sábado, 23 de março de 2019

Ele está noutra



Mais cinco dias inúteis”, título da Crónica de Alberto Gonçalves, trouxe-me a recordação desse outro génio musical e literário que foi António Variações, espécie de fogo fátuo para nós, infelizmente, tão breve foi a sua passagem nos palcos da sua vida, de insatisfação e busca. Também Alberto Gonçalves me parece um eterno insatisfeito, não de si próprio, liricamente, mas do comportamento alheio, satiricamente, preferindo usar as armas da mordacidade atacante, embora no fito de querer elevar a uma esfera um pouco mais condigna – moral, social económica, política – este pobre país a descambar em tanta inanidade. Vejamos esses cinco dias, que os comentadores explicam.
Mais 5 dias inúteis /premium
OBSERVADOR, 23/3/19
Claro que o ar do tempo começa a tornar-se irrespirável e que uma sociedade fundamentada na desconfiança e na delação não promete um futuro risonho. Claro que me apetecia fazer queixa. Mas a quem?
Segunda-feira:
O prof. Marcelo promete assistir à estreia de uma telenovela. Para mim, é espantoso ainda haver telenovelas. Para o prof. Marcelo é um acontecimento a não perder: “(…) tenho de arranjar a minha vida porque tinha um jantar de trabalho já organizado (…)”. E acrescentou: “Hoje é fácil, puxa-se para trás e vê-se, mas é outra emoção ver no momento da estreia. Vou ver. Depois digo a minha opinião”. A opinião permanece um mistério. O facto de o prof. Marcelo ser Presidente da República também.
Terça-feira
Fui enganado. Fui enganado pela família, pelos amigos, pela escola e sobretudo por esse veículo essencial de socialização: os filmes sobre o universo do crime organizado ou desorganizado. Todos me garantiram não haver coisa pior do que um denunciante, um delator, um bufo, um chibo, um rato, um reles, muito reles, queixinhas – e isto num “ranking” que já incluía molestadores, necrófagos e vereadores com pelouro. Tendo crescido nessa convicção, hoje não reconheço o mundo. É um mundo onde os denunciantes treparam dos fundilhos da humanidade para os respectivos píncaros. Pior, é um mundo onde os denunciantes são estimulados a sê-lo e recompensados por isso. Essa virtude, dantes apenas apreciada nos regimes totalitários do tipo nazi ou comunista, é agora louvada nas democracias. Ou nas mistelas esquizofrénicas como a nossa.
Há dias, Manuela Moura Guedes emitiu uma opinião televisiva acerca da associação LGBTEtc. que celebremente “interveio” numa escola do Barreiro. Num ápice, a não menos célebre ILGA apresentou uma queixa à ERC, a Altíssima Autoridade para a “comunicação social”. Um acontecimento fortuito? Não: um modo de vida. Para não criar equívocos, a OLGA até tem uns cartazes com os seguintes dizeres: “A televisão (p)e(r)mitiu [que giro] discriminação? Denuncia!” Escusado notar que “discriminação” é aqui um conceito lato, que consiste em divergir, mesmo que ao de leve, dos dogmas que orientam a ILDA. Um mafarrico qualquer na SIC ousou desviar-se dos padrões que a ALGA acha aceitáveis? Denuncia! Delata! Bufa! Chiba! E por aí afora, sob pena de integrares as multidões de hereges que as inquisições modernas se esforçam por calar e, preferencialmente, expelir. Claro que a GULA é só uma entre largos milhares de agremiações que, em Portugal e no Ocidente em peso, lutam para encostar os hereges à parede, por enquanto metafórica. Claro que a “causa” LGBTEtc. é só um entre centenas de pretextos para que os sensíveis se ofendam e arranjem uma espécie de vida a reclamar o extermínio dos ofensores. Claro que o desmesurado ódio aos “discursos de ódio” é no mínimo um instrumento de censura e, no máximo, um “case study” psiquiátrico. Claro que o ar do tempo começa a tornar-se irrespirável e que uma sociedade fundamentada na desconfiança e na delação não promete um futuro risonho. Claro que me apetecia fazer queixa. Mas a quem?
Quarta-feira
Confesso que, por absoluta falta de interesse, não conheço 90% dos membros do governo. Em compensação, os membros do governo conhecem-se muitíssimo bem. A cada dia, somos informados de mais um familiar directo de ministros ou secretários de Estado que caiu num ministério, numa secretaria de Estado ou noutro cargo acessório e igualmente simpático. Por regra, o argumento em prol (não confundir com “prole”, a qual por acaso também vai sendo enfiada nos postos disponíveis ou inventados para o efeito) deste método de selecção consiste em proclamar que as criaturas em questão não podem ser prejudicadas em função do parentesco. O argumento contrário consiste em garantir que as criaturas não deviam ser beneficiadas.
Não sei porquê, ninguém repara que, ao invés de prejuízo ou benefício, as criaturas têm exactamente aquilo que merecem. O facto de serem cônjuges ou descendentes de grandes figuras do PS indicia com alta probabilidade, por hábito ou genética, uma imbec…, perdão, percepção limitada da realidade. A percepção limitada da realidade condena-as desde logo a empregos de escassa exigência e nenhuma responsabilidade. Não há empregos tão fáceis e irresponsáveis quanto os disponíveis numa administração socialista. Em suma, tudo está bem.
Em eras remotas, desaconselhava-se a endogamia pela propensão a gerar filhos malucos. Hoje, porém, os filhos, esposos, sobrinhos, cunhados, primos e compadres que não regulam bem possuem adequadas saídas profissionais à sua espera. Os casos perdidos deixaram de representar um fardo – excepto para o povo, que, são como um pêro e lúcido como uma batata, patrocina, legitima e aplaude o arranjo.
Quinta-feira
Manter sob controlo do Estado um símbolo da soberania, um ex-libris da “lusofonia”, uma companhia bandeira, um baluarte da portugalidade, um bastião dos preços altos tem um preço. Exactamente, 118 milhões de euros anuais, que foi o prejuízo da TAP em 2018. Estão de parabéns todos os que contribuíram para “reverter” a privatização da empresa e que agora não contribuirão para pagar a factura entre eles.
Sexta-feira
Um dia, um nacionalista/ecologista/comunista/supremacista/anarquista/libertário (definições do próprio) assassina muçulmanos na Nova Zelândia e assume-se de imediato que o sujeito representa o homem branco e judaico-cristão em geral, que como se sabe ocupa as horas de lazer a chacinar gente. Quase todos os dias, um muçulmano mata infiéis onde calha e parte-se do princípio de que não representa ninguém: quando muito, foi movido por distúrbios mentais, emprego precário ou permissividade no porte de armas (e camiões). Em Utrecht, avançou-se com a hipótese de crime passional, que tipicamente convence um tipo comum a disparar sobre autocarros. No limite das mesuras, as “autoridades” e os “media” ocidentais são capazes de culpar a micose ou o degelo do árctico antes de admitir, contrariados, que o tipo matou em nome da religião. Perante isto, é natural que a Organização da Cooperação Islâmica exija “medidas concretas, abrangentes e sistemáticas” para acabar com o “flagelo” da “islamofobia”. Para a semana, o Rei dos Leitões vai emitir um comunicado contra o vegetarianismo.

