Considerandos,
por vezes com sabor bem irónico, não sei se elegante, se um tanto perverso –
pelo desrespeito genérico, que o não seria, talvez, se o PSD fosse governo. De Rui Pedro Antunes. Um texto útil, sobretudo para os leigos, que ajudará um dia, em pesquisa
histórica. De resto, inteligentemente urdido. Mas parte dos comentadores também
se mostra céptica em relação ao PSD, não permitindo a ilusão de uma mudança.
Os vencedores, os vencidos e o ajudante do Congresso
do PSD
Montenegro surpreendeu, Hugo Soares conquistou, Rangel ressuscitou,
Moedas entusiasmou. Rio filosofou, Moreira da Silva entediou, Salvador Malheiro
encolheu. E Pedro Nuno Santos ajudou (sem querer).
RUI PEDRO ANTUNES: Texto
OBSERVADOR, 03 jul 2022, 16:4716
Os
vencedores
Luís Montenegro
Juntou todos os potenciais rivais nas
suas listas. Teve 91,7% dos votos. E praticamente não ouviu críticas durante
todo o Congresso. A essas vitórias, Luís Montenegro juntou três detalhes
cénicos que mostram a vontade de mudar: conseguiu manter em segredo a maior
parte das suas escolhas surpreendentes para os órgãos do partido (o que mostra
capacidade de controlar informação e ambições); no último dia fez questão de
entrar sozinho no recinto, acabando com a confusão de câmaras de televisão (o
que mostra vontade de parecer um líder que domina o que se passa à sua volta);
e acabou com o seu hábito de fazer discursos não escritos (o que mostra
disciplina). As coisas só teriam corrido melhor a Luís Montenegro neste fim de
semana se tivesse encontrado um bilhete premiado da lotaria ao passear pelos
jardins do Palácio de Cristal.
Hugo Soares
O cargo
de secretário-geral é, por
norma, dos mais cobiçados porque é nele que se concentra o verdadeiro poder
interno. Com uma direção essencialmente política, com nomes como Rangel
ou Pinto Luz, Hugo Soares vai ser o
senhor do aparelho, sucedendo à dupla Malheiro-Silvano. Se for secretário-geral durante quatro anos, num
ciclo de dois mandatos, não haverá um único militante que não o conheça. Vai
ser ele o centro de todas as negociações no PSD – mesmo que Pedro Alves tenha
ficado como coordenador autárquico – e isso vai permitir que possa alargar as
suas ambições políticas. Hugo Soares mantém-se também como uma espécie de extensão de Luís
Montenegro, estando
para o novo líder como Relvas estava para Passos Coelho. Não perdeu
estatuto e manteve uma moderação na linguagem (benéfica para Montenegro) que
nem sempre o seu modo bulldozer permite. Se Rangel é oficial e formalmente o número dois, a título
oficioso Hugo Soares é a segunda figura mais influente deste novo PSD.
Paulo Rangel
Quando
decidiu avançar contra Rui Rio no ano passado, Paulo Rangel tinha o apoio
sólido das tropas de Luís Montenegro — mas, no dia do voto, essas tropas
desertaram, torpedeando a hipótese de Rangel chegar a número 1 do partido. Não sendo número 1, o eurodeputado será
número 2, promovido precisamente por aqueles
que lhe cortaram a ambição há uns meses. Mas essa mercearia partidária
agora é passado. O que interessa é que a primeira grande prova de
Luís Montenegro serão as eleições europeias, o que faz do eurodeputado Paulo
Rangel uma das pessoas fundamentais desta nova vida do PSD. Se a isso somarmos o facto de António Costa estar
empenhado em ter maior protagonismo na União Europeia, estão criadas as condições
para Rangel se tornar numa espécie de sombra do primeiro-ministro. Paulo Rangel
é a última demonstração de que, em política, as derrotas não duram para sempre.
Miguel Pinto Luz
Há
oito meses, no último Congresso do PSD, Miguel Pinto Luz até conseguiu mais votos para o Conselho Nacional do
que a lista apoiada por Luís Montenegro, mas saiu da reunião magna do
partido com uma mão-cheia de nada e passou a imagem de um crítico ressentido e
isolado nas críticas a um Rui Rio que ia a votos nas legislativas. Desta
vez, sem apresentar lista e sem sequer ter apoiado Montenegro, foi convidado
para vice-presidente. O novo líder validou o peso que o vice-presidente da
câmara de Cascais tem no partido e isso valoriza-o. Miguel Pinto Luz ganha
tempo para poder suceder a Carlos Carreiras, fazer um ciclo autárquico
vitorioso, e voltar reforçado a tentar o partido se tiver condições. Isto
mantendo uma relevância — mediática e na prática – como vice-presidente do
partido.
