segunda-feira, 18 de julho de 2022

Continuação da matéria do texto anterior


 Mais desenvolvidamente, é certo, do que aquela, que serviu apenas para exemplo. Uma análise de muito gabarito. Et pour cause.

Sobre o mundo do avesso. E a mumificação do Homem. Espécie de Últimos Fins do Homem, cá na Terra, o Ponto Final, trazido por uma democracia liberal, ao que parece, último patamar na construção do Homem.

Mas os Putins não param. E vão aplanar tudo, para o recomeço. Ou a “mudança” não fosse uma constante… Mas assustador, quand même.

 

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LUIS SOARES DE OLIVEIRA»

Ontem às 19:15 · 

Fukuyama corrige o liberalismo e insiste no Fim da História

Quando eventos como o 11 de Setembro, as guerras do Afeganistão e do Iraque e a crise financeira de 2008 afectaram a autoconfiança do liberalismo, o ilustre académico passou a ser visto como um crente ingénuo na inevitabilidade de uma ideia de progresso definida pelo Ocidente. Breve assistiu a líderes autoritários como Putin, Xi e Erdogan disputarem o proscénio mundial. Ele próprio cita estatísticas preocupantes demonstrativas de que os direitos políticos e as liberdades civis têm caindo nos últimos 15 anos em todo o mundo. Até que, Vladimir Putin declarou a democracia liberal “obsoleta." Os poderosos kaisers coevos continuavam a seguir o roteiro de Maquiavel e quantos mais adeptos perdem nas plateias mais aplausos ganham nas galerias. As instituições de intermediação existentes - partidos políticos, sindicatos , igrejas, academias, etc. - também servem para perpetuar o modo competitivo e nada fazem para promover o sentido de cooperação.

As acusações ao liberalismo assumiram vários formas:

• O Sistema fundado no liberalismo consolida para sempre o domínio do Estado americano sobre os restantes,

• promove a desigualdade económica, tanto dentro como fora do seu território

• abre as portas ao egoísmo dos ricos,

• Provoca a precariedade de empregos e o rebaixamento dos salários

• Era responsável pelas crises financeiras dos princípios do século XXI.

• Tornara-se cúmplice da roubalheira dos bancos então despoletada

• Suprimira a concorrência entre as grandes empresas

• Provou incapaz de se auto reformar.

Fukuyama, ao contrário de Kissinger manteve-se sempre no campo académico e fora da acção politica. Isso tornou-o talvez menos realista ainda que mais imparcial. Ao responder agora aos descontentes do Liberalismo, Fukuyama parece não admitir que a adesão mundial ao liberalismo nos finais do século XX e a repulsa do mesmo nas primeiras décadas do XXI correspondem aos triunfos e desaires que os EUA experimentaram então na cena mundial. A vontade colectiva de se juntar aos bons, aos vencedores, persistiu; os bons é que mudaram. Fraqueza aparente, talvez, mas a imagem de tibieza interna projectada permitiu a um rebelde iniciar uma guerra. Como dizia um velho político lusitano : - «em política o que parece é.

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A polémica despertada pelo Fim da História chamou as atenções para o final do livro, ou seja para o Último Homem, criação esta já não de Hegel, mas Nietzsche. Não se trata obviamente do Super Homem (outra criação de Nietzsche - um César com alma de Cristo). O Último Homem de Nietszche tem nada de Super. Não pratica nem aceita a violência e isto porque se cansou de testemunhar imensos e intensos conflitos violentos inteiramente fúteis. O Último Homem perdeu a fé na fé e concluiu que neste mundo não há absolutos, tudo é relativo. As crenças absolutas separam muito mais do que unem. Constatou finalmente que os escravos da História nunca se libertam ou serão ou libertos; apenas mudam de senhor. O Último Homem seria pois homem de mente liberta do complexo thymico (grego clássico para amor próprio, composto de ambição e de ideais). Na realidade, um sensaborão sem paixões dentro de si, mais próximo de um plácido burguês do que de um arrojado revolucionário. E também um incompreendido que faria rir a gentes sempre que lhes lembrasse que era tempo para eles assumirem o seu destino e prepararem-se para enfrentar a eminência da escassez. E comentará em bom francês domo fazia Zaratustra :

Il est temps que l’homme se fixe à lui-même son but. Il est temps que l’homme plante le germe de sa plus haute espérance. Maintenant son sol est encore assez riche. Mais ce sol un jour sera pauvre et stérile et aucun grand arbre ne pourra plus y croître.

