Mas
não é para já. Porque, enquanto houver E. de V.(s) no mundo, esclarecendo e ironizando, com a prática de
saberes ancestrais aduzidos de saberes mais modernos, obtidos no esforço
literário, responsável do pensamento esclarecido, e não afundado na natureza
puramente (maldosamente?) acessível aos falsos ritos de primitivismo bacoco e
pedante, não julgo que o tal novo tribalismo se imponha assim, apesar dos falsos
ideais de sensibilidade aparentemente e aparatosamente dolorida da tacanhez grosseira
e atrevida dos tempos de hoje, hedonistas e mandriões.
Força,
Eugénia de Vasconcellos, Deus lhe pague por essa coragem transmissora de um pensamento
esclarecido, fruto de inteligência e
trabalho, que certamente obterá frutos – urgentes, para uma mudança de recuo,
na toleima geral.
R.I.P. RAP?
O tribalismo foi algo que superámos
(...) já sabemos onde conduz o pensamento único uma vez estabelecido o inimigo.
O inimigo é «eurocêntrico, branco, hetero-normativo, privilegiado».
EUGÉNIA DE VASCONCELLOS Poeta, ensaísta,
escritora OBSERVADOR,20
jul 2022
Em 2015 saiu o romance 2084, La Fin du Monde, de
Boualem Sansal, ancorado em 1984, de Orwell.
Em 2084 vive-se a
experiência do totalitarismo. Porém
um totalitarismo religioso que tem à
cabeça Abi, profeta
por direito divino e representante, Delegado,
de Yolah. Percebemos que Abistan, ou
seja, toda a civilização
conhecida, é a substanciação de Yolah. Vive-se de e para Yolah num quotidiano super-normativo e
hiper-ritualizado, todavia onde o ritual substituiu o significado e o
símbolo vale per se.
Quem, o que é Yolah? O
embuste, o simulacro de Deus único.
É, de facto, o poder totalizante, absoluto, despótico que não permite o
pensamento, só a submissão. Também não permite a memória de um tempo anterior
pois não existe história. Nem diversidade: não há alteridade porque não há
individualidade. Tudo e todos são diligentemente vigiados para a detecção de
qualquer desvio – e não é que não haja privacidade, o que não pode haver é
sequer a ideia de privacidade. Todos são «eu». Não há «outro». Não
há diferença, se houver, é inimiga. Porém até a palavra «inimigo» supõe uma
fraqueza incomportável do regime e desaparece do vocabulário: a língua, como em
Orwell, é uma e serve ao pensamento único. Pode-se ser aquilo que não se
consegue, não se sabe pensar? O ser ideal não deverá ser consubstancial a
Yolah, portanto, indiferenciado?
Ati, o herói de 2084, procura a fronteira deste estado, império feudal
que, desde a raiz do pensamento se estendeu a quase todos os lugares e pessoas.
Não deixa de ser intimidador que
estes pressupostos de um romance sobre o totalitarismo pseudo-religioso, que
Boualem Sansal dirigiu para um Estado Islâmico, se apliquem na perfeição ao Movimento de Justiça Social, vulgo woke. Jung afirmou que as grandes verdades são paradoxais: as políticas
identitárias estão a destruir a identidade.
Abistan é já hoje uma parte consolidada da Academia, de uma
corrente de pensamento político e filosófico que se iniciou nos anos 60 do
século passado – a bem da verdade, mais cedo, com a Escola de Frankfurt, nos
anos 20-30. Como de
Abistan são todos os que se formaram nessa escola de pensamento
desconstrutivista pós-moderno e fazem
parte dos centros de decisão formal e informal e para quem a ciência e a razão,
vícios do iluminismo colaborantes das estruturas de poder e do falso progresso,
devem ser submetidas à ideologia política e à sua praxis – proponho,
para reforçar a praxis, que diante de uma apendicite, levem o doente para
o xamã/curandeiro/feiticeiro/sacerdote e o mediquem, se for étnica e
culturalmente adequado, com prana.
Isto
vem a propósito dos ataques a Ricardo Araújo Pereira por causa da sua última crónica. E também a propósito
da mais recente adaptação de Jane Austen, Persuasion, já disponível na Netflix – de uma mediocridade
constrangedora, apesar das flores postas em todos os altares woke. E das tranças de Rita Pereira. E
dos pedidos de desculpa de Carolina Deslandes por apropriação cultural. Histórias de hiper-normatividade e vacuidade simbólica. E
porque não «estou farta de viver num país em que cada um diz aquilo que lhe
apetece»: chama-se liberdade de expressão.
