Já lá vai o tempo das evangelizações e dos proselitismos, embora haja ainda
seitas de variada espécie que tentam impor, pela missionação, os dados do seu
sectarismo, aproveitando-se da ingenuidade dos povos, ou das suas aflições,
para ir difundindo as luzes das suas crenças e saberes. De sabores também. Não é,
certamente, esse, o papel da Igreja Católica nos países não praticantes. Os
católicos que vivem na China, julgo que apenas desejam poder edificar os seus
locais de culto para praticar a sua fé, sem qualquer intuito de se imiscuírem nas
práticas alheias. Só é de lamentar o rigor persecutório do partido comunista
chinês, que, todavia, não causa espanto, dada a sua natureza maciamente dominadora.
Mas o texto do P GONÇALO P DE ALMADA, serviu também para uma breve pesquisa
na Internet sobre o culto chinês, e fico grata a ambos – P Gonçalo e Wikipédia. Os comentários ficam para os comentadores.
O
martírio silencioso dos católicos da China
O Papa, embora reconhecendo algumas
dificuldades e lentidão, considera positivo o Acordo entre a Santa Sé e a China,
o que leva a crer que será renovado.
P. GONÇALO
PORTOCARRERO DE ALMADA
OBSERVADOR, 16 jul 2022, 00:1917
Em 2018 foi assinado um Acordo
provisório, por dois anos, entre a Santa Sé e a República Popular da China, em
ordem à normalização das relações entre este Estado comunista e a Igreja
católica. O teor deste Acordo, que foi
assinado pelo Cardeal Secretário de Estado, Pietro Parolin, permanece
secreto. Tendo sido renovado por mais dois anos em 2020, deverá ser de novo
prorrogado, em Outubro próximo.
A China não reconhece a liberdade
religiosa dos seus cidadãos, nem admite a interferência de uma autoridade
religiosa não-chinesa, como é o Papa, em questões que entende serem da sua
exclusiva competência. Neste sentido, criou há já alguns anos a Associação
Católica Patriótica da China, em oposição à verdadeira Igreja católica chinesa,
cuja hierarquia é perseguida pelo Estado comunista.
Para pôr termo a esta
dualidade, a Santa Sé subscreveu um Acordo provisório com os dirigentes
chineses, em que, ipso facto, reconhece como legítima a
chamada igreja patriótica. A única hierarquia existente na China continental é, agora, a da
associação patriótica, cujos bispos, mesmo sem necessidade de nenhuma profissão
de fé, ou declaração de fidelidade ao Papa, são bispos de pleno direito da
Igreja católica.
O Acordo entre a Santa Sé e a
China prevê um entendimento para a nomeação dos bispos católicos. Sobre
esta questão, a revista italiana “Tempi” apresentou dados
preocupantes: nos
últimos tempos só foram nomeados 6 novos bispos, enquanto 60 dioceses chinesas
continuam a aguardar a nomeação do respectivo prelado! Ainda que, formalmente,
Pequim reconheça a autoridade do Papa, vários dos bispos nomeados recentemente
foram anunciados pelas autoridades comunistas, sem o conhecimento prévio da
Santa Sé, que se viu obrigada a aceitar o facto consumado, para não pôr em
risco o Acordo provisório.
É
verdade que já não
há, em sentido estricto, uma igreja católica chinesa que seja cismática, o que é certamente positivo. Porém, a actual igreja católica
desse país, na medida em que é a antiga associação patriótica, está na total
dependência do Partido Comunista Chinês (PCC). Era suposto que os bispos, sacerdotes e leigos da Igreja católica
chinesa abandonassem a clandestinidade em que têm vivido, para se integrarem na
igreja patriótica, que agora conta com o reconhecimento do Vaticano. Contudo,
muitos dos católicos clandestinos negaram-se a dar esse passo, para não
afirmarem a supremacia do Estado sobre a Igreja, nem a prioridade dos dogmas do
PCC em relação aos ensinamentos da Igreja.
Ciente desta situação, a
Secretaria de Estado da Santa Sé publicou, em 2019, uma nota em que “compreende
e aceita a escolha daqueles que, em consciência, decidirem que, nas actuais
circunstâncias, não se podem inscrever” na igreja patriótica. Muitos
dos bispos e sacerdotes que se negaram a integrar a associação patriótica foram
detidos, ou estão desaparecidos.
Pequim não só não abrandou a
sua política de perseguição religiosa como, até, a endureceu: recentemente
interditou, aos menores de 18 anos, a participação em aulas de catequese, bem
como a frequência das igrejas. Por outro lado, as comunidades religiosas não
podem, sem autorização do Estado, organizar quaisquer actividades.
