Refere Salles da Fonseca, na sua
passagem em batelão por uma “Lacerdónia” ou “Chupanga”, talvez por ser – ou ter
sido – habitada por um Lacerda ilustre – ou nem tanto, dada a ironia do
trocadilho. Em todo o caso, relembro um Gavicho de Lacerda e o seu Carungo,
cuja biografia, como fundador de vasta família de Lacerdas, já aqui citei, em
2013 neste meu blog. Por esse motivo, volto a transcrever esse texto, embora
não na sua totalidade, lembrando a figura de Gavicho de Lacerda, autor
de livros sobre África, de um dos quais transcrevi um excerto que omito,
todavia, aqui, por desconhecer se se trata da mesma personagem, conquanto fosse
o mesmo Rio dos Bons Sinais, ou um braço
dele, atravessado em batelão, que Salles da Fonseca refere, nesta sua Crónica
sobre o seu passeio por Moçambique num Fiat paciente, junto de jovens de alegre
ousadia:
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA A BEM DA
NAÇÃO, 22.07.19
Desembatelonámos
(desembarcámos de batelão) com a maior normalidade em Chupanga que
também era conhecida por Lacerdónia. Algo me diz que por ali «reinou»
algum Lacerda mas não me ative nessa questão. O Senhor Lacerda não entra
na História minha conhecida e, pelo contrário, há outra particularidade que
essa, sim, me saltou para a região dos neurónios logo que a tabuleta com o nome
da localidade se pôs à frente dos meus olhos. A bem da verdade, a ideia não me
saltou de imediato, tive que puxar pela cabeça. Aquele nome «Chupanga» escrito
de outro modo, dizia-me qualquer coisa. Mas, o quê? Imaginei «Shupanga», pensei
e BINGO! É ali que repousam os restos mortais de Mary Livingston vítima
que foi do paludismo. E lembro-me que, apesar do seu anglicanismo, foi acolhida
e tratada na missão jesuíta que ali havia. Só não sei se o episódio do «Doctor
Livingston, I presume» foi antes ou depois do passamento desta Senhora.
FOTO: Cemitério de Chupanga, túmulo de Mary
Livingston
Perante
esta recordação e tendo em vista evitar qualquer tipo de conflito de
interesses, sugeri em silencio ao nosso benigno Xicuembo que embatelonasse de
volta à sua Zambézia já que nós, agora em Sofala, nos havíamos de arranjar. Mrs Livingston, are you available to protect us? Feito o convite em silêncio, não esperei por resposta em voz alta.
E se ela tivesse respondido audivelmente, eu havia de ter apanhado um cagaço
tal que por certo, para mim, a viagem acabaria ali mesmo. Está na altura de
perguntar ao Miguel se notou alguma alteração no lugar ao lado dele. Algum «fru
fru» das vestimentas femininas do séc. XIX, algum sopro de camomila ou mensagem
sibilina com «rrr» rolados… De qualquer modo, com Mrs ou sem Mrs, entrámos pela
floresta de Inhaminga em total serenidade e até fizemos uma paragem da qual
existe (não sei em que arquivo) a única foto feita em toda a viagem. Trata-se
duma imagem do nosso «herói» a três quartos de trás com a porta esquerda
traseira aberta. Mas se a nossa companhia discreta entrava ou saía, a imagem
não a captou.
Chega
de brincadeiras, deixemos Mrs Livingston na paz que bem merece depois de tanto
ter penado por amor a Deus em paragens menos hospitaleiras para a sua alva tez
que as da Velha Albion faculta.
O
nosso destino nesse dia era a Beira, dali a menos de 300 quilómetros. Se a estrada fosse boa, a meio da tarde estaríamos a fazer o check in no hotel. Qual? Varreu-se-me.
Peço ajuda aos meus companheiros de viagem. Sei que não foi o icónico «Grande
Hotel da Beira».
