quinta-feira, 21 de julho de 2022

Sim, R.I.P.


Mas não é para já. Porque, enquanto houver E. de V.(s) no mundo, esclarecendo e ironizando, com a prática de saberes ancestrais aduzidos de saberes mais modernos, obtidos no esforço literário, responsável do pensamento esclarecido, e não afundado na natureza puramente (maldosamente?) acessível aos falsos ritos de primitivismo bacoco e pedante, não julgo que o tal novo tribalismo se imponha assim, apesar dos falsos ideais de sensibilidade aparentemente e aparatosamente dolorida da tacanhez grosseira e atrevida dos tempos de hoje, hedonistas e mandriões.

Força, Eugénia de Vasconcellos, Deus lhe pague por essa coragem transmissora de um pensamento esclarecido, fruto de inteligência  e trabalho, que certamente obterá frutos – urgentes, para uma mudança de recuo, na toleima geral.

R.I.P.  RAP?

O tribalismo foi algo que superámos (...) já sabemos onde conduz o pensamento único uma vez estabelecido o inimigo. O inimigo é «eurocêntrico, branco, hetero-normativo, privilegiado».

EUGÉNIA DE VASCONCELLOS Poeta, ensaísta, escritora              OBSERVADOR,20 jul 2022

Em 2015 saiu o romance 2084, La Fin du Monde, de Boualem Sansal, ancorado em 1984, de Orwell.

Em 2084 vive-se a experiência do totalitarismo. Porém um totalitarismo religioso que tem à cabeça Abi, profeta por direito divino e representante, Delegado, de Yolah. Percebemos que Abistan, ou seja, toda a civilização conhecida, é a substanciação de Yolah. Vive-se de e para Yolah num quotidiano super-normativo e hiper-ritualizado, todavia onde o ritual substituiu o significado e o símbolo vale per se.

Quem, o que é Yolah? O embuste, o simulacro de Deus único. É, de facto, o poder totalizante, absoluto, despótico que não permite o pensamento, só a submissão. Também não permite a memória de um tempo anterior pois não existe história. Nem diversidade: não há alteridade porque não há individualidade. Tudo e todos são diligentemente vigiados para a detecção de qualquer desvio – e não é que não haja privacidade, o que não pode haver é sequer a ideia de privacidade. Todos são «eu». Não há «outro». Não há diferença, se houver, é inimiga. Porém até a palavra «inimigo» supõe uma fraqueza incomportável do regime e desaparece do vocabulário: a língua, como em Orwell, é uma e serve ao pensamento único. Pode-se ser aquilo que não se consegue, não se sabe pensar? O ser ideal não deverá ser consubstancial a Yolah, portanto, indiferenciado?

Ati, o herói de 2084, procura a fronteira deste estado, império feudal que, desde a raiz do pensamento se estendeu a quase todos os lugares e pessoas.

Não deixa de ser intimidador que estes pressupostos de um romance sobre o totalitarismo pseudo-religioso, que Boualem Sansal dirigiu para um Estado Islâmico, se apliquem na perfeição ao Movimento de Justiça Social, vulgo woke. Jung afirmou que as grandes verdades são paradoxais: as políticas identitárias estão a destruir a identidade.

Abistan é já hoje uma parte consolidada da Academia, de uma corrente de pensamento político e filosófico que se iniciou nos anos 60 do século passado – a bem da verdade, mais cedo, com a Escola de Frankfurt, nos anos 20-30. Como de Abistan são todos os que se formaram nessa escola de pensamento desconstrutivista pós-moderno e fazem parte dos centros de decisão formal e informal e para quem a ciência e a razão, vícios do iluminismo colaborantes das estruturas de poder e do falso progresso, devem ser submetidas à ideologia política e à sua praxis – proponho, para reforçar a praxis, que diante de uma apendicite, levem o doente para o xamã/curandeiro/feiticeiro/sacerdote e o mediquem, se for étnica e culturalmente adequado, com prana.

Isto vem a propósito dos ataques a Ricardo Araújo Pereira por causa da sua última crónica. E também a propósito da mais recente adaptação de Jane Austen, Persuasion, já disponível na Netflix – de uma mediocridade constrangedora, apesar das flores postas em todos os altares wokeE das tranças de Rita Pereira. E dos pedidos de desculpa de Carolina Deslandes por apropriação cultural. Histórias de hiper-normatividade e vacuidade simbólica. E porque não «estou farta de viver num país em que cada um diz aquilo que lhe apetece»: chama-se liberdade de expressão.

