quinta-feira, 28 de julho de 2022

Estranho povo este


Que gerou um génio como Luís de Camões, exaltador dessa epopeia portuguesa dos Descobrimentos, praticada por um povo de um minúsculo país europeu, que nasceu e se foi fazendo com feitos próprios extraordinários mas que se deixou apagar, enxovalhando a própria língua, hoje, com um Acordo Ortográfico subserviente e bem sintomático de desmerecer essa sua História passada.

Quanto a Fernão de Magalhães, cuja excelsa proeza demonstrativa da rotundidade da Terra, como se aprendia no meu tempo, fora executada ao serviço do rei de Castela, por recusa do rei D. Manuel I, transcrevo o texto da Internet, em apoio do excelente texto de JOÃO MORGADO, sobre um filme de falso entrecho desprestigiante do verdadeiro herói do feito:

«500 Anos da Circum-Navegação»

«Fernão de Magalhães, o génio que cometeu um erro fatal O historiador Luís Filipe Thomaz conta que o navegador ao serviço de Castela percebeu tarde de mais que as ilhas Molucas – conhecidas como “ilhas das especiarias” – ficavam em território português. E que, perante esse erro, ficou sem saber o que fazer, acabando por deixar-se matar “estupidamente”.

Lusa  12 de Setembro de 2019, 11:04 »

«Fernão de Magalhães retratado por Charles Legrand DR »

«O navegador português Fernão de Magalhães foi um génio, ao “acertar à primeira com a travessia do Pacífico”, mas cometeu um erro de cálculo que terá precipitado a sua morte nas Filipinas, defende o historiador Luís Filipe Thomaz. Em entrevista à agência Lusa, a propósito dos 500 anos da primeira viagem de circum-navegação da Terra, feita por Magalhães e Elcano entre 1519 e 1522, o autor do livro O Drama de Magalhães e a Volta ao Mundo Sem Querer (Gradiva, 2019) sublinhou que o navegador quinhentista “escolheu a melhor rota do ponto de vista de ventos e correntes e nunca voltou para trás”.»

O texto de JOÃO MORGADO:

Magalhães e “Espanha”: desonestidade “Sem Limites”

Parece ter havido vergonha de assumir Magalhães – talvez porque navegou com a bandeira de Castela. A verdade é que desprezado pelo rei português este se limitou fazer pela vida, servindo a outra coroa

JOÃO MORGADO, Escritor, autor do romance biográfico “Fernão de Magalhães e a Ave-do-Paraíso”

OBSERVADOR, 27 jul 2022, 00:129

Nas comemorações dos 500 anos da expedição marítima de Fernão Magalhães, a Amazon Prime Video estreou a série “Sem Limites” que, procura retratar a épica viagem à volta do mundo e que seria terminada por Elcano. Dirigida pelo americano Simon West, esta produção tem um propósito indisfarçável: recentrar Elcano como o grande herói de tal façanha.

Toda a série – desde a primeira cena – está inquinada por erros históricos gritantes. Não conseguem sequer acertar no verdadeiro motivo da viagem – desacertos grosseiros que adulteram todo o enquadramento da viagem e das personalidades históricas envolvidas. Dir-me-ão que esta é apenas uma série de entretenimento a que são permitidas certas liberdades, e que as alterações visam apenas dar mais dramatismo ao enredo. Acontece que numa sociedade marcada pelo audiovisual, é esta mensagem errada que permanecerá no imaginário da maioria das pessoas e – deixem-me acrescentar –, esta grande viagem marítima tinha ingredientes mais do que suficientes para ser cativante, sem invenções e adulterações (algumas perfeitamente infantis).

Uma oportunidade perdida.

Com um orçamento de 30 milhões de euros esta é uma série que não agrada a ninguém, nem mesmo aos espanhóis – que tanto escreveram sobre ela. É ler as críticas que se espalham pela comunicação social e internet. Na verdade, nada mais é que um “filme de piratas”, cheio de estereótipos que não dão profundidade, nem à personalidade de Magalhães, nem do verdadeiro Elcano. Uma produção que não consegue transmitir a dimensão histórica da maior e mais dura viagem daquele tempo, que levou os navegadores ao seu limite humano. A expedição que viria a desvendar um quarto do mundo, a fechar o ciclo das grandes descobertas marítimas, e a dar a verdadeira dimensão do globo terrestre… Tanto custa fazer mal como fazer bem, e as entidades oficiais portuguesas e espanholas poderiam ter concertado esforços para produzir algo sério, marcante e instrutivo para a memória histórica dos dois países.

A estratégia espanhola

Voltando aos erros. Num paralelo futebolístico, diria que, se o árbitro se engana sempre para o mesmo lado, não são erros casuais, mas sim estratégicos. É o que sucede.

Magalhães é apresentado como um louco, perdido, ambicioso, cruel, carrasco, traidor do rei português e pouco merecedor de confiança da coroa espanhola… (Não, Espanha ainda não existia, mas… enfim, pormenores.). Em contraponto, Elcano é o personagem “cool” – bom espadachim, solidário, bom companheiro, piloto (que nunca foi), sabedor das coisas do mar, que reparte a sua comida quando há fome, anjo salvador em batalhas e tempestades, democrático e heroico salvador da expedição. Não há dúvida: emerge como o grande protagonista.

