Que gerou um génio como Luís de Camões, exaltador dessa epopeia portuguesa dos Descobrimentos,
praticada por um povo de um minúsculo país europeu,
que nasceu e se foi fazendo com feitos próprios extraordinários mas que se deixou
apagar, enxovalhando a própria língua, hoje, com um Acordo Ortográfico subserviente e bem sintomático de desmerecer essa sua História passada.
Quanto a Fernão de Magalhães, cuja excelsa proeza
demonstrativa da rotundidade da Terra, como se aprendia no meu tempo, fora
executada ao serviço do rei de Castela, por recusa do rei D. Manuel I,
transcrevo o texto da Internet, em apoio do excelente texto de JOÃO MORGADO, sobre um filme
de falso entrecho desprestigiante do verdadeiro herói do feito:
«500 Anos da Circum-Navegação»
«Fernão
de Magalhães, o génio que cometeu um erro fatal O historiador Luís Filipe Thomaz conta que o navegador ao serviço de
Castela percebeu tarde de mais que as ilhas Molucas – conhecidas como “ilhas
das especiarias” – ficavam em território português. E que, perante esse erro,
ficou sem saber o que fazer, acabando por deixar-se matar “estupidamente”.
Lusa 12
de Setembro de 2019, 11:04 »
«Fernão
de Magalhães retratado por Charles Legrand DR »
«O navegador português Fernão de Magalhães foi um génio, ao “acertar à primeira com a travessia do Pacífico”, mas cometeu um erro de cálculo que terá precipitado a sua morte nas Filipinas, defende o historiador Luís Filipe Thomaz. Em entrevista à agência Lusa, a propósito dos 500 anos da primeira viagem de circum-navegação da Terra, feita por Magalhães e Elcano entre 1519 e 1522, o autor do livro O Drama de Magalhães e a Volta ao Mundo Sem Querer (Gradiva, 2019) sublinhou que o navegador quinhentista “escolheu a melhor rota do ponto de vista de ventos e correntes e nunca voltou para trás”.»
O texto de JOÃO
MORGADO:
Magalhães e “Espanha”: desonestidade “Sem Limites”
Parece ter havido vergonha de assumir
Magalhães – talvez porque navegou com a bandeira de Castela. A verdade é que
desprezado pelo rei português este se limitou fazer pela vida, servindo a outra
coroa
JOÃO MORGADO, Escritor,
autor do romance biográfico “Fernão de Magalhães e a Ave-do-Paraíso”
OBSERVADOR, 27 jul
2022, 00:129
Nas comemorações dos 500 anos da expedição marítima de Fernão
Magalhães, a Amazon Prime Video estreou a
série “Sem Limites” que,
procura retratar a épica viagem à volta do mundo e que seria terminada por Elcano.
Dirigida pelo americano Simon West, esta produção tem um propósito
indisfarçável: recentrar Elcano como o grande herói de tal façanha.
Toda a série – desde a primeira cena – está inquinada por erros
históricos gritantes. Não
conseguem sequer acertar no verdadeiro motivo da viagem – desacertos grosseiros
que adulteram todo o enquadramento da viagem e das personalidades históricas
envolvidas. Dir-me-ão que esta é apenas uma série
de entretenimento a que são permitidas certas liberdades, e que as
alterações visam apenas dar mais dramatismo ao enredo. Acontece que numa
sociedade marcada pelo audiovisual, é esta mensagem errada que permanecerá
no imaginário da maioria das pessoas e – deixem-me acrescentar –, esta grande
viagem marítima tinha ingredientes mais do que suficientes para ser cativante,
sem invenções e adulterações (algumas perfeitamente infantis).
Uma oportunidade perdida.
Com
um orçamento de 30 milhões de euros esta é uma série que não agrada a
ninguém, nem mesmo aos espanhóis – que tanto escreveram sobre ela. É ler as
críticas que se espalham pela comunicação social e internet. Na verdade, nada
mais é que um “filme de piratas”,
cheio de estereótipos que não dão profundidade, nem à personalidade de
Magalhães, nem do verdadeiro Elcano. Uma produção que não
consegue transmitir a dimensão histórica da maior e mais dura viagem daquele
tempo, que levou os navegadores ao seu limite humano. A expedição que viria a
desvendar um quarto do mundo, a fechar o ciclo das grandes descobertas
marítimas, e a dar a verdadeira dimensão do globo terrestre… Tanto custa fazer mal como fazer bem, e as
entidades oficiais portuguesas e espanholas poderiam ter concertado esforços
para produzir algo sério, marcante e instrutivo para a memória histórica dos
dois países.
A estratégia espanhola
Voltando
aos erros. Num paralelo futebolístico, diria que, se o árbitro se engana
sempre para o mesmo lado, não são erros casuais, mas sim estratégicos. É o que
sucede.
Magalhães é apresentado como um louco, perdido, ambicioso, cruel,
carrasco, traidor do rei português e pouco merecedor de confiança da coroa
espanhola… (Não, Espanha ainda não existia, mas…
enfim, pormenores.). Em contraponto, Elcano é o personagem “cool” – bom
espadachim, solidário, bom companheiro, piloto (que nunca foi), sabedor das
coisas do mar, que reparte a sua comida quando há fome, anjo salvador em
batalhas e tempestades, democrático e heroico salvador da expedição. Não há
dúvida: emerge como o grande protagonista.
É verdade que após a morte de
Magalhães, saiu do seu quase anonimato e comandou os sobreviventes que cruzaram
o “mar português” e retornaram a Sevilha, rematando à volta ao mundo – que não
era, nem nunca fora o fito da expedição. Tem o seu lugar na história e ninguém
o poderá usurpar. Agora, importa não confundir a parte com o todo. E importa
sublinhar que toda esta desonestidade intelectual “sem limites” para apoucar
Magalhães e elevar Elcano é patrocinada por entidades oficiais espanholas. Há
uma estratégia clara.