Poucas
mas boas, as recordações que tenho deste troço. A primeira impressão positiva,
a floresta que se não foi ali posta pela mão do homem, de tão ordenada, imita
muito bem. Esquecido, andei agora à procura da espécie florestal ali
predominante mas não encontrei. Venha daí - do lado da leitura - quem saiba e
diga. Mas foram muitos quilómetros dentro de um túnel arbóreo que inspirava
muita serenidade e harmonia com o mundo. E assim percorremos uma grande
distância em paralelo com a fronteira do Parque da
Gorongosa. E a bicharada, ordeira, não
passou para o lado de cá nem se pôs à nossa frente. Isso ficaria para outra
ocasião. Outra boa impressão, a qualidade da estrada
que parecia acabada de arranjar para nós passarmos. O tal trânsito de camiões
que o Miguel temia deve ter sido desviado por rota alternativa. Por ali, não
havia nada de especial.
Terceira
recordação positiva, de cariz estético, a paragem de 10 ou 15 minutos em casa
do Eng. Jorge Jardim para o Miguel cumprimentar as famosas manas. O Tó e eu não fomos convidados a entrar mas o que nós queríamos
mesmo era chegar ao hotel, tomar banho e pormo-nos de patas ao ar. Até porque
já sabíamos por experiência dos dias anteriores, que o homem dos horários
haveria de querer que no dia seguinte nos levantássemos pouco depois de nos
termos deitado. Mas há aqui uma anotação que eu não quero deixar passar e
tem ela a ver com a facilidade com que um carro desconhecido com três Fulanos
desconhecidos se aproximou do largo fronteiro da casa da família Jardim. Entrámos
por ali dentro como se fôssemos os donos de Moçambique inteiro ou como se
aquilo fosse via pública. E o que é que isto quer dizer? Pois eu acho que quer
dizer que a família Jardim se sentia segura, que ninguém lhes queria fazer mal,
que se sentiam protegidos pelas populações no meio de que viviam. E esta é a
grande bofetada nos da propaganda contrária que apresentaram o Eng. Jorge
Jardim como um isto, como um aquilo e um mais não sei quê. Eu nunca estive
pessoalmente com o Eng. Jardim, pouco mais sei dele do que o que a comunicação
social dele dizia mas a ideia que dele faço é a de alguém que teve a coragem de
enfrentar Moscovo nos seus desígnios imperialistas sobre Moçambique.
E isso os comunas e os esquerdalhos (libertinos de esquerda não enquadrados
partidariamente) não perdoam. E veja-se como na região da Beira a FRELIMO
não levanta a cabeça a não ser à custa de muita trapaça eleitoral.
Eu
nunca fui apresentado às célebres manas mas estive no largo fronteiro da casa
delas no Dondo numa época em que elas eram (e continuam a ser) um símbolo da
independência feminina, as algozes da misoginia. Tomara às Kardashians
chegarem-lhes aos calcanhares.
Posto
o que, feitos os salamaleques que o Miguel tinha por estético-importantes (ou
seria para obter algum «salvo conduto» que nos permitisse vogarmos por ali
serenamente?), era hora de um duche, algum descanso e prepararmo-nos para o que
se seguisse.
Cansados
mas satisfeitos. Amanhã há mais. Julho de 2019 Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS
Anónimo 22.07.2019: Pedes, Henrique, ajuda aos teus
companheiros de viagem que te recordem o nome do Hotel onde ficaram na Beira.
Não tendo sido teu companheiro de viagem, não sei, como é óbvio, mas sei que
havia um famoso Hotel denominado D. Carlos. Terá sido esse? By the way,
autoriza-me que em breves linhas conte uma pequena história, que tem a ver com
o Hotel, com a guerra civil moçambicana e com a influência comunista nesse
país. Uma das vezes que regressei a Moçambique após o termo da comissão militar
(1969/71) foi algures entre 1981/85, quando era administrador da Setenave, que
era uma das principais empresas portuguesas que colaborava com Moçambique,
concretamente com o apoio ao funcionamento do Estaleiro Naval da Beira, o qual
assegurava a reparação dos pesqueiros moçambicanos, fundamentais na pesca de
camarão (disseram-me que parte era exportada para angariar divisas). Os russos
estavam no Estaleiro análogo no Maputo, cuidando da sua própria frota, a qual
fazia uma razia tremenda desse marisco. Era sabido que os moçambicanos tanto
apreciavam a boa vontade dos portugueses quanto se agastavam com a soberba
soviética (dizia-se que Moçambique e a Rússia tinham feito um acordo de pesca
em que cada um dos países podia pescar nas águas territoriais do outro…). Mas
voltando ao Hotel D. Carlos (já não me recordo do seu nome após independência).