Carlos Moedas
Pelo
segundo Congresso consecutivo, Carlos Moedas fez
o discurso mais aplaudido pelos militantes. E, pelo segundo Congresso
consecutivo, apresentou a sua campanha e o seu governo em Lisboa como santo-e-senha
para uma futura vitória nas legislativas. A fórmula é simples: o PSD
gosta de pessoas que sabem vencer eleições; Carlos Moedas venceu as suas
eleições; logo, por decorrência natural, o PSD gosta de Carlos Moedas. Neste fim
de semana, Luís Montenegro e Carlos Moedas partilharam um interesse comum: o
primeiro precisava do segundo para mostrar que era capaz de promover a unidade;
e o segundo precisava de aparecer como figura agregadora dessa unidade. De qualquer forma, nesta contabilidade laranjinha,
Carlos Moedas era quem tinha mais a ganhar: está suficientemente perto de Luís
Montenegro para ter a importância de abençoar a nova liderança; e está
suficientemente longe de Luís Montenegro (num órgão não executivo como é o
Conselho Nacional) para se distanciar de eventuais fracassos sem ficar com uma
única mancha na gravata.
Marques Mendes
Luís
Marques Mendes protagonizou neste fim de semana o seu primeiro acto de campanha
para as próximas eleições presidenciais. Teve a distinção de ser expressamente
chamado à sala, ao microfone, pelo presidente da Mesa do Congresso; teve a
honra de ser o único a entrar no recinto por uma porta ao lado do palanque;
teve a habilidade de tomar o seu tempo, acenando aos congressistas e
cumprimentando alguns notáveis pelo caminho; teve o simbolismo de se sentar na
primeira fila ao lado de Luís Montenegro; e teve o distanciamento institucional
para só ficar no Congresso o tempo indispensável para ser visto e aplaudido,
saindo pouco depois para não se envolver excessivamente nas minudências
partidárias, acima das quais paira agora de forma etérea. Tudo indica que Luís Marques Mendes está preparado para ser o candidato
presidencial do PSD — e que o
PSD está preparado para que Luís Marques Mendes seja o seu candidato
presidencial. Há alguns anos, um antigo líder afirmou que alguns
acontecimentos no PSD estavam “escritos nas estrelas” e até lembrou o astrólogo
Zandinga. Agora, não é preciso ser Zandinga para perceber que está escrito
nas estrelas que o futuro próximo de Marques Mendes e do PSD se vão cruzar no
caminho para Belém.
Os vencidos
Rui Rio
No
seu último discurso como líder do PSD, Rui Rio filosofou, de forma poética, que “há sempre
princípio, meio e fim”. No seu
caso, o “fim” foi rigorosamente igual ao “meio”, que já tinha sido uma cópia do
“princípio”. Rio queixou-se de nunca ter tido paz no partido;
enunciou as reformas que queria fazer no país; sublinhou que uma delas era a
justiça; insistiu que o PSD tem de ser uma “alternativa social-democrata”; e
persistiu na recomendação de “consensos” com o PS. Como se dizia dos
Bourbons, Rui Rio não
aprendeu nada nem esqueceu nada.
No último dia do congresso, sofreu uma derradeira humilhação. Este domingo, no
Palácio de Cristal, a nova liderança do partido recebeu, com entusiasmo e
alegria, um convidado especial: depois de Rui Rio ter saído da liderança por
uma janela, o seu arqui-inimigo Rui Moreira entrou no Congresso do PSD pela
porta principal.
Paulo Mota Pinto
Tornou-se
quase numa nova modalidade desportiva no Congresso: bater em Paulo
Mota Pinto. Sempre que
alguém criticava a condução dos trabalhos do presidente da Mesa, havia um
aplauso entusiasmado. O até agora presidente da Mesa levou mesmo um ralhete
de Moreira da Silva pela falta de tolerância para com o candidato derrotado.
