quarta-feira, 13 de julho de 2022

Demasiada areia…


Prefiro os paradoxos de Camões: “Amor é fogo que arde sem se ver…é dor que desatina sem doer”é um não sei quê…

Realmente, a História não tem fim, parece-me, alternante e repetitiva, porque o é também a natureza humana, definida, afinal, como incógnita, mas eterna. E embora avance no capítulo da Ciência e dos conceitos de Arte ou de Desenvolvimento Económico, o Ser Moral não se reforma assim, e afinal enriquece, com o confronto com os primitivos do seu ponto de partida. Ainda hoje vi um programa sobre os campos sem fim do espaço ucraniano, cobertos de searas, e a informação de que quando os russos atroam os ares com os seus aparelhos da morte, os seareiros escondem-se, mas regressam à seara, passados os roncos das armas dirigidas às localidades habitadas, para a destruição eficaz. Povo exemplar, sobretudo quando comparamos com o dos nossos campos, bem diferente dos de outrora, no trabalho do campo. Mas fica a esperança do retorno àquela agricultura necessária à economia nacional, como mostra o povo ucraniano.

Não, a História não tem fim, repetitiva nas ambições e nos ódios e vinganças, a que se acrescenta sempre o cinismo dos povos construtores dos impérios, e o dos outros que os apoiam com o seu comércio de armas, indiferentes aos males que causam, enviando depois comida e medicação com o zelo da sua generosidade que faz os corações pulsar de reconhecimento.

Não, nunca se põe fim a nada. Gorbachov, talvez o maior vulto humano de que o século XX se pode orgulhar, com o XXI sem encontrar ainda substituto daquele, apenas contribuiu para um apaziguamento momentâneo… a guerra recrudescendo hoje, mais monstruosa do que nunca… pura vingança até, contra esse, de um compatriota que o não deslustra, todavia, pois nem sequer cabe em qualquer definição de humanidade.

LUIS SOARES DE OLIVEIRA, FACEBOOK, 13/7/22

3 h  · 

FRANCIS FUKUYAMA CORRIGE O LIBERALISMO E INSISTE NO FIM DA HISTÓRIA.

Em Dezembro de 1988, Gorbatchev anunciou nas NU o fim da repressão política no império soviético. Poucos meses mais tarde, o politólogo da Rand Corporation, Francis Fukuyama - então com 36 anos - receberia de uma editora novayorquina a encomenda de editar a sua tese de inspiração hegeliana intitulada O FIM DA HISTÓRIA. Como Fukuyama anunciou, acabara o conflito que atravessou a História desde Adão e Eva ou seja o braço de ferro entre dominadores e dominados. O liberalismo capitalista resolvera definitivamente o problema e agora nada mais restava do que gozar a harmonia estabelecida pelo homo sapiens neste Planeta. O autor admitia contudo que tal estado não seria de alegria mas talvez mais próximo do tédio.

Sinopse do livro

À medida que o século XXI se aproxima, Francis Fukuyama pede que regressemos a uma questão que tem sido levantada pelos grandes filósofos do passado: a história da humanidade segue uma direcção? E, se é direccional, qual o seu fim? E em que ponto nos encontramos em relação ao «fim da história»?

Nesta análise empolgante e profunda, Fukuyama apresenta elementos que sugerem a presença de duas poderosas forças na história humana. A uma chama «a lógica da ciência moderna», a outra «a luta pelo reconhecimento pessoal ». A primeira impele o homem a preencher o horizonte cada vez mais vasto de desejos através do processo económico racional; a segunda - thymus - é, de acordo com Fukuyama (e Hegel), nada menos nada mais do que o próprio «motor da história». Segundo a tese defendida pelo autor, estas duas vertentes conduziriam, ao longo dos tempos, ao eventual colapso de ditaduras de direita e de esquerda, impelindo as sociedades, mesmo as culturalmente distintas, para a democracia capitalista liberal, vista como o estádio final do processo histórico. A questão principal surge então: será que a liberdade e a igualdade, tanto política como económica - o estado de coisas no presumível «fim da história» -, poderão criar uma sociedade estável na qual o homem se sinta finalmente satisfeito? Ou será que a condição espiritual deste «último homem», privado de saídas para materializar a sua ânsia de poder e de realização, inevitavelmente o conduzirá, a ele e ao mundo, ao regresso ao caos e ao derramamento de sangue?

