A desenvoltura analítica de Salles da
Fonseca, neste seu empunhar de argumentos que põem a nu,
desassombradamente, pontos de vista sobre o processo de abandono pátrio,
manhoso e oportunista, daqueles para quem a pátria significou estorvo e
desprezo, no despedaçar de conceitos que Salazar soube manter vivos, enquanto
pôde. Homens como Salles da
Fonseca merecem estima.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO 28.07.19
«E
porque inocentes, deixaram-se enganar por missangas contra cordões de oiro» -
esta, a loa esquerdista tão em voga ainda hoje diabolizando o branco e
santificando o preto. Ou seja, enchendo o branco de maldade e atribuindo ao
preto um vil atestado de incapacidade mental. Racismo
abjecto. E o pior é que nem sequer passa pela cabeça desses críticos que
o valor atribuído pelos pretos às missangas até pudesse ser superior ao valor
atribuído pelos brancos aos cordões de oiro. O que é o valor? Eis um conceito
de difícil percepção por quem apenas leu Marx ignorando Adam Smith e seus
sucessores.
Racismo manhoso,
este que, afinal e como mostraram os acontecimentos posteriores às
«independências» das colónias portuguesas, mais não queria do que precipitar a
saída dos portugueses de África para que os soviéticos pudessem entrar. Sol de
pouca dura, aliás, pois já saíram os soviéticos que não foram substituídos por
russos. Restam alguns cubanos, soviéticos de escolha serôdia. Esta é a hora dos chineses. Até ver…
Mas esta é também a hora do capitalismo selvagem, aquele que se
entrega nas mãos dos gatunos disfarçados de políticos com a boca cheia de
parangonas a favor do povo e de loas ao nacionalismo contra os colonialistas.
Exauridos, os novos Estados não
existem fora da propriedade dos seus Chefes de nomenklatura reinante. Os povos,
abandonados, continuam à procura da salvação no dia-a-dia. Com uma diferença
muito grande em relação aos tempos anteriores às «independências»: dantes,
faziam pela vida nos seus ambientes naturais; agora, depois das guerras civis,
fazem-no nos ambientes de refúgio que são as «selvas urbanas» onde tudo vale,
inclusivé tirar olhos. E a insegurança mudou de terrorismo para banditismo, de
luta politico-militar em teatros de guerrilha rural para desordem cívica
urbana, da guerra com objectivos (de algum modo) superiores para o horror do
«salve-se quem puder». E os únicos que se salvam são os que puseram a mão nos
cofres públicos.
E, apesar de tudo, quem conheceu Moçambique
não esquece aquela terra de sonho, aquelas populações cerimoniosas,
civilizadas, propensas ao bem e que, por isso mesmo, nos despertam sentimentos
de compaixão. A revisitar! *
* *
Quando
a Graça, a minha mulher, me ouvia falar de África, sempre dizia que também já
lá estivera porque fora num cruzeiro de Lisboa a Ceuta. Ao que eu sempre lhe
respondia que Marrocos só é África no mapa que a Senhora Professora tem
pendurado na parede lá da escola. A verdadeira África, a apaixonante, é a
que se estende a sul do Sahara. E mais lhe dizia (e digo) que se há coisas que
se mostram em fotos e vídeos, outras há que só no local se percebem.
Não
preciso agora de citar muito mais coisas do que os cheiros… De náusea, dirão os
narizes mais habituados aos grands
boulevards de Paris. Da Natureza, digo eu e todos os que já
cheiraram a savana ao pôr do Sol com uma girafa recortada pelos últimos raios,
o esguicho das narinas de uma família de hipopótamos vista da margem do Limpopo
ao raiar da aurora, a macacada e sua guincharia nos ramos das árvores por cima
da minha pista de equitações em Lourenço Marques, a mistura das essências
expostas à porta do xitolo do monhé, o cheiro da mandioca fumegante, o cheiro
da terra molhada pela chuva de pingo grosso… o cheiro da nossa própria
juventude, cãs então longínquas, sangue na guelra. Esses, sim, são cheiros
saudáveis, não as «eaux de vie 5 ou 10» que disfarçam sebências mal lavadas ou
vícios inconfessáveis.
Esta,
uma das duas Áfricas que eu queria mostrar à Graça; a outra, seria a de
Lourenço Marques que nós, portugueses, fizemos em paralelo com a cheirosa. Março de 2006 foi quando se
proporcionou mostrar-lha. Já lá vamos…
Julho de 2019 HENRIQUE
SALLES DA FONSECA
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