O primeiro ministro já o dissera em
tempos, aquando da sua despedida da “Quadratura
do Círculo”, ainda como cidadão normal - e falou então com irreverente
desprezo, pois tinha sido chamado a prestar assistência ao país que conquistara,
mercê também da irreverência do seu desprezo pelos valores numéricos
eleitorais, que o catapultaram para o cargo que ocupa agora e vai continuar a
ocupar por mais quatro anos, desta vez sem precisar de truques eleitorais, o
que prova a muita habilidade no ganha-perde da sua competência. À pergunta,
pois, em 2015, de Pacheco Pereira, sobre se Costa aceitava o A090, A.
Costa respondeu que tal não era coisa que o preocupasse, e
acredito que não, depois dos pontapés na gramática, que, entre outros exemplos
que Alberto Gonçalves já se deu
ao cuidado de contabilizar, se manifestam a cada passo no haviam, haverão, hão, houveram, concordantes erróneos com um
complemento directo plural que não tem a ver com o transitivo impessoal, ó
senhores!, como diria a Catarina dos Batanetes, escandalizada com as perguntas sensaboronas
da professora. Assim, «não houveram (haviam,
hão, tinham havido, houvessem, houverem, hajam) acidentes…», para usar um
exemplo corriqueiro, ou continuarão a
haver, sendo gritantemente asnáticos, tais atropelos não embaraçam
minimamente A. Costa, pelo que Pacheco Pereira nem Lobo Xavier se deram ao
trabalho de corrigir o seu parecer a respeito do Acordo, preferindo tecer-lhe, astutamente, os
encómios da praxe. Pelos textos que seguem, críticos do dito Acordo, prevê-se que este vai mesmo avante,
com a desfaçatez cínica do “Ministro
das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo”, que, em Cabo Verde,
«teceu encómios ao Acordo Ortográfico, “reiterando a
importância atribuída pelo Brasil” ao dito Acordo,
incitando os PALOPS a aplicarem-no nos seus países. Parecem, pois, inúteis, os
protestos inteligentes dos que o desaprovam, entre os quais os articulistas ANTÓNIO JACINTO PASCOAL e NUNO PACHECO. Não,
não é de estranhar que o ACORDO vá avante, num país bovinamente passivo, embora
ateador de incêndios e espectacularmente expressivo na demais corrupção.
CULTURA ÍPSILON, OPINIÃO
I - O “acordo ortográfico” vive numa realidade
paralela, como a de Trump
É com o AO90, e não antes, que temos
mais “erros de ortografia” e uma maior “insegurança linguística”.
NUNO PACHECO PÚBLICO,
13 DE JUNHO DE 2019
A crónica “Socorro,
querem roubar-nos a língua e deixar-nos mudos!”, suscitada por um
artigo de Henrique Monteiro no Expresso sobre o “acordo ortográfico”,
motivou uma mensagem do actual presidente do Instituto de Lexicologia e
Lexicografia da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, Telmo
Verdelho, recebida por correio electrónico à qual particularmente respondi. No
entanto, como no final o autor dizia expressamente “Não tenho reservas sobre a
divulgação desta mensagem”, e porque ela contém alguns pontos que merecem
reflexão acrescida, aqui a divulgo na íntegra (mas sem divisão de parágrafos),
deixando para o fim os comentários julgados úteis.
“Estimei
muito ver-me citado no texto crónico da sua paixão ortográfica de 30 de maio.
