domingo, 10 de julho de 2022

Pergunta sem resposta


 Mas  o texto de Manuel Villaverde Cabral parece-me sensato e certeiro, apontando para este buraco negro para o qual  não há senão fracas luzes de uma assistência sem consistência, com muito cinismo em volta.

Estará a guerra a acabar?

Hoje a situação é perigosa, em especial nos países mais longe da Rússia, como Portugal, Grécia, Itália, onde a opinião pública está minada por crises locais e pende cada vez mais para a pretensa «paz»

MANUEL VILLAVERDE CABRAL: Colunista

OBSERVADOR, 09 jul 2022, 00:1531

Apesar do tom convencional da comunicação social portuguesa, há sinais que fazem crer que a Rússia está a levar a melhor na guerra contra a Ucrânia e não é impossível que esta venha a terminar em breve com a vitória desse ditador sem ideologia propriamente dita que é Putin, o qual mistura a grandeza atribuída à Rússia de outrora com os restos soviéticos das bandeiras com a foice e o martelo agitadas sempre que é assinalada a vitória numa batalha.

Nos “media” portugueses e não só, muitos intervenientes também já dizem o mesmo ou parecido, lamentando o resultado expectável desde o início com menor ou maior convicção, para não falar de aprovação, conforme sucede com alguns opinadores nacionais que têm estado a torcer pela Rússia… sem excluir apoiantes do governo PS que juram o contrário mas sempre intervieram no sentido de a guerra acabar de vez! Isto sem esquecer a página inteira de Sousa Tavares no «Expresso» da semana passada onde o autor exibe a sua antipatia pelos Estados Unidos e a NATO.

Era isso que a Rússia pretendia ao ameaçar com o nuclear desde o primeiro minuto da guerra: provocar o pânico! Obviamente, por muito que os Estados Unidos, a Inglaterra e alguns membros da NATO desejem resgatar a Ucrânia do ataque russo, Putin e a sua equipa tinham razão ao pensar que os «países capitalistas» não iriam tão longeÉ muito provável que os países ocidentais tomem novas medidas contra alguns dos membros do antigo bloco soviético mas não se vê o que poderá a NATO fazer contra a ameaça nuclear… É isso que dão a entender muitos comentadores nacionais, enquanto os jornais têm remetido a guerra para as páginas interiores.

Em compensação, Teresa de Sousa, que tem escrito as melhores páginas em Português sobre a guerra, publicou há dias um artigo centrado na política da UE frente à invasão russa, mostrando como será difícil uma política de guerra para a qual a UE não foi feita.. A própria promessa da entrada sem data da Ucrânia e da Moldávia na União revela ter pouco peso no imediato. Simultaneamente, a autora mostra como a abertura à entrada sucessiva de países incapazes de se integrarem plenamente na UE sem entrarem em crise, acabou por ultrapassar as suas finalidades.

A guerra não era e continua a não ser a finalidade da UE, como se viu desde o início, quando se confirmou a entrega de interesses económicos alemães decisivos à Rússia. Merkel descartou totalmente as dimensões políticas nacionais e internacionais daquilo que fez e é em vão que Van der Leiden procura agora colmatá-las sem o conseguir. A Rússia de Putin é mais parecida com a de Staline do que com um país desenvolvido e democrático.

Com efeito, são os próprios investigadores de origem russa quem tem confirmado o facto de a esmagadora maioria da população russa nunca ter vivido num país democrático antes, durante e depois do «comunismo»… Por atrasado que seja, até Portugal conheceu alguma liberdade política desde meados do século XIX e uma parte do século XX até agora. A Rússia não! Daí os regimes ditatoriais e os novos problemas internacionais. Conforme Putin calculou, a ameaça nuclear fez o resto enquanto a «opinião pública» russa se cala quando não se regozija a mando do ditador.

Se assim é, os Estados Unidos e a Inglaterra estão objectivamente impedidos de bloquear a Rússia enquanto esta continua implacavelmente a arrasar a Ucrânia e os países limítrofes, como aliás a China já fez e ameaça continuar. O que poderão fazer os países ocidentais se a Rússia, a China e o resto das ditaduras formarem um bloco nuclear contra a NATO? O desafio de Putin é total e o mínimo com que se contentará será todo o Leste da Ucrânia.

