sexta-feira, 19 de julho de 2019

A palavra a quem sabe



Helena Garrido parece ser dessas, alguns comentadores também. Enquanto o pio não é cortado, assim se vai piando. Mas a Salve Rainha também já há muito o informa, estamos habituados. E os governos confiam nisso, devotos que são: “gemendo e chorando neste vale de lágrimas”…
Os problemas são poucos, as soluções parecem impossíveis /premium
OBSERVADOR, 15/7/2019
Temos pouca poupança para muita dívida e muitos idosos. Temos um país desorganizado, sem líderes nas organizações. Temos um Estado irracional. Três problemas apenas que podíamos querer solucionar.
Poupar mais, aumentar a natalidade, aprender a liderar e organizar e uma profundíssima reforma do Estado (sim, a expressão já enjoa, mas o problema continua lá) que melhore os serviços públicos e seja mais justa nos salários. Estas são as medidas que precisávamos de adoptar. Algumas, como actuar no Estado, são muito difíceis. Outras nem tanto. O problema é que nada disto é suficientemente apelativo para dar votos.
Quando olhamos para os grandes números do país, o maior problema é este: temos pouca poupança para tanta dívida e tanto envelhecimento da população. É uma bolha que vai rebentar sob a forma de empobrecimento, mesmo que apenas relativo ao resto do mundo. O Governo gosta de mostrar que temos crescido acima da média europeia. Claro que é bom. Mas o pior é que temos outros países, que eram mais pobres do que nós, a crescerem mais depressa e alguns a ultrapassarem-nos. Estamos a crescer, mas não o suficiente. Além disso, o nosso crescimento está neste momento demasiado dependente da capacidade de continuar a atrair turistas – o que, sem que se queira ser pessimista, não está garantido. O Algarve, por exemplo, está com menos turistas este ano do que em 2018.
Temos de poupar para pagar a dívida e porque não haverá pessoas suficientes a trabalhar para pagarem as pensões dos que se vão ainda reforma. Só isto seria suficiente para que uma das prioridades da política pública fosse aumentar a poupança. Na ausência de taxas de juro positivas, por via de uma política monetária que tenta a todo o custo evitar que a economia entre em recessão no euro (e nos Estados Unidos), não podemos contar com isso para se poupar. Mas os governos ainda têm meios, por via da política orçamental, para incentivar a poupança. Uma revisão dos benefícios fiscais bem podia criar incentivos significativos à poupança. E esta poderia ser uma via de reduzir o IRS e até o IRC, mas com um objectivo de política macroeconómica.
As outras duas mudanças de que precisamos, no Estado e na liderança e organização, são mais difíceis, mas não impossíveis.
Temos claramente um problema de organização e liderança que pode ter raízes na falta de método – que se resolve facilmente estudando – ou na dificuldade em assumir e delegar responsabilidades – mais difícil de resolver. No caso do Estado, as dificuldades de liderança têm frequentemente origem no medo de ser desautorizado por iniciativa de quem governa. A fronteira entre a legitimidade política para decidir e o poder de decisão que é preciso delegar é por vezes difícil de definir. Mas todo e qualquer Governo devia ter especial atenção para não transformar a administração pública num grupo de pessoas que “deixa andar para não se lixar”. Nas empresas a falta de organização e liderança é uma das explicações para a sua baixa produtividade, um problema antigo que, infelizmente, a classe empresarial nunca quis assumir como existindo e, por isso mesmo, dificilmente o resolverá.
Finalmente a já cansativa prioridade chamada “reforma do Estado”. É manifesta a necessidade de reorganizar o Estado. Por onde começar? Primeiro seria necessário criar uma cultura de responsabilidade que só se constrói dando poder a quem dirige o que, impõe, inevitavelmente, menos cumplicidade geral com aqueles que não trabalham. Esta é a primeira grande injustiça dentro do Estado: a protecção aos que nada fazem. A segunda está no sistema remuneratório absurdo e isto nada tem a ver com o aumento dos salários dos magistrados e juízes. Medidas avulso como essas não resolvem o problema de um sistema salarial global irracional, designadamente quando olhamos para o que se paga a médicos, enfermeiros e técnicos superiores de diagnóstico. Era preciso revisitar toda a escala salarial do Estado, o sítio onde existe um “prémio” para quem não estuda.