Por amor da verdade, e pelo respeito devido aos seus leitores, deverá retificar
a informação sobre a percentagem da mudança (2%), na atualização
ortográfica. A única estatística fiável, que toma por base o córpus
do Português fundamental, dá conta duma percentagem de alterações que anda
próxima de 0,1%, vinte vezes menos. Trata-se duma mudança realmente residual e
insensível para a generalidade dos utilizadores da escrita, mas não inútil,
porque incide, com grande precisão, sobre a ocorrência de ‘consoantes mudas’,
particularmente motivadora de ‘erros de ortografia’ e de insegurança
linguística. A perda invocada da informação etimológica é praticamente
nula, porque as palavras mantêm, na sua configuração, uma bastante memória
do étimo latino. A linguística acumulou, nos últimos cem anos, muita
informação inovadora sobre a língua, que inclui obviamente a ortografia, e
desenvolveu uma reflexão crítica, com rigor de ciência, que não se compadece
com o empirismo das proclamações, aliás louváveis, do ‘amor da língua’. Os
linguistas não são ‘bonzos’, mas têm estudo. O seu
discurso metalinguístico e o dos seus amigos que desesperam contra o AO90, é
pouco esclarecido, geralmente muito
perentório, e muitas vezes com dados falsificados. O senhor e os
seus amigos, não querem saber porque é que não têm razão.” [sic]
Comecemos
pelas percentagens. A “única estatística fiável” (sic) dirá que a percentagem
da mudança provocada pelo AO90 não serão os já ridículos 2% mas bem menos,
uns 0,1%. Passando ao lado de esta curta missiva ter os tais 2% (quatro
palavras num total de 216: “maio”, “retificar”, “atualização” e
“perentório”), se a mudança incidia apenas em 0,1% (o que não é de todo
crível, pelos textos que todos os dias lemos) para quê o AO? 0,1%, a tal
mudança “residual e insensível”, valeria todo o esforço feito, nacional e
internacional, para celebrar um acordo ortográfico? Não valeria, de todo. O
argumento, em lugar de favorecer o acordo, vira-se contra ele. E o que hoje
conhecemos dos resultados de tal façanha é o que está à vista: desnorte
ortográfico, deformações na fala, erros a coberto do acordo ou já sem
preocupação de seguir acordo algum, uma absoluta miséria. E a isto chamam
“ciência”?
Mas
há uma justificação: a mudança seria “residual […] mas não inútil, porque
incide, com grande precisão, sobre a ocorrência de ‘consoantes mudas’,
particularmente motivadora de ‘erros de ortografia’ e de insegurança
linguística.” É curioso que os erros e a insegurança tenham
surgido sobretudo depois do AO90 e não antes, multiplicando-se a cada dia como
um vírus implacável. A recolha, utilíssima, com dados concretos (não com paixão
empírica), feita regularmente pelos Tradutores Contra o Acordo Ortográfico,
prova ao que chegámos. É com o AO90, e não antes, que temos mais “erros de
ortografia” e uma maior “insegurança linguística.” Mas não há problema, é tudo
em nome da “ciência”, não da “paixão”.
Por
falar em paixão: os “apaixonados” são impetuosos, pouco cerebrais,
parciais, “cegos” pelo objecto da sua devoção; logo, o contrário dos que
reflectem, dos que têm “estudo”, dos que se regem pelo “rigor da ciência”, da
“linguística” e da sua acumulada “informação inovadora”. Como é extraordinária
esta inversão das coisas! E como
ela ilude o muito que se argumentou, e escreveu, e afirmou, fundamentadamente
(e por linguistas, sim, também por linguistas!), contra os malefícios de um
acordo que acabou por ser aprovado como noivos que se arrastassem até ao altar,
casados por obrigação e sem sequer se conhecerem! A isto se dirá que é paixão? Não, não é; é fúria, pela
insistência num ardil medíocre que podemos comparar à arrogância de gente como
Trump: mesmo o que ele diz (e está gravado), nega tê-lo dito. E os que o seguem
acreditam, porque preferem a sua palavra à evidência dos factos. O AO90 vive na mesma realidade paralela.
A fraqueza argumentativa dos seus defensores é tal que nos vêem como os que “desesperam
contra o AO90”, quando na verdade o desespero é deles. Porque os seus
argumentos não resistem a debates públicos nem à prova dos factos. O AO90 há-de
cair da mesma forma que nasceu e permanece: sem futuro nem glória,
A
propósito: o lema do Instituto de Lexicologia e
Lexicografia da Língua Portuguesa é «Nisi utile est quod facimus
stulta est gloria.» (Se não for útil aquilo que fazemos, a glória é vã.) Deviam
meditar neste lema, porque a crueza das suas palavras não é de todo
“acordizável”.
II – CULTURA ÍPSILON - OPINIÃO
Acordo ortográfico? Revogar, claro!
Em vez de homogeneizar, o actual
acordo ortográfico estabeleceu uma série incontável de divergências lexicais.
Ou seja, falhou. Falhou em toda a linha.
