quinta-feira, 25 de julho de 2019

Não, não é de estranhar



O primeiro ministro já o dissera em tempos, aquando da sua despedida da “Quadratura do Círculo”, ainda como cidadão normal - e falou então com irreverente desprezo, pois tinha sido chamado a prestar assistência ao país que conquistara, mercê também da irreverência do seu desprezo pelos valores numéricos eleitorais, que o catapultaram para o cargo que ocupa agora e vai continuar a ocupar por mais quatro anos, desta vez sem precisar de truques eleitorais, o que prova a muita habilidade no ganha-perde da sua competência. À pergunta, pois, em 2015, de Pacheco Pereira, sobre se Costa aceitava o A090, A. Costa respondeu que tal não era coisa que o preocupasse, e acredito que não, depois dos pontapés na gramática, que, entre outros exemplos que Alberto Gonçalves já se deu ao cuidado de contabilizar, se manifestam a cada passo no haviam, haverão, hão, houveram, concordantes erróneos com um complemento directo plural que não tem a ver com o transitivo impessoal, ó senhores!, como diria a Catarina dos Batanetes, escandalizada com as perguntas sensaboronas da professora. Assim, «não houveram (haviam, hão, tinham havido, houvessem, houverem, hajam) acidentes…», para usar um exemplo corriqueiro, ou continuarão a haver, sendo gritantemente asnáticos, tais atropelos não embaraçam minimamente A. Costa, pelo que Pacheco Pereira nem Lobo Xavier se deram ao trabalho de corrigir o seu parecer a respeito do Acordo, preferindo tecer-lhe, astutamente, os encómios da praxe. Pelos textos que seguem, críticos do dito Acordo, prevê-se que este vai mesmo avante, com a desfaçatez cínica do “Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo”, que, em Cabo Verde, «teceu encómios ao Acordo Ortográfico, “reiterando a importância atribuída pelo Brasilao dito Acordo, incitando os PALOPS a aplicarem-no nos seus países. Parecem, pois, inúteis, os protestos inteligentes dos que o desaprovam, entre os quais os articulistas ANTÓNIO JACINTO PASCOAL e NUNO PACHECO. Não, não é de estranhar que o ACORDO vá avante, num país bovinamente passivo, embora ateador de incêndios e espectacularmente expressivo na demais corrupção.
CULTURA ÍPSILON, OPINIÃO
I - O “acordo ortográfico” vive numa realidade paralela, como a de Trump
É com o AO90, e não antes, que temos mais “erros de ortografia” e uma maior “insegurança linguística”.
NUNO PACHECO      PÚBLICO, 13 DE JUNHO DE 2019
A crónica “Socorro, querem roubar-nos a língua e deixar-nos mudos!”, suscitada por um artigo de Henrique Monteiro no Expresso sobre o “acordo ortográfico”, motivou uma mensagem do actual presidente do Instituto de Lexicologia e Lexicografia da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, Telmo Verdelho, recebida por correio electrónico à qual particularmente respondi. No entanto, como no final o autor dizia expressamente “Não tenho reservas sobre a divulgação desta mensagem”, e porque ela contém alguns pontos que merecem reflexão acrescida, aqui a divulgo na íntegra (mas sem divisão de parágrafos), deixando para o fim os comentários julgados úteis.