Desde
o passado dia 1 de Março, proibiu-se
também “evangelizar ou organizar cursos de educação religiosa pela internet e,
ainda, aí publicar homilias ou conteúdos relacionados com a religião”. Também
está proibida a transmissão de missas on line, bem como publicar imagens,
áudios ou vídeos de celebrações religiosas. Não se permite a venda, pela net,
dos Evangelhos e, nas redes sociais, não é permitido escrever certas palavras,
como ‘Jesus’, ‘ámen’ ou ‘cristão’.
É
o Cardeal
Pietro Parolin, Secretário de Estado,
quem lidera as negociações com as autoridades chinesas, seguindo a política dos
pequenos passos, do falecido Cardeal
Agostino Casaroli, precursor da Ostpolitik do
Vaticano com os então países da cortina de ferro. Este Secretário de Estado promoveu conversações bilaterais com os
regimes comunistas europeus, à margem dos respectivos episcopados, que não
viram com bons olhos essa interferência da diplomacia vaticana no que respeita
às relações entre esses Estados totalitários e as respectivas Igrejas católicas. Não obstante os bons ofícios de Casaroli e a sua persistência, a
que se chamou ‘o martírio da paciência’, o resultado dessas negociações, salvo
a resolução de alguma questão pontual, foi praticamente nulo. De facto, foi
a São João
Paulo II que se ficou a dever,
exclusivamente, a libertação religiosa e política da Polónia e de todos os
países do Leste europeu.
O Cardeal Joseph Zen, salesiano
e arcebispo emérito de Hong-Kong, desde sempre se opôs ao
acordo entre a Santa Sé e a República Popular da China. Em Setembro de 2020, não obstante os seus então 88 anos, foi
expressamente a Roma, para interceder junto do Papa pelos católicos de
Hong-Kong e de toda a China. Infelizmente, não pôde ser recebido por Francisco
a quem, contudo, fez chegar uma carta nesse sentido. Tendo corajosamente
regressado à sua terra, foi detido, no início de Maio deste ano, acusado de
“conspirar com forças estrangeiras”. Dados os seus actuais 90 anos, foi pouco
depois libertado, mas será julgado a 19 de Setembro e, se for dada como provada
a acusação, arrisca-se a ser condenado a prisão perpétua. Depois das manifestações pró-democracia em 2019, a Lei de
Segurança Nacional, de 2020, suprimiu a liberdade de expressão, o que levou à
detenção de dezenas de activistas pró-democracia, muitos deles católicos.
Em declarações recentes, o Papa
Francisco, embora reconhecendo algumas dificuldades e lentidão, considerou que
o processo negocial está a correr bem, o que leva a crer que, por vontade do
Santo Padre, o acordo será renovado.
Na Secretaria de Estado, contudo, nem todos partilham a esperança e optimismo
de Francisco: um alto funcionário diplomático da Santa Sé, não identificado, em
declarações a “The Pillar”, reproduzidas pela Infovaticana,
considerou que o acordo entre a Santa Sé e a República Popular da China é “um
fracasso”.
O arcebispo emérito de
Hong-Kong não nega a boa intenção da Santa Sé, ao aceitar negociações com o
Estado comunista chinês, mas teme que esta tenha sido uma “decisão imprudente”
da Secretaria de Estado do Vaticano. Infelizmente, os factos ainda não permitem
prever o fim do martírio silencioso dos católicos da China. Como disse o Cardeal
Zen, numa missa pelos que, como ele, sofrem perseguição por causa da fé, “o
martírio é normal na nossa Igreja”.
LIBERDADE
RELIGIOSA LIBERDADES SOCIEDADE CHINA MUNDO IGREJA
CATÓLICA RELIGIÃO
COMENTÁRIOS:
Carminda Damiao: É muito triste o que se passa na China. Confiar na liberdade de comunistas
é o que está à vista.
João Paulo Reis: Os católicos na China foram silenciados pelo acordo
entre a China e o Vaticano engendrado com promessas de liberdade que na
realidade resultou exactamente no oposto vendo os seus direitos e liberdades
violados e enviados para a boca do dragão por alguns na sua Igreja. Há, quem
não queira assumir a defesa dos católicos chineses com medo de serem vistos
como atacantes do Papa, sejamos coerentes e não vivamos com ‘double standards’,
que quase sempre são sinónimo de hipocrisia, e assumamos, sem medo, que o acordo
do Vaticano com a China é um fracasso, os católicos, viram-se “vendidos” pelo
Cardeal Sec. de Estado do Vaticano, Pier Parolin, com a sua estratégia.
