… para a história de Passos
Coelho. Falta, certamente, uma segunda parte que o designe
como herói inteiro, da sua pátria. Volodymyr
Zelensky é-o da sua, esse mérito ninguém lho tira. Pedro Passos Coelho, que já foi herói em tempos de
afundamento pátrio, bem podia não descansar ainda à sombra de louros que
mereceu já, jovem que é ainda, e não se fechar nos seus ocultos pruridos de humilhações
com razão sentidas, no macaqueamento eleitoral da sua substituição por um
perdedor de facto, aquando de um segundo mandato que de facto ganhara, e de que
Cavaco Silva – lembro-me bem – o desapossara, por conta de um país dominado
pelas greves sindicais orquestradas pela esquerda misericordiosa e ávida. Mas a
esquerda, ávida e antipatriota, mantém as suas greves sindicais, com o
aproveitador Costa das migalhas anteriormente tripartidas e sem greves, e não é
por isso que desiste do seu convento desmascarado. Continuará, impávido e
apoiado, apesar dessas greves de hoje, de que o PS como partido maioritário, é
alvo, na intranquilidade de que Cavaco Silva quis afastar o vitorioso - mal-apoiado
por ser decente – Passos Coelho, em 2017. Portugal
necessita de um “herói” decente, hoje, de quem a Maria João
Avillez contaria a história mais adiante. Assim o povo
português o desejasse…
Mas o povo português sente-se bem, não é como
esses tais ucranianos que acompanham o seu chefe na defesa da sua pátria. António
Costa conhece-nos bem, como a si próprio. Não receia, pois, Passos
Coelho.
Mas os muitos comentários que MJA recebeu, de
apreço pelo seu texto, provam que o desejariam, a intervir no comando da nação uma vez mais.
Anima (ou a responsabilidade da memória)
Às vezes penso que podia sentar-me
numa cadeira e começar a contar o 25 de Abril desde o início. Privilégio maior:
podia contá-lo da primeira fila, vi tudo, deitei fora algumas coisas, retive
imensas.
MARIA JOÃO AVILLEZ
OBSERVADOR, 29 jun
2022, 00:2044
1O
empenho com que há dias acolhi o convite para participar num documentário da
RTP sobre Conceição
Monteiro devia ter-me
posto alerta: tanto agrado meu? Despachando logo um “sim, claro!” que
não deixava margem para dúvidas?
E
de repente, percebi: era a memória.
Uma impressiva, gratificante memória que respondia por mim à jornalista Alberta Marques Fernandes, autora do documentário. A memória adiantara-se,
substituindo-me no meu “sim”.
2Às
vezes penso que podia sentar-me numa cadeira e começar a contar o 25 de Abril
desde o princípio. Privilégio maior: podia contá-lo da primeira fila, vi tudo,
deitei fora algumas coisas (e pessoas) e retive o resto que foi imensíssimo. Conceição
Monteiro faz parte dessa história, tem lugar cativo no PPD (depois PSD). E era aí, ao PSD, onde queria chegar. Com a memória. Chegar ao
que vi o partido fazer em 1979: tutelado pelos militares, cercado pela
esquerda, o Conselho da Revolução, o PC, uma media hostil e um chão democrático
tão adulterado que a direita não tinha nele direito de cidade, vi o PSD agir
com “anima” e intervir a favor de Portugal.
“Anima”
quer dizer alma em latim, e não era senão desse sopro de alma e animo que então
se tratava. O exercício contagiou metade dos portugueses. Acreditaram.
Sentiram-se convocados: havia um líder forte, convicções fortes, rumo. Estava
em marcha uma mudança predisposta à ruptura. Achava-se que uma e outra eram
impossíveis, Francisco
Sá Carneiro não achava:
queria-as indispensáveis porque as sabia indispensáveis. Assim foi, com
“anima”.
Durante
várias semanas – na preparação da campanha da AD para as legislativas de
1979; a seguir, na pré campanha, e finalmente na própria campanha
eleitoral, Francisco Sá
Carneiro, convenceu
uma pátria que não queria senão isso mesmo: juntar-se a alguém que convidava
o país a romper com um cerco político-militar e começar outra vida.
A
memória, outra vez: vi Sá Carneiro
dar a volta a uma circunstância “fechada”, duríssima, com milhares de
portugueses atrás dele. Dito assim parece quase prosaico, de tão simples, como
vestir um casaco ou pôr um carro a andar. Não foi e ele não o fez sozinho. Também lá
estavam o CDS de Freitas do Amaral, o PPM de Gonçalo Ribeiro Telles, os
“Reformadores” de António Barreto, e dos saudosos Medeiros Ferreira e Francisco
Sousa Tavares. Brigada
pesada mas a “anima” era
de Francisco Sá Carneiro. Anima com assinatura não poucas vezes controversa,
tumultuosa, excessiva. Felizmente: dos fracos nunca história alguma jamais
rezou. A AD ganhou as legislativas de 1979 e voltou a ganhá-las nas eleições
seguintes.
Infelizmente,
os herdeiros não souberam estar a altura do que se iniciara. Talvez não tenham
percebido.
