sábado, 20 de julho de 2019

“Cueillez, cueillez votre jeunesse”


Não deixa de ser tosco e grosseiro o anúncio das carnes encimado pelas tais fotos femininas. Dantes a beleza feminina era associada a coisas de pureza, passarinhos, crianças, flores… Ronsard bem que apelou para os prazeres da vida ligados à ideia de efémero, na sua “Ode à Cassandre”, mas tudo com respeito e suavidade. É certo que às vezes a Mulher se impunha como símbolo de perdição, já entre os clássicos, como era o caso das sereias malfeitoras e até da pérfida Circe. Depois veio o cristianismo e a figura que sobressaiu foi a da Virgem Imaculada que mais traduziu a ideia de sofrimento e submissão por conveniência do Homem religioso. “Le Deuxième Sexe” e similares deitaram abaixo o pedestal, converteram sexo em género, defendem a igualdade de direitos e liberdades mas não respeitam a Mulher, ao que se vê nos anúncios das carnes ou nas anedotas. Nos anúncios das lingeries ou dos perfumes, é certo, a sedução não direi de género mas da espécie, volta a impor-se em força. Até mesmo as nossas televisões se permitem fabricar modelos de apresentadoras, construindo ninhos confortáveis, com casa, comida e roupa lavada, a figurar no dia a dia da nossa saloiice televisiva, com apresentadoras interessadas, por ordem superior, pelo bem receber convencional aliado a uma ficção de participação nas questões sociais e outras de uma sociedade pretensamente “aberta”. Uma anedota, sintomática de saloiice nacional, sem quebra possível. Apesar dos escritos pertinentes de Alberto Gonçalves e outros articulistas mais ou menos altissonantes da nossa media. Aparentemente o MDM vai salvar o mundo feminino, mas parece que se fica pelas acusações aos anúncios da carne encimados por estúpidas fotos grosseiras, de talhantes espertos inteirados da onda promocional visual de outros reclames. Será mais fácil, para a visão limitada do MDM, condenar os talhantes da sua pobre moral, do que referir os casos mais complicados do resto do universo, como bem aponta Alberto Gonçalves, entre os quais os crimes praticados por esse mundo árabe, de desrespeito machista e práticas monstruosas próprias do totalitarismo masculino. Os talhantes proporcionar-lhes-ão, pelo menos, vitórias mais saborosas e mais gritantes e vistosas.
O certo é que esses MDMs e C.ia vão penetrando, penetrando, nesta nossa saloiice inveterada e invertebrada, da que faz barulho e não estuda mais nada.
Fica-nos sempre o prazer dos escritos de Alberto Gonçalves, que neles se baseia, com a graça “construtiva” (assim o desejaríamos) de sempre.
RÁDIO OBSERVADOR 
Liberdade p/assar /premium
OBSERVADOR, 20/7/2019
O descaramento do MDM e associações similares é infinito. Uma coisa, já de si irritante, é a sensibilidade contemporânea a matérias tão insignificantes que não ofenderiam o antigo arcebispo de Braga.
Um talho de Vila Nova de Gaia colou na montra três fotografias idênticas de uma moça na praia. Em cada uma acrescentou o nome de uma mercadoria disponível e o valor do respectivo quilograma: “Vitela branca p/assar” (a 9,50 €); “Coxa de frango” (1,40 €); e “Lombo p/assar, costeletas e tiras entrecosto” (3,98 €). Quando passasse pelo estabelecimento, uma pessoa normal teria uma de várias reacções. Podia não reparar em nada. Podia avaliar momentaneamente os atributos da moça. Podia sorrir da parvoíce em questão. E podia adquirir uma selecção das carnes anunciadas, motivado pelos preços módicos. Em qualquer dos casos, num mundo de pessoas normais, a vida continuaria sem sobressaltos e o talho continuaria com as fotografias.
Sucede que o mundo que temos está repleto de anormais. Alguns, ou algumas, integram um Movimento Democrático de Mulheres (MDM), agremiação que se apressou a fazer queixinhas a uma Comissão para a Igualdade de Género, sob o “argumento” (?) de que “o corpo da mulher” não pode servir, “subliminar ou explicitamente, para vender todo o tipo de produtos, num mercado que tem interesse em vender e que sabe que assim assegura melhor esse objectivo”. Não comento o português de sarjeta ou o ódio ao terrível “mercado”, exclusivamente interessado em “vender” (ai, Jesus!). Apenas me ocorre que falar do “corpo da mulher” é vago. De qual mulher? Da mulher do anúncio, que pode utilizar o seu corpo como entender? Ou das mulheres do MDM, cujas figuras só conseguem ajudar a despachar, “subliminar ou explicitamente”, um único produto, leia-se o ressabiamento em que o nosso tempo é fértil?
