É do que consta a lição número 4 da «ARÁBIA FELIX»: Nas questões do hábito
masculino, das políticas de radicalismo severamente aristocrático, das corridas
no deserto...
Vocabulário, por ordem alfabética (alfabeto nosso): Agal, Gandurah, Gargara, Guthra, Urdu
Da nacionalidade: Urdu, só
para nacionais do Emirato. Justificação, segundo o cronista. (O urdu é uma língua indo-europeia da família indo-ariana que
se formou sob influência persa, turca e árabe no sul da Ásia durante a época do
sultanato de Deli e do Império Mongol. Wikipédia)
Do Hábito masculino: Agal, Guthra,
Kandurah: Vantagens no calor, do traje árabe, que mereceu as
malícias das senhoras do cruzeiro. Lembrou-me o viril capote e as suas vantagens no descritivo
(infra) de Júlio Dinis, que utilizo como paralelo, como curiosidade… e sem
malícia.
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA A BEM DA NAÇÃO, 28.03.19
«Gargara», é a única palavra em língua urdu que conheço e significa algo
como «ondulante». Pelo menos, foi esse o
sentido da conversa que nos fez um dos condutores do rally amalucado pelas dunas do deserto dubaiano. Logo me lembrei
de «gargarejo» que também é algo de sonoridade ondulante. E isso vem de
«garganta». Quanta da etimologia resulta das malhas tecidas pelos Impérios…
E
porquê urdu no Dubai? Porque é a tal questão da
nacionalidade. Quem assim falou já nasceu no Dubai mas, não sendo filho de
nacionais do Emirato, não conseguirá alguma vez na vida adquirir a
nacionalidade. Mas se se casar com uma mulher que também lá tenha nascido,
então os filhos comuns poderão ser admitidos no grupo restrito dos nacionais
dubaianos. Deste modo, aquela família, não conseguindo adquirir a
nacionalidade local, não teve até agora motivos para cortar com a cultura de
origem e mantém a língua dos respectivos antepassados que, neste caso, é o urdu.
E
também são muçulmanos, perguntei. Que sim mas nem mesmo assim conseguem a
nacionalidade. E se vierem a ser pais de
crianças com a nacionalidade? Nada feito. Serão pais de dubaianos mas disso
não passarão. Realmente, pensando melhor, se o Emir quiser manter as rédeas
firmes do poder, não poderá deixar muitos forasteiros aderirem à nacionalidade
sob pena de, a partir de certa altura, o Emirato passar a ser dominado por quem
pensa como estrangeiro e os autóctones genuínos, árabes, perderem a
exclusividade da Nação. Não esquecer que isto é um regime monárquico
ditatorial em que a «abertura» política se limitou
a promover a constituição de um Conselho Consultivo do Emir que este consulta
se e quando quer e a quem não confere qualquer poder decisório.
Segue-se
uma particularidade: os funcionários públicos têm a obrigação de vestir a
indumentária típica do Emirato, ou seja, a Kandurah que é a túnica comprida
usada pelos homens, geralmente branca mas que também pode ser bege, castanha e,
raramente, preta; ao pano na cabeça chama-se Guthra e ao
cordão que o segura na cabeça chama-se Agal.
E
já que de início referi a Revolução Francesa, parece que aquela gente imita os
«sans culotte». Em terras que podem aquecer até aos 50º Centígrados, sempre
ficam mais arejados. E não repito os comentários que as excursionistas
expenderam… (continua)
Texto de apoio, retirado do conto encantador
de Júlio Dinis, “Justiça de Sua Majestade” (in “Serões da Província”), como paralelo com o traje masculino árabe - também para todo o
terreno, e para mais complementado com refinados e poderosos adornos cimeiros -
paralelo revelador das vantagens do viril “capote”, como traje para todo o
clima, segundo o descritivo do seu usufruidor, o negociante “José Urbano”:
«—
Eu iria jurar, meu caro José Urbano, — disse o major Samora — que partia para a
Sibéria. — O aspecto respeitável do seu equipamento... — Permita-me que lhe
diga, major, que essa observação desacredita um pouco a reputação de homem
experiente e cauteloso que merecia. Fie-se em calores de Maio! Bom, bom.
Olhe-me para aqueles riscos brancos do céu, aquilo é leste, o impertinente, o
endemoninhado leste. Eu nunca ouvi o sibilar dos pelouros, meu caro Cipião, mas
afianço-lhe que me não pode ser mais desagradável que o do vento leste. Não o
há assim. — Nem o dos mosquitos? — perguntou um estudante. — Nem esse. Os
mosquitos matam-se, o leste... mata-nos. Bem vejo que o capote lhes está
causando sensação. O capote, meus amigos, é o mais útil artigo de vestuário
que desde a folha de figueira tem inventado o engenho do homem. Conserva-me o
calor no Inverno e a frescura no Verão. Os óculos livram-me os olhos da poeira
e conservam-me a vista. O guarda-sol, que os espanta pela enormidade, abriga a
minha pessoa e a bagagem dos ardores do sol e das torrentes da chuva. A cabaça,
meus amigos, contém o líquido que me sacia a sede, ou me dá o calor para
arrostar com o frio... — Basta, basta, amigo José Urbano — interrompeu Samora.
— Vejo agora que sou imprevidente. Desse modo, tanto pode viajar pela Cítia
fria como pela Líbia ardente (…)»
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