sábado, 16 de março de 2019

Descalabro



O desespero tomou conta do mundo, com a poluição do planeta e o caótico dos conceitos, na permissividade e promiscuidade geral, que sobe aos governos, como este nosso, promíscuo, num país onde a cobardia e a desvergonha definitivamente assentaram, pobres de nós, que, grosseiramente, vamos fazendo carnavais, do nosso primitivismo tosco e indiferente a uma real consciencialização. São graves os casos expostos por Alberto Gonçalves, a merecer marmeleiro, mas iremos continuando passivamente embrenhados na sordidez dos episódios sucessivos, de sucessiva miséria moral e social, com protestos aqui e ali, é certo, mas sem resultados práticos, assentes que são em interesse e perfídia, vasos comunicantes entre si, sem plataformas de ponderação ética. As histórias que Alberto Gonçalves conta merecem, é claro, desabafos de gente saturada, daí a facúndia prosística de alguns, como Cipião Numantino, de desespero semelhante ao de AG. Por isso os transcrevo, como desabafos de gente que sente e que pensa. Quanto a Alberto Gonçalves… oxalá conseguisse despertar uma qualquer luz de sanidade por cá. Mas, como Eça, acabará “vencido”.

O Estado na nossa cama /premium
OBSERVADOR, 16/3/2019
Na essência a beatice do ensino “progressista” não difere da do juiz de que se fala: ambos se convenceram de que lhes compete evangelizar o próximo – e o pior é que, com frequência, o próximo agradece
Primeiro episódio. Há tempos, um juiz decidiu justificar uma decisão judicial com desabafos próprios e incursões pela Bíblia. Lembrando, aparentemente com inveja, que “há sociedades em que a mulher adúltera é alvo de lapidação até à morte”, o magistrado informou-nos que “o adultério da mulher é um gravíssimo atentado à honra e dignidade do homem”, que o Código Penal de 1886 “punia com uma pena pouco mais do que simbólica o homem que, achando sua mulher em adultério, nesse acto a matasse” e que “o adultério da mulher é uma conduta que a sociedade sempre condenou (são as mulheres honestas as primeiras a estigmatizar as adúlteras), e por isso vê[-se] com alguma compreensão a violência exercida pelo homem traído, vexado e humilhado pela mulher”. Recentemente, o juiz, Neto de Moura, afirmou em entrevista que preza imenso a fidelidade conjugal. Pelo menos na parte que cabe à fêmea da espécie, já desconfiávamos.
Segundo episódio. Uma escola do Barreiro convocou uma associação LGBTEtc. para promover, junto de crianças de 11 ou 12 anos, uma palestra destinada a “educar contra a discriminação”, além de “sensibilizar os alunos para a aceitação das diferenças e o respeito pela diversidade”. A palestra esteve a cargo da Rede Ex Aequo, uma daquelas associações que usa o @ no lugar dos pronomes na convicção de que isso disfarça as carências gramaticais e lhes dá um ar “moderno”. Do que vi, a Rede Ex Aequo, instalada em instalações da ILGA, vive a “dinamizar sessões” do género (e de género – desculpem) em escolas de todo o país entre Santarém e Setúbal. Não satisfeita, a Rede Ex Aequo também promove “encontros de trans”, torneios de futsal contra a discriminação e acampamentos de Verão “para Jovens LGBT e Simpatizantes” (com “convidadxs” e “organizadorxs” – juro). Nos intervalos, aflige-se com o “bullying homofóbico”.