Não pensem que estou a presumir o físico das sócias do MDM a partir de estereótipos. Em nome do rigor científico, visitei o site daquilo. E os estereótipos batem certíssimo. O pior é que os estereótipos exteriores não são o pior. Além de também baterem certo, os interiores batem recordes.
O site do MDM abre com uma saudação a “Abril” (estamos em Julho, pelo amor de Deus), que inclui cravos “encarnados” e tudo. A partir daí, não há surpresas. Há, em compensação, abundância de clichés, vazios que metem dó: “Com a força das mulheres, construir o futuro”, “Um movimento que traz no ventre a conquista da emancipação”, “O grande desafio é olhar o presente com a experiência do passado”, etc. Há relatos de “manifs” em que o MDM garante ter lutado e gritado imenso, contra “as violências” [sic] e dramas do género. E há, para os ingénuos que imaginam que a luta e os gritos do MDM se esgotam para cá de Badajoz, uma secção internacional.
Os ingénuos em estado terminal imaginariam que tamanha dedicação à causa feminina implicaria inúmeras referências à opressão das senhoras nas sociedades muçulmanas. Pois bem: nem uma. O islão limita-se a surgir sob a forma da Palestina, frequentemente e obviamente para condenar Israel, por incrível coincidência o derradeiro cantinho do Médio Oriente onde a mulher é considerada um ser humano. No resto, temos declarações de solidariedade para com as mulheres da Venezuela e de Cuba, ou seja, com a percentagem restrita de mulheres que nessas barbáries tropicais ajudam as tiranias locais a domesticar pela miséria a vasta maioria de mulheres e homens que sobram. Temos as inevitáveis críticas ao sr. Trump (pelas “agressões” no “plano militar e económico” e pelos “duros ataques aos direitos humanos no seu próprio país”). E temos, de brinde, a participação do MDM numa conferência – pela “paz” ou assim – na Coreia do Norte. Repito: na Coreia do Norte.
À primeira vista, o Movimento Democrático de Mulheres parece empenhado em promover a submissão das ditas a regimes antidemocráticos, com toda a felicidade daí decorrente. A segunda vista confirma a primeira e acrescenta que o MDM é um “franchise” do PCP. Nunca falha: 99% das associações similares são “franchises” do PCP ou do BE. Mas isto são pormenores. O essencial é notar que um bando devotado à propaganda de sistemas políticos assassinos, e à colaboração no sofrimento de largos milhões de criaturas, possui a espécie de legitimidade, e a cara de pau, para acusar – com sucesso – um talhante de “desrespeito” a propósito de um biquíni. O descaramento não seria tanto se o KKK apelasse à harmonia racial.
O descaramento do MDM e associações similares é infinito. Uma coisa, já de si irritante, é a sensibilidade contemporânea a matérias tão insignificantes que não ofenderiam o antigo arcebispo de Braga. Outra coisa é os ofendidos serem avençados ou simpatizantes de ideologias criminosas. Do mero queixinhas ao queixinhas que empilha esqueletos quase literais no armário vai, apesar de tudo, uma distância notável: a distância que separa a vocação para a mariquice fortuita da vocação para a pulhice instrumental. O cinismo do MDM, que está longe de se esgotar no MDM, é do domínio do absurdo. E não é do domínio da psiquiatria porque a impunidade com que essa gente passeia os respectivos delírios implicaria um manicómio do tamanho de Portugal.
COMENTÁRIOS
Paulo Silva: O PCP, a política da terra queimada, e a táctica do emplastro. No passado o PC estabeleceu a franchaise ecologista PEV, e secou a concorrência. Agora tenta com o feminismo radical do ‘marxismo cultural’, mas tem concorrência...
Elisabete Carvalho: Quosque tandem, abutere, Catilina, patientia nostra?"
Elisabete Carvalho: "De repente, não mais que de repente...", surgiu-me uma "máxima" que costumo usar cada vez que tomo conhecimento destas "atarefadas pérolas activistas" que por aí se reproduzem, e que são altamente (sentido literal) "divulgadas" pelos oficiosos e "empenhados" meios de comunicação social, ou lá o que é...
E aqui vai: "A abertura de espírito não é uma fractura do crânio." Mas, às vezes, parece...

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