Com o atraso do costume, Portugal
entrou no circo das acusações públicas, pelourinhos, purgas, e reeducações de
inspiração maoista – neste momento, estou absolutamente convencida de que o
pensamento de fundo humanista cristão e greco-romano será, a curto prazo, um
movimento clandestino: talvez venhamos a precisar de santo e senha para trocar
os livros de Mark Twain e Homero. Sugiro Ati.
O tribalismo foi algo que superámos,
não deveria ser o nosso presente. Principalmente quando já sabemos onde conduz
o pensamento único uma vez estabelecido o inimigo. O inimigo é «eurocêntrico, branco,
hétero-normativo, privilegiado».
Entre os muitos erros que cometemos
diariamente, nós, civilização ocidental, acertamos muito. Sem elementos
subjectivos, basta consultar os índices de esperança de vida, mortalidade
infantil, riqueza per capita, alfabetização. À realidade política convém
muito pouco a ficção ideológica. Essa está ao serviço das distopias.
POLITICAMENTE
CORRECTO SOCIEDADE
COMENTÁRIOS:
Filipe Costa: Eu sou beje, clarinho. Sou um
gajo que gosta de mulheres, sou o quê? Luís Abrantes: Tristeza de RAP… Paul
C. Rosado: Temos de começar
a acusar certa malta de apropriação cultural de cada vez que usarem coisas como
a roda, electricidade, etc... Temos de responder na mesma
moeda para ver se entendem o absurdo. E temos de começar a gritar racismo, de
cada vez que um miúdo for assaltado à porta da escola. De facto, se o
tivéssemos já feito, talvez a loucura woke não tivesse chegado a este ponto. Paulo
Silva > Paul C. Rosado: Essa malta está sempre um passo mais à frente porque
os conceitos sociológicos que se usam foram os seus gurus que os desenvolveram. Não é à toa que batalhões
de investigadores e cientistas sociais estão em centros de conhecimento pagos
pelo erário durante meses, anos, décadas a trabalhar incansavelmente na
produção de teorias ditas científicas em suporte das suas disruptivas agendas
políticas. Podemos adoptar uma postura mais agressiva ao estilo de
Trump, mas os prosélitos woke invocarão sempre a sua superioridade moral, (ao
ponto de para com isso paradoxalmente recorrerem à violência), e a robustez
intelectual dos seus lideres, perante a nossa rudeza e ignorância. Por isso é
que vozes de intelectuais como Jordan Peterson ou o malogrado Roger Scruton são
tão importantes. Como oásis no deserto… O conceito de ‘apropriação cultural’ em
concreto prende-se com um uso externo de um elemento cultural de forma não
consentida, ou entendida como abusiva, por parte dos membros da cultura à qual
é ‘retirado’. Se os negros detectarem o mais leve indício de abuso nas tranças
da Rita Pereira... têm de ser usadas com muito cuidadinho. Quanto ao ‘racismo’
já vimos que segundo as sumidades um negro pode ter preconceito, mas nunca pode
ser racista com um branco… De qualquer maneira a resistência é urgente, até que
se encontre uma forma mais consistente de combate. Pessoas como a Catarina
Martins e o Rui Tavares deveriam ser chamadas à pedra, pois por trás das
organizações que lideram estão os veículos de transmissão do veneno do
politicamente correcto e do wokeismo. S Belo > Paulo Silva: Muito bem ! Jorge
Lopes: Temos de “
combater” estes fanáticos, não lhes dando tréguas! Obrigado por este
artigo, está muito bom . Paulo
Silva > Jorge Lopes: Por norma no Ocidente os fanáticos estavam confinados
a franjas da sociedade. Estes novos fanáticos começaram por ser poucos, mas
bons; minoritários mas bem colocados. Começaram nas Universidades, passaram
para a CS, para as corporações, para as ong’s, para a política e para as
escolas… tudo minado. As Catarinas Martins e os Rui Tavares deste mundo devem
ser chamados à pedra para acabarem com a loucura!
Vi o famoso basquetebolista Michael Jordan relatar em entrevista que
na sua juventude ao assistir à exibição da mini-série televisiva «Roots», (Raízes), sobre a
escravatura negra nos EUA, confrontou os pais perguntando-lhes se aquilo era
verdade. Estes confirmaram, mas disseram-lhe que era preciso distanciamento.
