Pinhanços, os Isalquinos, os Dias dos Loureirais, os
Pedros Nunos Santinhos, os Duartes Borregos e os Césares Insulares. Um destes
dias metem dentro da engrenagem do estado e à conta do contribuinte o cão, o
gato, o canário, o periquito e a "fruta que os p@riu".
Quinta-feira: A TAP (em inglês Take Another Plain)
já me referi acima a ela. Esta malta do PS não poderia prescindir de um
pouso onde consegue aninhar tanto melro. E a geringonça reverteu a respectiva
nacionalização, porque sim. Dá prejuízo? "So what", quem paga são
sempre os mesmos! O resto fica subentendido.
Sexta-feira: Esta gente esquerdoida nem deles
próprios gostam quanto mais dos outros! Ser-se comunista nos tempos que correm
é adoptar uma espécie de miséria moral de que há muitos exemplos históricos. É
observar e defender tudo o que é perverso, mau e assassino. Sinto que nem todos
os que não são comunistas não prestam.
Mas estou certo que praticamente tudo o que não presta
vai desaguar no comunismo.
Sábado (AG esqueceu-se deste dia): Ontem Rui Ramos, escreveu um artigo sobre o
ódio que a esquerdalha tem a Israel. Li os comentários apostos por gente da
sinistra e fiquei literalmente com os cabelos em pé. Impressionante!!! Por mim
resumiria isto a um conceito simples e linear. Tal ódio dos esquerdosos advém
do facto de o comunismo ter tudo para dar certo e deu tudo errado. Por sua vez
Israel, tinha tudo para dar errado e deu ... certo! É isso que os impele a um
ódio sem sentido.
Professor Pardal: O Presidente da República, a cada dia que passa,
reforça a minha convicção monárquica. Não se me apraz dizer muito mais acerca
da pessoa porque prezo imenso os ensinamentos da minha saudosa avó. Passou-me completamente ao lado essa situação da
Manuela Moura Guedes mas não vejo razão para a admiração do Alberto. Os bufos,
se bufarem na direcção certa, são gente de bem. Não é de agora nem é do regime,
vai mais da mentalidade invejosa do português. A
proximidade familiar entre membros do governo tem algumas vantagens. Podem, por
exemplo, reunir Conselhos de Ministros em retiros familiares, aliviando assim o
Estado de encargos. Nunca passaria pela cabeça de gente tão honesta facturar o
"catering" como "custo de representação". A TAP nasceu como companhia de capitais
maioritariamente privados e foi nessa condição que ascendeu ao estatuto de uma
das mais fiáveis companhias aéreas do Mundo. Depois da catástrofe de Abril, por
pouco se livrou de seguir o caminho de Lisnaves e afins. Eu condeno qualquer tipo de terrorismo mas, por
vezes, parece que querem fazer algum tipo de terrorismo mais "fofinho"
que outro. Se o alvo for a cultura judaico-cristã isso é porque anos de
opressão a outros povos justificam o massacre de incontáveis inocentes. Se é
uma mesquita a ser atacada é um crime hediondo de ódio a uma religião. E quanto
aos leitões, prefiro o Pedro
Um texto de apoio
Estou Além
Não
consigo dominar Este estado de ansiedade A pressa de chegar P'ra não chegar tarde
Não sei de que é que eu fujo Será desta solidão Mas porque é que eu recuso Quem quer dar-me a mão
Não sei de que é que eu fujo Será desta solidão Mas porque é que eu recuso Quem quer dar-me a mão
Vou
continuar a procurar a quem eu me quero dar Porque até aqui eu só Quero quem Quem
eu nunca vi Porque eu só quero quem Quem não conheci Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi Porque eu só quero quem Quem não conheci Porque eu só quero
quem Quem eu nunca vi
Esta
insatisfação Não consigo compreender Sempre esta sensação Que estou a perder
Tenho pressa de sair Quero sentir ao chegar Vontade de partir P'ra outro lugar
Tenho pressa de sair Quero sentir ao chegar Vontade de partir P'ra outro lugar
Vou
continuar a procurar o meu mundo, o meu lugar Porque até aqui eu só Estou bem Aonde
não estou Porque eu só quero ir Aonde eu não vou Porque eu só estou bem Aonde
não estou Porque eu só quero ir Aonde eu não vou Porque eu só estou bem Aonde
não estou
Esta
insatisfação Não consigo compreender Sempre esta sensação Que estou a perder
Tenho pressa de sair Quero sentir ao chegar Vontade de partir P'ra outro lugar
Tenho pressa de sair Quero sentir ao chegar Vontade de partir P'ra outro lugar
Vou
continuar a procurar a minha forma, o meu lugar Porque até aqui eu só Estou bem
Aonde não estou Porque eu só quero ir Aonde eu não vou Porque eu só estou bem Aonde
não estou
Porque eu só quero ir Aonde eu não vou Porque eu só estou bem Aonde não estou
Porque eu só quero ir Aonde eu não vou Porque eu só estou bem Aonde não estou
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