O desencontro de opiniões. Realismo,
romantismo, idealismo… O medo do fim… Gostava de crer em TS, e no optimismo que parece querer
transmitir a respeito da nova Europa. Mas a maioria dos comentadores aponta pés
de barro…
ANÁLISE - Merkel resgatada, Orbán derrotado
Merkel deixou cair, em parte, Manfred
Weber a troco de Von der Leyen. Mas, mais uma vez, a chanceler pode mostrar
quem (ainda) detém a última palavra no PPE e na CDU/CSU, provando que a notícia
da sua “morte politica” era manifestamente exagerada.
TERESA DE SOUSA PÚBLICO,
2 de Julho de 2019
1 - A solução que ontem à tarde merecia
o consenso do Conselho Europeu tinha pelo menos a enorme vantagem de devolver a
Angela Merkel o seu papel de liderança no PPE, depois da rebelião do grupo que
reúne o centro-direita europeu, deixando o espaço aberto a todas as jogadas do
primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, aos comandos do chamado Grupo de
Visegrado e em consonância com a Itália.
Ontem, com a ajuda de Macron e a relativamente
fácil conivência de alguns governos socialistas (nomeadamente, o português), a
chanceler regressou aos comandos, forjando um entendimento que, no essencial,
pode dizer-se que tem como eixo o velho equilíbrio entre Berlim e Paris: se a
ministra da Defesa alemã, Ursula von der Leyen, velha aliada da chanceler,
moderada e europeísta, pode ficar com a presidência da Comissão, Emmanuel
Macron tem praticamente garantida a não menos importante liderança do BCE, com
Christine Lagarde. Para Lisboa, uma e outra têm um perfil aceitável para
desempenhar bem os respectivos cargos e António Costa vê com alívio e
satisfação o regresso da chanceler ao comando dos “populares”.
2 - Pode dizer-se que os
socialistas terão ficado a perder, ao abdicarem de Franz Timmermans, o seu
candidato à Comissão –, uma hipótese que deixaram em cima da mesa até estarem
perante um “Plano B”, que não sendo ideal poderia vingar. O socialista holandês
e actual primeiro vice-presidente da Comissão, chegou a ser a chave de um
acordo entre liberais, socialistas e Angela Merkel, contra o qual se rebelou o
PPE por muitas razões, entre as quais o facto de Timmermans ser quem tem a
responsabilidade pela aplicação do Artigo 7.º do Tratado que penaliza quem não
cumprir os princípios fundamentais da União, entre os quais o Estado de direito.
Timmermans representa um corte com o domínio do PPE
sobre a Comissão e permitia uma agenda mais ambiciosa. Leyen representa mais do
mesmo. Sendo o segundo maior grupo do PE, os socialistas ficaram com o alto
representante para a política externa, que será ocupado pelo espanhol Josep
Borrel (ministro dos Negócios Estrangeiros de Sánchez), mas também com os
primeiros dois anos e meio da presidência do Parlamento Europeu, atribuída,
provavelmente, ao ex-primeiro-ministro búlgaro Sergei Stanishev.
Claro que esta solução caiu como uma bomba em
Estrasburgo. Merkel deixou cair, em parte, Manfred Weber a troco de Von der
Leyen. Mas, mais uma vez, a chanceler pode mostrar quem (ainda) detém a
última palavra no PPE e na CDU/CSU, provando que a notícia da sua “morte
politica” era manifestamente exagerada. O problema surgiria, pelo
contrário, na “grande coligação” que governa a Alemanha, entre a CDU e o SPD,
que não quer ver uma ministra da CDU, que consideram demasiado conservadora, à
frente da Comissão e vêem a derrota de Timmermans como inaceitável.
A “grande coligação” não está a atravessar os seus
melhores dias – os dois partidos foram
penalizados nas europeias de Maio, sobretudo o SPD, a que se soma ao próprio
ocaso de Merkel já em contagem decrescente para o fim. A Alemanha entrou numa
fase de paralisia sobre o seu futuro que necessariamente se reflecte na própria
Europa.
3. O outro lado importante
desta solução é não beneficiar o infractor: é um recado com todas as letras
para o Grupo de Visegrado, liderado por Viktor Orbán (que, embora suspenso do
PPE, manifestou aqui a sua ambição e a sua crescente influência no grupo),
lembrando a Varsóvia e a Budapeste que o respeito pelos valores europeus
continua a ser um requisito fundamental.
Acabou por ser Macron a facilitar a vida à
chanceler, abrindo as portas para von der Leyne e para a arrumação final dos
cargos, o que também tem a vantagem desanuviar o ambiente carregado que tem
dominado a relação entre o Presidente francês e a chanceler alemã. Isso
acabou por permitir uma solução que conteve uma perigosa deriva do PPE para a
direita e chegou a dar a alguns governos da Europa Central a ideia de que o
“crime” contra os valores europeus poderia compensar.
Macron também sai da cimeira
reforçado nos seus argumentos de que é preciso avançar quanto antes para uma
Europa de geometria variável, que pode passar pelo reforço da cooperação entre
os países que hoje já integram a zona euro. Macron não desiste da sua agenda do
“renascimento europeu”. A Europa tem desafios vitais pela frente. Esta cimeira
não ajudou a resolver nenhum deles.
COMENTÁRIOS
RustyTachikoma, Lisboa 03.07.2019: Apesar de ser uma derrota, infelizmente não é uma derrota completa. Órban e
os seus parceiros conseguiram formar uma minoria de bloqueio que fez com o que
o processo spitzenkandidat que visava tornar este o processo um pouco mais
transparente (até houve debates entre os vários candidatos antes das eleições
europeias) tivesse de ser posto de lado. É um claro aviso que apesar de os
extremistas terem sido travados no Parlamento Europeu, os governos nacionais
chefiados por estes podem causar sérios danos à UE através do Conselho Europeu.