Neste sentido, o que podem fazer os apoiantes da Ucrânia contra os «falsos pacifistas» que o PCP e os seus símiles fingem ser? A tendência habitual da Inglaterra e dos Estados Unidos era a de colonizar e, ao mesmo tempo, ir paulatinamente desenvolvendo os modos de produção e consumo das próprias colónias consoante convinham aos colonos, até elas se tornarem mais ou menos independentes, como a China e a ÍndiaCom o desmantelamento dos acordos monetários de Bretton Woods em 1971 e o recuo da «globalização», os novos termos-de-troca internacionais fomentaram o crescimento de parte dos países como a China e não só, abrindo o caminho a um relativo regresso à auto-suficência, o que implicou certo tipo de fechamento associado à presente crise económica coincidente com a pandemia e agora a guerraDaí a actual situação, especialmente em países longínquos da fronteira russa, como Portugal, Grécia, Itália e não só, onde a «opinião pública» está minada pelas crises locais e pende cada vez mais para a pretensa «paz».

GUERRA NA UCRÂNIA   UCRÂNIA   EUROPA   MUNDO

COMENTÁRIOS:
Geiger Dieter:
A Ucrânia é apenas o primeiro país europeu a ser conquistado pelo exército vermelho, a sua meta será toda a Europa até Lisboa, Atenas, Berlin e Estocolmo. 