Há uns anos, numa conferência, o responsável de um país europeu dizia que no seu país todos os anos são estabelecidos no Orçamento do Estado três ou quatro objectivos, não mais do que esses. Essa seria uma boa prática também para Portugal. Mesmo em campanha eleitoral. Querer fazer tudo ao mesmo tempo e dar tudo a todos deixar-nos-á como estamos, sem capacidade de nos desenvolvermos.
COMENTÁRIOS
António Sérgio Gonçalves: Desculpem o desabafo: andamos aqui a entreter-nos. A sra ganha o seu a escrever umas meias verdades; o jornal ganha umas coroas a vender as tragédias da nação; a malta aplaude (ou não) e "posta" uns comentários e assim se vai indo... Todos os que sabem os males de que padecemos e as soluções para divergir, incluindo a sra HG, vão para lá! Eu voto em vocês. É que ninguém se chega à frente e no final só sobra BEs, PSs, PSDs, CDSs e o resto da canalhada
maria perry > António Sérgio Gonçalves: Canalhada é o PS que endividou o país, destruiu o bom trabalho de Passos Coelho, e agora continua a endividar o país, batendo recordes. E também o PCP e o BE que aprovaram ano após ano orçamentos de destruição dos serviços públicos.
maria perry: As palavras sensatas de Helena são totalmente perdidas com governantes cujo único interesse é o poder e que sabem como consegui-lo: privilegiando os funcionários públicos.  Estarem eles ali ou Maduro é a mesma coisa e processo de venezuelização do país vai continuar em grande por muitos anos.
Paulo José: Este tipo de artigo tem uma virtude. Fala de coisas que 90% dos portugueses nem sabe o que são. Temos a maior taxa de analfabetos funcionais da Europa. Algum país organizado (Tipo Alemanha) tem partidos como o PCP ou BE, ou aberrações como a CGTP. Algum país inteligente (Tipo Suíça ou Suécia) não tem tecto máximo para as reformas da segurança social e da Caixa Geral de Aposentações. Algum país democrático (Tipo Dinamarca) tem políticos ignorantes que apenas vivem para obter benesses. Se Portugal fizesse as 3 ou 4 reformas que são necessárias, o défice acabava e começava a pagar a dívida. Mas os Portugueses "velhos" e analfabetos preferem Costas, Centenos, Martins e Sousas. Uma geringonça inútil que nada resolve. O  Observador precisa de artigos mais abrangentes e explicativos, porque a maioria não consegue entender as mensagens por trás dos textos.
Adriana Lima > Paulo José: Não entendem e nem querem entender. Por isso, e ao contrário do que diz, eu acho que preferem nada saber, vivendo ignorantes e acreditando serem felizes dessa forma
Pedro Ferreira: Excelente artigo. Os problemas no sector privado são quase perpétuos, já os Ministros de Salazar se queixavam da qualidade dos empresários portugueses e o grande salto, de finais da década de sessenta e princípio de década de setenta, deu-se com a adesão à EFTA e a entrada de muitos empresários Franceses, Belgas, Alemães, etc que desenvolveram todo o país e, muito particularmente,  na cintura industrial de Lisboa, que os comunistas destruíram no PREC, também destruíram os grupos nacionais da boa indústria, como o grupo CUF, Champalimaud, Vinhas, etc. Os problemas no sector público (bandalheira) são uma das "conquistas" de Abril e nem sei se têm resolução, em regime democrático, talvez, com nova bancarrota a coisa vá sítio, mas um país com a nossa carga fiscal, em que o estado consome 50% do PIB, não tem futuro. E depois da reforma do Estado do Paulo Portas, a Dra Helena poupe-nos à conversa das reformas, não acredito.