“Estimei muito ver-me citado no texto crónico da sua paixão ortográfica de 30 de maio. Por amor da verdade, e pelo respeito devido aos seus leitores, deverá retificar a informação sobre a percentagem da mudança (2%), na atualização ortográfica. A única estatística fiável, que toma por base o córpus do Português fundamental, dá conta duma percentagem de alterações que anda próxima de 0,1%, vinte vezes menos. Trata-se duma mudança realmente residual e insensível para a generalidade dos utilizadores da escrita, mas não inútil, porque incide, com grande precisão, sobre a ocorrência de ‘consoantes mudas’, particularmente motivadora de ‘erros de ortografia’ e de insegurança linguística. A perda invocada da informação etimológica é praticamente nula, porque as palavras mantêm, na sua configuração, uma bastante memória do étimo latino. A linguística acumulou, nos últimos cem anos, muita informação inovadora sobre a língua, que inclui obviamente a ortografia, e desenvolveu uma reflexão crítica, com rigor de ciência, que não se compadece com o empirismo das proclamações, aliás louváveis, do ‘amor da língua’. Os linguistas não são ‘bonzos’, mas têm estudo. O seu discurso metalinguístico e o dos seus amigos que desesperam contra o AO90, é pouco esclarecido, geralmente muito perentório, e muitas vezes com dados falsificados. O senhor e os seus amigos, não querem saber porque é que não têm razão.” [sic]
Comecemos pelas percentagens. A “única estatística fiável” (sic) dirá que a percentagem da mudança provocada pelo AO90 não serão os já ridículos 2% mas bem menos, uns 0,1%. Passando ao lado de esta curta missiva ter os tais 2% (quatro palavras num total de 216: “maio”, “retificar”, “atualização” e “perentório”), se a mudança incidia apenas em 0,1% (o que não é de todo crível, pelos textos que todos os dias lemos) para quê o AO? 0,1%, a tal mudança “residual e insensível”, valeria todo o esforço feito, nacional e internacional, para celebrar um acordo ortográfico? Não valeria, de todo. O argumento, em lugar de favorecer o acordo, vira-se contra ele. E o que hoje conhecemos dos resultados de tal façanha é o que está à vista: desnorte ortográfico, deformações na fala, erros a coberto do acordo ou já sem preocupação de seguir acordo algum, uma absoluta miséria. E a isto chamam “ciência”?
Mas há uma justificação: a mudança seria “residual […] mas não inútil, porque incide, com grande precisão, sobre a ocorrência de ‘consoantes mudas’, particularmente motivadora de ‘erros de ortografia’ e de insegurança linguística.” É curioso que os erros e a insegurança tenham surgido sobretudo depois do AO90 e não antes, multiplicando-se a cada dia como um vírus implacável. A recolha, utilíssima, com dados concretos (não com paixão empírica), feita regularmente pelos Tradutores Contra o Acordo Ortográfico, prova ao que chegámos. É com o AO90, e não antes, que temos mais “erros de ortografia” e uma maior “insegurança linguística.” Mas não há problema, é tudo em nome da “ciência”, não da “paixão”.
Por falar em paixão: os “apaixonados” são impetuosos, pouco cerebrais, parciais, “cegos” pelo objecto da sua devoção; logo, o contrário dos que reflectem, dos que têm “estudo”, dos que se regem pelo “rigor da ciência”, da “linguística” e da sua acumulada “informação inovadora”. Como é extraordinária esta inversão das coisas! E como ela ilude o muito que se argumentou, e escreveu, e afirmou, fundamentadamente (e por linguistas, sim, também por linguistas!), contra os malefícios de um acordo que acabou por ser aprovado como noivos que se arrastassem até ao altar, casados por obrigação e sem sequer se conhecerem! A isto se dirá que é paixão? Não, não é; é fúria, pela insistência num ardil medíocre que podemos comparar à arrogância de gente como Trump: mesmo o que ele diz (e está gravado), nega tê-lo dito. E os que o seguem acreditam, porque preferem a sua palavra à evidência dos factos. O AO90 vive na mesma realidade paralela. A fraqueza argumentativa dos seus defensores é tal que nos vêem como os que “desesperam contra o AO90”, quando na verdade o desespero é deles. Porque os seus argumentos não resistem a debates públicos nem à prova dos factos. O AO90 há-de cair da mesma forma que nasceu e permanece: sem futuro nem glória,
A propósito: o lema do Instituto de Lexicologia e Lexicografia da Língua Portuguesa é «Nisi utile est quod facimus stulta est gloria.» (Se não for útil aquilo que fazemos, a glória é vã.) Deviam meditar neste lema, porque a crueza das suas palavras não é de todo “acordizável”.
II – CULTURA ÍPSILON - OPINIÃO
Acordo ortográfico? Revogar, claro!
Em vez de homogeneizar, o actual acordo ortográfico estabeleceu uma série incontável de divergências lexicais. Ou seja, falhou. Falhou em toda a linha.
