Uma análise excelente de Rui Ramos sobre um problema que a hipocrisia da
misericórdia provocante das camadas orientadoras da governação actual se
esforça por trazer à baila, o fervor do ataque aos “fascistas” esmorecido para
já, entre as novas gerações de cultura mais reduzida, os valores mais altos
contra os “racistas” se erguendo, até ver. Os comentadores explicam melhor. Eu
fico-me na admiração por Rui Ramos, barão dos
assinalados, na intrepidez e racionalidade dos seus conceitos e clareza dos
seus argumentos, além dos princípios éticos, de defesa de uma pessoa que
respeita, contra as perfídias oportunistas dos que actualmente arrastam o povo
de sempre.
A
máquina de inventar racistas /premium
OBSERVADOR, 9/7/2019
O pior que nos poderia acontecer era
deixarmos de ser portugueses, para passarmos a ser “brancos”, “negros”, ou
“ciganos”. Não contem comigo para macaquear o pior que tem a sociedade
americana.
Fui
aluno de Maria de Fátima Bonifácio, admiro a sua obra como historiadora, e, tão ou mais
importante do que isso, sou seu amigo. Mas não foi só por essas razões, que
ficam declaradas para ninguém ter o trabalho de as lembrar, que me repugnou a canalhice
das calúnias e das ameaças com que, a pretexto de um artigo de jornal, a gente
do costume a pretendeu cercar durante o fim de semana. Nesse
ataque, houve muito da precipitação de alcateia que define as redes sociais.
Mas houve também a inspiração de um dos mais asquerosos projectos políticos do
nosso tempo.
Porque a má fé e a estupidez dominam
este debate, vou tentar ser muito claro.
Fátima Bonifácio está certa na rejeição do sistema de quotas étnicas.
Mas não evitou alguns equívocos. Por exemplo, o de aparentemente sugerir – se
percebi bem — que o problema da integração dos ciganos ou dos chamados
“afrodescendentes” se deve a serem estranhos à sociedade portuguesa, à sua
história ou aos seus valores. Ora, os ciganos estão em Portugal há mais de meio
milénio. Falam a língua e têm a religião da maioria da população. São cidadãos
portugueses, e tão portugueses como quaisquer de nós. Os “afrodescendentes” não
são um grupo homogéneo, mas, na sua maioria, são indivíduos originários de
antigas colónias europeias. Representam uma das mais intensas Cristandades dos
dias de hoje, e sempre se exaltaram com as ideologias ocidentais (a Revolução Francesa também aconteceu no Haiti).
Nada disto, porém, faz da autora uma
“racista” e muito menos do seu artigo um “manifesto racista”. Vamos entender-nos: uma coisa são preconceitos, ou
desconfianças derivadas de certos comportamentos – se isso fosse racismo, então
toda gente, em todo o mundo, foi, é e será sempre racista; outra coisa são
instituições e doutrinas que, com fins políticos, visam a classificação e
discriminação das pessoas como membros de “raças”, e nesse sentido, nem
toda a gente foi, é ou será racista, e é aí que deve assentar a expectativa de
que a humanidade resistirá a propostas para usar características “étnicas” com
fins políticos.
A esquerda radical confunde as duas
coisas, para melhor esconder que quer praticar uma delas. Tal como sempre
precisou de fascistas, precisa agora de racistas. Precisou de fascistas, porque
se toda a gente que não pensa como Catarina Martins for fascista, está
legitimado o uso da força para perseguir e calar quem não pensa como Catarina
Martins. E precisa agora de racistas, porque só havendo muitos racistas é que
pode justificar o sórdido projecto com que substituiu a “luta de classes”: usar
cinicamente as migrações para segmentar as sociedades ocidentais em “raças”
mutuamente hostis. A pretexto da causa da “integração” e da denúncia do
“racismo”, o objectivo desta esquerda que trocou Marx por Fanon é tentar
reduzir certas pessoas a membros de “minorias”, e estas “minorias” a meros
colectivos identitários de “vítimas”, dependentes do Estado e controlados por
demagogos.
Estou
a dizer que em Portugal, ciganos e migrantes não são frequentemente pobres e
marginalizados? Não. Mas pergunto: são os únicos pobres e marginalizados? Não
há pobres e marginalizados entre os outros portugueses? E se são pobres e
marginalizados, isso deve-se a “racismo”? Não tem nada a ver, no caso dos
ciganos, com uma velha cultura de nomadismo? Não tem nada a ver, no caso dos
migrantes, com o facto de serem trabalhadores pouco qualificados chegados
recentemente (os primeiros cabo-verdianos desembarcaram há menos de 50 anos)?
