sábado, 6 de julho de 2019

Quem me dera perceber



O desencontro de opiniões. Realismo, romantismo, idealismo… O medo do fim… Gostava de crer em TS, e no optimismo que parece querer transmitir a respeito da nova Europa. Mas a maioria dos comentadores aponta pés de barro…
ANÁLISE - Merkel resgatada, Orbán derrotado
Merkel deixou cair, em parte, Manfred Weber a troco de Von der Leyen. Mas, mais uma vez, a chanceler pode mostrar quem (ainda) detém a última palavra no PPE e na CDU/CSU, provando que a notícia da sua “morte politica” era manifestamente exagerada.
TERESA DE SOUSA  PÚBLICO, 2 de Julho de 2019
1 - A solução que ontem à tarde merecia o consenso do Conselho Europeu tinha pelo menos a enorme vantagem de devolver a Angela Merkel o seu papel de liderança no PPE, depois da rebelião do grupo que reúne o centro-direita europeu, deixando o espaço aberto a todas as jogadas do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, aos comandos do chamado Grupo de Visegrado e em consonância com a Itália.
Ontem, com a ajuda de Macron e a relativamente fácil conivência de alguns governos socialistas (nomeadamente, o português), a chanceler regressou aos comandos, forjando um entendimento que, no essencial, pode dizer-se que tem como eixo o velho equilíbrio entre Berlim e Paris: se a ministra da Defesa alemã, Ursula von der Leyen, velha aliada da chanceler, moderada e europeísta, pode ficar com a presidência da Comissão, Emmanuel Macron tem praticamente garantida a não menos importante liderança do BCE, com Christine Lagarde. Para Lisboa, uma e outra têm um perfil aceitável para desempenhar bem os respectivos cargos e António Costa vê com alívio e satisfação o regresso da chanceler ao comando dos “populares”.
2 - Pode dizer-se que os socialistas terão ficado a perder, ao abdicarem de Franz Timmermans, o seu candidato à Comissão –, uma hipótese que deixaram em cima da mesa até estarem perante um “Plano B”, que não sendo ideal poderia vingar. O socialista holandês e actual primeiro vice-presidente da Comissão, chegou a ser a chave de um acordo entre liberais, socialistas e Angela Merkel, contra o qual se rebelou o PPE por muitas razões, entre as quais o facto de Timmermans ser quem tem a responsabilidade pela aplicação do Artigo 7.º do Tratado que penaliza quem não cumprir os princípios fundamentais da União, entre os quais o Estado de direito.
Timmermans representa um corte com o domínio do PPE sobre a Comissão e permitia uma agenda mais ambiciosa. Leyen representa mais do mesmo. Sendo o segundo maior grupo do PE, os socialistas ficaram com o alto representante para a política externa, que será ocupado pelo espanhol Josep Borrel (ministro dos Negócios Estrangeiros de Sánchez), mas também com os primeiros dois anos e meio da presidência do Parlamento Europeu, atribuída, provavelmente, ao ex-primeiro-ministro búlgaro Sergei Stanishev.
Claro que esta solução caiu como uma bomba em Estrasburgo. Merkel deixou cair, em parte, Manfred Weber a troco de Von der Leyen. Mas, mais uma vez, a chanceler pode mostrar quem (ainda) detém a última palavra no PPE e na CDU/CSU, provando que a notícia da sua “morte politica” era manifestamente exagerada. O problema surgiria, pelo contrário, na “grande coligação” que governa a Alemanha, entre a CDU e o SPD, que não quer ver uma ministra da CDU, que consideram demasiado conservadora, à frente da Comissão e vêem a derrota de Timmermans como inaceitável.
A “grande coligação” não está a atravessar os seus melhores dias – os dois partidos foram penalizados nas europeias de Maio, sobretudo o SPD, a que se soma ao próprio ocaso de Merkel já em contagem decrescente para o fim. A Alemanha entrou numa fase de paralisia sobre o seu futuro que necessariamente se reflecte na própria Europa.
3. O outro lado importante desta solução é não beneficiar o infractor: é um recado com todas as letras para o Grupo de Visegrado, liderado por Viktor Orbán (que, embora suspenso do PPE, manifestou aqui a sua ambição e a sua crescente influência no grupo), lembrando a Varsóvia e a Budapeste que o respeito pelos valores europeus continua a ser um requisito fundamental.
Acabou por ser Macron a facilitar a vida à chanceler, abrindo as portas para von der Leyne e para a arrumação final dos cargos, o que também tem a vantagem desanuviar o ambiente carregado que tem dominado a relação entre o Presidente francês e a chanceler alemã. Isso acabou por permitir uma solução que conteve uma perigosa deriva do PPE para a direita e chegou a dar a alguns governos da Europa Central a ideia de que o “crime” contra os valores europeus poderia compensar.
Macron também sai da cimeira reforçado nos seus argumentos de que é preciso avançar quanto antes para uma Europa de geometria variável, que pode passar pelo reforço da cooperação entre os países que hoje já integram a zona euro. Macron não desiste da sua agenda do “renascimento europeu”. A Europa tem desafios vitais pela frente. Esta cimeira não ajudou a resolver nenhum deles.
COMENTÁRIOS