Mota Pinto sai deste Congresso derrotado em toda a linha. Na quinta-feira era
líder parlamentar e presidente da Mesa do Congresso e agora é apenas
deputado. Paulo Mota Pinto não
conseguiu disfarçar o azedume ao longo de todo o Congresso e o sinal desse mau
perder aconteceu quando pegou na pasta, abandonou a sala, pegou no carro e
abandonou o Palácio de Cristal antes do discurso do novo líder.
Jorge Moreira da Silva
O
candidato derrotado nas eleições internas teve uma pequena vitória moral neste
Congresso. Quando, a
dada altura do seu discurso, o presidente da Mesa, Paulo Mota Pinto, lhe lembrou que o tempo para falar se estava a
esgotar, Jorge Moreira da Silva pediu “tolerância” e a assistência apoiou-o
com um aplauso. Percebendo a direcção do vento, Paulo Mota Pinto recuou e
disse-lhe que, sendo essa a vontade “inequívoca” dos congressistas, teria todo
o tempo para discursar. Mas somos forçados a admitir que Mota Pinto tinha
razão em tentar apressar o final daquele arrastado momento derradeiro da
campanha que foi solidamente derrotada por Luís Montenegro. Jorge
Moreira da Silva foi ao Porto assegurar que continuará a pensar o que sempre
pensou — e foi também reconhecer que o PSD não pensa o mesmo que ele.
Usando o esquema mental daqueles bons alunos que passam todos os apontamentos a
limpo usando várias canetas de cor, Jorge Moreira da Silva lamentou que o
partido tivesse dispensado o seu plano de salvação da pátria, que consistia em
“4 metas, 17 objetivos e 13 missões”. No final do discurso, toda a gente
confirmou aquilo de que já suspeitava: Jorge Moreira da Silva nunca
será líder do PSD.
Carlos Eduardo Reis
O
deputado e antigo líder da JSD de Braga tornou-se numa das principais figuras
da fase final do rioísmo. O ponto de viragem foi quando, na tentativa de
impeachment ao líder Rui Rio, em janeiro de 2019, uniu os conselheiros da lista
que encabeçou ao Conselho Nacional e travou as intenções das tropas de Luís
Montenegro. O estatuto que foi construindo no partido teve assim por base as
listas que encabeçava ao órgão máximo entre congressos, que depois se
consolidou com a conquista de Barcelos ao PS e com a influência que teve na
vitória de Rio sobre Rangel. Agora, por ter sido director de campanha de
Jorge Moreira da Silva, optou por não apresentar lista. Esta auto-imposição
retirou-lhe necessariamente poder. Além disso, se Rio lhe devia muito,
Montenegro não lhe deve nada. Perdeu, por isso, peso dentro do partido.
Salvador Malheiro
O
homem do aparelho de Rui Rio
nunca foi propriamente um homem de Congressos. A maior actividade que
tinha era sempre nas negociações de bastidores. Em 2018, em Lisboa, chegou
a ter um contentor pré-fabricado dentro da FIL só para negociar listas com a
equipa de Santana Lopes. Na sexta-feira recebeu Rui Rio em modo casual
friday quando o então líder chegou ao Congresso, mas não se viu mais. A
tendência será para que Hugo Soares, debaixo do guarda-chuva de Montenegro,
ganhe espaço no aparelho e, na mesma proporção, Salvador Malheiro vá perdendo.
Mesmo no distrito de Aveiro, onde o autarca de Ovar é rei e senhor do aparelho,
agora será natural uma aproximação das estruturas ao líder, que também é
daquele distrito. Salvador Malheiro passa assim de uma das figuras mais
influentes no PSD de Rui Rio para a condição de um entre centenas de autarcas.
O ajudante
Pedro Nuno Santos
O
PSD precisava de ajuda para ter um saco de pancada que juntasse todos os
congressistas em rituais colectivos de ataque ao inimigo externo. E esse saco
de pancada materializou-se, a poucos dias do Congresso, na figura de Pedro Nuno
Santos, que, com a sua decisão e posterior recuo forçado em relação ao novo
aeroporto de Lisboa, se transformou num símbolo dos problemas do governo. O ministro das Infraestruturas tornou-se, assim,
num ajudante involuntário da nova liderança do PSD, atraindo para si todas as
críticas. Em tempos, circulou nas redes sociais um pequeno vídeo onde Pedro
Nuno Santos, que é praticante de boxe, distribuía pancadaria com enorme afinco.