“Rendidos” ou “vendidos”. LÚCIO
MONTEIRO: Quer ter Sol na eira e chuva no nabal ao
mesmo tempo? Nem por milagre. É isso tudo. Como tudo na vida, também a complexa
questão da liberdade religiosa tem perspetivas diferentes: uma, daqueles que
pretendem “semear” a fé, e a daqueles que também assiste o direito de não
estarem interessados em ser convertidos. A Igreja Católica - e o Cristianismo em geral – segue
à letra o ensinamento evangélico: “Vós
sois o sal da terra”. Levando à letra este mandamento, toda a terra deve
ser “salgada”.
Acontece,
porém, que nem todos estão para virados, a ponto de se deixarem “salgar”. E vai daí, reagirem por
vezes a essa invasão “alienígena”. Muitos
não terão consciência de que a disseminação da doutrina católica implica
transformar toda a sociedade que pretende "ocupar", inclusive, as crenças religiosas já preexistentes
e os costumes, que, normalmente, são os costumes ocidentais. A questão pertinente que se levanta, no tocante à
liberdade religiosa, é a seguinte: quem dá à Igreja Católica o direito de se
imiscuir numa dada sociedade, - que já cultiva as suas crenças religiosas e os
seus costumes - pretendendo transformá-la, à imagem da doutrina católica? E se ocorre
alguma reação a essa imposição da Igreja Católica,” Aqui d’el rei que nos estão a perseguir!” No caso
concreto da China e outros países orientais, a penetração da Igreja Católica
sempre foi, é e será problemática, pelas razões atrás expendidas. Trata-se de
uma questão de autodefesa social, embora, para a Igreja, esta não seja uma
questão relevante. Alberto Rei > LÚCIO MONTEIRO: Monteiro, tens razão neste
caso, mas não digas a ninguém. É verdade, o que é que dá à Igreja
Católica, o direito de se imiscuir numa determinada sociedade, pretendendo
transformá-la (influenciá-la)? e subjugá-la aos ditames do Vaticano? basta ver
o caso de Hong Kong ? o cardeal pura e simplesmente imiscui-se nas questões
políticas da China, e juntou-se à malandragem que a insolência anglo-saxónica
apelidava de movimento pro-democracia. a China sabe perfeitamente o que é que
esse "movimento" pretende e, portanto, não está para aturar
ingerências, e as pessoas se querem que haja mais cristãos nesta terra, têm de
aceitar os direitos dos outros. Parece simples, mas é difícil de ser aceite
pela insolência anglo-saxónica. Luis Santos: Isto seria idílico para os
nossos comunas tontos. Controlar a igreja, o povo , tudo , quem come, como come
. Enfim Jerónimo,
Bento Guerra, Advoga Diabo , José Maria , estariam bem na China. bento guerra > Luis Santos: Passo ao lado, oh Santos menor Américo Silva: O catolicismo tem sido um
instrumento de expansão imperial, condena o aborto e apoia o Biden. E qual a
opinião da igreja relativamente a Taiwan? não foram os chineses que vieram
extorquir a europa, ou por palavras santas, pelos frutos se conhece a árvore.
bento guerra: Uns tantos mártires sempre deram jeito à ICAR e os da
China nem serão degolados ,como os de Marrocos Coronavirus corona > bento guerra: Não. Os que estão desaparecidos
enganaram-se no autocarro. Mas logo logo aparecem. Só uma nota Bento: os
mártires são a Igreja. O que está a dizer, por ignorância, é que os mártires
dão jeito a eles mesmos. bento guerra > Coronavirus corona: Não sabia. Onde foi o seu
martírio?(algum whisky com pouco gelo?) Já vi os mártires em vários altares e
como sabe o nosso S. António até lá foi em peregrinação, e riam de deleite. Coronavirus corona
> bento guerra: Mais devagar a ver. Eu disse
que os mártires são a Igreja; não disse que todos os membros da igreja são
mártires.
João Angolano: O homem novo chinês filho do partido comunista é um
hamster que já nem sequer é condicionado pelo medo uma vez que já se encontra
desprovido de sentimentos. VIVAM AS GRANDES CONQUISTAS DO POVO CHINÊS! VIVA O
PARTIDO COMUNISTA! POVOS DE TODO O MUNDO UNI-VOS!! Alberto Rei > João Angolano: Ó d' Angola, como tás tão
enganado, conheces lá o povo chinês tu, não mandes cocas à toa. Alberto Rei > Alberto Rei: bocas Alberto Conde Moreno: As “amplas” liberdades
comunistas. Coronavirus corona: O que a China está a fazer não
é sequer notícia por cá. E não o é porque aquilo que a China está a fazer é o
sonho de muitos eurodeputados para esta Europa. Lily Lx: Triste realidade. A China é um
problema no mundo.