Até aos 14 anos Michael vivera a sua vida, melhor ou pior, sem guardar rancor. A
partir daí começou a reagir, e a reagir com violência... palavras dele. Estes
movimentos e os seus mentores escavam no passado à procura do trauma para o
reavivar, fazendo ressurgir o ressentimento e a violência. Eles sabem o que
fazem. Em Portugal pessoas como Catarina Martins ou Rui Tavares devem ser
chamados à pedra, repito. Paulo
Silva: eurocêntrico, branco, hétero-normativo,
privilegiado
Pessoas como o académico Boaventura Sousa Santos, por
ex., um guru do multiculturalismo e do alter-globalismo, serão brancas,
hetero-normaitivas e privilegiadas. O euro-centrismo poderá levar a alguma
discussão, mas por certo boa parte da sua formação e educação enquanto pessoas
foi euro-centrada. Serve isto para demonstrar que ser mero portador dos traços
ou dos atributos que a autora identificou como sendo os do ‘inimigo’, ainda não
é condição suficiente para definir esse alguém como inimigo, e muito menos
desencadear um ataque. Para os defensores da política de identidades a
identidade não é inata nem fruto de um processo histórico. A identidade
assume-se, é uma escolha. Assim que alguém assume a defesa de algum traço da
identidade acima em detrimento de outras, mesmo que não tenha os traças, aí
sim, é imediatamente identificado como inimigo e (des)tratado como tal. Foi o
que aconteceu com o sr. RAP , apesar de todos os seus cuidados e diplomacias.
Descuidou-se... A pergunta que fica é, por que razão a assumpção desses
traços identitários despoleta estas reacções violentas? Porque esses traços
foram associados ao opressivo modelo capitalista cujo representante-mor está no
Ocidente. Todos estes movimentos, assumindo-o ou não, têm o seu
fundamento no pensamento de Marx. O mundo está errado, é um lugar de opressão e
exploração e urge transformá-lo para consertá-lo. São identificados como
‘marxismo cultural’ e estão bastante próximos da seita religiosa, como aliás
todo o marxismo clássico, pese embora tivesse andado sempre travestido de
ciência. Veio por isso muito a propósito a incursão religiosa. A
Política enquanto gestão da vida na Pólis, (da cidade, ou da vida em
sociedade), tem obviamente estreitas ligações com a Religião, que foi sempre um
dos seus braços direitos. A atestá-lo temos as figuras do patesi, lugal, faraó,
arconte, cônsul, imperador… chefes temporais e ao mesmo tempo espirituais.
O secularismo libertou a Política do seu braço
metafisico, mas deixou-a com muitos tiques e maneiras dos monoteísmos
salvíficos: milenarismo, messianismo, universalismo, maniqueísmo... Estamos a
assistir ao surgimento de mais uma religião política, chama-se, como atrás
dito, Marxismo Cultural. João
Floriano: Desta vez achei a crónica excelente. Não
estou nem aí para os sofrimentos do RAP. Concordo com muitas das críticas que
lhe têm sido ultimamente feitas. Até certo ponto está a provar do seu
próprio veneno. Arvorou sempre superioridade intelectual e moral e
agora está a ser incomodado por um bando de idiotas que se julgam ainda
mais superiores. Por curiosidade fui ver o que se tinha passado com a Rita
Pereira e a cantora Catarina e cheguei à brilhante conclusão que Rita Pereira
foi ela sim vítima de racismo, porque é branca e ousou fazer trancinhas afro.
Espera-se com impaciência o manual woke a divulgar por todos os salões de
cabeleireiro deste país, quais os estilos de cabelo que podemos usar sem
ofender a pureza do wokismo. Será que os meus cabelos brancos podem ser
considerados ofensa precisamente porque são brancos? Esta questão do
politicamente correcto está a ir longe demais. Paulo Silva > João Floriano Acho a polémica à volta das tranças da Rita Pereira
uma birra infantil e absurda. Se critica é discurso de ódio, se faz tranças é
apropriação. Preso por ter cão, preso por não ter... E as negras que alisam ou
pintam o cabelo de loiro?!… Não é também apropriação cultural?… Os arautos do
politicamente correcto empoderam estes sujeitos históricos, como as mulheres,
os gays ou os ditos racializados, colocam-nos num pedestal, e depois estes
transformam-se em pequenos ditadores… Ninguém lhes pode tocar senão têm acessos
de esquizofrenia… Os negros deviam ficar orgulhosos de verem outros copiar os
seus costumes. É sinal de admiração. (outros até podiam ver aí
subalternização). Faz lembrar o caso de um miúdo branco numa escola
norte-americana que fez umas rastas e que foi apanhado nas escadas da escola
por uma colega negra que o interpelou agressivamente. Depois de uma troca de
argumentos teve de se pôr ao fresco porque se não ainda levava nas trombas. Não
sei se a miúda era mais velha, mas era maior do que ele... Paulo Morisson: A China a rir e a comer-nos de
cebolada. No fim, no finalzinho quem fica a lucrar ? Follow the Money Pedro Caetano: RAP, Deslandes e etc… Alguém a quem se da demasiada
importância, mesmo sem a merecerem. O RAP está a ter o que sempre mereceu. Esse
grande democrata comuna, que não gosta de conviver com as escolhas dos
portugueses. Chupa!!! Paulo
Nunes: RAP é um lobo em pele de cordeiro. Bebe do próprio veneno. Prefiro um pulha transparente
que um falso puro. Miguel
Ramos: Vão mas é
trabalhar!!!