COMENTÁRIOS
Ping PongYang: Fracote... gostei mais dos comentários do Cipião e do Prof. Pardal. Quanto à Manuela M Guedes é um recurso importantíssimo do país: quem tenha miúdos pequenos, perante a ameaça da aparição súbita de tão temerosa avantesma, não há prato de sopa ou de hortaliças que fique por devorar. E mais: se comerem demasiados Macs ficam ASSIM !
Cipião Numantino Uma crónica espécie low cost do nosso excelso AG. Quiçá para contrapor ao preço high cost com que a TAP revertida pelo Costa, nos encosta à parede, e nos vergasta os costados com os "costos" das viagens em que detém o monopólio.Mas vamos ser seguidistas em relação ao AG. Aí vai:
Segunda- feira: A hiperactividade do nosso inefável PR começa logo aqui. E nas horas em que não está a apoiar uns quantos marginais no bairro da Jamaica ali para os lados do Fogueteiro (não sei se repararam como as afrontas e ofensas à polícia estão a aumentar de número e de tom - os sinais errados que o PR e o Microfones deram à sociedade, estão a ser, quanto a mim, fatais), pode muito bem ver telenovelas. Por mim até lhe sugeria rever o Bem Amado. Talvez imitando nos gestos e atitudes do Odorico Paraguaçu, aprenda a comportar-se mais condignamente nem que se ponha à espreita na porta de um cemitério, para ver se a falta de vergonha Geringonceira se fina. 
Terça-feira: A bufaria foi e é uma espécie de instituição transversal à história deste país. Poderia por aqui contar excelentes episódios históricos, mas que tomariam demasiado tempo. A ILDA (ou algo de acrónimo similar) será uma espécie de confraria habitual destinada a infernizar a vida dos demais. E a lucrar com isso!!! Um célebre diplomata antigo já nessa altura se queixava que os bufos acusavam mais gente de ritos judaizantes do que as próprias pedras que ornamentavam a calçada da própria rua onde morava. Gente desocupada e calaceira é naturalmente impelida a entrar em esquemas desse teor. No limite, como ninguém lhes dá peva de importância encenam tais mast@ur-bações psicológicas para alimentarem os seus próprios egos mais tostados e rançosos do que pata de porco condignamente chamuscada. Gente mesquinha que se alimenta de infligir sofrimento ao seu semelhante. Miséria humana que fará vomitar de desprezo e comiseração o mais empedernido dos cidadãos.
Quarta-feira: Isto não é um regime. Trata-se mais de um sistema de troca direta do género "toma lá dá cá".
Ou como dizem os ingleses "coça-me as costas, para eu te coçar as tuas". Que esta trupe que tomou conta dos destinos do país não tinha qualquer tipo de vergonha já era sabido. Mas que chegavam a tal despudor era por muitos insuspeitado. Mas a culpa não é só deles. Tenho por aqui escrito que o povão tuga é moralmente venal e corrupto. O resto vem por acréscimo. Esta malta política já há muito que interiorizou que a um crime não se segue normalmente consequente castigo. E actuam em conformidade. Quanto mais não seja porque quem muitas das vezes os elege, são os beneficiários do sistema e não "aqueles que pagam o pato". E é assim que vão proliferando os Socras, os Pinhanços, os Isalquinos, os Dias dos Loureirais, os Pedros Nunos Santinhos, os Duartes Borregos e os Césares Insulares. Um destes dias metem dentro da engrenagem do estado e à conta do contribuinte o cão, o gato, o canário, o periquito e a "fruta que os p@riu".
Quinta-feira: A TAP (em inglês Take Another Plain) já me referi acima a ela.  Esta malta do PS não poderia prescindir de um pouso onde consegue aninhar tanto melro. E a geringonça reverteu a respectiva nacionalização, porque sim. Dá prejuízo? "So what", quem paga são sempre os mesmos! O resto fica subentendido.
Sexta-feira: Esta gente esquerdoida nem deles próprios gostam quanto mais dos outros! Ser-se comunista nos tempos que correm é adoptar uma espécie de miséria moral de que há muitos exemplos históricos. É observar e defender tudo o que é perverso, mau e assassino. Sinto que nem todos os que não são comunistas não prestam. 
Mas estou certo que praticamente tudo o que não presta vai desaguar no comunismo.
Sábado (AG esqueceu-se deste dia): Ontem Rui Ramos, escreveu um artigo sobre o ódio que a esquerdalha tem a Israel. Li os comentários apostos por gente da sinistra e fiquei literalmente com os cabelos em pé. Impressionante!!! Por mim resumiria isto a um conceito simples e linear. Tal ódio dos esquerdosos advém do facto de o comunismo ter tudo para dar certo e deu tudo errado. Por sua vez Israel, tinha tudo para dar errado e deu ... certo! É isso que os impele a um ódio sem sentido.
Professor Pardal:  O Presidente da República, a cada dia que passa, reforça a minha convicção monárquica. Não se me apraz dizer muito mais acerca da pessoa porque prezo imenso os ensinamentos da minha saudosa avó. Passou-me completamente ao lado essa situação da Manuela Moura Guedes mas não vejo razão para a admiração do Alberto. Os bufos, se bufarem na direcção certa, são gente de bem. Não é de agora nem é do regime, vai mais da mentalidade invejosa do português.    A proximidade familiar entre membros do governo tem algumas vantagens. Podem, por exemplo, reunir Conselhos de Ministros em retiros familiares, aliviando assim o Estado de encargos. Nunca passaria pela cabeça de gente tão honesta facturar o "catering" como "custo de representação". A TAP nasceu como companhia de capitais maioritariamente privados e foi nessa condição que ascendeu ao estatuto de uma das mais fiáveis companhias aéreas do Mundo. Depois da catástrofe de Abril, por pouco se livrou de seguir o caminho de Lisnaves e afins.  Eu condeno qualquer tipo de terrorismo mas, por vezes, parece que querem fazer algum tipo de terrorismo mais "fofinho" que outro. Se o alvo for a cultura judaico-cristã isso é porque anos de opressão a outros povos justificam o massacre de incontáveis inocentes. Se é uma mesquita a ser atacada é um crime hediondo de ódio a uma religião. E quanto aos leitões, prefiro o Pedro