Je vous le dis : il faut porter encore en soi un chaos, pour pouvoir mettre au monde une étoile dansante. Je vous le dis : vous portez en vous un chaos.

Malheur ! Les temps sont proches où l’homme ne mettra plus d’étoile au monde. Malheur ! Les temps sont proches du plus méprisable des hommes, qui ne sait plus se mépriser lui-même.

Voici ! Je vous montre le dernier homme.

« Amour ? Création ? Désir ? Étoile ? Qu’est cela ? » — Ainsi demande le dernier homme et il cligne de l’œil.

La terre sera alors devenue plus petite, et sur elle sautillera le dernier homme, qui rapetisse tout. Sa race est indestructible comme celle du puceron ; le dernier homme vit le plus longtemps.

« Nous avons inventé le bonheur, » — disent les derniers hommes, et ils clignent de l’œil.

Ils ont abandonné les contrées où il était dur de vivre : car on a besoin de chaleur. On aime encore son voisin et l’on se frotte à lui : car on a besoin de chaleur.

Tomber malade et être méfiant passe chez eux pour un péché : on s’avance prudemment. Bien fou qui trébuche encore sur les pierres et sur les hommes !

Un peu de poison de-ci de-là, pour se procurer des rêves agréables. Et beaucoup de poisons enfin, pour mourir agréablement.

« On travaille encore, car le travail est une distraction. Mais l’on veille à ce que la distraction ne débilite point. On ne devient plus ni pauvre ni riche : ce sont deux choses trop pénibles. Qui voudrait encore gouverner ? Qui voudrait obéir encore ? Ce sont deux choses trop pénibles.

Point de berger et un seul troupeau ! Chacun veut la même chose, tous sont égaux : qui a d’autres sentiments va de son plein gré dans la maison des fous. « Autrefois tout le monde était fou, » — disent ceux qui sont les plus fins, et ils clignent de l’œil.

On se dispute encore, mais on se réconcilie bientôt — car on ne veut pas se gâter l’estomac. On a son petit plaisir pour le jour et son petit plaisir pour la nuit : mais on respecte la santé. « Nous avons inventé le bonheur, » — disent les derniers hommes, et ils clignent de l’œil.»

»tradução oficiosa«

Já é tempo que o homem se concentre na sua finalidade. é chegado o tempo de o homem plantar o germe da sua mais alta esperança. Hoje o solo ainda é suficientemente rico. Mas este mesmo solo um dia será pobre e estéril e nenhuma árvore de grande poste poderá nele crescer.

EU vos digo: é preciso trazer dentro de si um caos, para poder colocar neste mundo uma estrela dançante. Eu vos digo. Vós transportais dentro de vós um caos.

Pouca sorte! Os tempos em que o homem não poderá pôr mais estrelas neste mundo estão próximos. Também estão próximos os tempos em que o mais desprezível não saberá mais menosprezar-se a si próprio.

Eis. Vou vos mostrar o último homem (UH) .

Amor? criação? Estrela? De que se trata? Assim pergunta o UH enquanto pisca o olho.

A terra tornar-se-á mais pequena e sobre ela contorcionar-se-á o UH . A sua raça é indestrutível como a do pulgão; mas o UH vive mais tempo.

«Nós inventámos a felicidade» - dizem os UH enquanto têm necessidade de calor. Continuam a gostar do seu vizinho e esfregam-se contra ele : porque necessitam calor.