Esse hotel, que havia sido de luxo, nesse período de guerra civil estava
arruinado, sem canalização de água digna desse nome. enfim, de Hotel pouco mais
tinha do que o nome e a recordação do que fora. E para terminar, uma nota mais.
Nessa deslocação à Beira, minha e da do Director que tinha directamente a seu
cargo a referida Cooperação, fomos almoçar a casa de um antigo companheiro de
armas de Nampula, de recrutamento local (ele de engenharia e a mulher do Banco
Pinto &Sotto Mayor). Ambos tinham influência política. Nós os quatro
almoçámos bem, embora fosse um almoço normal, em termos europeus. Ficámos a
saber que durante uma semana estiveram a "coleccionar" diariamente
géneros, alguns obtidos com influência política, para poderem proporcionar
aquele almoço. A minha gratidão ainda hoje permanece. Carlos Traguelho
Henrique Salles da
Fonseca 22.07.2019: Obrigado,
Carlos! Espero que um dos meus companheiros de viagem identifique o hotel em que
ficámos na Beira. Mas esse «D. Carlos» diz-me qualquer coisa.
Relativamente
aos «Estaleiros Navais da Beira», eles funcionavam como pertença dos CFM - Caminhos
de Ferro de Moçambique pois tinham uma doca seca que no início dos inícios
servira para a construção dos caixões metálicos que teriam como missão a de
servirem de cofragem aos blocos armados que constituiriam o cais do Porto da
Beira. E nessa condição institucional de mera pertença aos CFM se manteve e foi
mantendo até que o Governo presidido pelo Eng. Pimentel dos Santos decidiu
criar uma empresa autónoma que se gerisse a si própria sem interferências
ferroviárias. E vai daí, este teu amigo, já na disponibilidade e de regresso a
Moçambique como civil, foi encarregado de elaborar os Estatutos dessa futura
empresa cujos sócios haveria que procurar... (os olhos apontavam para a
Figueira da Foz...). Mas surgiu o «glorioso» 25/4 e lá voltaram as águas de
bacalhau, desta feita no Porto da Beira.Mas, realmente, não estou a ver os
estaleiros da Beira a preparar barcos moçambicanos para irem à pesca ao largo
de Murmansk, ao abrigo do tal acordo pesqueiro entre Moçambique e a URSS.
Adriano Lima 22.07.2019: Por ter aqui aflorado o problema da
segurança (que não se colocava) relativamente à família Jorge Jardim, o que eu
agora gostaria de saber é se na actualidade o Dr. Salles faria a mesma viagem
de carro sem qualquer preocupação de segurança, como foi o caso. Nesse tempo,
circulava-se à vontade por todo o sítio, com excepção das zonas de guerra. O
mesmo acontecia em Angola. Quero crer que não, porque volta e meia tem havido
notícias de pessoas assaltadas ou desaparecidas. Trata-se de
"mabandidos", em muitos casos ex-elementos da RENAMO, desertores ou
não, que não se converteram à normalidade cívica, mesmo tendo em conta os
padrões locais de comportamento cidadão ou civilizado. É claro que não se pode
relacionar a criminalidade com os padrões civilizacionais, porque o resultado
não será nada abonatório para as sociedades mais prósperas e desenvolvidas,
bastando ver o caso dos EUA. Mas no caso de Moçambique, Angola ou outros países
que passaram pela guerra civil, o que existe ou pode existir são situações em
que ainda possa não estar restabelecido todo o controlo da ordem pública pelas
autoridades. Tem havido casos em que o “Xicuenbo” não valeu a pessoas que
desapareceram e até hoje sem se saber se estão vivas ou onde param. A respeito
do nome do Hotel, não sei dizer, mas lembro-me, de facto, do Hotel D. Carlos. Ocorre-me
perguntar por que os viajantes não ficaram na Messe de Oficiais da Beira, que
era um hotel civil convertido nessa funcionalidade logístico-militar. Se não
fosse verdade, esse acordo de pesca seria uma boa anedota.
