Forçadas, que, pressupondo a eterna semelhança do Homem, ao longo da sua História, no seu jogo de ambições de conquista, parecem excluir a evolução tecnológica como causa fundamental para a progressiva destruição – da civilização, como do planeta, o Homem certamente já impotente para uma regressão de equilíbrio e sensatez, que as descobertas científicas elevam a um patamar de louca pretensão. Por isso, parece limitado o paralelismo do Professor, que alguns comentadores criticam.
O suicídio da civilização
O nosso problema não são as subidas de
taxas de juro ou no cabaz de compras. O que nos assola são os sintomas da
doença que gerou a desgraça do segundo quartel do século XX, o suicídio da
civilização.
JOÃO CÉSAR DAS NEVES,
Professor da Católica Lisbon School of Business & Economics
OBSERVADOR, 22 jul 2022, 00:1821
A situação
mundial é, de novo, crescentemente preocupante: inflação explosiva, rupturas de
fornecimentos e riscos de derrocada económica. Aumentam os avisos de uma possível fome global e
faltas de energia no Outono. Já nesta Primavera a carestia gerou tumultos em
países como Sri Lanka, Iraque, Sudão, Albânia, etc. Num mundo ainda a sair da
pior crise dos últimos 75 anos, causada por um vírus microscópico, é fácil
ficar assustado. Mas o verdadeiro perigo não é nenhum destes.
Se
a humanidade descrevesse o pior pesadelo da história, certamente lembraria os
terríveis quinze anos de 1914 a 1929, onde a sequência da
Grande Guerra de 1914-18, a epidemia da Gripe Espanhola em 1918-20 e a
derrocada financeira de 1929 conduziram à calamidade global dos quinze anos de
1930 a 1945, com a devastadora Grande Depressão e a maior catástrofe da
humanidade, a 2ª Guerra Mundial. Hoje, cem anos
passados, os
terríveis quinze anos de 2007 a 2022 repetiram a primeira sequência, na ordem
inversa: à crise financeira de 2007-09 seguiu-se a pandemia COVID-19 em 2020 e
a guerra na Europa em 2022, envolvendo a Rússia contra a Ucrânia apoiada pela
NATO. Será exagero dizer que olhamos de novo para o abismo?
Isso
chega para mostrar que o nosso problema actual não são as subidas de taxas de
juro ou aumentos no cabaz de compras. Aquilo que nos assola é, um pouco por
todo o lado, os sintomas da doença que gerou a desgraça do segundo quartel do
século XX, a que pudemos chamar “o
suicídio da civilização”. Essa
pandemia é fácil de descrever: tudo começa com uma perturbação ‒ gripe,
guerra, falência ou carestia ‒ que afecta
gravemente as populações e deixa os governos impotentes. Perante o
inegável sofrimento, a irritação dos eleitores derruba os partidos tradicionais
e promove forças extremistas, de esquerda ou direita, que, sem resolver nada,
acrescentam raiva, medidas abstrusas e destruição das instituições, que
conduzem à desgraça.
É
inegável que hoje, em quase todos os parlamentos do mundo democrático, temos
cópias dos radicais de há cem anos a celebrar vitórias; não por apresentarem
melhores ideias e soluções, mas porque os problemas são difíceis e os eleitores
querem punir os poderosos. Até
regressam os demónios dos nossos avós: é indiscutível que Trump
parece Mussolini, Putin parece Hitler e Xi Jinping parece Estaline; podemos descrever inúmeras diferenças, mas as
semelhanças são apavorantes.
Existe alguma credibilidade neste
paralelo centenário? De facto, o mundo de 2022 pouco ou nada tem a ver com o de
1929. Cem anos depois estamos
mais bem equipados tecnologicamente, mais sólidos nas nossas instituições e
sobretudo mais ricos, até os mais pobres. Por
isso, os sofrimentos das actuais bolhas, pandemia e guerra, mesmo dramáticos,
são incomparáveis com os antigos. Os próprios clones contemporâneos das
ideologias dos anos 1930 são muito menos credíveis que as originais, porque
lhes falta a frescura da novidade. Dificilmente a história se repete. Apesar
disso, o perigo é evidente.
Em certas dimensões, as coisas até
estão piores hoje. Pela
primeira vez desde 1962 uma potência nuclear ameaça outras de utilizar armas
atómicas. Pela primeira vez desde 1952 um país abandonou a União
Europeia e prepara-se para violar o acordo de saída. Pela primeira vez desde a fundação não existiu
uma transferência pacífica de poder na presidência americana. Pela
primeira vez na história do planeta a capital de um estado rico foi destruída
por um furacão (Nova Orleans, 2005).
Pela primeira vez na história da humanidade a maior economia do mundo é uma
ditadura comunista.
Durante 75 anos após 1945 a questão central do mundo foi económica, porque o horror nuclear coibia a opção militar.
Todos os países, cada um à sua maneira, investiram, comerciaram,
globalizaram, desenvolveram. Mas os tumultos dos últimos quinze
anos foram crescentemente desafiando essa linha. Por isso, invertendo o Burke de 1790, podemos dizer
que a era dos economistas e calculadores está a acabar; a
da cavalaria regressa, e a glória da Europa renasce ensanguentada.