Com o atraso do costume, Portugal entrou no circo das acusações públicas, pelourinhos, purgas, e reeducações de inspiração maoista – neste momento, estou absolutamente convencida de que o pensamento de fundo humanista cristão e greco-romano será, a curto prazo, um movimento clandestino: talvez venhamos a precisar de santo e senha para trocar os livros de Mark Twain e Homero. Sugiro Ati.

O tribalismo foi algo que superámos, não deveria ser o nosso presente. Principalmente quando já sabemos onde conduz o pensamento único uma vez estabelecido o inimigo. O inimigo é «eurocêntrico, branco, hétero-normativo, privilegiado».

 Entre os muitos erros que cometemos diariamente, nós, civilização ocidental, acertamos muito. Sem elementos subjectivos, basta consultar os índices de esperança de vida, mortalidade infantil, riqueza per capita, alfabetização. À realidade política convém muito pouco a ficção ideológica. Essa está ao serviço das distopias.

POLITICAMENTE CORRECTO   SOCIEDADE

COMENTÁRIOS:

Filipe Costa: Eu sou beje, clarinho. Sou um gajo que gosta de mulheres, sou o quê?           Luís Abrantes: Tristeza de RAP…            Paul C. Rosado: Temos de começar a acusar certa malta de apropriação cultural de cada vez que usarem coisas como a roda, electricidade, etc... Temos de responder na mesma moeda para ver se entendem o absurdo. E temos de começar a gritar racismo, de cada vez que um miúdo for assaltado à porta da escola. De facto, se o tivéssemos já feito, talvez a loucura woke não tivesse chegado a este ponto.          Paulo Silva > Paul C. Rosado: Essa malta está sempre um passo mais à frente porque os conceitos sociológicos que se usam foram os seus gurus que os desenvolveram. Não é à toa que batalhões de investigadores e cientistas sociais estão em centros de conhecimento pagos pelo erário durante meses, anos, décadas a trabalhar incansavelmente na produção de teorias ditas científicas em suporte das suas disruptivas agendas políticas. Podemos adoptar uma postura mais agressiva ao estilo de Trump, mas os prosélitos woke invocarão sempre a sua superioridade moral, (ao ponto de para com isso paradoxalmente recorrerem à violência), e a robustez intelectual dos seus lideres, perante a nossa rudeza e ignorância. Por isso é que vozes de intelectuais como Jordan Peterson ou o malogrado Roger Scruton são tão importantes. Como oásis no deserto… O conceito de ‘apropriação cultural’ em concreto prende-se com um uso externo de um elemento cultural de forma não consentida, ou entendida como abusiva, por parte dos membros da cultura à qual é ‘retirado’. Se os negros detectarem o mais leve indício de abuso nas tranças da Rita Pereira... têm de ser usadas com muito cuidadinho. Quanto ao ‘racismo’ já vimos que segundo as sumidades um negro pode ter preconceito, mas nunca pode ser racista com um branco… De qualquer maneira a resistência é urgente, até que se encontre uma forma mais consistente de combate. Pessoas como a Catarina Martins e o Rui Tavares deveriam ser chamadas à pedra, pois por trás das organizações que lideram estão os veículos de transmissão do veneno do politicamente correcto e do wokeismo.             S Belo > Paulo Silva: Muito bem !            Jorge Lopes: Temos de “ combater” estes fanáticos, não lhes dando tréguas!  Obrigado por este artigo, está muito bom .                Paulo Silva > Jorge Lopes: Por norma no Ocidente os fanáticos estavam confinados a franjas da sociedade. Estes novos fanáticos começaram por ser poucos, mas bons; minoritários mas bem colocados. Começaram nas Universidades, passaram para a CS, para as corporações, para as ong’s, para a política e para as escolas… tudo minado. As Catarinas Martins e os Rui Tavares deste mundo devem ser chamados à pedra para acabarem com a loucura! Vi o famoso basquetebolista Michael Jordan relatar em entrevista que na sua juventude ao assistir à exibição da mini-série televisiva «Roots», (Raízes), sobre a escravatura negra nos EUA, confrontou os pais perguntando-lhes se aquilo era verdade. Estes confirmaram, mas disseram-lhe que era preciso distanciamento. Até aos 14 anos Michael vivera a sua vida, melhor ou pior, sem guardar rancor. A partir daí começou a reagir, e a reagir com violência... palavras dele. Estes movimentos e os seus mentores escavam no passado à procura do trauma para o reavivar, fazendo ressurgir o ressentimento e a violência. Eles sabem o que fazem. Em Portugal pessoas como Catarina Martins ou Rui Tavares devem ser chamados à pedra, repito.                Paulo Silva: eurocêntrico, branco, hétero-normativo, privilegiado