Os media portugueses seguem a linha política do comité central do PCP. São seus entusiásticos propagandistas desde antes do "massacre" de Badajoz. O Observador sempre é alguma diferença e é por isso que o assino.           Filipe Costa: Nem imagino as baixas Ucranianas, mas  li acerca das baixas Russas para conquistar Sveriodonetsk, ou lá como se chama. 5000 tropas mortas, imaginem os feridos, 500 tanques, 200 veículos de assalto, 120 hellys e mais de 300 lança rockets. Isto é caro e lento a repor, aviões não sei, mas devem ter caído. Liberales SemperErexitque: As armas falaram, e os russos querem agora calá-las. Ou a Ucrânia e também o Ocidente aceitam e negoceiam, ou nada obterão que não sangue, rios de sangue.          João Ramos Assustador… a cobardia começa a minar a Europa e isso vai sair-nos muito caro, pobre Ucrânia em primeira instância e pobre Europa em segunda instância…              Carlos Silva: Já a outra dizia no convento: Meninas tenham calma, guerra é guerra !          josé maria: Ao colunista falta um elemento essencial: uma guerra só acaba quando os agredidos desistem de lutar. Assim o demonstra a guerra no no Vietname, foi assim também no Afeganistão, poderá ser assim igualmente na Ucrânia. A sua formação sociológica e historicista não lhe permite chegar a essa  elementar e óbvia conclusão, MVC, antes de pressupor que a guerra está a acabar ?             Francisco Correia O Ocidente não pode vacilar, como aconteceu em 2014 com a invasão da Crimeia. O erro foi, nessa altura, não se ter começado a cortar as ligações comerciais com a Rússia (o petróleo e o gás estavam baratos) e não se ter fornecido armas modernas à Ucrânia. Quem quer a paz, tem de mostrar que está preparado para a guerra, pois é esta a linguagem que Putin entende.           Luis Miguel: Tanta lamentação. O povo ucraniano está a lutar pela seu direito a existir. E enquanto quiserem lutar e dar a sua vida pelo seu Pais o mundo ocidental só tem é de os apoiar. Mas apoiar a sério…  não é a fazer de conta. A Ucrânia está a conseguir travar a Rússia. E vai conseguir ganhar no fim. Acredito neles e se me custar no bolso que seja. É um pequeno sacrifício na luta pela liberdade.               Desabafo Assim:  Estou enganado sobre a "guerra", o meu engano é assim - a Crimeia: foi oferecida a sua administração, à Ucrânia como gesto do povo amigo, no fim da amizade, a Rússia, voltou a exigir a sua administração, num período de grande agitação política da vida da Ucrânia, anexou-a, revindicando a sua soberania; a par desse território, os separatistas exigiram também as novas repúblicas, mas aí, achou a Rússia estar a ir longe demais, " ficam por vossa conta, sobre isso não reconhecemos direitos" e assim ficaram até então. Mas daí, dessa guerra,  surgiram atrocidades em nome do nacionalismo exacerbado, relatos do que aí se praticava que veio chocar os dirigentes russos porque era exacerbado, crimes sem castigos que se repetiam. Esse é o argumento apresentado ao povo russo, naturalmente na minha ingenuidade, foram feitas ameaças, ameaçou-se mas de nada serviu, entrou a NATO com palmadinhas nas costas e foram tantas que levou o presidente Ucrânia a dizer em voz alta que nunca passariam da ameaça, no dia seguinte concretizou-se. Alberto Rei: Eu não sei é por que razão o Zélen não assina a rendição, e acede aos termos da Rússia. Não o pode fazer porque os EUA/UE, não deixam. É trágico.           Liberales Semper Erexitque >Alberto Rei: Ele não negoceia porque não quer. Depois de todo o teatro apatetado que protagonizou, a demissão seria o caminho a seguir, entregando a negociação a alguém mais educado do que ele, que os russos não quisessem "fritar em azeite quente".         bento guerra: É evidente, desde a primeira hora, que a Rússia vai vencer este conflito, por causa dos meios, da natureza violenta dos russos e o comprometimento de uma nação muito poderosa. Quando e como, é que não sabemos, mas como o Zelensky esteve disposto a ceder bens e pessoas, contrapondo apenas os meios militares ucranianos, será até ele ceder. O quê? O que o Putin disse, há muitos meses              João Floriano: Quando muito, a guerra será suspensa, mas muito longe de acabar. Por mais que nos custe admitir, a Rússia está a levar vantagem, a opinião pública dos países da UE está a perder o foco e quando chegarem  problemas com o fornecimento de energia e inflação, os protestos vão subir de tom porque está mais que visto que o europeu nascido após a segunda guerra mundial e que experimentou os anos de maior sucesso da Europa (incluo-me neste grupo), aprecia o seu conforto. Acresce que Portugal, Grécia e Itália se habituaram a viver protegidos pela UE que no caso português despeja sacas de euros por cima dos problemas. E decorrente de tudo isto, Putin não se contentará com o leste da Ucrânia. Vai querer mais e avançará até onde lhe for permitido, razão pela qual o conflito com armas nucleares é uma hipótese nada teórica, a menos que a Europa se queira entregar ao abraço do urso russo.               Valquíria  > João Floriano: Boas Floriano, relativamente à guerra um muito original “só sei que nada sei” nunca encaixou tão bem naquilo que penso sobre a dita. Não sei quando termina nem quem vai ganhar (ou clamar vitória), para mim tudo continua a ser possível, inclusive o holocausto nuclear. Percebo a ideia do aburguesamento ocidental não suportar por muito tempo guerras, mesmo que por procuração, mas também não negligencio o poder económico e tecnológico do ocidente. Mas no fundo o que mais receio é a escalada…              João Floriano > Valquíria: …Quanto ao conflito, se ao menos a China ajudasse o Ocidente!...... Mas não o fará porque a guerra é-lhes favorável e além disso Taiwan já não lhes deve parecer «an island too far» . E mudando de assunto: o que me diz ao Montenegro? Acha bem manter a bancada do PSD com Rioistas em nome da união dentro do partido?              Valquíria > João Floriano: Seja bem-vindo de novo, Eheheheh, quem gosta de política como nós, eu fui criado numa família onde se falava muito de política, é-lhe difícil, muito, deixar esta prática de vir aqui dar a sua opinião… mas apesar de tudo sinto que estou mais moderado na quantidade, acho que encontrei o equilíbrio certo, ora aqui está como o autêntico banho de água fria que levei com a maioria socialista (ainda me pergunto, como foi possível) também surtiu alguns efeitos benéficos sobre mim. Sobre Montenegro, estou expectante. Quando foi líder parlamentar de PPC era uma peça que não admirava muito, todos diziam e dizem que tem grandes capacidades oratórias mas eu nunca achei tal, então sinto-me isolado, pelo que vou aguardar, mas enalteço já a sua escolha para líder parlamentar, gosto muito do Sarmento. Sim, os deputados devem manter-se, aliás são do mesmo partido onde é suposto todos defenderem os mesmos ideais ou coisa parecida pelo que só muda a forma de tentar chegar ao poder para implementar essa forma de governar que é comum.               Joao R: LOL a opinião pública pende cada vez mais para a pretensa paz, ah sim, e o autor sabe isso de onde? Cheira a conversa típica de derrotismo Português misturado com posições de PCP, que já nem sequer se pode considerar um partido com qualquer influência depois da posição que tomaram em relação à guerra. Pelo menos para mim deixaram de existir e suponho que para qualquer um que considere inaceitável o que a Rússia está a fazer é inaceitável a posição de alguns que acham que não se deve fazer nada porque não é nada com eles, ou porque os americanos também são “maus”.

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