A civilização está em risco. A única forma de a preservar é confiar nela e,
perante os seus inimigos, usar meios civilizados. Diálogo, paciência, confiança,
serenidade, precisamente aquilo que é mais difícil em situações destas, são a
nossa única salvação. Nunca podemos, em defesa da civilização, usar os
meios e a fúria dos que se lhe opõem, porque isso destrói tanto a paz quanto
eles. É preciso assegurar-nos continuamente de que estamos do lado da
civilização. Senão, num mundo mais rico e poderoso, a desgraça será muito maior.
ECONOMIA EM DIA COM A CATÓLICA-LISBON OBSERVADOR CIVILIZAÇÃO SOCIEDADE
COMENTÁRIOS:
Nunya business: Um bálsamo, voltar a ler JCN. Sempre
super interessante. E dos poucos que sempre traz perspectiva nova, não
papagueia nada. Sempre gostei do que escreve este senhor. Aguardo por outros
textos seus. Bem-vindo. Não sei a que o autor chama civilização, mas se por
civilização entende que é a da europa e dos estados unidos é um conceito
limitado de clubite As civilizações fazem-se em várias geografias por
razões ancestrais e culturais e não são uniformes como pretendem os arautos do
globalismo. A imposição global de uma, acelera o processo de autofagia de
todas. Paulo
Orlando: Não perfilho a análise do JCdN, mas leio com atenção
tudo o que ele escreve. Este artigo dá que pensar. Eu próprio fui muitas vezes
susceptível à sedução dos radicalismos e à motivação do ódio. A percepção de
injustiça sobre todos os que não são portadores de talentos ou virtudes é o
rastilho para a hecatombe anunciada. JCdN é um brilhante académico com uma
estrutura lúcida que não é acessível aos milhares de milhões que estão
condenados à nascença ao falhanço, à humilhação, à subserviência, à escravatura
e à insignificância. Uma sociedade cada vez mais discriminatória, mesmo
dissimulada atrás de narrativas de inclusão, só promove a raiva a todos os que
sentem que ficam para trás. A civilização tem de ter a capacidade de
construir sociedades equilibradas em vez de insistir no cosmopolitismo
compulsivo. Não deveríamos ter de conviver com quem não suportamos. Está
comprovado que as sociedades mais homogéneas mais facilmente remam no mesmo
sentido enquanto sociedades heterogéneas estão mais talhadas para o conflito.
A razão de existência de fronteiras pretende segregar incompatibilidades,
promovendo que haja cantinhos diferentes adequados à diversidade sem que se
tenha de se submeter a usos e costumes alheios. Alexandre Barreira:O outro é que tinha razão. Adeus
mundo cada vez pior. E tudo o resto
são lenga-lengas ! mais um: O grande problema da humanidade
é o Ser Humano.
Paulo Salvador: excelente Liberales
Semper Erexitque: Mais um artigo do maior
interesse de João César das Neves, mas com uma omissão, quanto a mim,
importantíssima. Diz o autor que as ideologias comunista e fascista já não têm
o charme de outrora, por já se saber ao que levam. Esquece-se no entanto da
ameaça fresca que paira sobre todos nós, o "ambientalismo" e sua
mecânica de pobreza em nome de planetas que cantam. O planeta não cantará
de qualquer forma, mas a pobreza é para já. E os povos são chamados a fugir dos
charlatães para se atirarem para aquilo que vêem como o único refúgio, a
extrema-direita. Infelizmente, Trump e o ridículo "Bojo" inglês não
foram o fim da História. João Ramos: “Pela primeira vez na história da
humanidade a maior economia do mundo é uma ditadura comunista.” não querendo
discordar do artigo que é sem dúvida motivo de séria preocupação, mas voltando
à frase entre aspas gostaria de relembrar que a China é uma ditadura comunista
politicamente mas não o é em termos económicos, daí o seu enorme crescimento e
isso poderá um dia traduzir-se numa tomada de consciência das populações contra
o comunismo. Isto poderá ser “wishful thinking” mas oxalá… Liberales Semper
Erexitque > João Ramos: Já aconteceu em
1989. Oxalá! Luis
Martins: O mundo dá
muitas voltas e muitas vezes a civilização não aprende com os erros do passado.