A resposta de Fukuyama era, simultaneamente, uma fascinante lição de filosofia da história e uma investigação que nos impelia irresistivelmente a reflectir sobre a questão suprema do sentido e do destino da sociedade e do homem.

O livro tornou-se best seller, vendeu milhões de exemplares (o que é grande nos EUA é o mercado); editor e Fukuyama ficaram riquíssimos. Eu comprei o meu exemplar na Foyles, em Londres, e tive a sorte de o autor se encontrar ali para autografar cópias. Na altura estava ele só, junto a uma janela do 3º andar, o que me permitiu puxar a conversa. O senhor, muito simpático, não se fez rogado. Falámos do Containment - como se conseguiu destruir um Império sem disparar um só tiro - até que apareceu outro comprador e tivemos que dar por finda a conversa.

De regresso a Portugal, numa sessão no auditório Adriano Moreira, do ISCSP, ouvi o douto académico lusitano criticar o título do livro. "A História nunca acaba", afirmou o respeitado catedrático português. Fiquei de prevenção.

A dedicatória no meu exemplar do livro de Fukuyama tem a data de Março de 1992, o mês em que os Bósnios punham fim ao autoritarismo jugoslavo. Dois anos mais tarde deu-se a extinção do pérfido apartheid. Fukuyama parecia confirmado; mas foi tudo. Nove anos volvidos, deu-se o ataque às Twin Towers. O medo reclamava o seu império sobre a História. Gradualmente, os povos voltaram ao culto da soberania nacional, enquanto os políticos ressuscitaram o populismo. O “interesse nacional” e a "razão de Estado" recuperaram o status de racionais legítimas de política externa. A Europa e só a Europa ainda persistiu na rota liberal. Em 2005, criou o euro - mais olhos do que barriga, diria Cutileiro - , até que veio o Brexit.

Verificou-se pois que, à falta de um inimigo comum, a iteração e a harmonia de interesses não são proposições válidas no domínio da relações internacionais. O liberalismo também não encaixava. Numa palavra, a simplificação académica do meu simpático interlocutor na conversa à janela do Foyles parecia excessiva. A Economia não é apenas uma questão de oferta e procura: também desperta paixões que superam a racionalidade. Depois há as questões da identidade e do reconhecimento, tanto pessoal como colectivo. Seja no domínio do sonho, seja no da liturgia, o que nos separa infelizmente é mais importante do que o que nos une; a pluralidade de identidades ainda manda mais do que a universalidade dos valores.. Tais factores repõem imediatamente a luta entre dominadores e dominados, donos e escravos. Os governantes não renunciam ao uso da guerra com meio de política. Como disse Max Boot, numa palestra no IDN; " the guys of the Pentagon think they can solve everything with guns". Infelizmente não são apenas eles; Putin também pensa assim. Há doenças e há doentes; não há panaceias. Voltámos ao princípio. A História não seria um processo linear. Aparentemente, Adriano Moreira tinha razão. Continuamos sem conceito director. Mas Fukuyama não aceita tal veredicto. Trinta anos depois voltou à luta.

(continua) 

 

COMENTÁRIOS

António Pereira de Carvalho: “A razão escraviza todas as mentes que não são suficientemente fortes para a dominarem.” GEORGE BERNARD SHAW (Dublin, 26.7.1856 – Ayot Saint Lawrence, 2.11.1950)… 

Henrique Borges: O problema está em confundirmos a nossa singularidade com universalidade e em procurar insistentemente impô-la aos outros.

António Pereira de Carvalho: “A razão escraviza todas as mentes que não são suficientemente fortes para a dominarem.” GEORGE BERNARD SHAW (Dublin, 26.7.1856 – Ayot Saint Lawrence, 2.11.1950) 94 anos Recusou o Prémio Nobel da Literatura em 1925

A “SANTA” RAZÃO, cujo poder perante O MISTÉRIO DA VIDA é o mesmo que querer matar um elefante com um canivete...

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