Pobre Portugal: Ricardo Araújo está a provar o seu próprio veneno. Não
é ele quem convida todo e qualquer comunista, mas se recusa a convidar pessoas
do Chega para os seus programas? Esse senhor é assim tão ignorante que não
saiba que a legitimidade democrática entre ambos é exactamente a mesma?! Adoro
isto: ver estes pequenos totalitários a arder na própria fogueira que atearam
para os “outros”. Paulo
Silva > Pobre Portugal: Ainda não percebi se o RAP
tem pedigree, porque nuns momentos
quer parecer muito modernaço, mas noutros ainda está muito preso às doutrinas
da ortodoxia… Uma espécie de sr. Embaixador do PCP junto da esquerda radical e
do seu público. Desta vez teve um descuido e desviou-se da linha estreita…
Levou logo pela medida grande para ver o que é bom p’rá tosse. O Arménio Carlos
foi outro dos que provou do seu próprio veneno do politicamente correcto… Como
soube bem. Pobre
Portugal > Paulo Silva: Gosto tanto do Chega como do
PCP/BE. Ou seja: nada. Mas isso é uma coisa; outra coisa é
“cancelar”/descriminar as pessoas que pertencem a esses partidos. E é isso o
que Araújo Pereira faz! Ao renegar a ida de pessoas do Chega aos seus programas
está a negar-lhes o direito à existência! São atitudes como essa que levaram ao
extermínio de certas minorias ao longo da História. Isso é fanatismo e apologia
ao ódio. É isso o que ele é.
Paulo Silva > Pobre Portugal: Meu caro, gostos não se
discutem, mas convenhamos, comparar o recém-chegado «Chega!» ao PCP e ao BE é
muito forçado. Essas duas forças integram partidos que apoiaram o totalitarismo
vermelho responsável pelo sofrimento de 1 terço da humanidade e se estendeu
décadas. Onde é que tem isso no partido de André Ventura?... Há quem até possa
estar convencido que Ventura é o Diabo em pessoa, mas esses são pobres de
espírito que cedem à lavagem do politicamente correcto. Quanto à crítica à
atitude do RAP concordo totalmente. Mas quem deu início a esta cultura de
descriminação, ou de cancelamento como agora se diz, em torno do «Chega!» e das
pessoas que o compõem foi o PM. O mesmo que em 2015 não teve pruridos em se
aliar ao PCP e ao BE para salvar a pele política. Desde que Ventura chegou à AR
não se cansou de caluniar o seu partido como ‘racista’ e ‘xenófobo’, (acho que
a certa altura até usou o termo ‘fascista’, mas alguém o terá avisado de que
era demais). Se ele acha que o «Chega!» é ‘racista’ tem bom remédio, é dirigir-se
a um tribunal e a apresentar queixa, pois a CRP condena o racismo e o fascismo,
embora não condene o totalitarismo vermelho como o marxismo-leninismo que está
nos estatutos do PCP. Caso contrário cala-se, porque isso é calúnia. Não diria
que RAP ou o PM negam o direito à existência, mas negam direitos de
participação cívica e política.
bento guerra: Coisas do RAP, passo. Desde sempre S Belo > bento guerra: Quanto ao RAP: " so
many noise about nothing". Henrique Mota: Assustador. É preciso
denunciar. Onde estão os fazedores de opinião. Ajudem a divulgar esta farsa. O
povo que acorde. Não siga as pseudo elites S Belo > Henrique Mota: Levará tempo, mas
é possível (oxalá!) que os prosélitos da nossa praça acabem
vencidos pelo ridículo em que caem tentando, de forma desastrada e tola, impor
práticas baseadas em teorias que só conhecem de nome ou...nem isso.
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