Um texto de apoio
Estou Além
Não consigo dominar Este estado de ansiedade A pressa de chegar P'ra não chegar tarde
Não sei de que é que eu fujo Será desta solidão Mas porque é que eu recuso Quem quer dar-me a mão

Vou continuar a procurar a quem eu me quero dar Porque até aqui eu só Quero quem Quem eu nunca vi Porque eu só quero quem Quem não conheci Porque eu só quero quem Quem eu nunca vi Porque eu só quero quem Quem não conheci Porque eu só quero quem Quem eu nunca vi

Esta insatisfação Não consigo compreender Sempre esta sensação Que estou a perder
Tenho pressa de sair Quero sentir ao chegar Vontade de partir P'ra outro lugar

Vou continuar a procurar o meu mundo, o meu lugar Porque até aqui eu só Estou bem Aonde não estou Porque eu só quero ir Aonde eu não vou Porque eu só estou bem Aonde não estou Porque eu só quero ir Aonde eu não vou Porque eu só estou bem Aonde não estou

Esta insatisfação Não consigo compreender Sempre esta sensação Que estou a perder
Tenho pressa de sair Quero sentir ao chegar Vontade de partir P'ra outro lugar

Vou continuar a procurar a minha forma, o meu lugar Porque até aqui eu só Estou bem Aonde não estou Porque eu só quero ir Aonde eu não vou Porque eu só estou bem Aonde não estou
Porque eu só quero ir Aonde eu não vou Porque eu só estou bem Aonde não estou

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