É verdade que após a morte de Magalhães, saiu do seu quase anonimato e comandou os sobreviventes que cruzaram o “mar português” e retornaram a Sevilha, rematando à volta ao mundo – que não era, nem nunca fora o fito da expedição. Tem o seu lugar na história e ninguém o poderá usurpar. Agora, importa não confundir a parte com o todo. E importa sublinhar que toda esta desonestidade intelectual “sem limites” para apoucar Magalhães e elevar Elcano é patrocinada por entidades oficiais espanholas. Há uma estratégia clara.

E a estratégia portuguesa?

Em vida, Magalhães enfrentou a desconfiança dos nobres castelhanos pelo facto de ser de outro reino. Conspiraram contra ele durante toda a viagem e tentaram denegrir o seu papel após a conclusão da mesma. A sua honra foi salva por Antonio Pigafetta, o cronista da armada, que repôs a verdade dando a conhecer o seu diário a vários reis da Europa e ao próprio Papa. Cinco séculos passados continua a ser vítima desta estéril rivalidade ibérica.

E da parte de Portugal, qual foi a estratégia?

Existe uma Estrutura de Missão do V Centenário da Primeira Viagem de Circum-Navegação de que resultaram umas tantas publicações e uma ou outra exposição, algo ténue e suave que a famosa pandemia não explica de todo.

Parece ter havido sempre vergonha de assumir Magalhães – talvez porque navegou com a bandeira de Castela. A verdade é que, desprezado pelo rei português, este se limitou fazer pela vida, prestando serviços a outra coroa. E como emigrante que foi – e Portugal teve e tem tantos –, levou os conhecimentos e a raça portuguesa por esse mundo fora, sem a qual esta façanha não teria lugar. E o nosso país deve ter orgulho no seu feito e, passados quinhentos anos, lutar pela afirmação do seu legado, pelo seu nome e honra. É pedir muito?

Seria importante alargar o período de comemorações dos 500 anos da circumnavegação e preparar um plano forte para assinalar oficialmente tão importante façanha junto das novas gerações. Um trabalho pedagógico e verdadeiro junto das autarquias e comunidades escolares. Estamos sempre a tempo de emendar as nossas omissões.

HISTÓRIA   CULTURA

COMENTÁRIOS:

Carlos Medeiros: Fico comovido qd vejo um artigo de história no jornal em Portugal, um país que esqueceu a sua história e despreza os seus soldados. O Venturoso ou "Inimigo hereditário" como alguns conhecedores lhe chamam foi traiçoeiro, velhaco e intriguista com os seus heróis. Albuquerque e Magalhães ambos sofreram essa ingratidão, só que Magalhães sofreu a dobrar, foi enganado por dois reis, o genro e o sogro... Foram ambos heróis tão ilustres como brutais, tinha de ser assim!! Ainda não nasceu quem tenha conhecimento e carácter para fazer um filme honesto sobre a aventura e morte do transmontano Magalhães, até lá teremos de continuar a ver ignorância e ganância de bilheteira.              Edmund Burk: Portugal devia fazer... Caro amigo, para sua informação, Portugal está morto, o PS e os wokes mataram Portugal. Há um papagaio-mor do reino que às vezes fala de Portugal mas é só sobre porcarias que não têm relevância.                 Liberales Semper Erexitque: Quem paga para ver lixo americano, recebe aquilo que merece, lixo americano.           Francisco Tavares de Almeida: Magalhães é complicado porque, sendo verdade que foi ignorado e até desprezado, o seu medíocre desempenho anterior na Índia a isso conduziu. O aspecto para mim crucial é que só os portugueses dominavam as técnicas de navegação em alto mar. Castela tinha pilotos, quer no Sul, na área de Granada e Sevilha quer no Norte mas não dominavam nem técnica nem cientificamente a navegação de alto mar. Essas técnicas e essa ciência foram fruto da mais rigorosa política de sigilo promovida por D. João II. Como exemplo, mandou emissários a Sevilha assassinar dois carpinteiros portugueses, construtores de caravelas e que para lá tinham ido. Só esse segredo e a inacção, por vezes mesmo cobardia, da academia portuguesa, permitiu a difusão do dislate histórico de que Colón era um genovês de baixa extracção, filho de um tecelão. Não sei se Colón era português mas estou absolutamente certo que não era de baixa extracção social e que passou muitos anos em Portugal, pois era o único lugar do mundo de então onde existiam os conhecimentos náuticos que evidenciou nas suas viagens.            Liberales Semper Erexitque > Francisco Tavares de Almeida: Creio que não há dúvidas históricas de que Colombo aprendeu o que sabia sobre navegação em Portugal, independentemente das suas origens. Até o facto de ter ido propor os seus serviços ao rei de Portugal o mostra.               Carminda Damiao: Completamente de acordo. Parabéns.               bento guerra: Os portugueses nunca deram grande importância ao feito e à capacidade de Magalhães. Ele é bem conhecido como grande navegador nas culturas de base inglesa, talvez para atirar por"el cano" o castelhano que "esfolou o rabo"               Pontifex Maximus: Em boa verdade temos alguns heróis para celebrar (poucos, mas temos), mas fazê-lo com Magalhães seria uma perda de tempo.        Duarte Correia: Sim, correctíssimo. O italiano Pigafetta mostra bem as ca+na+lhices (como diria o Sr. Eng. J. Sócrates) dos nobres capitães castelhanos roídos de inveja com a genialidade de Magalhães, ali por altura da busca da passagem. Quanto à difusão, desse brilhante feito, pela escolas, esqueça. As lições de cidadania e a construção do "homem novo", agora ampliadas pela experiência "levada à prática" na escola do Castelo (em Lisboa) para construir "cabeças  grandes" são os itens que estão a dar, mas já vão perdendo força.

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