A. N.S.: Imaginava eu que ter muitos idosos era uma coisa boa porque o objectivo de qualquer pessoa, a HG incluída (??), é manter-se vivo e com saúde o mais tempo possível. Afinal não é uma coisa boa, é antes um problema. Talvez começar-se a pensar em medidas de controlo da “praga” como por exemplo uma redução de 50% no IRS a quem aceitasse ser eutanasiado à idade da reforma. Era um alívio não apenas para a segurança Social mas também para o SNS. É apenas uma ideia mas existem muitas outras soluções é só puxar pela imaginação….
Adelino Lopes: Gosto cada vez mais dos artigos da HG. Mas permita-me acrescentar mais um detalhe. Relativamente a “problema de organização e liderança” não podemos esquecer as nomeações de “confiança política”, muitos deles completamente ignorantes relativamente à área em questão. Nos diversos organismos do Estado não deveriam estar pessoas especialistas na matéria com formação complementar em gestão (por exemplo)? Quantos vereadores municipais tomam decisões tipo “fazer uma rotunda” sem saberem o que é uma rotunda? A meu ver, a este nível é impossível fazer uma reforma.
Manuel Magalhães: muito bom artigo em que bem foca as nossas deficiências e necessidades imperativas para que possamos deixar de ser um país decadente, o pior é que praticamente nenhum partido se refere a elas e muito menos propõe remédios concretos, preferindo como muito bem diz a articulista, apregoar que tudo vão resolver de uma assentada para no fim ficar tudo na mesma e continuarmos neste plano inclinado em que nos encontramos!
ALBERICO LOPES:  bem que a Helena Garrido regressou em força e com a lucidez do costume! Bem vinda! Já cheguei a pensar que a ida para a RTP a tivesse amolecido! !
Passos, O Senhor 24%"Nas empresas a falta de organização e liderança é uma das explicações para a sua baixa produtividade, um problema antigo que, infelizmente, a classe empresarial nunca quis assumir como existindo e, por isso mesmo, dificilmente o resolverá."  - HG terá de esperar pela entrada em força da nova geração para dirigir as empresas privadas. Até lá continuaremos com uma classe empresarial e dirigente obsoleta, que continua a ser a única em toda a UE que é detentora de habilitações escolares médias inferiores às dos empregados.
miguel Fonseca > Passos, O Senhor 24%: Se calhar fizeram as "Novas Oportunidades" do Sócrates
Passos, O Senhor 24% > miguel fonseca: Há 25, 30, 40 anos já havia Novas Oportunidades? É disso que estamos a falar dada a idade vetusta desses "empresários" e "dirigentes", que hoje teimam em não abandonar as empresas privadas mesmo que só lá estejam a estorvar e a impedir o crescimento dessas empresas como Helena Garrido escreveu!
Mario Areias: O seu artigo resume-se a uma palavra; competência. Por favor não espere competência governativa de um político. E cada vez pior, porque hoje a política é uma carreira que se percorre não conhecendo nenhum "mundo" para além do teórico.
Mosava Ickx: "O Algarve, por exemplo, está com menos turistas este ano do que em 2018." Normal. A Tunísia oferece melhor serviço mais barato, e as pessoas já não se lembram dos terrorista que andam por ali ( e por aqui, mas de momento sossegados ). Dou-lhe um exemplo da maneira de estragar um negócio. Estou a viver no Algarve, no verão passado fui para um pequeno café perdido numa rua pouco frequentada, e paguei 1€50 para um copo de vinho verde ( já uma barbaridade ). Quinze dias depois, no mesmo café já custava 2€. Há turismo que aguenta? O problema luso não é só em cima da hierarquia, é de alto para baixo, com a cúpula a extorquir cada vez mais, e repercussão em cadeia, não há segredo! E um PIB baseado em turismo, é correr na corda bamba…
Ruik Krull: Portanto, Bancarrota versão IV à vista
Fernando Almeida > Ruik Krull: As exigências da função pública vão continuar. A divida do estado aos privados continua a crescer. As despesas adiadas em manutenção  ( CP, SNS, transportes, etc) e investimento público necessário (onde estão os 5 hospitais que Costa prometeu?) vão esmagar o próximo governo. País sem rumo.


Nenhum comentário: