“O rapaz de pijama às riscas”
foi
um filme que vi em sentimento de opressão, no fascínio da actuação do rapazinho
“alemão” e na repulsa de um contexto monstruoso, o do holocausto, a que não
houve, momentaneamente, quem se opusesse. Lembrei-me dele, ao ler o texto de
José Milhazes, grata por este dar a conhecer coisas do mundo, afinal
relativamente próximas, de que temos tão pouco conhecimento, sabendo apenas de
pessoas desses países de leste, que parecem evoluídas e aqui se sujeitam a
trabalhos de menor dimensão cultural, porque fugiram dos seus países do leste
europeu onde se ganha pior do que aqui. Moldávia, Ucrânia, Roménia… sim,
conheço, conheci, soube de grandes dificuldades, de vencimentos muito baixos,
como nós, antes da adesão à U.E. Mas o texto de José Milhazes esclarece,
sobre a anterior situação política – neste caso da Moldávia – não sob a pata
alemã, mas sob a pata russa não menos feroz. Leio, e leio os comentários até
mesmo de naturais de lá, que correctamente tentam esclarecer também, num
português que emendei. Foi um prazer conhecer. Eles querem entrar na “Europa”,
parece que a Rússia continua a impor-se-lhes, com o anuimento de muitos. José
Milhazes alerta, contestado por muitos nossos, pró russos, adeptos das riscas
nos pijamas, talvez.
Onde fica a Moldávia? /premium
A
União Europeia deveria prestar mais atenção a este e outros países do antigo
espaço soviético, dando apoio aos que efectivamente lutam pela opção europeia e
não pactuando com oligarcas e corruptos.
Há
milhares de moldavos a trabalhar e residir em Portugal, mas pouco sabemos
daquele pequeno e longínquo país, cujo povo é vítima da luta entre a Rússia e o
Ocidente, dos oligarcas locais.
Os
resultados das últimas eleições, realizadas no passado Domingo, mostram que a
maioria dos moldavos continuam a desejar a aproximação à Roménia e à União Europeia,
mas evidenciam também que o eleitorado está cada vez mais cansado e que a
Rússia não desistiu de fazer voltar à sua órbita a Moldávia, antiga república
da União Soviética.
A
afluência às urnas ficou abaixo dos 50% dos eleitores inscritos, sinal de que são
cada vez mais os moldavos cansados da luta entre o Presidente pró-russo Igor
Dodon e o Governo que afirma ser pró-europeu.
(O
sistema constitucional moldavo é muito semelhante ao português, tratando-se de
uma república parlamentar onde o Presidente tem poderes muito limitados. Dodon
tencionava alterar o sistema para presidencialista, mas não terá apoio
suficiente para isso).
O
Partido Socialista da República da Moldávia, a principal base de apoio do
actual Presidente do país e não esconde as suas simpatias para com o Kremlin,
venceu o escrutínio nos círculos proporcionais, mas ficou bem longe da maioria:
conquistou 34 dos 101 mandatos no novo Parlamento.
Uma
das razões do fracasso das forças políticas pró-russas continua a ser o “conflito
congelado” na Transdnístria, território separatista da Moldávia praticamente
controlado por Moscovo.
Na
véspera das eleições, Moscovo tentou “comprar” o eleitorado moldavo pondo fim
às taxas de importação de produtos agrícolas moldavos (factor muito importante
para a economia deste país), legalizando numerosos milhares de emigrantes que
trabalham na Rússia e libertando um piloto moldavo das mãos dos talibãs no
Afeganistão.
Além
disso, as autoridades policiais russas acusaram de fuga de capitais e outras
actividades ilícitas o oligarca moldavo Vladimir Plahotnyuk, que também é líder
do Partido Democrático da Moldávia. Esta força política, que actualmente
governa um dos países mais pobres da Europa, conquistou o segundo lugar com 33
deputados, mas foi a mais castigada pelos eleitores. As causas do fracasso são
bem conhecidas: a corrupção, a degradação das condições de vida dos cidadãos e
o não cumprimento de promessas no que respeita ao melhoramento do nível de vida
dos moldavos e à opção europeia.
Não
terá sido por acaso que o bloco eleitoral “Acum” (“Agora”), que, entre outras
coisas, critica o actual Governo por não estar a realizar o programa de
aproximação à Roménia e à União Europeia, aparece com força neste acto
eleitoral e conquista 26 mandatos. Os restantes 8 foram para o partido “Shor”,
do oligarca e presidente da câmara de Chisinau, capital da Moldávia.
Desta
vez, nenhum dos partidos obteve a maioria absoluta no Parlamento, mas as
chamadas forças pró-europeias poderão fazer uma coligação para formar o próximo
executivo. Neste caso, o papel do bloco “Acum” poderá ser importante para
obrigar os governantes moldavos a tomarem medidas reais e concretas com vista
ao desenvolvimento do país.
Neste sentido, a União Europeia deveria prestar mais atenção a esse e
outros países do antigo espaço soviético, concedendo apoio àqueles que
efectivamente lutam pela opção europeia e não pactuando com oligarcas e
corruptos. Caso contrário, a UE corre o risco de assistir à expansão do regime
de Putin e de seus aliados a novos países vizinhos.