ANTÓNIO JACINTO PASCOAL PÚBLICO, 16 de Julho de 2019, 15:03
Muito
recentemente, em defesa do actual acordo ortográfico (AO90), Lúcia Vaz Pedro (LVP) deu uma pálida ideia da sustentação às alterações
gráficas para a língua portuguesa. Para que conste, emaranhou-se numa teia de
contradições, optando por um efeito de vitimização que não evitou o
espectáculo menor de quem defende a todo o custo e sem qualquer brilho, uma das
piores opções tomadas ao nível da cultura portuguesa, na última década. O
debate ocorreu na Feira do Livro de Lisboa, no decorrer da apresentação da
obra Por Amor à Língua (editora Objectiva), de Manuel Matos Monteiro
(autor de um notável trabalho de vigilância da Portuguesa língua),
contando ainda com a participação do jornalista Nuno Pacheco, do PÚBLICO –
a moderação ficou a cargo de Ana Daniela Soares. A
vulnerabilidade deste acordo – que, na verdade, não o é ainda, uma
vez que a sociedade científica brasileira não o ratificou até hoje – decorre da
ideia simplista de que um sistema gráfico é a tradução de um sistema
linguístico oral, conducente a um esquema de reprodução económica e
simplificada da verbalização oral. Ora, basta pensar em como os ingleses
convivem com dois sistemas que, como se sabe, muito pouco têm de comum,
considerando a transcrição fonética.
Um
dos momentos protagonizados por LVP (para além do neologismo “analfabetização”
e de uma farta dose de auto-elogio) foi o de convocar uma menina da plateia e
pedir-lhe que escrevesse uma palavra: tratava-se do vocábulo “óptimo”,
que a menina grafou como entretanto lhe ensinaram – “ótimo"; de
seguida, encaminhou a menina, fazendo-a ler aquela palavra, com articulação do
“p”. E conseguiu. Isto significa apenas que a geração mais recente de alunos
não foi treinada para uma leitura pela qual se tomasse consciência da não
articulação de certas consoantes.
Lembremos
que o AO90 entrou em vigor no sistema de ensino Português no ano lectivo de
2011/12. Nada de estranhar, portanto. Impor-se-ia, num cúmulo de perversão,
pedir-se a um aluno mais velho que escrevesse a mesma palavra, de acordo com
aquilo que lhe foi ensinado e que estava em vigor antes de 2011. Provavelmente,
entraria em cena a consoante “p”.
Baseada
na falsa ideia de que uma escrita “fonológica” é mais natural, LVP quis criar o
maior obstáculo a que uma reversão do AO90 pudesse (e possa) ter lugar,
liquidando-a de vez. E como? Partindo do pressuposto de que uma reversão seria
um atentado e uma irresponsabilidade perante uma quantidade inaudita de alunos
que fazem parte do sistema vigente, de pais a quem não seria fácil justificar
alterações e de professores acostumados a ameaçar novidades. E, por isso, num processo argumentativo falacioso (ad
misericordiam), usou o exemplo da menina, que melhor desencoraja a
transgressão e reversão, e de forma mais célere impõe a cultura da acomodação:
a sociedade precisa (de) que os seus filhos se sintam seguros no mundo do
pragmatismo, mesmo quando esquecem as origens. Mas “a menina de LVP”, longe
de qualquer disputa linguística, e caso fosse acordado, escreveria “conosco”
se assim lho doutrinassem, ou “oje” e “umanidade”, fosse a regra
da não articulação oral levada ao seu limite e ensinada nas escolas. Os alunos
aprendem o que lhes ensinam – nada de novo, mais uma vez.
O
que este acordo pretendia, se pudesse ser acordo (pelo que presumo não ser
senão reforma), era, em especial, homogeneizar (uniformizar) a grafia do
Português de Portugal e do Brasil (o que se depreende da nota introdutória
ao Novo Acordo Ortográfico de João Malaca Casteleiro), sem desprimor
pelos outros países lusófonos e lusógrafos (passo o neologismo):
tarefa impossível e inglória. Nessa matéria, os falantes
brasileiros arriscam-se a ser mais oralmente etimológicos do que os falantes
portugueses (entenda-se, nascidos e versados na variante linguística de
Portugal), uma vez que poucas serão as consoantes ditas “mudas” que lhes
escapam – dirão, para mal do AO90, “recepção” ou “acepção”. Resultado: em vez
de homogeneizar, o AO90 estabeleceu uma série incontável de divergências
lexicais. Ou seja, falhou.
