Helena Garrido parece ser
dessas, alguns comentadores também. Enquanto o pio não é cortado, assim se vai
piando. Mas a Salve Rainha também já
há muito o informa, estamos habituados. E os governos confiam nisso,
devotos que são: “gemendo
e chorando neste vale de lágrimas”…
Os problemas são poucos, as soluções
parecem impossíveis /premium
OBSERVADOR, 15/7/2019
Temos pouca poupança para muita dívida e muitos idosos. Temos um
país desorganizado, sem líderes nas organizações. Temos um Estado irracional.
Três problemas apenas que podíamos querer solucionar.
Poupar mais, aumentar a
natalidade, aprender a liderar e organizar e uma profundíssima reforma do
Estado (sim, a expressão já enjoa, mas o problema continua lá) que
melhore os serviços públicos e seja mais justa nos salários. Estas são as medidas que precisávamos de adoptar. Algumas, como actuar no Estado, são muito difíceis.
Outras nem tanto. O problema é que nada disto é suficientemente apelativo para
dar votos.
Quando
olhamos para os grandes números do país, o maior problema é este: temos
pouca poupança para tanta dívida e tanto envelhecimento da população. É uma
bolha que vai rebentar sob a forma de empobrecimento, mesmo que apenas relativo
ao resto do mundo. O Governo
gosta de mostrar que temos crescido acima da média europeia. Claro que é bom.
Mas o pior é que temos outros países, que eram mais pobres do que nós, a
crescerem mais depressa e alguns a ultrapassarem-nos. Estamos a crescer, mas
não o suficiente. Além disso, o nosso crescimento está neste momento demasiado
dependente da capacidade de continuar a atrair turistas – o que, sem que se
queira ser pessimista, não está garantido. O Algarve, por exemplo, está com
menos turistas este ano do que em 2018.
Temos de poupar para pagar a dívida e
porque não haverá pessoas suficientes a trabalhar para pagarem as pensões dos
que se vão ainda reforma. Só isto seria suficiente para que uma das prioridades
da política pública fosse aumentar a poupança. Na ausência de taxas de juro
positivas, por via de uma política monetária que tenta a todo o custo evitar
que a economia entre em recessão no euro (e nos Estados Unidos), não podemos
contar com isso para se poupar. Mas os governos ainda têm meios, por via da
política orçamental, para incentivar a poupança. Uma revisão dos benefícios
fiscais bem podia criar incentivos significativos à poupança. E esta poderia
ser uma via de reduzir o IRS e até o IRC, mas com um objectivo de política
macroeconómica.
As
outras duas mudanças de que precisamos, no Estado e na liderança e
organização, são mais difíceis, mas não impossíveis.
Temos claramente um problema de
organização e liderança que pode ter raízes na falta de método – que se resolve
facilmente estudando – ou na dificuldade em assumir e delegar responsabilidades
– mais difícil de resolver. No caso do
Estado, as dificuldades de liderança têm frequentemente origem no medo de ser
desautorizado por iniciativa de quem governa. A fronteira entre a legitimidade
política para decidir e o poder de decisão que é preciso delegar é por vezes
difícil de definir. Mas todo e qualquer Governo devia ter especial atenção para
não transformar a administração pública num grupo de pessoas que “deixa andar
para não se lixar”. Nas empresas a falta de organização e liderança é uma das
explicações para a sua baixa produtividade, um problema antigo que,
infelizmente, a classe empresarial nunca quis assumir como existindo e, por
isso mesmo, dificilmente o resolverá.
Finalmente
a já cansativa prioridade chamada “reforma do Estado”. É manifesta a
necessidade de reorganizar o Estado. Por onde começar? Primeiro seria necessário criar uma cultura de responsabilidade
que só se constrói dando poder a quem dirige o que, impõe, inevitavelmente,
menos cumplicidade geral com aqueles que não trabalham. Esta é
a primeira grande injustiça dentro do Estado: a protecção aos que nada fazem. A segunda está no sistema remuneratório absurdo e isto nada tem
a ver com o aumento dos salários dos magistrados e juízes. Medidas avulso como
essas não resolvem o problema de um sistema salarial global irracional,
designadamente quando olhamos para o que se paga a médicos, enfermeiros e
técnicos superiores de diagnóstico. Era preciso revisitar toda a escala
salarial do Estado, o sítio onde existe um “prémio” para quem não estuda.
