sábado, 16 de março de 2019

“Na sombra Cleópatra jaz morta”



Em cheio, este Vasco Pulido Valente do seu “Diário” de hoje, a quem se admira a lucidez crítica e o dedo sintético e certeiro no apontar das mazelas sociais e outras mais. Não tão satiricamente como AG, do texto anterior, que se desfaz numa troça de alto calibre literário, no referenciar dos mesmos ou outros grotescos factos de que trata VPV. Mas este é sério e triste, no seu zurzir implacável e sem disfarces metafóricos, de idêntica honestidade intelectual, contudo. Bem-haja o meu país que “tais filhos tem”. Se ao menos nos servissem de exemplo, como faróis orientadores, para corrigir tanta penúria, que a sua argúcia capta, como a de outros, é certo, bem necessários todos... mas mal podemos crer nisso. A última é a das crianças servindo de cobaias num pretenso doutrinamento macaqueador e desonesto, que apenas as ensina a prevaricarem mais cedo, faltando às aulas em fútil pretexto causador apenas de ruído e mais mândria e má educação. De facto, essas normas deviam ser-lhes incutidas – e suponho que o são ainda, mau grado o contexto de indisciplina geral – nas suas aulas – normas de respeito pelos outros, pela natureza, por valores morais – que se enraízam no espírito humano – que não lhes pertence a elas doutrinar mas apenas cumprir e contra cuja manipulação por pseudo-doutrinadores embrulhados na sua parolice supostamente adulta e que não passa de desprestigiante imaturidade imitadora do que vai lá por fora.
E, à tristeza dos dois articulistas, presto homenagem, com o poema da tristeza de outro génio poético: Fernando Pessoa:
Na sombra Cleópatra jaz morta
Na sombra Cleópatra jaz morta.
Chove.
Embandeiraram o barco de maneira errada.
Chove sempre.
Para que olhas tu a cidade longínqua?
Tua alma é a cidade longínqua.
Chove friamente.
E quanto à mãe que embala ao colo um filho morto —
Todos nós embalamos ao colo um filho morto.
Chove, chove.
O sorriso triste que sobra a teus lábios cansados,
Vejo-o no gesto com que os teus dedos não deixam os teus anéis.
Porque é que chove?
Fernando Pessoa

OPINIÃO
Diário
Claro que o PS vai ganhar as eleições e que António Costa vai continuar no seu papel de grande merceeiro português. Nem Assunção Cristas nem Rui Rio inspiram a mesma confiança, para não falar dos dementes do PC e do Bloco.
VASCO PULIDO VALENTE
PÚBLICO, 16 de Março de 2019,

10 de Março
Ana Gomes é um prodígio – é o exemplo mais perfeito de um espírito estalinista. Para ela, o mundo aparente é uma “encenação”, que esconde as reais manobras do “gang” da Lone Star e do “gang” Espírito Santo, em prejuízo dos contribuintes em geral e do povo em particular.
Por razão inversa, não consegue disfarçar a sua admiração pelo hacker das Football Leaks, Rui Pinto, que na imaginação dela começou a desvendar os culposos mistérios do futebol.
11 de Março
O PÚBLICO traz um artigo com o seguinte título: “Estará o inglês a deixar de ser a língua padrão da música global?”. A explicação vem a seguir: “Em 2018, oito das dez canções mais ouvidas no YouTube eram cantadas em espanhol.” Conviria que as boas almas, que se indignam com o muro de Trump, percebessem que a América anglo-saxónica, branca e protestante, tem uma certa dificuldade em engolir estas coisas. E que talvez resista à sua transformação num país bilingue e tendencialmente católico.
Trump passará. Mas não passará o problema que a imigração da América Central e da América do Sul põe à América dos ingleses e da imigração europeia.
12 de Março
Parece que o Parlamento vai impor aos seus membros um regime policial. A polícia começa a ser uma vocação portuguesa. Deputados, comentadores, televisões, tablóides não param um segundo na perseguição ofegante dos malfeitores. Agora, a própria Assembleia da República parte do princípio de que os representantes da nação não passam de uma cambada de meliantes, que têm de ser vigiados de perto e punidos com severidade.
A democracia portuguesa está a tornar-se num asilo de loucos.
13 de Março
António Costa anda, desavergonhadamente, a fazer campanha eleitoral. Não percebo o nervosismo, a não ser que ainda hoje o aflija o espectro de “Tozé” Seguro e do “poucochinho”. Claro que o PS vai ganhar as eleições e que ele vai continuar no seu papel de grande merceeiro português.
O país pensa, com toda a razão, que ele não levará o Estado à falência, e que distribuirá a sopa do convento o melhor que souber e puder. Nem Assunção Cristas nem Rui Rio inspiram a mesma confiança, para não falar dos dementes do PC e do Bloco.
14 de Março
Os três anos de Marcelo. Basta uma medida. Quem foram os políticos que o bom povo tratou pelo nome próprio? Não foram de certeza António Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio ou Aníbal Cavaco Silva. Na história da política portuguesa só há o João Carlos, o António Maria e o António José. Depois do 25 de Abril, há o Marcelo, mais ninguém.
15 de Março
Gosto de Jorge Coelho. É um homem inteligente, bom, bonacheirão e tranquilo, não está ali para enganar ninguém. Quando foi da ponte de Entre-os-Rios, um desastre em que ele não teve a mais leve responsabilidade, demitiu-se logo. Pensa como o “povão” de que faz parte. Exactamente por isso, não se pode ignorar o que ele diz hoje sobre a Pátria.
E o que é que ele diz? Diz que a grande obra do governo de Costa foi devolver à Pátria umas “finanças sãs” e poupá-la aos desvarios democráticos do “Brexit”.
Reconheço, melancolicamente, a conversa. É a conversa sobre a natureza do nosso desgraçado país e das relações que ele pode ter, ou não ter, com a Europa. É a propaganda de Salazar e do salazarismo. Na boca de um ingénuo. Mas será que nos podemos salvar deste destino?
15 de Março, à noite
Algumas centenas de alunos do básico e do secundário andaram hoje pelas ruas de Lisboa e do Porto, para “salvarem o planeta”. Fora meia dúzia de aprendizes de demagogo, que poderiam ir já para o Bloco, o resto repetiu as frases da propaganda que os professores lhes meteram no encéfalo plástico.
Isto é um puro abuso de confiança que o Estado permite e encoraja. Uma pessoa imagina as mesmas criancinhas a repetir a propaganda do Omnipotente ou de Maduro. Ou, ainda com mais fervor, a do Führer e a do camarada Estaline.

COMENTÁRIOS
Rebelde,   Venezuela Livre: Sempre impecável.
Bruno Costa: Normal, os partidos pequenos são maioritariamente silenciados pela comunicação social excepto a aliança pois o santana ser conhecido e vir do laranjal pelo que o cds e o psd não são credíveis, muitas pessoas não conhecem os outros partidos nem as ideias que defendem.
Raquel Azulay : "A democracia portuguesa está a tornar-se num asilo de loucos."/// lol. touché!
Reparei Reparei 15 de março - É claro que podemos escapar ao destino salazarista. Recentemente tivemos uma grande injecção de atavismo salazarista, governo de Passos Coelho, que demonstrou a sua inadequação aos tempos modernos. O saudosismo também pode transpirar de forma negativa para o presente em afirmações como esta. Infelizmente a AR não é um asilo de loucos. Na realidade a AR é a verdadeira bolsa de Portugal. Uma bolsa à margem da lei.
bento guerra: Marcelo é mais "ti Celito" e sempre é diferente de ser"fixe" , como o outro.

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