ANTÓNIO JACINTO PASCOAL     PÚBLICO, 16 de Julho de 2019, 15:03
Muito recentemente, em defesa do actual acordo ortográfico (AO90), Lúcia Vaz Pedro (LVP) deu uma pálida ideia da sustentação às alterações gráficas para a língua portuguesa. Para que conste, emaranhou-se numa teia de contradições, optando por um efeito de vitimização que não evitou o espectáculo menor de quem defende a todo o custo e sem qualquer brilho, uma das piores opções tomadas ao nível da cultura portuguesa, na última década. O debate ocorreu na Feira do Livro de Lisboa, no decorrer da apresentação da obra Por Amor à Língua (editora Objectiva), de Manuel Matos Monteiro (autor de um notável trabalho de vigilância da Portuguesa língua), contando ainda com a participação do jornalista Nuno Pacheco, do PÚBLICO – a moderação ficou a cargo de Ana Daniela Soares. A vulnerabilidade deste acordo – que, na verdade, não o é ainda, uma vez que a sociedade científica brasileira não o ratificou até hoje – decorre da ideia simplista de que um sistema gráfico é a tradução de um sistema linguístico oral, conducente a um esquema de reprodução económica e simplificada da verbalização oral. Ora, basta pensar em como os ingleses convivem com dois sistemas que, como se sabe, muito pouco têm de comum, considerando a transcrição fonética.
Um dos momentos protagonizados por LVP (para além do neologismo “analfabetização” e de uma farta dose de auto-elogio) foi o de convocar uma menina da plateia e pedir-lhe que escrevesse uma palavra: tratava-se do vocábulo “óptimo”, que a menina grafou como entretanto lhe ensinaram – “ótimo"; de seguida, encaminhou a menina, fazendo-a ler aquela palavra, com articulação do “p”. E conseguiu. Isto significa apenas que a geração mais recente de alunos não foi treinada para uma leitura pela qual se tomasse consciência da não articulação de certas consoantes.
Lembremos que o AO90 entrou em vigor no sistema de ensino Português no ano lectivo de 2011/12. Nada de estranhar, portanto. Impor-se-ia, num cúmulo de perversão, pedir-se a um aluno mais velho que escrevesse a mesma palavra, de acordo com aquilo que lhe foi ensinado e que estava em vigor antes de 2011. Provavelmente, entraria em cena a consoante “p”.
Baseada na falsa ideia de que uma escrita “fonológica” é mais natural, LVP quis criar o maior obstáculo a que uma reversão do AO90 pudesse (e possa) ter lugar, liquidando-a de vez. E como? Partindo do pressuposto de que uma reversão seria um atentado e uma irresponsabilidade perante uma quantidade inaudita de alunos que fazem parte do sistema vigente, de pais a quem não seria fácil justificar alterações e de professores acostumados a ameaçar novidades. E, por isso, num processo argumentativo falacioso (ad misericordiam), usou o exemplo da menina, que melhor desencoraja a transgressão e reversão, e de forma mais célere impõe a cultura da acomodação: a sociedade precisa (de) que os seus filhos se sintam seguros no mundo do pragmatismo, mesmo quando esquecem as origens. Mas “a menina de LVP”, longe de qualquer disputa linguística, e caso fosse acordado, escreveria “conosco” se assim lho doutrinassem, ou “oje” e “umanidade”, fosse a regra da não articulação oral levada ao seu limite e ensinada nas escolas. Os alunos aprendem o que lhes ensinam – nada de novo, mais uma vez.
O que este acordo pretendia, se pudesse ser acordo (pelo que presumo não ser senão reforma), era, em especial, homogeneizar (uniformizar) a grafia do Português de Portugal e do Brasil (o que se depreende da nota introdutória ao Novo Acordo Ortográfico de João Malaca Casteleiro), sem desprimor pelos outros países lusófonos e lusógrafos (passo o neologismo): tarefa impossível e inglória. Nessa matéria, os falantes brasileiros arriscam-se a ser mais oralmente etimológicos do que os falantes portugueses (entenda-se, nascidos e versados na variante linguística de Portugal), uma vez que poucas serão as consoantes ditas “mudas” que lhes escapam – dirão, para mal do AO90, “recepção” ou “acepção”. Resultado: em vez de homogeneizar, o AO90 estabeleceu uma série incontável de divergências lexicais. Ou seja, falhou.