Este fim de semana, experimentou a sensação de estar do outro lado.
COMENTÁRIOS:
Mac Pinto: Psd=ps Ernesto Sousa: A grande vantagem do congresso para já foi
finalmente Rui Rio ir-se embora. Ufa. Mikel Gomes > Ernesto
Sousa: Sinceramente,
amigo,
não creio que vá haver muita diferença. Patricio Guerreiro: Se até 2040 o PSD voltar a
chefiar um governo em Portugal, vou até Fátima a pé ( é a Promessa ) tão
difícil acho isso vir a acontecer. Está no domínio do Impossível! Conta calada; Este Montenegro é um aldrabão
sem vergonha, afirmou que nunca o partido burla PPD/PSD se juntou ou juntará
com o PCP nada mais falso, é ver ao longo dos anos as alianças feitas com a CDU
a nível autárquico. O que vale, é que para gente
apoiante do dois em um qualquer trapaceiro chega. Jorge
Costa: O que dizer do símbolo da
Agenda 2030 na lapela de uns quantos? Será mesmo como estava no púlpito
“Portugal Primeiro”? miguel Fonseca: Ontem tinha ficado convencido
que regressaria ao PSD. Mas declarações “estupidamente” politicamente corretas
contra o Chega, e sem qualquer referência á desgraça da esquerda PCP e radical
BE, desiludiram-me de tal maneira, que prevejo que mais uma vez a salvação deste
País fica seriamente adiada. Passo nesse discurso absolutamente ridículo e sem
qualquer inteligência política/ Que desapontamento… Joaquim
Rodrigues: A Comunicação Social que trabalha por conta dos
"Oligarcas da Corte" anda numa azáfama descabelada a tentar promover
aquela coisa "... de pôr a funcionar …" chamada Moedas. É
confrangedor. Querem à viva força "...pôr o Moedas a Funcionar". Quem
é que vos encomendou esse sermão? A criatura, no Congresso, e sempre que
intervém, limita-se a fazer auto-elogios e a afirmar banalidades bacocas. De
substantivo e de contributo político, sério e útil, nada!!!! Expliquem mas é à
criatura, porque ele ainda não percebeu, que não ganhou nada em Lisboa. Teve
mais 2000 votos que a Teresa Coelho e a Cristas tinham tido em 2017, é certo. Mas se não fosse o povo de Lisboa ter tirado 26 000 votos ao Costa/Medina
(sem os ter dado ao Moedas) o Moedas não tinha ganho nada. Foi o povo de Lisboa
que derrotou, e bem, o Costa/Medina. O Moedas limitou-se a
aproveitar essa derrota sem ter tido qualquer contributo e mérito para ela. Tivesse
o PSD apresentado um candidato a sério à Camara de Lisboa e tinha tido uma
maioria absolutíssima. Não tínhamos que assistir às figuras tristes que agora
anda a fazer na Câmara de Lisboa. Mário Rodrigues: Maior derrotada: a Educação, a
Mariupol deste governo!... Pipoca Estourada: Ouvir o Carlos César da
xuxaria falar de Montenegro... César desrespeitoso e a baixar o nível, Xuxa a
ser Xuxa. André Mesquita: E por falar em PSD, faço o apelo para que Pedro Passos
Coelho seja o candidato a Belém em 2026. Luís Abrantes: “Morte” aos xuxas… André Mesquita: As falhas do socialismo são
tantas que só um líder ineficaz ou colaboracionista poderá falhar o poder em
2026. É dito que não é a oposição que ganha o poder mas quem está no governo
que o perde. No entanto dizer mal não basta. Será preciso ter um plano de
governo para quatro anos no mínimo, e ideias-chave para que o povo saiba com o
que pode contar. Uma sondagem da Intercampus
diz que 91,5% dos portugueses defendem reformas estruturais na saúde e justiça
principalmente, mas 65,8% não acreditam que seja Costa a fazê-las. Há muito
para o PSD explorar. André
Mesquita: As falhas do
socialismo são tantas que só um imbecil ou um colaboracionista como Rio poderá
falhar o poder em 2026. Dizer mal não basta, será preciso ter um plano de
governação para quatro anos no mínimo e ideias-chave, para o povo saber com o
que pode contar.
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