E a estratégia portuguesa?
Em
vida, Magalhães enfrentou a desconfiança dos nobres castelhanos pelo facto de
ser de outro reino. Conspiraram contra ele durante toda a viagem e tentaram
denegrir o seu papel após a conclusão da mesma. A sua honra foi salva por Antonio
Pigafetta, o cronista da armada, que repôs a verdade dando a conhecer o seu
diário a vários reis da Europa e ao próprio Papa. Cinco séculos passados continua a ser vítima desta
estéril rivalidade ibérica.
E da parte de Portugal, qual foi a estratégia?
Existe
uma Estrutura de Missão do V Centenário da Primeira Viagem de Circum-Navegação
de que resultaram umas tantas publicações e uma ou outra exposição, algo
ténue e suave que a famosa pandemia não explica de todo.
Parece
ter havido sempre vergonha de assumir Magalhães – talvez porque navegou com a
bandeira de Castela. A verdade é que, desprezado pelo rei português, este se
limitou fazer pela vida, prestando serviços a outra coroa. E como emigrante que
foi – e Portugal teve e tem tantos –, levou os conhecimentos e a raça
portuguesa por esse mundo fora, sem a qual esta façanha não teria lugar. E o
nosso país deve ter orgulho no seu feito e, passados quinhentos anos, lutar
pela afirmação do seu legado, pelo seu nome e honra. É pedir muito?
Seria
importante alargar o período de comemorações dos 500 anos da circumnavegação e preparar
um plano forte para assinalar oficialmente tão importante façanha junto das
novas gerações. Um trabalho pedagógico e verdadeiro junto das autarquias e
comunidades escolares. Estamos sempre a tempo de emendar as nossas omissões.
COMENTÁRIOS:
Carlos Medeiros: Fico comovido qd vejo um artigo de história no jornal em Portugal, um país que
esqueceu a sua história e despreza os seus soldados. O Venturoso ou
"Inimigo hereditário" como alguns conhecedores lhe chamam foi
traiçoeiro, velhaco e intriguista com os seus heróis. Albuquerque e Magalhães
ambos sofreram essa ingratidão, só que Magalhães sofreu a dobrar, foi enganado
por dois reis, o genro e o sogro... Foram ambos heróis tão ilustres como
brutais, tinha de ser assim!! Ainda não nasceu quem tenha conhecimento e
carácter para fazer um filme honesto sobre a aventura e morte do transmontano
Magalhães, até lá teremos de continuar a ver ignorância e ganância de
bilheteira. Edmund Burk: Portugal devia fazer... Caro
amigo, para sua informação, Portugal está morto, o PS e os wokes mataram
Portugal. Há um papagaio-mor do reino que às vezes fala de Portugal mas é só
sobre porcarias que não têm relevância. Liberales Semper Erexitque:
Quem paga para
ver lixo americano, recebe aquilo que merece, lixo americano. Francisco Tavares de Almeida: Magalhães é complicado porque,
sendo verdade que foi ignorado e até desprezado, o seu medíocre desempenho
anterior na Índia a isso conduziu. O aspecto para mim crucial é que só os portugueses
dominavam as técnicas de navegação em alto mar. Castela tinha pilotos, quer no
Sul, na área de Granada e Sevilha quer no Norte mas não dominavam nem técnica
nem cientificamente a navegação de alto mar. Essas técnicas e essa ciência
foram fruto da mais rigorosa política de sigilo promovida por D. João II. Como
exemplo, mandou emissários a Sevilha assassinar dois carpinteiros portugueses,
construtores de caravelas e que para lá tinham ido. Só esse segredo e a inacção,
por vezes mesmo cobardia, da academia portuguesa, permitiu a difusão do dislate
histórico de que Colón era um genovês de baixa extracção, filho de um tecelão. Não sei se Colón era
português mas estou absolutamente certo que não era de baixa extracção social e
que passou muitos anos em Portugal, pois era o único lugar do mundo de então
onde existiam os conhecimentos náuticos que evidenciou nas suas viagens. Liberales Semper Erexitque > Francisco Tavares de Almeida:
Creio que não há
dúvidas históricas de que Colombo aprendeu o que sabia sobre navegação em
Portugal, independentemente das suas origens. Até o facto de ter ido propor os
seus serviços ao rei de Portugal o mostra. Carminda Damiao: Completamente de acordo.
Parabéns. bento
guerra: Os portugueses nunca deram grande importância ao feito e à capacidade de
Magalhães. Ele é bem conhecido como grande navegador nas culturas de base
inglesa, talvez para atirar por"el cano" o castelhano que
"esfolou o rabo" Pontifex Maximus: Em boa verdade temos alguns
heróis para celebrar (poucos, mas temos), mas fazê-lo com Magalhães seria uma
perda de tempo. Duarte
Correia: Sim,
correctíssimo. O italiano Pigafetta mostra bem as ca+na+lhices (como diria o
Sr. Eng. J. Sócrates) dos nobres capitães castelhanos roídos de inveja com a genialidade
de Magalhães, ali por altura da busca da passagem. Quanto à difusão, desse
brilhante feito, pela escolas, esqueça. As lições de cidadania e a construção
do "homem novo", agora ampliadas pela experiência "levada à
prática" na escola do Castelo (em Lisboa) para construir
"cabeças grandes" são os itens que estão a dar, mas já vão
perdendo força.
Nenhum comentário:
Postar um comentário