O certo é que há muitos galarós que
cantam por conta dos seus anseios de posse e por desprezo pelos anseios de
posse dos galarós alheios. E nisto se escoam os tempos por cá. O resto da
capoeira cacareja ou pia, conforme a idade, todos exigindo apoios… que geralmente
chegam de capoeiras externas Não, não é fábula, esta. É uma história real de
muita humilhação épica cacarejante, que acontece hoje, para ser reconhecida um
dia, se tal dia chegar.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 02.07.22
Hoje
cheguei à duna antes do Sol e os cães já «falavam» entre eles sem que os galos
do velho pescador ousassem cantar. Discretamente, chamei um dos da algazarra
para junto de mim e foi o suficiente para todos se calarem e me virem
cumprimentar. E foi então que um dos galos cantou.
Pese
embora a analogia lafontainiana, também na nossa «praia política» há muito
quem faça barulho e poucos que digam do que se aproveite; muitos, os que se comportam
como pugilistas e poucos os que se revelam estadistas.
E que bom seria se a maioria se comportasse com elevação,
desprezando lobbies mais ou menos ocultos, seguisse uma linha doutrinária
inequívoca e propusesse soluções conformes ao seu revelado conceito de
bem-comum.
E
foi nestas divagações meditativas que duas gaivotas poisaram no topo da duna e
me fizeram regressar à realidade.
Bonjour,
Maitre La Fon Taine!
Praia dos cães, 2 de Julho de
2022
Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS:
Anónimo 02.07.2022 13:14: What a beautiful text,,,the environment. the wishes.
the analogies,,,!!!!!!
Ely Ossy Anónimo 02.07.2022 : A tua Praia dos Cães fez-me lembrar de imediato a
respectiva Balada, do Cardoso Pires, e o entusiasmo com que segui, no início
dos anos 60, em tempo real, a história que a censura salazarista filtrava sobre
a descoberta do cadáver do militar antirregime. A desilusão que tive quando se
soube que os assassinos não tinham sido os polícias da António Maria Cardoso,
mas sim os companheiros de esconderijo do major… Nem sempre existe harmonia nas
capoeiras, especialmente quando em vez de existir um galo há mais do que um,
como é o caso do teu velho pescador. Nestas circunstâncias, por vezes
guerreiam-se entre eles, bicada aqui, bicada acolá, perdendo a noção dos respectivos
deveres, e os ovos ficam por chocar com nítido prejuízo para o dono dos
galináceos, que não vê estes a reproduzirem-se. Enfim, desperdício, perda de
oportunidade e, algumas vezes, espectáculo indecoroso. É claro que não podemos
exigir às aves de capoeira que se revelem estadistas (isso só nos mundos
orwelliano e lafontainiano), mas certamente que o teu velho pescador não
deixará de ter em atenção esses comportamentos aquando da selecção de novas
aves. Continuação de bons banhos. Abraço. Carlos Traguelho
Adriano Miranda Lima 02.07.2022: O problema é grave e exige atenção. A qualidade da
classe política tem vindo a diminuir consideravelmente. Muitos dos que são
eleitos não honram o seu compromisso com o eleitorado e considero que a sua
primeira transgressão é näo se darem ao respeito. Como granjear o respeito da
naçäo o político que faz do Parlamento um ringue de boxe ou um palco de
insultos, dichotes e provocações rasteiras? E como resolver o problema?
Anónimo 03.07.2022 12:23: Bonito texto! Infelizmente o abaixamento de nível
civilizacional passou de políticos para cidadãos. Previsível desde que Sócrates,
o Midas, destruiu a escola pública...
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