Pessoas como o académico Boaventura Sousa Santos, por ex., um guru do multiculturalismo e do alter-globalismo, serão brancas, hetero-normaitivas e privilegiadas. O euro-centrismo poderá levar a alguma discussão, mas por certo boa parte da sua formação e educação enquanto pessoas foi euro-centrada. Serve isto para demonstrar que ser mero portador dos traços ou dos atributos que a autora identificou como sendo os do ‘inimigo’, ainda não é condição suficiente para definir esse alguém como inimigo, e muito menos desencadear um ataque. Para os defensores da política de identidades a identidade não é inata nem fruto de um processo histórico. A identidade assume-se, é uma escolha. Assim que alguém assume a defesa de algum traço da identidade acima em detrimento de outras, mesmo que não tenha os traças, aí sim, é imediatamente identificado como inimigo e (des)tratado como tal. Foi o que aconteceu com o sr. RAP , apesar de todos os seus cuidados e diplomacias. Descuidou-se... A pergunta que fica é, por que razão a assumpção desses traços identitários despoleta estas reacções violentas? Porque esses traços foram associados ao opressivo modelo capitalista cujo representante-mor está no Ocidente. Todos estes movimentos, assumindo-o ou não, têm o seu fundamento no pensamento de Marx. O mundo está errado, é um lugar de opressão e exploração e urge transformá-lo para consertá-lo. São identificados como ‘marxismo cultural’ e estão bastante próximos da seita religiosa, como aliás todo o marxismo clássico, pese embora tivesse andado sempre travestido de ciência. Veio por isso muito a propósito a incursão religiosa. A Política enquanto gestão da vida na Pólis, (da cidade, ou da vida em sociedade), tem obviamente estreitas ligações com a Religião, que foi sempre um dos seus braços direitos. A atestá-lo temos as figuras do patesi, lugal, faraó, arconte, cônsul, imperador… chefes temporais e ao mesmo tempo espirituais.

