domingo, 17 de julho de 2022

Liberdade de culto


Já lá vai o tempo das evangelizações e dos proselitismos, embora haja ainda seitas de variada espécie que tentam impor, pela missionação, os dados do seu sectarismo, aproveitando-se da ingenuidade dos povos, ou das suas aflições, para ir difundindo as luzes das suas crenças e saberes. De sabores também. Não é, certamente, esse, o papel da Igreja Católica nos países não praticantes. Os católicos que vivem na China, julgo que apenas desejam poder edificar os seus locais de culto para praticar a sua fé, sem qualquer intuito de se imiscuírem nas práticas alheias. Só é de lamentar o rigor persecutório do partido comunista chinês, que, todavia, não causa espanto, dada a sua natureza maciamente dominadora.

Mas o texto do P GONÇALO P DE ALMADA, serviu também para uma breve pesquisa na Internet sobre o culto chinês, e fico grata a ambos –  P Gonçalo e Wikipédia. Os comentários ficam para os comentadores.

O martírio silencioso dos católicos da China

O Papa, embora reconhecendo algumas dificuldades e lentidão, considera positivo o Acordo entre a Santa Sé e a China, o que leva a crer que será renovado.

P. GONÇALO PORTOCARRERO DE ALMADA

OBSERVADOR, 16 jul 2022, 00:1917

Em 2018 foi assinado um Acordo provisório, por dois anos, entre a Santa Sé e a República Popular da China, em ordem à normalização das relações entre este Estado comunista e a Igreja católica. O teor deste Acordo, que foi assinado pelo Cardeal Secretário de Estado, Pietro Parolin, permanece secreto. Tendo sido renovado por mais dois anos em 2020, deverá ser de novo prorrogado, em Outubro próximo.

A China não reconhece a liberdade religiosa dos seus cidadãos, nem admite a interferência de uma autoridade religiosa não-chinesa, como é o Papa, em questões que entende serem da sua exclusiva competência. Neste sentido, criou há já alguns anos a Associação Católica Patriótica da China, em oposição à verdadeira Igreja católica chinesa, cuja hierarquia é perseguida pelo Estado comunista.

Para pôr termo a esta dualidade, a Santa Sé subscreveu um Acordo provisório com os dirigentes chineses, em que, ipso facto, reconhece como legítima a chamada igreja patriótica. A única hierarquia existente na China continental é, agora, a da associação patriótica, cujos bispos, mesmo sem necessidade de nenhuma profissão de fé, ou declaração de fidelidade ao Papa, são bispos de pleno direito da Igreja católica.

O Acordo entre a Santa Sé e a China prevê um entendimento para a nomeação dos bispos católicos. Sobre esta questão, a revista italiana “Tempi” apresentou dados preocupantes: nos últimos tempos só foram nomeados 6 novos bispos, enquanto 60 dioceses chinesas continuam a aguardar a nomeação do respectivo prelado! Ainda que, formalmente, Pequim reconheça a autoridade do Papa, vários dos bispos nomeados recentemente foram anunciados pelas autoridades comunistas, sem o conhecimento prévio da Santa Sé, que se viu obrigada a aceitar o facto consumado, para não pôr em risco o Acordo provisório.

É verdade que já não há, em sentido estricto, uma igreja católica chinesa que seja cismática, o que é certamente positivo. Porém, a actual igreja católica desse país, na medida em que é a antiga associação patriótica, está na total dependência do Partido Comunista Chinês (PCC). Era suposto que os bispos, sacerdotes e leigos da Igreja católica chinesa abandonassem a clandestinidade em que têm vivido, para se integrarem na igreja patriótica, que agora conta com o reconhecimento do Vaticano. Contudo, muitos dos católicos clandestinos negaram-se a dar esse passo, para não afirmarem a supremacia do Estado sobre a Igreja, nem a prioridade dos dogmas do PCC em relação aos ensinamentos da Igreja.

Ciente desta situação, a Secretaria de Estado da Santa Sé publicou, em 2019, uma nota em que “compreende e aceita a escolha daqueles que, em consciência, decidirem que, nas actuais circunstâncias, não se podem inscrever” na igreja patriótica. Muitos dos bispos e sacerdotes que se negaram a integrar a associação patriótica foram detidos, ou estão desaparecidos.

Pequim não só não abrandou a sua política de perseguição religiosa como, até, a endureceu: recentemente interditou, aos menores de 18 anos, a participação em aulas de catequese, bem como a frequência das igrejas. Por outro lado, as comunidades religiosas não podem, sem autorização do Estado, organizar quaisquer actividades.