Por exemplo Portugal fez o 25 de Abril para depois os nossos governantes
pseudo democráticos venderem em saldos as melhores empresas a uma ditadura
comunista como a China? A União Europeia e os Eua andaram carradas
de anos numa guerra fria contra a Rússia e países comunistas para depois
da queda do muro de Berlim e desmembramento da URSS, terem deslocalizado
a sua indústria e fábricas pada um país com uma ditadura comunista? Fecharam
os olhos a uma ditadura travestida de democracia em vigor na Rússia,
andaram a fazer grandes investimentos na Rússia para agora fugirem a sete pés
da Rússia abandonado tudo com pesadas perdas financeiras, foi preciso a
ditadura nazi de Putin no dia 24 de Fevereiro invadir a Ucrânia com o
objectivo de a anexar para a Europa e os EUA finalmente se aperceberem de que
estavam a financiar a ditadura em vigor na Rússia? Tem alguma lógica
eu não conseguir comprar terrenos, nem casas ou empresas na
China ou outros países como na Tailândia ou Vietname etc e eles poderem comprar
tudo e mais alguma coisa em Portugal na Europa e nos EUA? Tem lógica o povo
português andar sempre a votar nos mesmos bandos chamados de partidos políticos
que se especializaram a assaltar o pote dos impostos e dos subsídios vindos da
UE e a distribuir e criar grandes tachos para os seus militantes? Francisco Tavares de
Almeida: Não subscrevo o
comentário anterior de Joaquim Lopes. Para mim João César das Neves vale sempre
a pena ler mas é facto que, invariavelmente, fica sempre aquém. Também não subscrevo a análise
de hoje, embora concorde com muito do cenário e quase tudo dos riscos. Mas,
na sua análise, falar das diferenças entre 1929 e 2022 no que aos extremismos
respeita, sem equacionar a "net" em geral e as redes sociais em
particular, é mais uma vez ficar aquém. Joaquim Lopes: ...é indiscutível que Trump
parece Mussolini, Putin parece Hitler e Xi Jinping parece Estaline; podemos
descrever inúmeras diferenças, mas as semelhanças são apavorantes." Indiscutível as diferenças
entre os 3 ou a confusão que vai na cabeça de um indivíduo que é Professor
Universitário afirmar uma barbaridade destas? Ora por este artigo, se justifica
o suicídio da civilização, é por afirmações que revelam uma ignorância
que não creio existir é por escrever e o deixarem publicar este chorume, mas o seu santo espanhol não
o incomoda decerto, então na linha de afirmações que fez, posso afirmar que ele
é igual aos comunistas da guerra civil espanhola. Assim se faz a desgraça
civilizacional, com professores universitários deste gabarito. Fernando CE: O Homem sempre teve a tentação
pelo abismo. Veremos como conseguimos sobreviver a esta nova “crise” mundial. Alberto Rei: sabe qual é um dos problemas da
civilização que não apontou ? é um país querer impor a sua vontade aos outros.
é simples, esse modus operandi tem sido uma constante desde há anos a esta
parte, uma vontade desmesurada de impor a vontade deles aos outros. se
aceitarem os outros, e a maneira deles viverem, aqueles que o Neves diz que são
os Mussolinis, o Hitler e o Estaline, talvez comecemos a ter um mundo
melhor bento guerra: Olha o Homem das Neves. Sendo
ele um cristão engajado, deve acreditar que a nossa espécie e actual
civilização tem uma capacidade de resiliência extraordinária."Tudo vai
fica bem-whatever it takes" Miguel Ramos: O Mundo não aguenta o stock
actual de estupidez por hectare. Só há 2 soluções, educação ou eliminação
selectiva dos estúpidos.
Luís Barreto: O problema maior é demográfico. Não há como viver num
planeta com não sei quantos bilhões de gente. Liberales Semper
Erexitque > Luís Barreto: É um argumento com centenas de
anos, esse. Cláudio
Lopes > Liberales Semper Erexitque: Tendo em conta que só
chegamos ao bilhão no final do século XIX não se pode falar em centenas de
anos Liberales
Semper Erexitque > Cláudio Lopes: Procure Thomas Robert Malthus, nascido em 1766.
É possível que o argumento da barreira demográfica seja mais antigo ainda. Manuel Cardozo:
O problema está
identificado há muito. O problema é que as soluções q existem são frágeis para
não dizer falsas. Tutti fratelli aponta alguma das estratégias para sair da crise.
É estranho que não fale disso. A propósito pode ler o artigo q escrevi há 15
dias no Diário de Coimbra. Talvez fique a compreender um pouco melhor. Américo Silva: A humanidade está bem, até
demais, dos desertos aos mares coalhados, dos picos montanhosos às grutas
profundas, o mundo está infestado de gente, sempre e cada vez mais, uma
verdadeira praga. Quem parece um pouco mal é o indivíduo, que continua a ser um
cadáver adiado cada vez mais acorrentado e possuído pela sociedade. Meio Vazio: Bem-vindo. Rui Lima: Sem dúvida que os tempos são
difíceis, há muito mais do que escreve nas sociedades ocidentais
multicivilizacionais há um problema mortal a autoridade acabou, se um polícia
tem uma “má origem” não tem condições para interpelar um criminoso de “boa
origem “. Hoje nos primeiros minutos de leitura
da imprensa : 18 pessoas
morreram esta noite na favela do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, luta
entre polícia e criminosos , no Brasil a polícia morre e mata . Em França só
apanha, vídeo de Lyon 3 polícias contra um muro são atacados por várias dezenas
dali vão para o hospital , em Dijon foto de um polícia dá pena o estado da a
sua cara … em Paris já não é notícia sim nas pequenas cidades ainda
estranham e a imprensa regional dá a notícia . O dinheiro tem comprado
a paz se acabar será a guerra civil.
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