quarta-feira, 27 de março de 2019

Os pijamas dos rapazes



“O rapaz de pijama às riscas” foi um filme que vi em sentimento de opressão, no fascínio da actuação do rapazinho “alemão” e na repulsa de um contexto monstruoso, o do holocausto, a que não houve, momentaneamente, quem se opusesse. Lembrei-me dele, ao ler o texto de José Milhazes, grata por este dar a conhecer coisas do mundo, afinal relativamente próximas, de que temos tão pouco conhecimento, sabendo apenas de pessoas desses países de leste, que parecem evoluídas e aqui se sujeitam a trabalhos de menor dimensão cultural, porque fugiram dos seus países do leste europeu onde se ganha pior do que aqui. Moldávia, Ucrânia, Roménia… sim, conheço, conheci, soube de grandes dificuldades, de vencimentos muito baixos, como nós, antes da adesão à U.E.  Mas o texto de José Milhazes esclarece, sobre a anterior situação política – neste caso da Moldávia – não sob a pata alemã, mas sob a pata russa não menos feroz. Leio, e leio os comentários até mesmo de naturais de lá, que correctamente tentam esclarecer também, num português que emendei. Foi um prazer conhecer. Eles querem entrar na “Europa”, parece que a Rússia continua a impor-se-lhes, com o anuimento de muitos. José Milhazes alerta, contestado por muitos nossos, pró russos, adeptos das riscas nos pijamas, talvez.
Onde fica a Moldávia? /premium
JOSÉ MILHAZES  OBSERVADOR, 26/2/2019
A União Europeia deveria prestar mais atenção a este e outros países do antigo espaço soviético, dando apoio aos que efectivamente lutam pela opção europeia e não pactuando com oligarcas e corruptos.
Há milhares de moldavos a trabalhar e residir em Portugal, mas pouco sabemos daquele pequeno e longínquo país, cujo povo é vítima da luta entre a Rússia e o Ocidente, dos oligarcas locais.
Os resultados das últimas eleições, realizadas no passado Domingo, mostram que a maioria dos moldavos continuam a desejar a aproximação à Roménia e à União Europeia, mas evidenciam também que o eleitorado está cada vez mais cansado e que a Rússia não desistiu de fazer voltar à sua órbita a Moldávia, antiga república da União Soviética.
A afluência às urnas ficou abaixo dos 50% dos eleitores inscritos, sinal de que são cada vez mais os moldavos cansados da luta entre o Presidente pró-russo Igor Dodon e o Governo que afirma ser pró-europeu.
(O sistema constitucional moldavo é muito semelhante ao português, tratando-se de uma república parlamentar onde o Presidente tem poderes muito limitados. Dodon tencionava alterar o sistema para presidencialista, mas não terá apoio suficiente para isso).
O Partido Socialista da República da Moldávia, a principal base de apoio do actual Presidente do país e não esconde as suas simpatias para com o Kremlin, venceu o escrutínio nos círculos proporcionais, mas ficou bem longe da maioria: conquistou 34 dos 101 mandatos no novo Parlamento.
Uma das razões do fracasso das forças políticas pró-russas continua a ser o “conflito congelado” na Transdnístria, território separatista da Moldávia praticamente controlado por Moscovo.
Na véspera das eleições, Moscovo tentou “comprar” o eleitorado moldavo pondo fim às taxas de importação de produtos agrícolas moldavos (factor muito importante para a economia deste país), legalizando numerosos milhares de emigrantes que trabalham na Rússia e libertando um piloto moldavo das mãos dos talibãs no Afeganistão.
Além disso, as autoridades policiais russas acusaram de fuga de capitais e outras actividades ilícitas o oligarca moldavo Vladimir Plahotnyuk, que também é líder do Partido Democrático da Moldávia. Esta força política, que actualmente governa um dos países mais pobres da Europa, conquistou o segundo lugar com 33 deputados, mas foi a mais castigada pelos eleitores. As causas do fracasso são bem conhecidas: a corrupção, a degradação das condições de vida dos cidadãos e o não cumprimento de promessas no que respeita ao melhoramento do nível de vida dos moldavos e à opção europeia.
Não terá sido por acaso que o bloco eleitoral “Acum” (“Agora”), que, entre outras coisas, critica o actual  Governo por não estar a realizar o programa de aproximação à Roménia e à União Europeia, aparece com força neste acto eleitoral e conquista 26 mandatos. Os restantes 8 foram para o partido “Shor”, do oligarca e presidente da câmara de Chisinau, capital da Moldávia.
Desta vez, nenhum dos partidos obteve a maioria absoluta no Parlamento, mas as chamadas forças pró-europeias poderão fazer uma coligação para formar o próximo executivo. Neste caso, o papel do bloco “Acum” poderá ser importante para obrigar os governantes moldavos a tomarem medidas reais e concretas com vista ao desenvolvimento do país.
