António
Barreto, como sempre certeiro e brilhantemente arguto, em
desmascarar o “faz de conta” de um país de malabaristas centrados nos interesses
pessoais de, actualmente, um governo aperreado por orientações de companheiros de
estrada a quem são indiferentes os estragos na carcaça desse país, no qual
forcejam por penetrar, sem responsabilidade e sem tento. Os Comentadores igualmente penetrantes
de observação experiente. Um exemplo do “faz de conta” desse governo de
mentirinha, na síntese de Salles da
Fonseca, directo e sem papas na língua. “Ai do Lusíada, Coitado!” (“SÓ”)
I - OPINIÃO: Regiões. Outra vez!
O debate eleitoral sobre a regionalização
agrada aos pequenos partidos porque incomoda os grandes. Estes preferem adiar.
Ou descentralizar à socapa. Ou desconcentrar, coisa que ninguém sabe bem o que
é.
ANTÓNIO BARRETO PÚBLICO, 3 de Março de 2019,
É
um velho hábito, uma solução para grandes e difíceis indecisões. “Não sabes
o que fazer? Regionaliza!” Há algumas semanas, uns ministros ainda fizeram
um ensaio e anunciaram iniciativas de regionalização. Rapidamente embrulharam
a matéria. Afinal, não seria regionalização, era mais descentralização. Recomeçaram os debates
técnicos sobre o assunto, incluindo as diferenças conceptuais entre esses
temas, a desconcentração e outras variantes. Depressa se percebeu que nada
seria feito a breve prazo. Os motivos eram evidentes. O tema é polémico. É
obrigatório realizar um referendo. Há parecenças entre partidos rivais,
nomeadamente entre PS e PSD. Uma grande parte da população é contra.
Dentro da aliança do Governo há enormes diferenças de conceito e de conteúdo. Finalmente,
é ano de eleições. A conclusão é
clara: não haverá regionalização, não
haverá referendo.
Mas as coisas não são assim tão
simples. Autarcas, estruturas locais dos partidos, tecnocratas
e alguns governantes não abandonam. Lentamente, vão descobrindo
soluções para as suas fantasias. Graças à necessidade de “descentralizar” e
“desconcentrar”, assim como de “agilizar” e “simplificar”, vão-se criando
dispositivos aparentemente inocentes para fazer o que aprenderam com os livros
dos fundadores da integração europeia: regionalizar furtivamente! Parece ser o que pretendem agora alguns dirigentes
partidários e membros do Governo. O momento é difícil. Há regionalistas na
esquerda e na direita. O debate eleitoral sobre o tema agrada aos pequenos partidos, porque
incomoda os grandes. Estes preferem adiar. Ou descentralizar à socapa. Ou
desconcentrar, coisa que ninguém sabe bem o que é. Mas que pode, de repente,
transformar-se em princípio de regionalização sem que ninguém tenha dado conta.
A verdade é que estas ideias de
regionalização encobrem a vacuidade do pensamento político e são substituto de
programas exigentes de modernização administrativa. Como é sabido, todos os
partidos, com os grandes à cabeça, prometem a “reforma do Estado”, com a qual a política
ficaria mais próxima dos cidadãos, que assim veriam os seus direitos mais bem
defendidos. Esta grande reforma aprofundaria a democracia, evitaria o
despovoamento do interior, aumentaria a participação cívica e diminuiria as desigualdades.
É tão rica em efeitos que quase não se percebe por que razão esta virtuosa
reforma não foi já decretada e realizada. Certo é que todos os governos das
últimas décadas falharam neste propósito.
É
verdade que a reforma do Estado é essencial. Mas não necessariamente aquela que
se limita a satisfazer necessidades do pessoal partidário local e
reivindicações dos autarcas com dificuldades de acesso ao Governo. Importante é
a descentralização do sistema educativo e a autonomia das escolas. Decisiva é a capacidade de regulação e administração
das instituições locais como as “regiões demarcadas de vinhos”, cuja realidade
nada tem que ver com as regiões administrativas. Indispensável é a clarificação das relações entre público
e privado, nas escolas, nas universidades e nos hospitais. Importante é a limpeza das portas giratórias e da
promiscuidade nas parcerias público-privadas. Essencial é a reorganização das freguesias e dos
concelhos, em particular a fusão e a diversificação de estatutos e funções. Crucial é a criação de um novo enquadramento
financeiro e fiscal, garantindo a durabilidade dos compromissos de Estado. De
capital importância é a revisão do
sistema eleitoral com o objectivo de aumentar o poder e a identidade dos
cidadãos individuais. Relevante
é a clarificação das relações entre o Estado e a sociedade civil, com o reforço
dos direitos e da autonomia desta última. Mas estas não são as reformas
necessárias para os regionalistas.