RustyTachikoma, Lisboa 03.07.2019: Apesar de ser uma derrota, infelizmente não é uma derrota completa. Órban e os seus parceiros conseguiram formar uma minoria de bloqueio que fez com o que o processo spitzenkandidat que visava tornar este o processo um pouco mais transparente (até houve debates entre os vários candidatos antes das eleições europeias) tivesse de ser posto de lado. É um claro aviso que apesar de os extremistas terem sido travados no Parlamento Europeu, os governos nacionais chefiados por estes podem causar sérios danos à UE através do Conselho Europeu. No fim de tudo a solução encontrada é um compromisso que visa evitar novos bloqueios mas que não agrada completamente a ninguém. Responder
Manuel Caetano, Faro 03.07.2019: Estas disputas pelas lideranças nominais dos órgãos de governança são o normal numa democracia (mesmo que inacabada e imperfeita) como a da UE - tudo normal. Os verdadeiros problemas estão na economia que não consegue sair da estagnação (o motor económico da UE - a Alemanha - está à beira da recessão, bem como outros países de primeira linha); Estão no abandono das políticas promotoras da coesão económica e social; Estão nas forças centrífugas impulsionadas pela resistência dos estados-nação que geram a fragmentação. É nestas frentes que se joga o sucesso ou o insucesso da UE. Responder
Tiago Vasconcelos, Amsterdam03.07.2019: Caetano, a economia dos EUA tem registado taxas de crescimento interessantes. Acha que tal se deve à sua aposta em "políticas promotoras da coesão económica e social"?
Manuel Caetano, Faro 03.07.2019: Vasconcelos: a coesão económica e social do "espaço europeu" não é um dos tais valores fundacionais do Projecto Europeu? é! Então? Nos valores fundacionais da "américa" a coesão económica e social da comunidade nacional assume um valor estratégico? Não! Então?
Tiago Vasconcelos, Amsterdam03.07.2019: O Caetano estava a imputar o fraco desempenho económico à falta de "políticas promotoras da coesão económica e social". Pois eu mostrei-lhe o contra-exemplo dos EUA, o que deita por terra o seu argumento.
Manuel Caetano, Faro 03.07.2019: O Vasconcelos de certeza não leu com atenção o que eu escrevi, se voltar a ler novamente, desta vez com atenção, vai ver que eu não escrevi aquilo que o ilustre diz eu ter escrito (até tive o cuidado de separar as frases com ponto e vírgula seguidas de letra maiúscula). Se depois disso ainda tiver alguma dúvida estou ao seu dispor.
manuelserra72, 03.07.2019: Talvez a Teresa tenha informações que nós não temos... O Orbán sai perdedor porque com a saída do Juncker são menos 10000 litros por mês de Palinka que são exportados pela Hungria à pala da UE. Um rombo de 2% na balança comercial da Hungria. Responder
Fernando Carvalho, Alverca 03.07.2019: A imprensa internacional escreve exactamente o contrário. Orbán está entre os vencedores... Timmermans e Costa que o digam.
viana, Porto 03.07.2019: A Teresa de Sousa anda a escrever artigos cada vez mais inacreditáveis. Parece cansada, entrando em delírios cada vez mais incompreensíveis. O que se passou foi uma derrota em toda a linha de Merkel, completamente desautorizada pelo Grupo de Visegrado. Que conseguiu afastar quem lhes fez frente, Timmermans, e avançar com uma "amiga" de Merkel, que portanto ela teria dificuldade em recusar, que é alguém sem qualquer pensamento próprio e que é conhecida por ter contemporizado com a presença da extrema-direita nas forças armadas alemãs durante o seu mandato como ministra da defesa. Um acordo que só foi possível porque Macron traiu os socialistas, de modo a conseguir o seu objectivo central: ter um francês (neste caso francesa) a controlar o BCE. Orbán e Macron. A UE cada vez mais podre... Responder
Juvenal Barbosa, O olho do ciclone 03.07.2019: Não vejo uma derrota de Orban que fez tudo para bloquear Timmermanns e conseguiu.Responder
4a República, República Bananeira da Tugalândia (ex-Portugal) 03.07.2019: Nem imaginam como estas coisas da UE me excitam! Estou em pulgas! Nooot! Mais depressa me interessaria pelos debates no parlamento da Mongólia que por esta luta de tachos e poder, numa tentativa de criar um país de ficção, a Europa, e que acabará com mais uma guerra sangrenta. Esperem especialmente por determinados grupos culturais passarem a ter o poder e coesão que tiveram no Kosovo, Bósnia, etc. para começarem a fazer exigências. Alguém me serve uma Jugoslávia, se faz favor?
Darktin Anti Comunistas da Extrema-Direita03.07.2019 09:43: O que aconteceu na Jugoslávia, deve-se muito a cultura da ex-URSS. Genocídios e assassinatos em massa de irmãos, vizinhos e amigos, não se aprendem em poucos anos. A tua forma simplificada de ver o que se passou nesta guerra, verifica o quanto é idóneo (Noooot!) o teu comentário
P Galvao, Lisboa 03.07.2019: Ao contrário do que seria expectável, a jornalista não encontra nada de estranho neste processo. Não lhe causa nenhum incómodo o facto de um dos candidatos formais ter sido afastado pelo Grupo de Visigrado, nem tão-pouco questiona o papel do PPE no meio de tudo isto. Mas os problemas não se resumem ao PPE: os socialistas e liberais estão empenhados em contrariar todas as promessas feitas durante os meses que anteciparam as eleições europeias, e da tentativa de aproximar as candidaturas ao eleitores não sobrou rigorosamente nada.
Tiago Vasconcelos, Amsterdam 03.07.2019: Teresa de Sousa não estava nos seus dias mais lúcidos quando escreveu esta crónica...


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