Prefiro os paradoxos de Camões: “Amor é fogo que arde sem se ver…é dor que
desatina sem doer”… é um não sei quê…
Realmente, a História não tem fim, parece-me,
alternante e repetitiva, porque o é também a natureza humana, definida, afinal,
como incógnita, mas eterna. E embora avance no capítulo da Ciência e dos
conceitos de Arte ou de Desenvolvimento Económico, o Ser Moral não se reforma
assim, e afinal enriquece, com o confronto com os primitivos do seu ponto de
partida. Ainda hoje vi um programa sobre os campos sem fim do espaço ucraniano,
cobertos de searas, e a informação de que quando os russos atroam os ares com
os seus aparelhos da morte, os seareiros escondem-se, mas regressam à seara,
passados os roncos das armas dirigidas às localidades habitadas, para a
destruição eficaz. Povo exemplar, sobretudo quando comparamos com o dos nossos
campos, bem diferente dos de outrora, no trabalho do campo. Mas fica a
esperança do retorno àquela agricultura necessária à economia nacional, como
mostra o povo ucraniano.
Não, a História não tem fim, repetitiva
nas ambições e nos ódios e vinganças, a que se acrescenta sempre o
cinismo dos povos construtores dos impérios, e o dos outros que os apoiam com o
seu comércio de armas, indiferentes aos males que causam, enviando depois
comida e medicação com o zelo da sua generosidade que faz os corações pulsar de
reconhecimento.
Não, nunca se põe fim a nada. Gorbachov, talvez o maior vulto humano de que o século XX se pode orgulhar, com o XXI sem encontrar ainda substituto daquele, apenas contribuiu para um apaziguamento momentâneo… a guerra recrudescendo hoje, mais monstruosa do que nunca… pura vingança até, contra esse, de um compatriota que o não deslustra, todavia, pois nem sequer cabe em qualquer definição de humanidade.
LUIS SOARES
DE OLIVEIRA, FACEBOOK, 13/7/22
3 h ·
FRANCIS FUKUYAMA CORRIGE O
LIBERALISMO E INSISTE NO FIM DA HISTÓRIA.
Em Dezembro de 1988, Gorbatchev anunciou nas NU o fim da repressão
política no império soviético. Poucos
meses mais tarde, o politólogo da Rand Corporation, Francis
Fukuyama - então com 36 anos - receberia de
uma editora novayorquina a encomenda de editar a sua tese de inspiração
hegeliana intitulada O FIM DA HISTÓRIA. Como
Fukuyama anunciou,
acabara o conflito que atravessou a
História desde Adão e Eva ou seja o braço de ferro entre dominadores
e dominados. O
liberalismo capitalista resolvera definitivamente o problema e agora nada mais
restava do que gozar a harmonia estabelecida pelo homo sapiens neste Planeta. O
autor admitia contudo que tal estado não seria de alegria mas
talvez mais próximo do tédio.
Sinopse do livro
À
medida que o século XXI se aproxima, Francis Fukuyama pede que regressemos a uma questão que tem sido
levantada pelos grandes filósofos do passado: a
história da humanidade segue uma direcção? E, se é direccional, qual o seu fim?
E em que ponto nos encontramos em relação ao «fim da história»?
Nesta
análise empolgante e profunda, Fukuyama apresenta elementos que sugerem a
presença de duas poderosas forças na história humana. A uma chama «a lógica da ciência moderna», a outra «a luta pelo reconhecimento
pessoal ». A primeira impele o homem a preencher
o horizonte cada vez mais vasto de desejos através do processo
económico racional; a segunda -
thymus - é, de acordo
com Fukuyama (e Hegel), nada menos nada mais do que o próprio «motor da
história». Segundo a tese defendida pelo autor,
estas duas vertentes conduziriam, ao longo dos tempos, ao
eventual colapso de ditaduras de direita e de esquerda, impelindo as
sociedades, mesmo as culturalmente distintas, para a democracia capitalista
liberal, vista como o estádio final do processo histórico. A
questão principal surge então: será que a liberdade e a
igualdade, tanto política como económica - o estado de coisas no presumível
«fim da história» -, poderão criar uma sociedade estável na qual o homem se
sinta finalmente satisfeito? Ou
será que a condição espiritual deste «último homem», privado de saídas para
materializar a sua ânsia de poder e de realização, inevitavelmente o conduzirá,
a ele e ao mundo, ao regresso ao caos e ao derramamento de sangue?