Adoecer ou desconfiar é tido por eles como pecado. Avançam prudentemente. Tolo é aquele que ainda catapulta sobre as pedras sobre os homens.

Algum veneno daqui e de acolá para inspirar sonhos agradáveis e muito veneno para morrer de modo agradável.

Ainda trabalhamos porque o trabalho é uma distração. Mas tomamos cuidado para evitar que distracção não enfraqueça- Já não nos tornamos nem pobres nem ricos; são duas coisas demasiado dolorosas. Quem gostaria ainda de governar? Quem gostaria ainda de obedecer? São coisas demasiado penosas.

Nenhum pastor e apenas um rebanho. Todos querem a mesma coisa e todos são iguais. quem tem sentimentos diferentes vai de bom grado para o manicómio. «Dantes toda a gente era doida» - dizem os que são mais finos, e piscam o olho.

Ainda competimos mas reconciliamo-nos prontamente.- pois não queremos estragar o estômago. Temos o nosso pequeno prazer diurno e o pequeno prazer nocturno: mas respeitamos a saúde. « Nós inventámos a felicidade» dizem os UH e piscam o olho.

wiky fotos

COMENTÁRIOS:

Ricardo Montez: Bem gostaria de obter uma impressão pessoal! É que com todos os atractivos que o Liberalismo possa enquadrar, não deixo de concordar com a maior parte das críticas que lhe são dirigidas! Mais! Estou convencido que está na génese do surgimento do socialismo, comunismo e até fascismo! Talvez o Liberalismo tenha, objectivamente, pontos de interesse, mas não se subsumem na subjectividade do comportamento humano!

Quid iuris?

Luis Soares de Oliveira: <Muito obrigado . Acredito que se o Planeta estiver em risco e os homens conscientes disso entendem-se. The sooner the better.

NOTAS DA INTERNET:

Sinopse

À medida que o século XXI se aproxima, Francis Fukuyama pede que regressemos a uma questão que tem sido levantada pelos grandes filósofos do passado: a história da humanidade segue uma direcção? E, se é direccional, qual o seu fim? E em que ponto nos encontramos em relação ao «fim da história»?…

Nesta análise empolgante e profunda, Fukuyama apresenta elementos que sugerem a presença de duas poderosas forças na história humana. A uma chama «a lógica da ciência moderna», a outra «a luta pelo reconhecimento». A primeira impele o homem a preencher o horizonte cada vez mais vasto de desejos através do processo económico racional; a segunda é, de acordo com Fukuyama (e Hegel), nada menos do que o próprio «motor da história».

Segundo a tese brilhantemente defendida pelo autor, estas duas vertentes conduziriam, ao longo dos tempos, ao eventual colapso de ditaduras de direita e de esquerda, como temos vindo a testemunhar, impelindo as sociedades, mesmo as culturalmente distintas, para a democracia capitalista liberal, vista como o estádio final do processo histórico. A questão principal surge então: será que a liberdade e a igualdade, tanto política como económica - o estado de coisas no presumível «fim da história» -, podem criar uma sociedade estável na qual o homem se sinta finalmente satisfeito? Ou será que a condição espiritual deste «último homem», privado de saídas para materializar a sua ânsia de poder, inevitavelmente o conduzirá, a ele e ao mundo, ao regresso ao caos e ao derramamento de sangue?
A resposta de Fukuyama é, simultaneamente, uma fascinante lição de filosofia da história e uma investigação que nos desafia irresistivelmente a reflectir sobre a questão suprema do sentido e do destino da sociedade e do homem.

Autor: FRANCIS FUKUYAMA

Francis Fukuyama nasceu em 1952 em Chicago, nos Estados Unidos da América. Doutorado em Ciência Política pela Universidade de Harvard, é investigator no Center on Democracy, Development and the Rule of Law, da Universidade de Standford.

Escreveu o célebre O Fim da História e o Último Homem, onde defende que a generalização a nível planetário da democracia liberal pode indicar que se atingiu o último patamar da evolução sociocultural da humanidade, e que se encontrou o derradeiro regime político.

 

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