NOTAS DA INTERNET:
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Religião na China
A China segue
oficialmente o ateísmo de Estado. Muitos cidadãos chineses,
incluindo membros do Partido Comunista da China (PCC), praticam algum tipo de
religião popular chinesa. A civilização chinesa é historicamente o berço e
anfitrião de uma variedade das mais duradouras tradições religioso-filosóficas do mundo. O confucionismo e o taoismo, mais tarde unidos pelo budismo, constituem os "três
ensinamentos" que moldaram a cultura chinesa. Não existem barreiras claras entre estes sistemas religiosos interligados,
que não pretendem ser exclusivos, e elementos de cada religião popular ou folclórica enriquecedora. Os imperadores da
China reivindicaram o Mandato do Céu e participaram nas
práticas religiosas chinesas. No início do século XX, funcionários e intelectuais
reformistas atacaram todas as religiões como "supersticiosas", e desde 1949, a China é governada pelo PCC, uma
instituição ateísta que proíbe os membros do partido de praticarem a religião
durante o seu mandato. No culminar de uma série de campanhas ateístas e
antirreligiosas já em curso desde o final do século XIX, a Revolução
Cultural contra velhos hábitos, ideias, costumes e cultura,
que durou de 1966 a 1976, destruiu-os ou forçou-os à clandestinidade.
Sob os
líderes subsequentes, as organizações religiosas foram dotadas de maior
autonomia. O governo reconhece formalmente cinco religiões: budismo,
taoísmo, catolicismo, protestantismo, e islamismo. No início do século XXI, há
reconhecimento oficial crescente do confucionismo e da religião popular
chinesa como parte da herança cultural da China.
A religião popular, o sistema de
crenças e práticas mais difundido, evoluiu e adaptou-se pelo menos desde
as dinastias Xangue e Zhou, no segundo milénio a.C. Os elementos
fundamentais de uma teologia e explicação espiritual da natureza do universo
remontam a este período e foram mais elaborados na Era Axial. A
religião chinesa envolve a fidelidade ao xangue, frequentemente traduzida como
"espírito", definindo uma variedade de deuses e imortais. Estes podem ser divindades do ambiente natural ou
princípios ancestrais de grupos humanos, conceitos de civilidade, heróis culturais, muitos dos quais figuram
na mitologia chinesa e na história.
A filosofia e a prática religiosa de Confúcio começaram
a sua longa evolução durante a posterior Zhou; religiões institucionalizadas
taoistas desenvolvidas pela dinastia Han; o budismo chinês tornou-se amplamente
popular pela dinastia Tang,
e em resposta, os pensadores confucionistas desenvolveram filosofias neoconfucionistas; e os movimentos
populares de salvação e cultos locais
prosperaram.
O cristianismo e o islamismo chegaram à China no
século VII. O cristianismo não criou raízes até ter sido reintroduzido no século XVI
pelos missionários jesuítas. No início do século XX, as
comunidades cristãs cresceram, mas após 1949, os missionários estrangeiros
foram expulsos, e as igrejas foram colocadas sob instituições controladas pelo
governo. Após os finais dos anos 70, as liberdades religiosas dos cristãos
melhoraram e surgiram novos grupos chineses.
O Islão tem sido praticado na sociedade chinesa desde há 1400 anos. Actualmente,
os muçulmanos são um grupo minoritário
na China, representando entre 0,45% a 1,8% da população total, segundo as
últimas estimativas. Embora
os muçulmanos hui sejam o grupo mais numeroso, a maior
concentração de muçulmanos encontra-se em Xinjiang, com uma significativa
população uigur. A China é também frequentemente considerada o lar do humanismo e do secularismo, ideologias mundanas que
começam no tempo de Confúcio.
Como muitos chineses han não consideram as suas crenças
e práticas espirituais como uma "religião" e não sentem que devem
praticar nenhuma delas exclusivamente, é difícil reunir estatísticas claras e
fiáveis. Segundo a opinião académica, "a grande maioria da
população da China de 1,4 mil milhões" participa na religião cosmológica
chinesa, nos seus rituais
e festivais do calendário lunar, sem pertencer a qualquer ensinamento institucional. Estudos
nacionais realizados no início do século XXI estimam que cerca de 80% da
população da China, mais de mil milhões de pessoas, pratica algum tipo de
religião popular chinesa; 13–16% são budistas; 10% são taoistas; 2,53%
são cristãos; e 0,83% são
muçulmanos. Os movimentos populares religiosos de salvação constituem entre
2–3% a 13% da população, enquanto muitos na classe intelectual aderem ao
confucionismo como uma identidade religiosa. Além disso, grupos étnicos
minoritários praticam religiões distintas, incluindo o budismo tibetano, e o islamismo entre os povos Hui e Uigur.
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