A resposta de Fukuyama era,
simultaneamente, uma fascinante lição de filosofia da história e uma
investigação que nos impelia irresistivelmente a reflectir sobre a questão suprema do sentido e do destino da
sociedade e do homem.
O
livro tornou-se best seller, vendeu milhões de exemplares (o que é grande nos EUA é o mercado); editor
e Fukuyama ficaram riquíssimos. Eu comprei o meu exemplar na Foyles, em
Londres, e tive a sorte de o autor se encontrar ali para autografar cópias. Na
altura estava ele só, junto a uma janela do 3º andar, o que me permitiu puxar a
conversa. O senhor, muito simpático, não se fez rogado. Falámos do Containment
- como se conseguiu destruir um
Império sem disparar um só tiro - até que apareceu outro comprador e tivemos
que dar por finda a conversa.
De regresso a Portugal, numa sessão no
auditório Adriano Moreira, do ISCSP, ouvi o douto académico lusitano criticar o
título do livro. "A História
nunca acaba", afirmou o respeitado catedrático português.
Fiquei de prevenção.
A
dedicatória no meu exemplar do livro de Fukuyama tem a data de Março de 1992, o
mês em que os Bósnios punham fim ao autoritarismo jugoslavo. Dois anos mais tarde deu-se a extinção
do pérfido apartheid. Fukuyama
parecia confirmado; mas foi tudo. Nove anos
volvidos, deu-se o ataque às Twin Towers. O medo
reclamava o seu império sobre a História. Gradualmente, os povos voltaram ao culto da soberania
nacional, enquanto os políticos ressuscitaram o populismo. O
“interesse nacional” e a "razão de Estado" recuperaram o status de
racionais legítimas de política externa. A
Europa e só a Europa ainda persistiu na rota liberal. Em 2005, criou o euro -
mais olhos do que barriga, diria Cutileiro - , até que veio o Brexit.
Verificou-se pois que, à falta de um inimigo comum, a iteração
e a harmonia de interesses não são proposições válidas no domínio da relações
internacionais. O
liberalismo também não encaixava. Numa palavra, a simplificação académica do meu simpático interlocutor na conversa à janela do
Foyles parecia excessiva. A Economia
não é apenas uma questão de oferta e procura: também desperta paixões que
superam a racionalidade. Depois
há as questões da identidade e do reconhecimento, tanto pessoal como colectivo.
Seja no domínio do sonho, seja no da liturgia, o que nos
separa infelizmente é mais importante do que o que nos une; a pluralidade de
identidades ainda manda mais do que a universalidade dos valores.. Tais factores repõem imediatamente a luta entre
dominadores e dominados, donos e escravos. Os governantes não renunciam
ao uso da guerra com meio de política. Como disse Max Boot, numa
palestra no IDN; " the guys of the Pentagon think they can
solve everything with guns".
Infelizmente não são apenas eles; Putin também pensa assim. Há doenças e há doentes; não há
panaceias. Voltámos ao
princípio. A História não seria um processo linear. Aparentemente, Adriano Moreira tinha razão. Continuamos
sem conceito director. Mas Fukuyama não aceita tal veredicto. Trinta anos
depois voltou à luta.
(continua)
COMENTÁRIOS
António Pereira de Carvalho: “A
razão escraviza todas as mentes que não são suficientemente fortes para a
dominarem.” GEORGE BERNARD SHAW (Dublin, 26.7.1856 – Ayot Saint Lawrence,
2.11.1950)…
Henrique Borges: O problema está em confundirmos a nossa singularidade
com universalidade e em procurar insistentemente impô-la aos outros.
António Pereira de Carvalho: “A razão escraviza todas as mentes que não são
suficientemente fortes para a dominarem.” GEORGE BERNARD SHAW (Dublin, 26.7.1856 – Ayot Saint Lawrence, 2.11.1950)
94 anos Recusou o Prémio Nobel da Literatura em 1925
A “SANTA” RAZÃO, cujo poder perante O MISTÉRIO DA VIDA é o mesmo que
querer matar um elefante com um canivete...
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