Henrique Salles da
Fonseca, 22.07.2019: Como
habitualmente, gostei muito da sua crónica e adorei o termo «esquerdalho». Helena
Salazar Antunes Morais
II - «DOMINGO, 24 DE NOVEMBRO DE 2013»
Da
velha mala do meu pai, onde os livros que não cabiam na sua estante tinham sido
arrumados pela minha irmã, retirei um de que há muito ouvira falar, sem saber
que existia tal preciosidade no espólio da minha família. Tratava-se de “Cartas
da Zambézia” de Francisco Gavicho de Lacerda, avô do Rui e do Otto, bisavô
de meus filhos Ricardo, Paula e João, filhos do Rui, de minhas sobrinhas Mirene
e Madalena, filhas do Otto, Rui e Otto filhos de Luís, além de outros primos,
filhos de um meio irmão do Rui e do Otto, Luís, de um primeiro casamento do
pai, amigos dos meus filhos, mas com raras aproximações, que os vendavais do
tempo foram disseminando pelo mundo. Mas outros filhos “Lacerda” teve o “avô
Gavicho”, segundo designação dos manos Rui e Otto, e outras famílias se
dispersaram no mundo, alguns bem simpáticos, no dizer da minha filha Paula, que
conheceu uma tia, irmã de seu pai, no dia do funeral deste.
E
deste jeito bíblico, embora com mais modéstia na indicação das idades –
largamente centenárias as dos patriarcas do Génesis – se aponta a via paterna
da família Lacerda, com assento no “patriarca” ilustre e de brasão que, nas
suas “Cartas da Zambézia” forneceu tantos dados sobre a terra de que a
minha amiga, nove décadas depois - o livro foi publicado em 1923, em 2ª
edição - fala sempre com emoção e entusiasmo – os mesmos que impeliram o “avô
Gavicho” da designação do seu neto Rui, a defender essa terra, para onde
foi “trocando a luzente fardeta de cavalaria pela indumentária simples de
colono”, “a moirejar sem descanso até que, porfiando e lutando, conseguiu
tornar-se arrendatário de um “prazo” que, ao presente, lhe assegura um
rendimento algumas vezes multiplicado pelo soldo que, decerto, lhe caberia no
posto de comandante de um batalhão, se tivesse seguido a carreira militar.”
São
estes dados colhidos do Prefácio do livro, pelo seu amigo e ex-colega
jornalista, escritor Affonso Gayo, que, no penúltimo parágrafo, resume
assim o conteúdo do livro de Gavicho de Lacerda: “Da sua leitura
conclui-se qual é o valor daquela rica possessão, fica-se sabendo o que se tem
feito e o que é necessário fazer para a tornar mais valorizada. Estimulam,
criam iniciativas e dão fé aos que pretendam emigrar por aquelas paragens.
Explicam-nos o modo como o emigrante aprende, ali, a ter iniciativas, se
habitua a proceder e a deliberar, a fim de vencer as agruras do clima, a
suportar com coragem as dificuldades da adaptação e a reunir, pelo trabalho e
estímulo individual, um somatório de energias com que pode combater com a
saudade dos entes caros e com a nostalgia do rincão onde nasceu.”
Foi
com curiosidade que o li, desde a dedicatória à mocidade actual “por
intermédio do “Ill.mo e Ex.mo Sr. Ministro da Instrução Pública”: «Desde
criança que ouvimos dizer – “O futuro de Portugal está nos mares”. – Quando do
“Ultimatum” de 1891, em que a nação despertou pela vibrante e terrível
chicotada de Jonh Bull, e que fez que trocássemos a modesta farda de estudante
militar pelo fato de caqui, foi lá, no ultramar, que fomos ver e aprender o
quanto havia de verdadeiro, naquelas palavras…» dedicatória que
conclui: « Na Zambézia trabalhámos, lutámos; à Zambézia dedicamos o amor
de segunda pátria. Se a mocidade tirar algum proveito da leitura deste livro,
consideraremos isso como justo galardão e daremos por bem empregados perigos,
trabalhos e desgostos que por lá passámos.» Vária é a gama de assuntos e fotos
– entre as quais a do autor, garbosa figura, na foto inicial, mais jovem e
descontraída a de interior, rodeado de africanos e arvoredo, perto da residência
do Carungo – “O Autor, um ano depois de ter partido para a Zambézia”.