E também falhou porque estabeleceu um sem número de arbitrariedades, nos casos das sequências consonânticas, em favor das regras facultativas de pronúncia (os casos de caracterização/caraterização ou sumptuoso/suntuoso); e falhou, porque preteriu as pronúncias cultas, ainda que circunscritas, aos vulgarismos orais (ceptro/cetro); e falhou, porque fez tábua rasa da etimologia nas palavras cognatas (egiptólogo/ egípcio/egito); e falhou, porque lançou a aporia pelo fenómeno da redução vocálica (recepção/receção/[receção], com o som articulatório do segundo “e” no valor fonético de “e” mudo, ou vogal fechada), decorrente do efeito da leitura. E falhou por minudências, como a da rasura do acento na paroxítona de excepção “pára”, que converge para a preposição homónima, ou com o adjectivo “óptico”, transposto a “ótico”, confundível com o que é relativo ao ouvido. E falhou, porque se quis afirmar por decreto, desacoplando-se da génese linguística, de raiz maioritariamente latina. Falhou em toda a linha. A degradação e a vulgaridade da língua é um fenómeno que este AO90 veio acentuar. Ao contrário do que pensa LVP, a língua não é o que dela fazem os falantes, mas o que os falantes se permitem fazer, em consonância com uma série de regras, plasmadas no sistema gráfico – e, a errar, que o façamos dentro de uma ordem estabelecida. Caso contrário, o “idioma” das sms e de outros sistemas de escrita para comunicação rápida e espontânea passará a deter o estatuto de competência técnica e linguística. Só que isso seria contribuir para a mortal iliteracia a que agora ficámos um pouco mais expostos.
Procurarei, futuramente, comprovar como este AO90 criou já debilidades ao nível da leitura e como, com boa probabilidade, contribuirá para alterar a fonética do Português europeu, no plano da erosão vocálica. Perante a quantidade de imprecisões e, sejamos francos, de falhas, é tempo de confessar que nos enganámos e que o que é inadmissível deve poder ter um retorno: o do regresso à Cultura. A língua não é uma noite fechada, sobre a qual interesses de alguns linguistas se determinam, mas uma aurora e um começo, sempre um começo renovado em sua legítima defesa, enquanto organismo perseguido e francamente fustigado pela indigência de muitos usuários.
III - CULTURA-ÍPSILON: OPINIÃO
O Acordo Ortográfico ainda é uma caixinha de surpresas
Será que não foram cumpridas todas as regras deste jogo? Será que ainda teremos outras surpresas na caixinha até agora fechada a sete chaves?
NUNO PACHECO    PÚBLICO, 25 DE JULHO DE 2019
Há um antigo filme de animação da Disney, que talvez conheçam, onde um trio composto por Pato Donald, Zé Carioca (olá, Brasil!) e Panchito (viva, México!) viaja pela América Latina à descoberta dos usos, costumes e diferenças da metade sul do continente americano. Ao filme, o sétimo assinado por Walt Disney, foi dado o título The Three Caballeros, título este que no Brasil foi mudado para Você Já Foi à Bahia? e em Portugal para A Caixinha de Surpresas. O mais curioso é que o filme é datado de 1945, ano em que terminaria a II Guerra Mundial e em que Portugal e Brasil assinavam o seu primeiro Acordo Ortográfico, que por razões já muito faladas viria a ser denunciado pelo Brasil em 1955, dando origem à novela que conhecemos. Pois bem: como nas animações da Disney, também o Brasil (onde estás, Zé Carioca, que tanta falta fazes?) parece propenso a ser, nesta matéria, uma caixinha de surpresas. Primeiro foi o jovem Filipe Martins, assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência de Jair Bolsonaro, que a 6 de Abril publicou no Twitter um textinho a dizer que o Brasil devia livrar-se da tomada de três pinos, das urnas electrónicas e do acordo ortográfico. Depois, foi a vez do deputado Jaziel Pereira de Sousa, do Partido da República (centro-direita), com imediata adesão da deputada Paula Belmonte, do Partido Cidadania (antigo PPS e PCB), requerer a “realização de Audiência Pública a fim de discutir a revogação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.” Esteve marcada, mas foi depois adiada para 13 de Agosto.