Há uns anos, numa conferência, o
responsável de um país europeu dizia que no seu país todos os anos são
estabelecidos no Orçamento do Estado três ou quatro objectivos, não mais do que
esses. Essa seria uma boa prática também para Portugal. Mesmo em campanha
eleitoral. Querer fazer tudo ao mesmo tempo e dar tudo a todos deixar-nos-á como
estamos, sem capacidade de nos desenvolvermos.
COMENTÁRIOS
António
Sérgio Gonçalves: Desculpem o desabafo: andamos aqui a entreter-nos. A sra ganha o seu a
escrever umas meias verdades; o jornal ganha umas coroas a vender as tragédias
da nação; a malta aplaude (ou não) e "posta" uns comentários e assim
se vai indo... Todos os que sabem os males de que padecemos e as soluções para
divergir, incluindo a sra HG, vão para lá! Eu voto em vocês. É que ninguém se
chega à frente e no final só sobra BEs, PSs, PSDs, CDSs e o resto da canalhada
maria perry > António
Sérgio Gonçalves: Canalhada é o
PS que endividou o país, destruiu o bom trabalho de Passos Coelho, e agora
continua a endividar o país, batendo recordes. E também o PCP e o BE que
aprovaram ano após ano orçamentos de destruição dos serviços públicos.
maria perry: As palavras sensatas de Helena são totalmente perdidas
com governantes cujo único interesse é o poder e que sabem como consegui-lo:
privilegiando os funcionários públicos. Estarem
eles ali ou Maduro é a mesma coisa e processo de venezuelização do país vai
continuar em grande por muitos anos.
Paulo José: Este tipo de
artigo tem uma virtude. Fala de coisas que 90% dos portugueses nem sabe o que
são. Temos a maior taxa de analfabetos funcionais da Europa. Algum país
organizado (Tipo Alemanha) tem partidos como o PCP ou BE, ou aberrações como a
CGTP. Algum país inteligente (Tipo Suíça ou Suécia) não tem tecto máximo para
as reformas da segurança social e da Caixa Geral de Aposentações. Algum país
democrático (Tipo Dinamarca) tem políticos ignorantes que apenas vivem para
obter benesses. Se Portugal fizesse as 3 ou 4 reformas que são necessárias, o
défice acabava e começava a pagar a dívida. Mas os Portugueses
"velhos" e analfabetos preferem Costas, Centenos, Martins e Sousas.
Uma geringonça inútil que nada resolve. O Observador precisa de artigos
mais abrangentes e explicativos, porque a maioria não consegue entender as
mensagens por trás dos textos.
Adriana Lima
> Paulo José: Não entendem e nem querem entender. Por isso, e ao
contrário do que diz, eu acho que preferem nada saber, vivendo ignorantes e
acreditando serem felizes dessa forma
Pedro Ferreira: Excelente artigo. Os problemas no
sector privado são quase perpétuos, já os Ministros de Salazar se queixavam da
qualidade dos empresários portugueses e o grande salto, de finais da década de
sessenta e princípio de década de setenta, deu-se com a adesão à EFTA e a
entrada de muitos empresários Franceses, Belgas, Alemães, etc que desenvolveram
todo o país e, muito particularmente, na cintura industrial de Lisboa, que
os comunistas destruíram no PREC, também destruíram os grupos nacionais da boa
indústria, como o grupo CUF, Champalimaud, Vinhas, etc. Os problemas no
sector público (bandalheira) são uma das "conquistas" de Abril e nem
sei se têm resolução, em regime democrático, talvez, com nova bancarrota a
coisa vá sítio, mas um país com a nossa carga fiscal, em que o estado consome
50% do PIB, não tem futuro. E
depois da reforma do Estado do Paulo Portas, a Dra Helena poupe-nos à conversa
das reformas, não acredito.