E
também falhou porque estabeleceu um sem número de arbitrariedades, nos casos das sequências consonânticas, em favor
das regras facultativas de pronúncia (os casos de
caracterização/caraterização ou sumptuoso/suntuoso); e falhou, porque preteriu
as pronúncias cultas, ainda que circunscritas, aos vulgarismos orais (ceptro/cetro);
e falhou, porque fez tábua rasa da etimologia nas palavras cognatas
(egiptólogo/ egípcio/egito); e falhou, porque lançou a aporia pelo
fenómeno da redução vocálica (recepção/receção/[receção], com o som
articulatório do segundo “e” no valor fonético de “e” mudo, ou vogal fechada),
decorrente do efeito da leitura. E falhou por minudências, como a da rasura do
acento na paroxítona de excepção “pára”, que converge para a preposição
homónima, ou com o adjectivo “óptico”, transposto a “ótico”, confundível com o
que é relativo ao ouvido. E falhou, porque se quis afirmar por decreto,
desacoplando-se da génese linguística, de raiz maioritariamente latina. Falhou
em toda a linha. A degradação e a vulgaridade da língua é um
fenómeno que este AO90 veio acentuar. Ao contrário do que pensa LVP, a
língua não é o que dela fazem os falantes, mas o que os falantes se permitem
fazer, em consonância com uma série de regras, plasmadas no sistema gráfico –
e, a errar, que o façamos dentro de uma ordem estabelecida. Caso contrário, o
“idioma” das sms e de outros sistemas de escrita para comunicação
rápida e espontânea passará a deter o estatuto de competência técnica e
linguística. Só que isso seria contribuir para a mortal iliteracia a que agora
ficámos um pouco mais expostos.
Procurarei,
futuramente, comprovar como este AO90 criou já debilidades ao nível da leitura
e como, com boa probabilidade, contribuirá para alterar a fonética do Português
europeu, no plano da erosão vocálica. Perante a quantidade de imprecisões e,
sejamos francos, de falhas, é tempo de confessar que nos enganámos e que o que
é inadmissível deve poder ter um retorno: o do regresso à Cultura. A língua não
é uma noite fechada, sobre a qual interesses de alguns linguistas se
determinam, mas uma aurora e um começo, sempre um começo renovado em sua
legítima defesa, enquanto organismo perseguido e francamente fustigado pela
indigência de muitos usuários.
III - CULTURA-ÍPSILON: OPINIÃO
O Acordo Ortográfico ainda é uma
caixinha de surpresas
Será que não foram cumpridas todas as
regras deste jogo? Será que ainda teremos outras surpresas na caixinha até
agora fechada a sete chaves?
Há
um antigo filme de animação da Disney, que talvez conheçam, onde um trio
composto por Pato Donald, Zé Carioca (olá, Brasil!) e Panchito (viva,
México!) viaja pela América Latina à descoberta dos usos, costumes e diferenças
da metade sul do continente americano. Ao filme, o sétimo assinado por Walt
Disney, foi dado o título The Three Caballeros, título este que no
Brasil foi mudado para Você Já Foi à Bahia? e em Portugal para A
Caixinha de Surpresas. O mais curioso é que o filme é datado de 1945,
ano em que terminaria a II Guerra Mundial e em que Portugal e Brasil
assinavam o seu primeiro Acordo Ortográfico, que por razões já muito faladas
viria a ser denunciado pelo Brasil em 1955, dando origem à novela que conhecemos. Pois
bem: como nas animações da Disney, também o Brasil (onde estás, Zé Carioca, que
tanta falta fazes?) parece propenso a ser, nesta matéria, uma caixinha de
surpresas. Primeiro foi o jovem Filipe Martins, assessor especial para
Assuntos Internacionais da Presidência de Jair Bolsonaro, que a 6 de
Abril publicou no Twitter um textinho a dizer que o Brasil devia livrar-se da
tomada de três pinos, das urnas electrónicas e do acordo ortográfico. Depois,
foi a vez do deputado Jaziel Pereira de Sousa, do Partido da República
(centro-direita), com imediata adesão da deputada Paula Belmonte, do Partido
Cidadania (antigo PPS e PCB), requerer a “realização de Audiência Pública a fim
de discutir a revogação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.” Esteve
marcada, mas foi depois adiada para 13 de Agosto.
