Com observações pertinentes de mistura,
lembrando o que foi e o que poderia ter sido a colónia africana de Moçambique. E
a história triste de Gungunhana, como complemento, alguns de cujos dados
transcrevo da internet, para aclarar um pouco os dizeres sibilinos de SF. É, de resto, longa, a história de Gungunhana narrada na Internet, talvez para chamar
a atenção sobre a temática do racismo que hoje está na ordem do dia.
Ngungunhane
Origem:
Wikipédia, a enciclopédia livre.
Ngungunhane, Mdungazwe Ngungunyane Nxumalo, N'gungunhana, Gungunhana ou
Reinaldo Frederico Gungunhana (Gaza, c. 1850 Angra do Heroísmo, 23
de Dezembro de 1906) foi o último imperador do Império de Gaza, no território que
actualmente é Moçambique, e o último monarca da dinastia
Jamine. Cognominado o Leão de Gaza, o seu reinado estendeu-se de 1884 a 28
de Dezembro de 1895, dia em que foi feito prisioneiro por Joaquim Mouzinho de Albuquerque
na aldeia fortificada de Chaimite. Já conhecido da imprensa
europeia,
a administração colonial portuguesa decidiu condená-lo ao exílio
em vez de o mandar fuzilar, como fizera a outros. Foi transportado
para Lisboa,
acompanhado por um filho de nome Godide e por outros dignitários. Após uma breve
permanência naquela cidade, foi desterrado para os Açores,
onde viria a falecer onze anos mais tarde.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 24.07.19
O
Save é em Moçambique o que o São Francisco é no Brasil, uma fronteira entre uma
terra relativamente fácil e uma difícil. A diferença ainda é muito grande no
caso moçambicano porque o rio-fronteira ainda não está trabalhado com os
caudais regularizados, com as margens consolidadas, com represas, drenagens e
irrigações circundantes que melhorem os lençóis subjacentes, etc. E porque o
rio está ao abandono, o lado pobre, o da margem esquerda, é pobre e o da
direita está à vontade de Deus Pai todo poderoso. Só lá mais para a frente, a
caminho do Sul, é que a «coisa» agro-pecuária e florestal melhora. E é nessa
melhoria que volta a aparecer o «pé-de-meia» das populações, o amigo cajueiro.
Estrada
boa, alcatroada há muitos anos mas com piso recentemente melhorado, deu para
continuarmos uma viagem turística sem problemas. A diferença, agora, estava na
presença humana muito mais assídua e à vista, do gado doméstico a pastar
próximo, das machambas por ali fora, quase a esmo para os nossos olhos mas de
certeza que com lógica para os respectivos proprietários, agricultura de
subsistência. E
que mal há nisso? Mal nenhum do lado de quem a pratica; muito mal dos Serviços
Públicos que a deixam ao «Deus dará». E disto tudo me fui lembrando… das
populações que vivem e deixam viver. E nesta decisão que tomara ontem de voltar
para Moçambique depois de ir a Lisboa passar à disponibilidade militar,
lembrei-me de que uma das coisas em falta na corrida contra o tempo pelo
desenvolvimento, era a de um verdadeiro Serviço de Extensão Rural que apoiasse
as populações abandonadas. E isso implicaria não só as condições de habitação,
educação e saúde mas sobretudo no melhoramento da produção agrícola e das
condições sanitárias do gado doméstico, as desparasitações veterinárias.
E
assim fui meditando… até que me dei conta de que não sou engenheiro para poder
melhorar as condições de saneamento básico nem habitacionais daquela gente
habituada aos melhores materiais de construção que por ali existem, devidamente
adaptados às condições naturais, não sou médico nem sequer enfermeiro para
poder ajudar às condições sanitárias, não sou professor para os poder habilitar
ao abrigo do ensino oficial, não sou veterinário para lhes tratar do gado, não
sou agrónomo para os ajudar a melhorar a qualidade agrícola. Ou seja, não sou
nada que lhes possa ser de alguma utilidade. Um zero à esquerda. Apenas um
especialista em assuntos gerais que, se munido de humildade, ainda há-de
aprender umas «coisas» com aqueles a quem pensava ensinar. E lembrei-me dos peace
corps do Kennedy que tanto bem
fizeram por tanta parte até que foram corrompidos pelas maquinações da CIA.