O secularismo libertou a Política do seu braço metafisico, mas deixou-a com muitos tiques e maneiras dos monoteísmos salvíficos: milenarismo, messianismo, universalismo, maniqueísmo... Estamos a assistir ao surgimento de mais uma religião política, chama-se, como atrás dito, Marxismo Cultural.             João Floriano:  Desta vez achei  a crónica excelente. Não estou nem aí para os sofrimentos do RAP. Concordo com muitas das críticas que lhe têm sido ultimamente feitas. Até certo ponto está  a provar do seu próprio veneno. Arvorou sempre   superioridade intelectual e moral e agora está  a ser incomodado por um bando de idiotas que se julgam ainda mais superiores. Por curiosidade fui ver o que se tinha passado com a Rita Pereira e a cantora Catarina e cheguei à brilhante conclusão que Rita Pereira foi ela sim vítima de racismo, porque é branca e ousou fazer trancinhas afro. Espera-se com impaciência o manual woke a divulgar por todos os salões de cabeleireiro deste país, quais os estilos de cabelo que podemos usar sem ofender a pureza do wokismo. Será que os meus cabelos brancos podem ser considerados ofensa precisamente porque são brancos? Esta questão do politicamente correcto está  a ir longe demais               Paulo Silva > João Floriano Acho a polémica à volta das tranças da Rita Pereira uma birra infantil e absurda. Se critica é discurso de ódio, se faz tranças é apropriação. Preso por ter cão, preso por não ter... E as negras que alisam ou pintam o cabelo de loiro?!… Não é também apropriação cultural?… Os arautos do politicamente correcto empoderam estes sujeitos históricos, como as mulheres, os gays ou os ditos racializados, colocam-nos num pedestal, e depois estes transformam-se em pequenos ditadores… Ninguém lhes pode tocar senão têm acessos de esquizofrenia… Os negros deviam ficar orgulhosos de verem outros copiar os seus costumes. É sinal de admiração. (outros até podiam ver aí subalternização). Faz lembrar o caso de um miúdo branco numa escola norte-americana que fez umas rastas e que foi apanhado nas escadas da escola por uma colega negra que o interpelou agressivamente. Depois de uma troca de argumentos teve de se pôr ao fresco porque se não ainda levava nas trombas. Não sei se a miúda era mais velha, mas era maior do que ele...             Paulo Morisson: A China a rir e a comer-nos de cebolada. No fim, no finalzinho quem fica a lucrar ? Follow the Money          Pedro Caetano: RAP, Deslandes e etc… Alguém a quem se da demasiada importância, mesmo sem a merecerem. O RAP está a ter o que sempre mereceu. Esse grande democrata comuna, que não gosta de conviver com as escolhas dos portugueses. Chupa!!!            Paulo Nunes: RAP é um lobo em pele de cordeiro. Bebe do próprio veneno. Prefiro um pulha transparente que um falso puro.          Miguel Ramos: Vão mas é trabalhar!!!              Pobre Portugal: Ricardo Araújo está a provar o seu próprio veneno. Não é ele quem convida todo e qualquer comunista, mas se recusa a convidar pessoas do Chega para os seus programas? Esse senhor é assim tão ignorante que não saiba que a legitimidade democrática entre ambos é exactamente a mesma?! Adoro isto: ver estes pequenos totalitários a arder na própria fogueira que atearam para os “outros”.            Paulo Silva > Pobre Portugal: Ainda não percebi se o RAP tem pedigree, porque nuns momentos quer parecer muito modernaço, mas noutros ainda está muito preso às doutrinas da ortodoxia… Uma espécie de sr. Embaixador do PCP junto da esquerda radical e do seu público. Desta vez teve um descuido e desviou-se da linha estreita… Levou logo pela medida grande para ver o que é bom p’rá tosse. O Arménio Carlos foi outro dos que provou do seu próprio veneno do politicamente correcto… Como soube bem.          Pobre Portugal > Paulo Silva: Gosto tanto do Chega como do PCP/BE. Ou seja: nada. Mas isso é uma coisa; outra coisa é “cancelar”/descriminar as pessoas que pertencem a esses partidos. E é isso o que Araújo Pereira faz! Ao renegar a ida de pessoas do Chega aos seus programas está a negar-lhes o direito à existência! São atitudes como essa que levaram ao extermínio de certas minorias ao longo da História. Isso é fanatismo e apologia ao ódio. É isso o que ele é.                 Paulo Silva > Pobre Portugal: Meu caro, gostos não se discutem, mas convenhamos, comparar o recém-chegado «Chega!» ao PCP e ao BE é muito forçado. Essas duas forças integram partidos que apoiaram o totalitarismo vermelho responsável pelo sofrimento de 1 terço da humanidade e se estendeu décadas. Onde é que tem isso no partido de André Ventura?... Há quem até possa estar convencido que Ventura é o Diabo em pessoa, mas esses são pobres de espírito que cedem à lavagem do politicamente correcto. Quanto à crítica à atitude do RAP concordo totalmente. Mas quem deu início a esta cultura de descriminação, ou de cancelamento como agora se diz, em torno do «Chega!» e das pessoas que o compõem foi o PM. O mesmo que em 2015 não teve pruridos em se aliar ao PCP e ao BE para salvar a pele política. Desde que Ventura chegou à AR não se cansou de caluniar o seu partido como ‘racista’ e ‘xenófobo’, (acho que a certa altura até usou o termo ‘fascista’, mas alguém o terá avisado de que era demais). Se ele acha que o «Chega!» é ‘racista’ tem bom remédio, é dirigir-se a um tribunal e a apresentar queixa, pois a CRP condena o racismo e o fascismo, embora não condene o totalitarismo vermelho como o marxismo-leninismo que está nos estatutos do PCP. Caso contrário cala-se, porque isso é calúnia. Não diria que RAP ou o PM negam o direito à existência, mas negam direitos de participação cívica e política.             bento guerra: Coisas do RAP, passo. Desde sempre         S Belo > bento guerra: Quanto ao RAP:  " so many noise about nothing".              Henrique Mota: Assustador. É preciso denunciar. Onde estão os fazedores de opinião. Ajudem a divulgar esta farsa. O povo que acorde. Não siga as pseudo elites            S Belo > Henrique Mota: Levará  tempo,  mas é  possível (oxalá!) que os prosélitos da nossa praça  acabem vencidos pelo ridículo em que caem tentando, de forma desastrada e tola, impor práticas baseadas em teorias que só  conhecem de nome ou...nem isso.

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