segunda-feira, 15 de julho de 2019

163 “COMENTÁRIOS”



É certo que só uma meia dúzia deles se aproveita, que comenta de facto, e aponta o estado da nação, desinteressada de ética e pensando a curto prazo. A crónica de Helena Matos é perfeitamente lúcida, como o são os comentários que escapam ao labéu de “conversas de bordel” proposto por chints CHINTS. Mas é triste tal degradação de um povo que Cipião Numantino tão bem define.
RÁDIO OBSERVADOR          JOSÉ SÓCRATES
PS, o partido com défice de atenção /premium
HELENA MATOS           OBSERVADOR, 14/7/2019
António Costa nunca viu nada de estranho em Sócrates e diz que “no PS, as pessoas não conheciam factos que têm vindo a público”. Sofrem os socialistas de défice de atenção ou de cegueira voluntária?
António Costa não achou estranho o licenciamento do Freeport? Nem teve um momento de perplexidade perante o processo de licenciatura de José Sócrates? Nunca lhe causou surpresa o estilo de vida do primeiro-ministro? A intervenção na TVI? A CGD? O BCP? A PT?… Nada. Nadinha. Perante o inverosímil de tal declaração não sei se prefiro pensar que António Costa está a faltar à verdade ou se padece do mais extraordinário défice de atenção alguma vez registado neste mundo. E presumo que também nos outros.
Mas o problema das declarações de António Costa não se esgota nesta inverosimilhança, aparentemente grosseira. Na verdade, para lá desta revelação quase anedótica sobre o que não percebeu, António Costa tenta habilmente passar a ideia de que os factos só foram conhecidos num depois que não se sabe ao certo quando aconteceu mas que há-de ter sido “depois”. Só que não foi depois. Foi “durante”, pois praticamente desde que José Sócrates se tornou primeiro-ministro que começaram a vir a público notícias que levantavam muitas dúvidas sobre a sua maneira de proceder.
Ao contrário do que declarou António Costa, os socialistas não só conheciam essas revelações como atacavam quem as fazia. Eram os tempos da “devassa”. Os diplomas de curso de Sócrates e as suas fichas na AR apresentavam várias incongruências? O que é que isso interessava? Era uma devassa. Como era possível José Sócrates manter aquele nível de vida? Lá vinha a devassa. O unanimismo soviético que os socialistas garantiam a Sócrates permitiu-lhe fazer o que quis.
Por fim, António Costa invoca o estafado “deixar à justiça o que é da justiça” para não se pronunciar sobre a relação do PS e dele mesmo com José Sócrates. Ora o que se exige a António Costa e ao PS não é que se pronunciem sobre o que é da justiça – Sócrates –  mas sim sobre o que é da moral: a relação acrítica que eles tiveram com o seu ex-líder.
E este exercício é tão mais importante quando um dia ele terá de ser feito já não para os governos de Sócrates mas sim de António Costa. Porque foi o acriticismo dessa relação, a sua cegueira voluntária que permitiu que, no passado, Sócrates fizesse o que António Costa define como “factos que têm vindo a público”. E é essa relação em que os socialistas ignoram voluntariamente tudo o que comprometa o seu exercício do poder, que explica que o governo de António Costa destrua agora o SNS, encerre as melhores escolas e proponha Pedro Silva Pereira para a vice-presidência do Parlamento Europeu, sem que se ouça qualquer contestação entre os socialistas.
Não duvido que dentro de algum tempo, os socialistas quando confrontados com a sequência de factos desta semana e de outras semanas como esta – na sexta-feira o PS, PCP e BE chegaram a acordo para aprovar a Lei de Bases da Saúde, que revoga o decreto-lei das parcerias público-privadas (PPP). No sábado o PCP anunciou que quer novo imposto para depósitos bancários acima de 100 mil euros. Na segunda o BE propôs criação de Serviço Nacional de Justiça. Na terça o Parlamento debateu a eventual criação de quotas para afro-descendentes e ciganos e na quarta continuava em crescimento a imprescindível campanha de ódio contra o inimigo público de turno (desta vez coube o papel a Fátima Bonifácio) – venham declarar que não perceberam o real impacto das medidas. Ou que foram os comunistas a impô-las. Quiçá que o BE pressionou ou que o PR exigiu…
O PS que esteve ao lado de Sócrates e agora declara que nunca soube de nada é o mesmo PS que negociou o memorando de entendimento com a troika e depois não só esqueceu o que assinara como passou a ser contra esse mesmo memorando. Um dia esse mesmo PS e quiçá o próprio António Costa vão dizer que entre 2015 e 2019 nunca tiveram nenhum sinal que os levasse a suspeitar de que o país da propaganda não é o da realidade.
PS. A desautorização das polícias e a promoção de uma cultura de impunidade está a dar os seus frutos. Nas últimas 24 horas tivemos “um desacato no Monte da Caparica, Almada”: “Dois grupos de pessoas protagonizaram este sábado um desacato no Monte da Caparica, Almada, em que foram disparados tiros para o ar, mas quando a patrulha da GNR chegou “já não encontrou ninguém”, disse à Lusa fonte da corporação.” Já em Queluz a estação da CP teve de ser encerrada “na sequência de confrontos com facas entre grupos rivais. (…) os confrontos terão envolvido mais de uma centena de pessoas.” Perante este avolumar do problema venho propor quotas obrigatórias para políticos, dirigentes associativos, comentadores e jornalistas. Estes terão de utilizar obrigatoriamente os transportes públicos  e viver nas zonas referidas nas notícias sobre “grupos”, “confrontos entre grupos rivais” e “desacatos”.
COMENTÁRIOS