E,
depois, lembrei-me da dicotomia entre esta gente viver assim há séculos, não
saber viver de outros modos e virmos nós, extra-terrestres, ensinar-lhes coisas
com que eles não sabem (e eventualmente, não querem) lidar. Levá-los a defecar
num único local junto da aldeia? Muito civilizado, sim Senhor. E onde fica a
linha de água a que vamos aplicar a bomba para lhes fazer um chafariz?
Eventualmente, será a maneira mais apropriada de lançar uma epidemia de cólera.
E quanto ao aumento da produção agrícola, como se fará o escoamento dos
excedentes e a que preço numa economia desmonetarizada? E se a moeda não
circula, para que querem eles a moeda? Ah! Mas querem a Justiça. Para os mandar
para a prisão conforme os critérios duma Lei que desconhecem? Não! Para isso
têm os Conselhos
de Velhos cuja autoridade reconhecem. Então, como fazer para ajudar
esta gente? E a grande pergunta é: - Será que eles querem a nossa
ajuda? Sim, creio que sim, querem a nossa ajuda para lhes tirar a
dor de dentes, as cataratas dos olhos, a dor do apêndice... Mas só depois de
lhes ganharmos a confiança. Então, serão eles a pedir que os ajudemos e isso
pode demorar tanto tempo quanto o tempo que está por vir. Como são importantes esses quase anónimos Chefes de Posto que se amantizam com as «flores da savana», legalizam as
decisões dos Conselhos
de Velhos, recebem honradamente os viajantes com avarias mecânicas… Afinal, esses que estão na base da Administração Ultramarina,
muito mais do que os que estão pela hierarquia acima, é que são A chave da
porta do diálogo, A ferramenta do desenvolvimento. E se nós, lisboetas, estamos
com pressa, não os atrapalhemos a esses que vivem, sabem viver e, sobretudo,
que deixam viver.
Chagámos
a Vilanculos, o Tó e o Miguel que procurem solução para a noite do nosso
«herói» e, já agora, para a nossa também. Eu estou cansado, não faço mais nada
para além de um duche e um jantar.
- Miguel,
vai pensando nas horas da alvorada. Amanhã são 205 quilómetros até à Maxixe.
Julho
de 2019
Henrique
Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS
Henrique Salles da Fonseca 24.07.2019:
Meu Caro: Estou a juntar a « viagem »
toda para voltar a ler quando terminar. Como corri por muito do que fala, e
muitas outras estradas e picadas, desde 1954 até... à diáspora, mando-lhe o meu
depois comentário, que não deixarei de pôr no meu blog.
Por enquanto vou ficando só na saudade e na inveja de não ter podido ocupar o quarto lugar – mesmo ao lado do Xicuembo – nesse belo e confiável carrão! Um abraço. Francisco Gomes de Amorim
Por enquanto vou ficando só na saudade e na inveja de não ter podido ocupar o quarto lugar – mesmo ao lado do Xicuembo – nesse belo e confiável carrão! Um abraço. Francisco Gomes de Amorim
Henrique Salles da
Fonseca 25.07.2019: Já
estou quase com a sensação de conhecer Moçambique
Helena Salazar Antunes Morais
Helena Salazar Antunes Morais
Henrique Salles da
Fonseca 25.07.2019:
Henrique, que leitura e texto magníficos... que bom me enviares... Dás
momentos mágicos a esta tua amiga de sempre. Como gosto de ler os teus textos,
my friend. Obrigada. Isabel O'Sullivan
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