No fim de tudo a solução encontrada é um compromisso que visa evitar novos
bloqueios mas que não agrada completamente a ninguém. Responder
Manuel Caetano, Faro 03.07.2019: Estas disputas pelas lideranças nominais dos órgãos de governança são o
normal numa democracia (mesmo que inacabada e imperfeita) como a da UE - tudo
normal. Os verdadeiros problemas estão na economia que não consegue sair da
estagnação (o motor económico da UE - a Alemanha - está à beira da recessão,
bem como outros países de primeira linha); Estão no abandono das políticas
promotoras da coesão económica e social; Estão nas forças centrífugas
impulsionadas pela resistência dos estados-nação que geram a fragmentação. É
nestas frentes que se joga o sucesso ou o insucesso da UE. Responder
Tiago Vasconcelos, Amsterdam03.07.2019: Caetano, a economia dos EUA tem registado taxas de crescimento
interessantes. Acha que tal se deve à sua aposta em "políticas promotoras
da coesão económica e social"?
Manuel Caetano, Faro 03.07.2019: Vasconcelos: a coesão económica e social do "espaço europeu" não
é um dos tais valores fundacionais do Projecto Europeu? é! Então? Nos valores fundacionais
da "américa" a coesão económica e social da comunidade nacional
assume um valor estratégico? Não! Então?
Tiago Vasconcelos, Amsterdam03.07.2019: O Caetano estava a imputar o fraco desempenho económico à falta de
"políticas promotoras da coesão económica e social". Pois eu
mostrei-lhe o contra-exemplo dos EUA, o que deita por terra o seu argumento.
Manuel Caetano, Faro 03.07.2019: O Vasconcelos de certeza não leu com atenção o que eu escrevi, se voltar a
ler novamente, desta vez com atenção, vai ver que eu não escrevi aquilo que o
ilustre diz eu ter escrito (até tive o cuidado de separar as frases com ponto e
vírgula seguidas de letra maiúscula). Se depois disso ainda tiver alguma dúvida
estou ao seu dispor.
manuelserra72, 03.07.2019: Talvez a Teresa tenha informações que nós não temos... O Orbán sai perdedor
porque com a saída do Juncker são menos 10000 litros por mês de Palinka que são
exportados pela Hungria à pala da UE. Um rombo de 2% na balança comercial da
Hungria. Responder
Fernando Carvalho, Alverca 03.07.2019: A imprensa internacional escreve exactamente o contrário. Orbán está entre
os vencedores... Timmermans e Costa que o digam.
viana, Porto 03.07.2019: A Teresa de Sousa anda a escrever artigos cada vez mais inacreditáveis.
Parece cansada, entrando em delírios cada vez mais incompreensíveis. O que
se passou foi uma derrota em toda a linha de Merkel, completamente
desautorizada pelo Grupo de Visegrado. Que conseguiu afastar quem lhes fez
frente, Timmermans, e avançar com uma "amiga" de Merkel, que portanto
ela teria dificuldade em recusar, que é alguém sem qualquer pensamento próprio
e que é conhecida por ter contemporizado com a presença da extrema-direita nas
forças armadas alemãs durante o seu mandato como ministra da defesa. Um acordo
que só foi possível porque Macron traiu os socialistas, de modo a conseguir o
seu objectivo central: ter um francês (neste caso francesa) a controlar o BCE.
Orbán e Macron. A UE cada vez mais podre... Responder
Juvenal Barbosa, O olho do
ciclone 03.07.2019: Não vejo uma derrota de Orban
que fez tudo para bloquear Timmermanns e conseguiu.Responder
4a República, República Bananeira da
Tugalândia (ex-Portugal) 03.07.2019: Nem
imaginam como estas coisas da UE me excitam! Estou em pulgas! Nooot! Mais
depressa me interessaria pelos debates no parlamento da Mongólia que por esta
luta de tachos e poder, numa tentativa de criar um país de ficção, a Europa, e
que acabará com mais uma guerra sangrenta. Esperem especialmente por
determinados grupos culturais passarem a ter o poder e coesão que tiveram no
Kosovo, Bósnia, etc. para começarem a fazer exigências. Alguém me serve uma
Jugoslávia, se faz favor?
Darktin Anti Comunistas da
Extrema-Direita03.07.2019 09:43: O que
aconteceu na Jugoslávia, deve-se muito a cultura da ex-URSS. Genocídios e
assassinatos em massa de irmãos, vizinhos e amigos, não se aprendem em poucos
anos. A tua forma simplificada de ver o que se passou nesta guerra, verifica o
quanto é idóneo (Noooot!) o teu comentário
P Galvao, Lisboa 03.07.2019: Ao contrário do que seria expectável, a jornalista não encontra nada de
estranho neste processo. Não lhe causa nenhum incómodo o facto de um dos
candidatos formais ter sido afastado pelo Grupo de Visigrado, nem tão-pouco
questiona o papel do PPE no meio de tudo isto. Mas os problemas não se resumem
ao PPE: os socialistas e liberais estão empenhados em contrariar todas as
promessas feitas durante os meses que anteciparam as eleições europeias, e da
tentativa de aproximar as candidaturas ao eleitores não sobrou rigorosamente
nada.
Tiago Vasconcelos, Amsterdam 03.07.2019: Teresa de Sousa não estava nos seus dias mais lúcidos quando escreveu esta
crónica...
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