As reacções ao primeiro episódio são assaz conhecidas. Meio mundo indignou-se com os palpites do juiz e tentou incinerá-lo ou despedi-lo, de acordo com o que ficasse à mão. Os fãs de apedrejamentos defenderam o sujeito. Os partidos aproveitaram a deixa para meter um pezinho nas decisões judiciais.
As reacções ao segundo episódio não foram tão espectaculares. Diversos anónimos acharam a ideia aberrante e um deputado (do PSD) chamou-lhe “porcaria”. Espectaculares foram as reacções às reacções: os mesmos que pediram a cabeça do juiz passaram a pedir a cabeça do referido deputado – e aplaudiram o ministério da Educação, a escola em causa e os saltimbancos da “diversidade”.
O engraçado, para não dizer deprimente, é que todos, ou quase todos, acabaram a criticar e a apoiar em simultâneo coisas afinal idênticas. Consoante os propósitos, os intervenientes e os alvos, uns e outros são a favor de que os poderes públicos ultrapassem os limites que o bom senso recomenda e desatem a regulamentar a intimidade alheia. Não importa se o objectivo passa por devolver as mulheres à subserviência ou por empurrar as crianças para uma parada de “orgulho”, e também não importa se discordamos ou concordamos com tais desígnios: importa que nenhum deles deve ser preocupação dos senhores que nos tutelam. Gostos não se discutem, mas faz-me impressão que, com fins “tradicionais” ou “avançados”, o Estado se deite na minha cama. Inúmeros portugueses, pelos vistos, apreciam que o Estado se deite na deles. É uma perversão irrelevante?
Não é. Quando quem manda é convidado a iluminar os “valores” sexuais de certos indivíduos, é natural que quem manda se sinta legitimado a iluminar os “valores” sexuais de cada um, incluindo daqueles que dispensam a ajuda. E é pena. As pessoas deveriam ser livres de sonhar com donzelas submissas, bichas insubmissas e a rebaldaria que calhar. As pessoas. O Estado deveria apenas assegurar que, na prática, estas convicções privadas não transgridem os limites da lei. Caso contrário, entra-se nos curiosos domínios da moral pública, pasto fértil de beatos sortidos. Na essência, a beatice do ensino “progressista” não difere da do juiz de que se fala: ambos se convenceram de que lhes compete evangelizar o próximo – e o pior é que, com frequência e em vez de despachá-los à vassourada, o próximo agradece. É uma combinação letal, que antes do desgaste da palavra se designava por fascismo.
Para cúmulo, tudo isto em volta do sexo, matéria em que, há milhares de anos, lá temos arranjado maneira de nos desenrascar sem auxílio burocrático. A prova cabal é a quantidade de cambalhotas ocorridas, geração após geração, até desaguar na existência d@ rapaziad@ d@ Rede Ex Aequo e do dr. Neto de Moura. Pensando melhor, talvez haja liberdades excessivas.
Notas de rodapé
Ia escrever que a artista Leonor Nãoseiquê, a tal que só aceita representar Portugal na Bienal de Veneza porque temos um espectacular governo de esquerda, não representa Portugal coisa nenhuma em coisa nenhuma: no máximo, e à semelhança de cançonetistas, futebolistas e malabaristas, representa-se a si própria. Mas isso foi antes de ver as “obras” da senhora. Agora, que já vi, não tenho dúvidas de que aquilo representa o país com particular exactidão.
Em vez de ter amigos e familiares que lhe emprestam casas, carros, contas e cargos, Pedro Passos Coelho anda para aí a dar aulas a troco de 2000 euros mensais. Perante tamanha vergonha, as autoridades nada dizem. Batemos no fundo.
Percebo e respeito os estudantes que decretaram greve às aulas por causa das alterações climáticas, do capitalismo e assim: no meu tempo, eu também aproveitava os mais ridículos pretextos para não pôr os pés na escola. O que não percebo, nem respeito, é que se espatife o tempo livre em manifestações e berreiro. É a esses choninhas que queremos deixar um mundo melhor? O actual já é bom demais.   
À revelia da lei e da polícia, a empresa socialista, perdão, pública Infraestruturas de Portugal mandou remover ilegalmente um cartaz da Iniciativa Liberal. No mesmo local, permaneceram imaculados os cartazes de PS, PCP e BE. Quem julga estar no seu país é estúpido ou faz-se: com ligeiras, e crescentemente raras, excepções, o país é deles.