Agora,
no morno e simpático ambiente cabo-verdiano do Mindelo, onde se realizou em 19
de Julho a XXIV Reunião Ordinária do Conselho de Ministros da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CPLP), este nosso pequeno mundo ouviu o Ministro
das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, tecer encómios ao Acordo Ortográfico, “reiterando a
importância atribuída pelo Brasil” ao dito e afirmando esta
coisa extraordinária: “Entendemos que alguns Estados-membros que ainda não
ratificaram este importante ato unificador poderão apresentar novos
questionamentos quanto à própria evolução natural do instrumento. A reabertura
do Acordo nos deixaria, contudo, sem qualquer marco legal para a gestão do
idioma português. Por isso defendemos, uma vez mais, a tese de que se faz
necessária a ratificação do Acordo Ortográfico por todos os membros da CPLP,
para depois cuidarmos da sua eventual retificação.” Onde é que já ouvimos isto, o “assinem que depois
logo que vê”? A duas notáveis figuras da nossa ortofolia: Malaca Casteleiro, um
dos inventores da coisa; e Augusto Santos Silva, lídimo defensor da causa e
reconhecido kaiser do Acordo Ortográfico.
É
como se fôssemos comprar um automóvel com riscos na tinta, vidros rachados e
buracos no motor e nos dissessem, candidamente: “Compre, compre, que nós depois
o arranjaremos.” Comprariam? Só se fossem parvos. Portanto, uma coisa que tem
erros e incongruências está a ser impingida, aos que ainda inteligentemente não
engoliram a patranha, com a promessa de que, se assinarem, se responderá
(na langue de bois diplomática) aos “novos questionamentos quanto à
própria evolução natural do instrumento.” Ou seja: ao disparate puro que se
sabe.
Curiosamente,
porém, no extenso (e bastante maçador) comunicado final da dita reunião, este
fervor acordista só tem eco num parágrafo. Aquele em que, já no capítulo das
congratulações, diz o seguinte: “[Os ministros presentes] Saudaram os
esforços do Conselho Científico do IILP para a ativação do Conselho de
Ortografia da Língua Portuguesa (COLP), cuja primeira reunião deverá ocorrer em
outubro de 2019, na cidade do Porto.” Mais uma sigla? É verdade, mais uma. Já
não bastava o inenarrável IILP, agora teremos um COLP. Que, pelo nome, há-de
ter conselheiros, como é bom de ver. Um Conselho de Ortografia! E logo reunido
no Porto, a cidade natal do nosso bem-amado kaiser do Acordo
Ortográfico! Há-de ser um mimo, verão.
Esta
é uma das surpresas que nos reservavam. A outra veio do Brasil, com uma posição
que não se sabe se corresponde a um retrocesso no ímpeto revogador, ou se é
apenas passageiro patoá diplomático para animar reuniões onde a moleza de
espírito esvazia tudo o resto.
Mas
a terceira surpresa é um pouco mais irritante. O bem-amado kaiser não
teve tempo para responder (tão ocupado que andará) a um requerimento do
coordenador e relator do Grupo de Trabalho para a Avaliação do Impacto da
Aplicação do Acordo Ortográfico de 1990, onde este requeria acesso aos
instrumentos de ratificação do AO depositados à guarda do MNE, o seu
ministério. Em trinta dias (prazo legal para o governo responder a
requerimentos deste tipo), a resposta foi o silêncio. Terá o
bem-amado kaiser algo a esconder? É que se não tem, e se adora assim tanto
a sua “dama” ortográfica, mostre-os. Ficávamos todos mais descansados por saber
que, nesta tristíssima aventura, que nos conduziu a uma aberração sem nome, ao
menos tinham sido cumpridas todas as regras do jogo. Ou será que não foram? Ou
será que afinal, ainda teremos outras surpresas na caixinha até agora fechada a
sete chaves?
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