Desde o passado dia 1 de Março, proibiu-se também “evangelizar ou organizar cursos de educação religiosa pela internet e, ainda, aí publicar homilias ou conteúdos relacionados com a religião”. Também está proibida a transmissão de missas on line, bem como publicar imagens, áudios ou vídeos de celebrações religiosas. Não se permite a venda, pela net, dos Evangelhos e, nas redes sociais, não é permitido escrever certas palavras, como ‘Jesus’, ‘ámen’ ou ‘cristão’.

É o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado, quem lidera as negociações com as autoridades chinesas, seguindo a política dos pequenos passos, do falecido Cardeal Agostino Casaroli, precursor da Ostpolitik do Vaticano com os então países da cortina de ferro. Este Secretário de Estado promoveu conversações bilaterais com os regimes comunistas europeus, à margem dos respectivos episcopados, que não viram com bons olhos essa interferência da diplomacia vaticana no que respeita às relações entre esses Estados totalitários e as respectivas Igrejas católicas. Não obstante os bons ofícios de Casaroli e a sua persistência, a que se chamou ‘o martírio da paciência’, o resultado dessas negociações, salvo a resolução de alguma questão pontual, foi praticamente nulo. De facto, foi a São João Paulo II que se ficou a dever, exclusivamente, a libertação religiosa e política da Polónia e de todos os países do Leste europeu.

O Cardeal Joseph Zen, salesiano e arcebispo emérito de Hong-Kong, desde sempre se opôs ao acordo entre a Santa Sé e a República Popular da China. Em Setembro de 2020, não obstante os seus então 88 anos, foi expressamente a Roma, para interceder junto do Papa pelos católicos de Hong-Kong e de toda a China. Infelizmente, não pôde ser recebido por Francisco a quem, contudo, fez chegar uma carta nesse sentido. Tendo corajosamente regressado à sua terra, foi detido, no início de Maio deste ano, acusado de “conspirar com forças estrangeiras”. Dados os seus actuais 90 anos, foi pouco depois libertado, mas será julgado a 19 de Setembro e, se for dada como provada a acusação, arrisca-se a ser condenado a prisão perpétua. Depois das manifestações pró-democracia em 2019, a Lei de Segurança Nacional, de 2020, suprimiu a liberdade de expressão, o que levou à detenção de dezenas de activistas pró-democracia, muitos deles católicos.

Em declarações recentes, o Papa Francisco, embora reconhecendo algumas dificuldades e lentidão, considerou que o processo negocial está a correr bem, o que leva a crer que, por vontade do Santo Padre, o acordo será renovado. Na Secretaria de Estado, contudo, nem todos partilham a esperança e optimismo de Francisco: um alto funcionário diplomático da Santa Sé, não identificado, em declarações a “The Pillar”, reproduzidas pela Infovaticana, considerou que o acordo entre a Santa Sé e a República Popular da China é “um fracasso”.

O arcebispo emérito de Hong-Kong não nega a boa intenção da Santa Sé, ao aceitar negociações com o Estado comunista chinês, mas teme que esta tenha sido uma “decisão imprudente” da Secretaria de Estado do Vaticano. Infelizmente, os factos ainda não permitem prever o fim do martírio silencioso dos católicos da China. Como disse o Cardeal Zen, numa missa pelos que, como ele, sofrem perseguição por causa da fé, “o martírio é normal na nossa Igreja”.

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COMENTÁRIOS:

Carminda Damiao: É muito triste o que se passa na China. Confiar na liberdade de comunistas é o que está à vista.              João Paulo Reis: Os católicos na China foram silenciados pelo acordo entre a China e o Vaticano engendrado com promessas de liberdade que na realidade resultou exactamente no oposto vendo os seus direitos e liberdades violados e enviados para a boca do dragão por alguns na sua Igreja. Há, quem não queira assumir a defesa dos católicos chineses com medo de serem vistos como atacantes do Papa, sejamos coerentes e não vivamos com ‘double standards’, que quase sempre são sinónimo de hipocrisia, e assumamos, sem medo, que o acordo do Vaticano com a China é um fracasso, os católicos, viram-se “vendidos” pelo Cardeal Sec. de Estado do Vaticano, Pier Parolin, com a sua estratégia. “Rendidos” ou “vendidos”.               LÚCIO MONTEIRO: Quer ter Sol na eira e chuva no nabal ao mesmo tempo? Nem por milagre. É isso tudo. Como tudo na vida, também a complexa questão da liberdade religiosa tem perspetivas diferentes: uma, daqueles que pretendem “semear” a fé, e a daqueles que também assiste o direito de não estarem interessados em ser convertidos. A Igreja Católica - e o Cristianismo em geral – segue à letra o ensinamento evangélico: “Vós sois o sal da terra”. Levando à letra este mandamento, toda a terra deve ser “salgada”. Acontece, porém, que nem todos estão para virados, a ponto de se deixarem “salgar”. E vai daí, reagirem por vezes a essa invasão “alienígena”. Muitos não terão consciência de que a disseminação da doutrina católica implica transformar toda a sociedade que pretende "ocupar", inclusive, as crenças religiosas já preexistentes e os costumes, que, normalmente, são os costumes ocidentais. A questão pertinente que se levanta, no tocante à liberdade religiosa, é a seguinte: quem dá à Igreja Católica o direito de se imiscuir numa dada sociedade, - que já cultiva as suas crenças religiosas e os seus costumes - pretendendo transformá-la, à imagem da doutrina católica? E se ocorre alguma reação a essa imposição da Igreja Católica,” Aqui d’el rei que nos estão a perseguir! No caso concreto da China e outros países orientais, a penetração da Igreja Católica sempre foi, é e será problemática, pelas razões atrás expendidas. Trata-se de uma questão de autodefesa social, embora, para a Igreja, esta não seja uma questão relevante.             Alberto Rei > LÚCIO MONTEIRO: Monteiro, tens razão neste caso, mas não digas a ninguém. É verdade, o que é que dá à Igreja Católica, o direito de se imiscuir numa determinada sociedade, pretendendo transformá-la (influenciá-la)? e subjugá-la aos ditames do Vaticano? basta ver o caso de Hong Kong ? o cardeal pura e simplesmente imiscui-se nas questões políticas da China, e juntou-se à malandragem que a insolência anglo-saxónica apelidava de movimento pro-democracia. a China sabe perfeitamente o que é que esse "movimento" pretende e, portanto, não está para aturar ingerências, e as pessoas se querem que haja mais cristãos nesta terra, têm de aceitar os direitos dos outros. Parece simples, mas é difícil de ser aceite pela insolência anglo-saxónica.              Luis Santos: Isto seria idílico para os nossos comunas tontos. Controlar a igreja, o povo , tudo , quem come, como come . Enfim Jerónimo, Bento Guerra, Advoga Diabo , José Maria , estariam bem na China.             bento guerra > Luis Santos: Passo ao lado, oh Santos menor             Américo Silva: O catolicismo tem sido um instrumento de expansão imperial, condena o aborto e apoia o Biden. E qual a opinião da igreja relativamente a Taiwan? não foram os chineses que vieram extorquir a europa, ou por palavras santas, pelos frutos se conhece a árvore.

bento guerra: Uns tantos mártires sempre deram jeito à ICAR e os da China nem serão degolados ,como os de Marrocos                 Coronavirus corona > bento guerra: Não. Os que estão desaparecidos enganaram-se no autocarro. Mas logo logo aparecem. Só uma nota Bento: os mártires são a Igreja. O que está a dizer, por ignorância, é que os mártires dão jeito a eles mesmos.                bento guerra > Coronavirus corona: Não sabia. Onde foi o seu martírio?(algum whisky com pouco gelo?) Já vi os mártires em vários altares e como sabe o nosso S. António até lá foi em peregrinação, e riam de deleite.                   Coronavirus corona > bento guerra: Mais devagar a ver. Eu disse que os mártires são a Igreja; não disse que todos os membros da igreja são mártires.              João Angolano: O homem novo chinês filho do partido comunista é um hamster que já nem sequer é condicionado pelo medo uma vez que já se encontra desprovido de sentimentos. VIVAM AS GRANDES CONQUISTAS DO POVO CHINÊS! VIVA O PARTIDO COMUNISTA! POVOS DE TODO O MUNDO UNI-VOS!!           Alberto Rei > João Angolano: Ó d' Angola, como tás tão enganado, conheces lá o povo chinês tu, não mandes cocas à toa.              Alberto Rei > Alberto Rei: bocas           Alberto Conde Moreno: As “amplas” liberdades comunistas.                Coronavirus corona: O que a China está a fazer não é sequer notícia por cá. E não o é porque aquilo que a China está a fazer é o sonho de muitos eurodeputados para esta Europa.                   Lily Lx: Triste realidade. A China é um problema no mundo.