Estou a dizer que não merecem
nenhum cuidado? Não. Mas a ciganos e a migrantes falta sobretudo o que falta
aos outros portugueses pobres: uma economia próspera e aberta, onde todos – e
não apenas os clientes do poder — sintam que vale a pena trabalhar, poupar e
investir; uma escola exigente, com os devidos apoios sociais, que compense as
desvantagens e não que as agrave, em nome da “diversidade”; serviços públicos
efectivos, que não sejam sacrificados ao emprego de clientelas partidárias; uma
lei que seja igual para todos, e que tolere diferentes culturas, mas não
comportamentos contrários à coexistência pacífica dos cidadãos. O que ciganos e
migrantes não precisam – nem eles nem ninguém — é de serem metidos em guetos
legais e estigmatizados pela dependência do poder político.
O pior que nos poderia acontecer em
Portugal era deixarmos de ser portugueses, para passarmos a ser “brancos”,
“negros”, ou “ciganos”. Não contem comigo para macaquear o pior que tem a
sociedade americana. Eu não me identifico nem nunca me identificarei como
“branco”. Sou português como Eusébio, um dos nossos maiores futebolistas, ou
como Marcelino da Mata, um dos nossos militares mais condecorados. É do país
deles que eu quero ser mais um cidadão, e não dessa caricatura do Alabama dos
anos 50 a que a extrema-esquerda convertida ao racialismo gostaria de reduzir
Portugal.
COMENTÁRIOS:
Alvaro Santos: Extraordinário,
como sempre, Rui Ramos! Parabéns!
Ruik Krull: ...QUE TAMBÉM EXISTEM NO OBSERVADOR
Jay Pin > Ruik Krull: E além dos racistas ainda temos que aturar trolls
anormais como tu.
Manuela Castro: Experimentem viver no mesmo prédio. A
raça não conta, conta o comportamento e a falta
de respeito para com quem os respeita e aceita.
Miguel Fernandes: Excelente texto de Rui Ramos. Coloca a nu o pensamento
totalitarista desta comunada que desgraçadamente temos e que é sinal inequívoco
do nosso atraso. São uma corja!
Jay PiMiguel Fernandes: E o atraso que tu és Já pensaste nisso? Não pensaste,
pois, o teu atraso não te deixa pensar.
Pedro Cordeiro: Correcção: não concordo com TUDO o que escreve Teresa
Bonifácio. Ele diz que os blacks odeiam ciganos. É impreciso. Devia dizer que
os blacks também odeiam ciganos.
Ps-
"blacks" é, para mim, uma expressão carinhosa quando falo dos meus
amigos pretos. Detesto a palavra "negros". Dizer "negros"
implica que alguém está a ter algum cuidado como fala de alguém de cor para não
se ofender. Isso já é discriminação. Eu digo que: aquela black é boa comó
car..... tão naturalmente como digo: aquele gajo é alto. Ou canhoto. Dizer
"black" é a forma que utilizo para fugir às palavras que não gosto.
"Pretos" também não gosto, apesar de ser a mais correcta e, ao mesmo
tempo, socialmente incorrecta.
Pedro Cordeiro: Concordo com tudo o que escreve Teresa Bonifácio.
Esta polémica toda só surge porque "pessoas" como Catarina
Martins andam à cata
de minorias que, todas somadas, já vão em 10 por cento dos votantes. Sejam
minorias raciais, étnicas, de orientação sexual ou outra. Esqueçam lá isso que
os ciganos não votam. Ao domingo estão a vender na praça. Nos outros dias estão
ocupados a fazer a vida negra a quem mora ao pé deles. Eles é que são racistas.
Eles é que discriminam os não ciganos. Nunca vi um branco casado com uma cigana
ou o contrário. Havia de ser bonito um branco oferecer a filha de 13 anos a um
adulto. Havia de ser bonito uma branca tirar a virgindade da filha e exibir o
sangue dela para provar que ela era virgem. Os paizinhos dela iam para a prisão
ao som dos gritos das meninas do Bloco. Aos ciganos não acontece nada, porquê?
Porque os ciganos já são discriminados positivamente. Podem fazer o que
quiserem. Os gritos histéricos contra esta historiadora não muda o facto de a
grande maioria das pessoas não suportar os ciganos. Nem eles se suportam uns ao
outro.
Ps- lamento por colocar todos os ciganos no
mesmo saco. Admito que os discrimino. Admito que pode haver algumas castas da
etnia cigana que estão realmente integradas na sociedade e se comportam como pessoas
decentes. A esses, se houver, as minhas desculpas.
Fernando SILVA: Rui Ramos no seu melhor !
Bruno Guedes": “O pior que nos poderia acontecer em Portugal era
deixarmos de ser portugueses, para passarmos a ser “brancos”, “negros”, ou
“ciganos”. Não contem comigo para macaquear o pior que tem a sociedade
americana.": Palavras sábias e certeiras. E está tudo dito.
Zacarias Pançudo: Pole position!
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