Agora, no morno e simpático ambiente cabo-verdiano do Mindelo, onde se realizou em 19 de Julho a XXIV Reunião Ordinária do Conselho de Ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), este nosso pequeno mundo ouviu o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, tecer encómios ao Acordo Ortográfico, “reiterando a importância atribuída pelo Brasil” ao dito e afirmando esta coisa extraordinária: “Entendemos que alguns Estados-membros que ainda não ratificaram este importante ato unificador poderão apresentar novos questionamentos quanto à própria evolução natural do instrumento. A reabertura do Acordo nos deixaria, contudo, sem qualquer marco legal para a gestão do idioma português. Por isso defendemos, uma vez mais, a tese de que se faz necessária a ratificação do Acordo Ortográfico por todos os membros da CPLP, para depois cuidarmos da sua eventual retificação.” Onde é que já ouvimos isto, o “assinem que depois logo que vê”? A duas notáveis figuras da nossa ortofolia: Malaca Casteleiro, um dos inventores da coisa; e Augusto Santos Silva, lídimo defensor da causa e reconhecido kaiser do Acordo Ortográfico.
É como se fôssemos comprar um automóvel com riscos na tinta, vidros rachados e buracos no motor e nos dissessem, candidamente: “Compre, compre, que nós depois o arranjaremos.” Comprariam? Só se fossem parvos. Portanto, uma coisa que tem erros e incongruências está a ser impingida, aos que ainda inteligentemente não engoliram a patranha, com a promessa de que, se assinarem, se responderá (na langue de bois diplomática) aos “novos questionamentos quanto à própria evolução natural do instrumento.” Ou seja: ao disparate puro que se sabe.
Curiosamente, porém, no extenso (e bastante maçador) comunicado final da dita reunião, este fervor acordista só tem eco num parágrafo. Aquele em que, já no capítulo das congratulações, diz o seguinte: “[Os ministros presentes] Saudaram os esforços do Conselho Científico do IILP para a ativação do Conselho de Ortografia da Língua Portuguesa (COLP), cuja primeira reunião deverá ocorrer em outubro de 2019, na cidade do Porto.” Mais uma sigla? É verdade, mais uma. Já não bastava o inenarrável IILP, agora teremos um COLP. Que, pelo nome, há-de ter conselheiros, como é bom de ver. Um Conselho de Ortografia! E logo reunido no Porto, a cidade natal do nosso bem-amado kaiser do Acordo Ortográfico! Há-de ser um mimo, verão.
Esta é uma das surpresas que nos reservavam. A outra veio do Brasil, com uma posição que não se sabe se corresponde a um retrocesso no ímpeto revogador, ou se é apenas passageiro patoá diplomático para animar reuniões onde a moleza de espírito esvazia tudo o resto.
Mas a terceira surpresa é um pouco mais irritante. O bem-amado kaiser não teve tempo para responder (tão ocupado que andará) a um requerimento do coordenador e relator do Grupo de Trabalho para a Avaliação do Impacto da Aplicação do Acordo Ortográfico de 1990, onde este requeria acesso aos instrumentos de ratificação do AO depositados à guarda do MNE, o seu ministério. Em trinta dias (prazo legal para o governo responder a requerimentos deste tipo), a resposta foi o silêncio. Terá o bem-amado kaiser algo a esconder? É que se não tem, e se adora assim tanto a sua “dama” ortográfica, mostre-os. Ficávamos todos mais descansados por saber que, nesta tristíssima aventura, que nos conduziu a uma aberração sem nome, ao menos tinham sido cumpridas todas as regras do jogo. Ou será que não foram? Ou será que afinal, ainda teremos outras surpresas na caixinha até agora fechada a sete chaves?

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