NOTAS DA INTERNET:

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Religião na China

China segue oficialmente o ateísmo de Estado. Muitos cidadãos chineses, incluindo membros do Partido Comunista da China (PCC), praticam algum tipo de religião popular chinesa. A civilização chinesa é historicamente o berço e anfitrião de uma variedade das mais duradouras tradições religioso-filosóficas do mundo. confucionismo e o taoismo, mais tarde unidos pelo budismo, constituem os "três ensinamentos" que moldaram a cultura chinesa. Não existem barreiras claras entre estes sistemas religiosos interligados, que não pretendem ser exclusivos, e elementos de cada religião popular ou folclórica enriquecedora. Os imperadores da China reivindicaram o Mandato do Céu e participaram nas práticas religiosas chinesas. No início do século XX, funcionários e intelectuais reformistas atacaram todas as religiões como "supersticiosas", e desde 1949, a China é governada pelo PCC, uma instituição ateísta que proíbe os membros do partido de praticarem a religião durante o seu mandato. No culminar de uma série de campanhas ateístas e antirreligiosas já em curso desde o final do século XIX, a Revolução Cultural contra velhos hábitos, ideias, costumes e cultura, que durou de 1966 a 1976, destruiu-os ou forçou-os à clandestinidade.  Sob os líderes subsequentes, as organizações religiosas foram dotadas de maior autonomia. O governo reconhece formalmente cinco religiões: budismo, taoísmo, catolicismoprotestantismo, e islamismo. No início do século XXI, há reconhecimento oficial crescente do confucionismo e da religião popular chinesa como parte da herança cultural da China.

A religião popular, o sistema de crenças e práticas mais difundido, evoluiu e adaptou-se pelo menos desde as dinastias Xangue e Zhou, no segundo milénio a.C. Os elementos fundamentais de uma teologia e explicação espiritual da natureza do universo remontam a este período e foram mais elaborados na Era Axial. A religião chinesa envolve a fidelidade ao xangue, frequentemente traduzida como "espírito", definindo uma variedade de deuses e imortais. Estes podem ser divindades do ambiente natural ou princípios ancestrais de grupos humanos, conceitos de civilidade, heróis culturais, muitos dos quais figuram na mitologia chinesa e na história.  A filosofia e a prática religiosa de Confúcio começaram a sua longa evolução durante a posterior Zhou; religiões institucionalizadas taoistas desenvolvidas pela dinastia Han; o budismo chinês tornou-se amplamente popular pela dinastia Tang, e em resposta, os pensadores confucionistas desenvolveram filosofias neoconfucionistas; e os movimentos populares de salvação e cultos locais prosperaram.

O cristianismo e o islamismo chegaram à China no século VII. O cristianismo não criou raízes até ter sido reintroduzido no século XVI pelos missionários jesuítas.  No início do século XX, as comunidades cristãs cresceram, mas após 1949, os missionários estrangeiros foram expulsos, e as igrejas foram colocadas sob instituições controladas pelo governo. Após os finais dos anos 70, as liberdades religiosas dos cristãos melhoraram e surgiram novos grupos chineses. O Islão tem sido praticado na sociedade chinesa desde há 1400 anos. Actualmente, os muçulmanos são um grupo minoritário na China, representando entre 0,45% a 1,8% da população total, segundo as últimas estimativas.  Embora os muçulmanos hui sejam o grupo mais numeroso,  a maior concentração de muçulmanos encontra-se em Xinjiang, com uma significativa população uigur. A China é também frequentemente considerada o lar do humanismo e do secularismo, ideologias mundanas que começam no tempo de Confúcio.

Como muitos chineses han não consideram as suas crenças e práticas espirituais como uma "religião" e não sentem que devem praticar nenhuma delas exclusivamente, é difícil reunir estatísticas claras e fiáveis. Segundo a opinião académica, "a grande maioria da população da China de 1,4 mil milhões" participa na religião cosmológica chinesa, nos seus rituais e festivais do calendário lunar, sem pertencer a qualquer ensinamento institucional. Estudos nacionais realizados no início do século XXI estimam que cerca de 80% da população da China, mais de mil milhões de pessoas, pratica algum tipo de religião popular chinesa; 13–16% são budistas; 10% são taoistas; 2,53% são cristãos; e 0,83% são muçulmanos. Os movimentos populares religiosos de salvação constituem entre 2–3% a 13% da população, enquanto muitos na classe intelectual aderem ao confucionismo como uma identidade religiosa. Além disso, grupos étnicos minoritários praticam religiões distintas, incluindo budismo tibetano, e o islamismo entre os povos Hui e Uigur.

 

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