Neste sentido, a União Europeia deveria prestar mais atenção a esse e outros países do antigo espaço soviético, concedendo apoio àqueles que efectivamente lutam pela opção europeia e não pactuando com oligarcas e corruptos. Caso contrário, a UE corre o risco de assistir à expansão do regime de Putin e de seus aliados a novos países vizinhos.
Em finais de Maio, irão realizar-se eleições presidenciais e parlamentares na Ucrânia, país que se encontra numa situação económica e social difícil devido também à corrupção e ao poder absoluto dos oligarcas. A União Europeia devia tirar conclusões.
P.S. Não escrevi nada sobre a mensagem de Vladimir Putin à nação, pronunciada a 20 de Fevereiro, pois nada de novo disse. Depois de prometer aos russos aquilo que não cumpre durante o seu longo “reinado”, tentou desviar as atenções dos seus cidadãos e do mundo com anúncio de novas armas. O “putinismo” está esgotado, resta saber o que se vai seguir e quando.
COMENTÁRIOS
Diego Maradona: O remate teve uma certa piada. O "putinismo" está esgotado, resta saber o que se vai seguir. O que chateia o Sr. Milhazes é ver que o Putin transformou um país destruído pelos estados unidos numa superpotência soberana que não pode ser comprada ou ignorada. Ou subjugada, como são os países europeus.
William Smith >Diego Maradona: superpotência!!! Bebeste? Todos tentam comprar o eleitorado. Quando leio o Milhazes parece que a compra de votos é exclusiva da Rússia. Não é preciso sair de Portugal para constatar o que é compra de eleitores. Está mesmo à nossa vista. Só não vê quem quer. Parece que vivemos num paraíso...
José Silva : Na véspera das eleições, Moscovo tentou “comprar” o eleitorado moldavo pondo fim às taxas de importação de produtos agrícolas moldavos (factor muito importante para a economia deste país) quer dizer, se um país impõe taxas e tarifas é mau, mas se as retirar, então está a comprar ? a uns anos no NYTimes (que eu já quotei algumas vezes)
se há coisa que detesto, é que me tentem vender banho de cobra. sempre esta constante luta de cortejar uns oligarcas ou magnatas e desprezar outros, só porque os nossos interesse nacionais assim o ditem, obviamente desprezando os interesses nacionais de outros.
Caro Milhais, o regime putinesco não têm fim à vista porque está assente na cultura do medo e da repressão.  A leste nada de novo, nem agora nem nos tempos próximos. 
luis Barreiro: conheço colegas moldavos mas não sabia esta luta. meu apoio.
Sharmanovski Cimberlake: " 8 foram para o partido “Shor”, do oligarca e presidente da câmara de Chisinau, capital da Moldávia". Não 8 mas 7 e o ladrão Shor e presidente da CM de outra cidade. Da Rússia pouco pode ver em Moldávia. Tanto mais que o governo actual da Moldávia é apoiado e financiado pela UE. Os contribuintes europeus pagam vida de luxo aos ladrões moldavos para minimizar a influência dos russos. 
Jorge Martins: Os comunas não suportam o Milhazes. Ele viveu lá durante anos e conhece-lhes bem os podres.
Sharmanovski Cimberlake > Jorge Martins: Caro Jorge  Martins, quase 30 anos os comunas não têm influência na Rússia .
Jorge Martins > Sharmanovski Cimberlake: Os comunas portugueses, que são mais ortodoxos que os russos.
Henrique Soares: Artigo de opinião muito avisado. A Rússia cobiça o antigo império, e é preciso a UE apoiar a aproximação da Moldávia à Europa.
Jorge Madeira Mendes > Henrique Soares: A Rússia é um país cercado de OTAN por todos os lados, com a Europa a fazer carneiramente o jogo de Washington no que toca a política internacional.  Mesmo quem não goste de ursos deveria saber que não é de bom aviso acossar um urso e provocá-lo.  Eu conheço a Moldávia e, mais concretamente, a Transnístria, a faixa maioritariamente russófona situada ao longo do curso inferior do Dniestre.  Sei o que foi a prepotência do governo moldavo contra a etnia russa que reside na dita faixa há séculos (e não apenas desde os tempos da União Soviética).  Se não fosse a intervenção da Rússia há uns trinta anos, quando, após a desintegração da URSS, a Moldávia, uma das suas antigas quinze repúblicas, ficou independente, a população russófona, minoritária no conjunto da Moldávia mas maioritária na dita Transnístria, teria sido esmagada... perante a indiferença do Ocidente. 
Não embarco na cruzada obsessivamente anti-russa de José Milhazes.
outro Carlos > Jorge Madeira Mendes: "Cercada pela OTAN por todos os lados", como se a Rússia nada tivesse a ver com isto. As adesões à NATO dos países da Europa Oriental e Central tiveram como denominador comum o medo da Rússia. A Geórgia, a Ucrânia, a Moldávia também querem aderir pelo mesmo motivo mas não podem com medo da reacção russa.
Além destes há vários vizinhos da Rússia que se sentem ameaçados (caso dos Países Bálticos, Suécia e Polónia) e outros há aos quais a Rússia anexou territórios (Finlândia e Japão).
Perante isto de que se queixa a Rússia? É  um país tão imperialista como outras potências que regularmente critica.

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