3Será
porventura anacrónico mas seguramente difícil relembrar isto tanto tempo depois
e já num outro século. Onde a “anima” perdeu o lugar e onde os critérios,
instrumentos e meios aplicados na política são parentes longínquos dos que
testemunhei serem os escolhidos há décadas por alguns políticos. Quem se
convence a levar a sério – por exemplo – substantivos como “ruptura” “mudança”, “reforma”, se nenhum
protagonista político parece hoje alcançar a indispensabilidade de nenhum
deles? Tais
substantivos talharam como as maioneses mal feitas, a exigência está em extinção,
o critério, em desuso. E se a
esta degradação da qualidade humana, cívica e política, juntarmos o ar deste
tempo – roedor aplicado dos pilares da sociedade e dos valores civilizacionais
que a regem – resta-nos rezar ou fugir.
(Não haverá nenhum político com vontade de nos apear desta espécie de comboio
fantasma onde por entre os restos e espectros daquilo que constituía os nossos
dias se coabita hoje e com jubilo com os novos dictats das minorias, um novo
pensamento único, os novos ditadores e não só do pensamento, um feroz mundo
novo a ser adubado? Ninguém responde a esta crucial chamada?)
Que líder se abalança hoje a separar o
joio que cresce por toda a parte, do trigo que apesar de tudo ainda se encontra
no país e, ele sim, mereceria adubo? O que se virmos bem é outra forma de
evocar a “ anima” e o animo, a mesma que testemunhei em 1979, posta ao serviço
da pátria e do interesse nacional por Sá Carneiro.
Nada
disto, note-se, me parece ser susceptível de ser confundido com o vulgar
“chorar sobre leites derramados” (só com má fé). Não choro. Lembro e comparo: achando apesar de tudo que nem o
nefasto ar do tempo, a pandemia, a guerra, a má qualidade política explicam
tudo sobre a espantosa demissão em que Portugal esmorece e empobrece.
4Voltando
à memória e ao empolgamento de alguns grandes “momentos” da história portuguesa
recente, não esqueço outros onde a anima inverteu o aparentemente “invertível”.
Lembro milhões de portugueses em 1975, em gigantescas e interclassistas manchas
humanas atrás de Mário Soares. Sem sombra de hesitação e postos em sentido: não era
Soares o seu general, desassombrado e convicto? O país ardia em múltiplos fogos
políticos postos por revolucionários — uns de pacotilha, outros sabiam bem o
que andavam a fazer. O perigo era real, os líderes políticos não dormiam em
casa, havia a ameaça de um cerco a Lisboa, a única autoridade em curso
durante longos meses foi a revolucionária, os incêndios não paravam de ser
ateados. Mas Soares lá estava. Foram trabalhos de Hércules para que a história
não acabasse mal.
Sim,
Soares também não fez tudo sozinho. Com ele e atrás dele estiveram os militares
moderados, os partidos democráticos, a Igreja, o povo, passando pelas mocas de
Rio Maior – mais inofensivas em todo o caso do que os fuzilamentos simulados em
que se entretinha então um militar de apelido Corvacho numa prisão onde nenhum
detido tinha culpa formada. Mas a alma e o ânimo – e a coragem – partiram de
Soares, eram propriedade sua. Os portugueses perceberam muito bem que há homens
cuja anima, em certos momentos, é o ex-libris desses mesmos momentos. Como o
de tornar uma revolução num estado de direito. Uma inesquecível jornada.
5Começou
a dar nas vistas ao leme de um governo minoritário, no final de1985. Liderava. Falava
em reformas. Tinha fôlego e anima e logo causou estranheza: não vinha da bolha
do sistema, era um outsider, interrompia o alinhamento dos consentidos. Um
estorvo.
Mas
quando meses depois Cavaco Silva obteve a primeira maioria absoluta da história
“do 25 de Abril”, metade do país rejubilou. Eu estava lá: lembro-me dum momento
de indefinível entusiasmo, como se daí em diante tudo passasse a ser possível.
A outra metade vociferou: como é que ele se atrevera? (sobretudo: que povo era
aquele que votara “assim”?) Também aqui a resposta não difere: votara numa liderança cuja anima convencera,
mobilizara, transformara. Seguiram-se outras três maiorias absolutas que ainda
hoje doem tanto à esquerda que – tal como os Bourbons – ela não perdoa, nem
esquece.
6Falta
o momento Passos Coelho, claro, mas esse fez tudo sozinho ou quase, quase.
A anima foi solitária antes do mais. Um caso. A
segunda vitoria eleitoral, em 2015, foi o melhor sinal de como milhares de
portugueses perceberam bem isso. “Anima” num período de pesados sacrifícios impostos
por uma trágica irresponsabilidade da qual Pedro Passos Coelho era totalmente
incólume. Uma grande história toda por contar. Sei-a de cor. A que se conta,
além de um insulto, é uma pura adulteração da política, do passado recente, da
própria história país. Mereceria livro. Talvez chegue.
POLÍTICA 25 DE
ABRIL PAÍS HISTÓRIA CULTURA
COMENTÁRIOS:
PAULA BARBOSA: Tive o prazer de o encontrar
um dia destes, pela primeira vez, num sítio público. Pedi autorização para o
cumprimentar e emocionada, basicamente só fui capaz de lhe dizer o que
sinto da sua governação e dedicação ao meu querido Portugal : - Muito Obrigado
!
E para si Maria João, vamos a isso ! Eu estive em
muito acontecimentos desses tempos. Desde a Faculdade, onde houve cenas de pancadaria
valente com os da extrema esquerda, ao Alentejo e ocupações selvagens , no
trabalhando no Ministério da Agricultura. Milhares de portugueses ainda vivos,
estarão prontos a contar-lhe , o que viram e sofreram, naqueles anos loucos.
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