Em
finais de Maio, irão realizar-se eleições presidenciais e parlamentares na
Ucrânia, país que se encontra numa situação económica e social difícil devido
também à corrupção e ao poder absoluto dos oligarcas. A União Europeia devia
tirar conclusões.
P.S. Não
escrevi nada sobre a mensagem de Vladimir Putin à nação, pronunciada a 20 de
Fevereiro, pois nada de novo disse. Depois de prometer aos russos aquilo que
não cumpre durante o seu longo “reinado”, tentou desviar as atenções dos seus
cidadãos e do mundo com anúncio de novas armas. O “putinismo” está esgotado,
resta saber o que se vai seguir e quando.
COMENTÁRIOS
Diego Maradona: O remate teve uma certa piada. O "putinismo"
está esgotado, resta saber o que se vai seguir. O que chateia o Sr. Milhazes é
ver que o Putin transformou um país destruído pelos estados unidos numa
superpotência soberana que não pode ser comprada ou ignorada. Ou subjugada,
como são os países europeus.
William Smith >Diego Maradona: superpotência!!! Bebeste? Todos tentam comprar o
eleitorado. Quando leio o Milhazes parece que a compra de votos é exclusiva da
Rússia. Não é preciso sair de Portugal para constatar o que é compra de
eleitores. Está mesmo à nossa vista. Só não vê quem quer. Parece que vivemos
num paraíso...
José Silva : Na véspera das eleições, Moscovo tentou “comprar” o
eleitorado moldavo pondo fim às taxas de importação de produtos agrícolas
moldavos (factor muito importante para a economia deste país) quer dizer, se um país impõe taxas e tarifas é mau, mas
se as retirar, então está a comprar ? a
uns anos no NYTimes (que eu já quotei algumas vezes)
se
há coisa que detesto, é que me tentem vender banho de cobra. sempre esta
constante luta de cortejar uns oligarcas ou magnatas e desprezar outros, só
porque os nossos interesse nacionais assim o ditem, obviamente desprezando os
interesses nacionais de outros.
Caro Milhais, o regime putinesco não têm fim à vista
porque está assente na cultura do medo e da repressão. A leste nada de
novo, nem agora nem nos tempos próximos.
luis Barreiro: conheço
colegas moldavos mas não sabia esta luta. meu apoio.
Sharmanovski Cimberlake: " 8 foram para o partido “Shor”, do oligarca
e presidente da câmara de Chisinau, capital da Moldávia". Não 8 mas 7 e o
ladrão Shor e presidente da CM de outra cidade. Da Rússia pouco pode ver em
Moldávia. Tanto mais que o governo actual da Moldávia é apoiado e financiado pela
UE. Os contribuintes europeus pagam vida de luxo aos ladrões moldavos para
minimizar a influência dos russos.
Jorge Martins: Os comunas não suportam o Milhazes. Ele viveu lá
durante anos e conhece-lhes bem os podres.
Sharmanovski Cimberlake > Jorge Martins: Caro
Jorge Martins, quase 30 anos os comunas não têm influência na Rússia .
Jorge Martins > Sharmanovski Cimberlake: Os comunas portugueses, que são mais ortodoxos que
os russos.
Henrique Soares: Artigo de opinião muito avisado. A Rússia cobiça o
antigo império, e é preciso a UE apoiar a aproximação da Moldávia à Europa.
Jorge Madeira Mendes > Henrique Soares: A Rússia é um país cercado de OTAN por
todos os lados, com a Europa a fazer carneiramente o jogo de Washington no que
toca a política internacional. Mesmo quem não goste de ursos deveria
saber que não é de bom aviso acossar um urso e provocá-lo. Eu conheço a
Moldávia e, mais concretamente, a Transnístria, a faixa maioritariamente
russófona situada ao longo do curso inferior do Dniestre. Sei o que foi a
prepotência do governo moldavo contra a etnia russa que reside na dita faixa há
séculos (e não apenas desde os tempos da União Soviética). Se não fosse a
intervenção da Rússia há uns trinta anos, quando, após a desintegração da URSS,
a Moldávia, uma das suas antigas quinze repúblicas, ficou independente, a
população russófona, minoritária no conjunto da Moldávia mas maioritária na
dita Transnístria, teria sido esmagada... perante a indiferença do
Ocidente.
Não
embarco na cruzada obsessivamente anti-russa de José Milhazes.
outro Carlos > Jorge Madeira Mendes: "Cercada pela OTAN por todos os lados", como
se a Rússia nada tivesse a ver com isto. As adesões à NATO dos países da Europa
Oriental e Central tiveram como denominador comum o medo da Rússia. A Geórgia,
a Ucrânia, a Moldávia também querem aderir pelo mesmo motivo mas não podem com
medo da reacção russa.
Além
destes há vários vizinhos da Rússia que se sentem ameaçados (caso dos Países
Bálticos, Suécia e Polónia) e outros há aos quais a Rússia anexou territórios
(Finlândia e Japão).
Perante
isto de que se queixa a Rússia? É um país tão imperialista como outras
potências que regularmente critica.
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