Curioso
volume de memórias sobre um território, pois, que desbravou e amou, não
poupando críticas a certas formas de extorsão ou de desleixo das políticas
portuguesas, que dificultavam e atrasaram sempre o desenvolvimento da
colónia, pelo atraso das concessões de terrenos, da construção de vias e
portos «Lá fora somos conhecidos pelo vergonhoso epíteto de “empecilhos da
civilização”»… «Devemos considerar que, se continuamos a ser uma nação livre e
independente, unicamente o devemos ao nosso grande domínio colonial, por
conseguinte têm as colónias todo o direito a ser dotadas com os melhoramentos
que a civilização e o progresso indicam e as suas urgentes necessidades
reclamam.»
Era
um homem de fibra, o avô Gavicho, mas inúteis são os seus conceitos hoje a
que - embora insistindo-se no “tal futuro marítimo português centrado no mar ”,
não o além-mar colonial, há muito morto em colapso, mas num mar de turismo ou
carga que exige dinheiro, também em colapso - se ficará indiferente perante
dizeres para sempre inúteis de valorização de propriedades, como no passo
seguinte: “O Chuabo Dembe é uma das primeiras propriedades agrícolas da
Zambézia, causando inveja a alguns arrendatários. É banhada pelo Rio dos Bons
Sinais ou de Quelimane, e separada da vila pela Avenida da Circunvalação.
Cortam-na os canais Namarra e Nhama e há meia dúzia de anos era mato espesso e
impenetrável, sendo por isso ainda mais admirávela sua transformação». E
segue-se a eloquente descrição.
O
horror das secas, a praga dos gafanhotos que tudo devastam, a indolência
manhosa da raça indígena, as operações de infiltração pelo interior em colunas
de que fez parte e que descreve com dados de rigor, as missões católicas, o absurdo
envio pela Metrópole de degredados como colonos, os palmares de coqueiros que
ele próprio mandou plantar e o valor comercial da copra, assim como outras
riquezas e anomalias várias, tudo isso é descrito com vigor e desassombro, em
páginas apaixonantes de história pessoal e colonial, que bem poderiam inspirar
os empresários cinematográficos para um filme de tão diversa cenografia.
Deste
livro que meu filho mais velho encontrou um dia na Real Biblioteca Portuguesa
do Rio de Janeiro, transcrevo excertos da primeira carta, sobre o “Carungo”,
onde os meus filhos também brincaram na adolescência, na casa do avô Luís e da
avó Irene, jogadora impenitente da canasta com as suas amigas de Quelimane,
carta que contém, entre outras, a foto da casa, que reconheço por ter fotos
idênticas.
Entretanto,
a curiosidade levou-me a procurar o livro na Internet, que encontrei bastamente
exposto. Creio que a 1ª edição foi de 1920, a 3ª de 1939, e, naturalmente,
existe na Biblioteca Nacional. Penso que merece o destaque e maior ainda
poderia ter tido durante os tempos colonialistas, em que poderia ter
contribuído para sanar erros da administração de lá como de cá. Passou. Mas o
retrato do povo português lá está, com os defeitos e virtudes de sempre. E
entre esses, o retrato de Francisco Gavicho de Lacerda, homem de coragem e de
princípios, “da velha linha dos Cabrais”, diria o seu neto Rui por
brincadeira. Fico feliz por meu pai o ter lido, provavelmente comprou-o quando
foi transferido para Quelimane, por um daqueles motivos da governação
colonialista, de ostracismo tanta vez, e injustiça.
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