Sabe-se
que a destruição das identidades nacionais é um dos grandes programas
actuais das tecnocracias, do grande capital e dos juristas esclarecidos, assim
como de grupos de “reformistas” e “reformadores” que não se sentem à vontade
com os quadros tradicionais da Europa. A Europa federal é o grande
objectivo, o desígnio último, cumprido “furtivamente” durante décadas, mais às
claras no presente. Esta é uma das hastes da tenaz antidemocrática. A
outra haste é a da regionalização, que poderá mesmo ir até à criação de regiões
multinacionais ou transfronteiriças. Esta é uma construção perigosa. A
democracia tem uma geografia e uma história. Não há democracia sem comunidade,
sem delimitação das instituições e dos poderes, sem conhecimento das
responsabilidades, sem identificação dos titulares do poder, sem capacidade de
nomear, censurar, demitir e substituir. Sem geografia e sem identidade, não
há democracia. A cidadania exige comunidade, identidade e cidade. Os
cidadãos europeus não existem, dificilmente existirão antes de séculos. A função essencial das eleições europeias é a de
mascarar a definitiva ausência de democracia e a de disfarçar o embuste da
cidadania europeia.
As
identidades culturais, na história europeia, são sobretudo nacionais. Ou deixaram-se enquadrar pelas nações. Tal, aliás,
como em grande parte dos países e Estados do mundo. O poder político nacional,
por vezes com a colaboração de tradições religiosas, interpretou as identidades
nacionais, nem sempre pelos bons motivos, mas o resultado foi o fortalecimento
das nações e dos Estados como comunidades democráticas.
Muitas
foram as tentativas de destruição das identidades culturais. Tentaram os
impérios, as grandes potências conquistadoras, o grande capital e o
internacionalismo comunista. Todas foram travadas ou combatidas pela democracia
e pela independência dos povos. As
últimas tentativas em data são as da regionalização e da construção
europeia, na versão que tem triunfado nos últimos anos. Assim a Europa
(Comunidade e a União), com início promissor e de inspiração valiosa, derivou,
derrapou e foi longe de mais. Tão longe que acabou por se pôr em risco, como
é a situação em que vivemos. Tão longe e tão fora das capacidades de controlo e
de participação que é bem possível que caminhe para a sua própria destruição. E
de mais nada servirá dizer o que tanto se tem dito: “Crise na Europa? O que é
preciso é mais Europa!” E mais regiões!
A regionalização é a resposta errada.
Trata-se de diversão burocrática e tecnocrática, na tentativa de encobrir as
reais reformas difíceis e decisivas. A regionalização furtiva é ainda pior,
pois pretende o mesmo, com menos clareza, sem referendo, sem participação
popular.
COMENTÁRIOS
cisteina, Porto: AB diz quase tudo sobre'regionalização', o que
deveria ser: e concorda, o país, tal como está, não está bem porque o império
já foi, e a região Lisboa continua com a maior parte do bolo com prejuízo do
resto do país, dele não abdica, este o busílis da questão e razão por que vai
ser difícil Lisboa largar mão das mordomias que tem e teve durante séculos,
repito, em prejuízo dos outros: mais funcionalismo público/político,
desnecessário e inútil, em detrimento das outras regiões. Problema que demorará
10 anos a resolver com aposentações de gorduras para que dívida pública possa
descer. Tanto a fazer, eliminar (mais) freguesias e concelhos e outras
entidades públicas, reestruturar/redistribuir serviços. Sim, a regionalização
arejará e melhorará serviços, o garrote financeiro, sufoca-nos!
Mário Orlando Moura Pinto, Setúbal :
Está mesmo convencido de que, com a regionalização, o
"bolo" vai ser distribuído de forma equitativa? Que não continuará a
haver "filhos e enteados"? Acredite que eu gostaria de acreditar que
viesse a ser assim, mas não creio. Caciquismo por caciquismo, prefiro o do governo,
que é apenas "um".
AndradeQB, Porto 03.03.2019: Todos os políticos, ou pelo menos a grande
maioria, saberão não só que a reforma do Estado é necessária, como ela deveria
ser feita com vista ao desenvolvimento do país. Só que também sabem que, se
essa reforma fosse feita, a vida deles ficaria bem mais difícil. Não é de
estranhar que vão mexendo para ficar tudo na mesma.
Eu Sou Portugal, Lisboa 03.03.2019: Ideia estúpida. Já temos gente suficiente a
roubar. Uma eventual regionalização seria o fim do país!!
Nuno Silva, 03.03.2019: Mas para quê regionalizar agora, se não há dinheiro
nem para lavar as janelas de S. Bento!??? Esperem até 2042... porque as
próximas gerações também têm direito a marcar golos, e não somente pagar
dívidas...
II – O QUE ELES
DIZEM…
HENRIQUE SALLES DA FONSECA A BEM DA NAÇÃO 03.03.19
DIZ
A DIRECÇÃO GERAL DO ORÇAMENTO QUE: Em Janeiro de 2019, a Execução Orçamental revela que o saldo
global das Administrações Públicas apresenta um valor de 1.542,1 milhões de
euros, o que compara com 791,1 milhões de euros no período homólogo.
E DIGO EU QUE: Já vi bem pior do que isto mas se não fossem as cativações
«centenárias», estaríamos bem «à pega» com o Orçamento que a Geringonça engendrou.
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