A. N.S.: Imaginava eu
que ter muitos idosos era uma coisa boa porque o objectivo de qualquer pessoa,
a HG incluída (??), é manter-se vivo e com saúde o mais tempo possível. Afinal
não é uma coisa boa, é antes um problema. Talvez começar-se a pensar em medidas
de controlo da “praga” como por exemplo uma redução de 50% no IRS a quem
aceitasse ser eutanasiado à idade da reforma. Era um alívio não apenas para a
segurança Social mas também para o SNS. É apenas uma ideia mas existem muitas
outras soluções é só puxar pela imaginação….
Adelino Lopes: Gosto
cada vez mais dos artigos da HG. Mas permita-me acrescentar mais um detalhe.
Relativamente a “problema de organização e liderança” não podemos esquecer as
nomeações de “confiança política”, muitos deles completamente ignorantes relativamente
à área em questão. Nos diversos organismos do Estado não deveriam estar pessoas
especialistas na matéria com formação complementar em gestão (por exemplo)?
Quantos vereadores municipais tomam decisões tipo “fazer uma rotunda” sem
saberem o que é uma rotunda? A meu ver, a este nível é impossível fazer uma
reforma.
Manuel Magalhães: muito
bom artigo em que bem foca as nossas deficiências e necessidades imperativas
para que possamos deixar de ser um país decadente, o pior é que praticamente
nenhum partido se refere a elas e muito menos propõe remédios concretos,
preferindo como muito bem diz a articulista, apregoar que tudo vão resolver de
uma assentada para no fim ficar tudo na mesma e continuarmos neste plano
inclinado em que nos encontramos!
ALBERICO LOPES: bem que a Helena Garrido regressou em força e
com a lucidez do costume! Bem vinda! Já cheguei a pensar que a ida para a RTP a
tivesse amolecido! !
Passos, O Senhor 24%"Nas empresas a falta de organização e liderança é uma das
explicações para a sua baixa produtividade, um problema antigo que,
infelizmente, a classe empresarial nunca quis assumir como existindo e, por
isso mesmo, dificilmente o resolverá." - HG terá de esperar
pela entrada em força da nova geração para dirigir as empresas privadas. Até lá
continuaremos com uma classe empresarial e dirigente obsoleta, que continua a
ser a única em toda a UE que é detentora de habilitações escolares médias
inferiores às dos empregados.
miguel Fonseca > Passos, O Senhor 24%: Se calhar fizeram as "Novas Oportunidades" do
Sócrates
Passos, O Senhor 24% > miguel fonseca: Há 25, 30, 40 anos já havia Novas Oportunidades? É
disso que estamos a falar dada a idade vetusta desses "empresários" e
"dirigentes", que hoje teimam em não abandonar as empresas privadas
mesmo que só lá estejam a estorvar e a impedir o crescimento dessas empresas
como Helena Garrido escreveu!
Mario Areias: O seu artigo resume-se a uma palavra; competência. Por
favor não espere competência governativa de um político. E cada vez pior,
porque hoje a política é uma carreira que se percorre não conhecendo nenhum
"mundo" para além do teórico.
Mosava Ickx: "O Algarve, por exemplo, está com menos turistas
este ano do que em 2018." Normal. A Tunísia oferece melhor serviço mais
barato, e as pessoas já não se lembram dos terrorista que andam por ali ( e por
aqui, mas de momento sossegados ). Dou-lhe um exemplo da maneira de estragar um
negócio. Estou a viver no Algarve, no verão passado fui para um pequeno café
perdido numa rua pouco frequentada, e paguei 1€50 para um copo de vinho verde (
já uma barbaridade ). Quinze dias depois, no mesmo café já custava 2€. Há
turismo que aguenta? O problema luso não é só em cima da hierarquia, é de alto
para baixo, com a cúpula a extorquir cada vez mais, e repercussão em cadeia,
não há segredo! E um PIB baseado em turismo, é correr na corda bamba…
Ruik Krull: Portanto, Bancarrota
versão IV à vista
Fernando Almeida > Ruik Krull: As exigências da função pública vão continuar. A divida
do estado aos privados continua a crescer. As despesas adiadas em
manutenção ( CP, SNS, transportes, etc) e investimento público necessário
(onde estão os 5 hospitais que Costa prometeu?) vão esmagar o próximo governo.
País sem rumo.
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