COMENTÁRIOS:
José Abreu: como sempre, na mouche.
Mosava Ickx reyhmkui,: "Pensando melhor, talvez haja liberdades excessivas." As tais liberdades que viram florescer as ideologias mortíferas da esquerda caviar gramsciana, sem dúvida, e que são a única explicação para os Breiviks e casos como o da Nova-Zelândia, e de outros ainda para vir enquanto não se elimina a praga, de uma maneira ou outra. Ainda estou para perceber como é que se pode proibir partidos da extrema direita e acarinhar a extrema esquerda sem ser um caso psiquiátrico perigoso. Talvez não seja tarde demais. As notas de rodapé são perfeitas, pérolas de humor assustador. Estamos entregues à bicharada, cuidado, muito cuidado!
António Moreira: Para memória futura: NOTA DE RODAPÉ  (...) 2. Em vez de ter amigos e familiares que lhe emprestam casas, carros, contas e cargos, Pedro Passos Coelho anda para aí a dar aulas a troco de 2000 euros mensais. Perante tamanha vergonha, as autoridades nada dizem. Batemos no fundo. (...)”Realmente, alguém assim não dá jeito nenhum nos corredores da nossa política, pois não...?
Cipião Numantino: Juiz? Juiz é sempre que um homem quiser, certo? E o povão também diz na sua imensa sabedoria popular, que cada cabeça cada sentença. Lembro-me especificamente de um juiz, o célebre juiz do oeste americano, de seu nome Roy Bean e que se intitulou como a única lei a oeste de Pecos. Um homem rocambolesco.  Abandonou a mulher, a quem como agora neste caso em apreço do julgamento do juiz portuga lhe chegava frequentemente a roupa ao pêlo, abandonou os seus 4 filhos, saiu de Nova Orleães para a Califórnia, daí para o Texas, entrou na guerra contra o México e fugido à justiça instalou-se numa espécie de terra de ninguém em Vinegaroon e aí se arvorou como juiz onde se guiava por uns códigos entretanto já caducados que interpretava a seu bel prazer. O tribunal instalou-o num bar que havia adquirido, nunca admitiu jurados e, aquando dos julgamentos, obrigava toda a gente a comprar bebidas no seu pomposo bar/tribunal. Tinha uma espécie de fetiche que era a actriz então em voga nos EUA uma tal Lily Langtry e quem se atrevesse a dizer mal dela, era mais que certo que levava uma pesada multa, chegando até a ameaçar com a forca alguns recalcitrantes. Um dos julgamentos seus mais peculiares foi o de um chinês que matou um irlandês quando, a certa altura, passou perto da cidade a linha férrea em construção. Clamando por vingança juntaram-se uns 200 irlandeses que ameaçavam colocar a ferro e a fogo a cidade de Vinegaronn. Consultados pelo juiz Bean os seus "canhenhos", mais a bíblia de que frequentemente se recorria também para as suas sentenças (parece que esta é uma autêntica fixação para certos juízes, tanto no farwest como aqui neste rectângulo bem parecido), decidiu absolver o homem pela prática do homicídio do irlandês presenciado aliás por inúmeras testemunhas oculares. Razão e justificação da sentença? Escreveu que nem os livros da lei que possuía nem a bíblia, não faziam qualquer referência a chineses!!! Ehehehehehe... Ora digam lá se não temos por aqui, nesta choldra de país, juízes da estirpe do famoso juiz Roy Bean?... Escola do Barreiro.: Parece que a coisa não tem mesmo emenda.E das duas três, como diz o outro. Ou encolhemos os ombros e assobiamos para o lado, como se não fosse nada connosco ou, então, os pais dos alunos afectados (lembro que são crianças de 11 anos de idade!!!), procuram por aí umas vergas de pau de marmeleiro e, aos sociopatas que andam a meter tais m@erdhas nas cabeças dos seus filhos, é tratar de lhes dar bastas e profusas vergastadas no lombo, até que os casacos não fiquem com o mais leve indício de pó! Já tenho os meus filhos grandotes e eles saberão certamente defender os seus filhos ainda mais crianças, mas se for necessário, ainda sou bem capaz de ajudar a fazer uma perninha para lhes ajudar a sacudir a poeirada. De permeio pedirei a tais abencerragens que o melhor é irem ter tais m@as urbações marcusianas e gramscianas, ali para os lados do Caribe em Cuba ou, então, em terras do Kim do cabelo cortado com uma panela enfiada na cabeça. Podem contar comigo!... Uma maldade o caso Passos. Então não é que o homem se faz à vida, numa terrinha onde é pungentemente necessário estar quieto e sossegado e não fazer ondas? Mas por que é que o raio do homem não pede dinheiro "emprestadado" a um amigo? E não compra com proventos escusos e obtusos um "apartment à Paris", hein? Ou então não fica quietinho em casa "emprestadada" ali para os lados da Ericeira. E já agora porque não se limita a viver à sombra da bananeira e água fresca? Ora, ora, malhas que o império tece. Ou então, malhas da rede esquerdosa, onde a virtude passou a ser olhada de soslaio, a justiça uma completa abstracção e a razão tem ... dias!... Greve nas escolas? Li por mero acaso no Face um apelo de um estudante deveras significativo. Tal estudante formulava uma espécie de exegese profundamente engraçada. Escrevia o manjerico em questão (cito agora de memória) apelando aos estudantes do secundário, para fazerem uma espécie de greve aos estudos. Ainda, segundo ele, com isto as notas baixavam drasticamente e, com estas, as respectivas médias para a entrada na Universidade. Congratulava-se depois, que com tal estado de coisas toda a gente passava o ano sem o mínimo esforço!!! Genial, não acham? E quer-me parecer que tal substantiva genialidade fará por certo o género do BE. Aqui teremos pois, um mais que evidente dirigente político de tal agremiação, bem capaz de fazer suar as estopinhas à Catarineta e manas Mortadágua! É esta massa de gente que irá conduzir, outra vez, este país à gesta do império. E à concomitante felicidade que se observa em todos os locais onde o glorioso socialismo assentou arraiais.  Um país todo formado ou mesmo formatado por doutores! Que sejam da mula ruça, oh, oh, o que é que isso importa? Querem ver que, eu próprio, ainda vou conseguir o terceiro Nobel para o país? Onde é a sede do BE para eu me ir inscrever? Estou em transe! Feliz país que tão ditosos filhos tem. Vou ser o novo Camões. Desta vez, sem ser ... zarolho!...
Liberal Impenitente: Quase perfeito, excepto a utilização da palavra fascismo para uma moral sexual cheia de pecados, seja ela a das ILGAS ou a do juíz Neto. Eu detesto moralistas, mas tal não é fascismo. E é pena que um grande colunista como Alberto Gonçalves não faça a distinção, e sobretudo, abastarde ainda mais a palavra fascismo.
Carlos Presunca: Maravilha.

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