Pedro Ferreira: Excelente artigo! Mas o Costa de que fala o texto é aquele que aparece nas escutas da Casa Pia? Aprecio esta luta desigual, em que vivemos sem oposição e, com sinceridade, com a situação actual da nossa democracia ( PCP e BE domesticados) recordo o "viver normalmente" dos tempos do professor Oliveira Salazar. Força, Dra Helena, o tempo está para as historiadoras.
Carlos Guerreiro: O António Costa diz que no PS (Costa incluído) ninguém desconfiou de práticas menos correctas do Sócrates, e é capaz de ter razão. Afinal as práticas do Sócrates não devem ser muito diferentes dos restantes militantes do PS (o padrinho Don Mario SóAres deixou uma fortuna de 17 milhões de euros, ou na política ganha-se bem, ou então o dinheiro nasceu nas árvores do colégio). Como a Helena já referiu uma vez, o Sócrates acha-se genuinamente injustiçado, o que ele fez não é diferente do que fizeram os correligionários (talvez daí a solidariedade de Don Marione SóAres). Temos agora em cena a novela do corrupto da semana, a maioria do PS. Perspicazes como são, se daqui uns anos forem questionados, o PS e o Costa vão dizer que não deram por nada.
Marie de Montparnasse: Não acho que o PS tenha défice de atenção. Veja-se a devoção com que atenta e neutraliza as causas e os efeitos da sua reeleição. António Costa protagoniza agora o "bonacheirão" já sem o riso sarcástico e as vestes lixiviadas e usa o fato e gravata da credibilidade, do poder e do perpetuar da sobrevivência. O País? Que importa isso se ele anda por inércia.
chints CHINTS: Quanto melhor é o comentador, mais sinistros aparecem. Daqui a nada começam com conversas de bordel, como de costume. Bravíssimo a estes valentes opinadores que, semana após semana, têm de aturar tanta sujeira. Devo confessar que estou confusa com a censura do Observador, por deixar passar as conversas de bordel, mas parece que não é humana.
António Sennfelt: O PS não só nada viu de eticamente censurável durante todo o consulado de Sócrates, como agora, reinstalado no Poder, manobra na sombra dos corredores para dificultar a aplicação da Justiça!
Cipião Numantino: Os partidos, como é suposto, representam putativas classes e com estas os seus particulares anseios e interesses. Porém, o caso particular do PS implica algo de mais substantivo. É a espécie de cloaca (sem ofensa) onde tudo o o que é indiferenciado vai desaguar. Ser-se de direita, do PCP ou do BE implica, mal ou bem, fazer-se uma opção. Assim, por exclusão de partes, escolher-se o PS é uma espécie de atitude de Maria vai com as outras. Um nadar na indiferença, uma solicitude muitas vezes amorfa e completamente aleatória. Em suma, vastas vezes a comodidade de não ter que se escolher, evitar fazer opções e esperar que as coisas se resolvam "per se". Chegado aqui, não me espanta pessoalmente que o PS seja o partido do regime e que as massas populares o prefiram com a mesma devoção com que antes idolatravam Salazar. É como digo, um verdadeiro partido em que não é suposto fazer-se uma verdadeira opção. Na dúvida é-se do PS e não se fala mais nisso!...
Ora perante tanta indiferenciação mental, não será de estranhar que as exigências estejam perfeitamente ao nível das aspirações. O PS mente e o pessoal acha natural, engana e o maralhal acha que se tratou de um golpe de génios da política, finalmente descamba em desastre e o povão sempre encontra alibis de remissão sem pecado e onde o que hoje é verdade amanhã pode ser mentira e vice-versa. 
Um partido maioritariamente composto por gente interessada e interesseira, que fazem com os seus eleitores uma espécie de círculo envolvente que está paredes meias com o desatino conformista e moralmente corrupto se não mesmo profundamente venal. O resultado tem sido desastroso para o país. Uma política permanente de "nem faz nem sai de cima", onde só se agitam águas quando se sente os calos apertados e o rescaldo da refrega pode deixar fumos avulsos mais ou menos tóxicos. No demais tudo é perdoado. Afundam e incendeiam o país, atiram a culpa para os bombeiros que os precederam e o pessoal acredita. Melhor, todos os seus indiferenciados prosélitos fazem questão de acreditar pois, essa, é a única forma de reagir. No estilo dos enc ornados que confrontados com a traição da mulher, juram e protestam defender as suas excelsas virtudes.
E é assim. O povão tuga tem o partido que merece. E o PS tem o povão que almeja. Junta-se a fome à vontade de comer. Tudo nos conformes. Tudo na paz do Senhor. Enquanto pela estranja os partidos socialistas foram corridos a pontapé, por aqui, tal como os homens de Neardhental, mantêm-se firmes e hirtos, à espera do desaparecimento do socialismo "democrático", numa atitude de nem ser carne nem ser peixe que nos há-de levar sustentadamente encaminhados em direção ao desastre venezuelano e à consequente desgraça. Que isto de não se fazerem opções todos sabem ser altamente perverso. E querer sempre agradar a Deus e ao diabo, terá naturalmente os dias contados quando os problemas se avolumarem. O caso último do Syriza, tão louvados pelo Dr. Costa, deveria ser toque de rebate no PS. Mas esperar que um partido onde desagua tanta desonesta intelectualidade, uma permanente onda de distraídos e, sobretudo, uma proverbial incompetência que se regulam permanentemente pelo princípio de Peter pois, daqui, convenhamos, pouco haverá que esperar. A não ser um mais que óbvio e calculado desastre!... PS- As lutas tribais dadas à estampa ultimamente, parecem não ter constituído um sempre salutar sobressalto cívico. Afinal o apoio explícito dado por Cabrita e Marselfie a tudo o que é marginal desautorizando as forças da ordem, por aqui o escrevi, iria pagar-se caro. Odeio ter razão!...

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