A estranheza da mudança… Tanto que se
passou e passa por esse mundo fora… Não somos nada.
Mas o que se estranha também é a má vontade
de muitos que comentam, contra a articulista, que me parece bem ponderada nas
suas afirmações de uma análise pontual, sobre o que se esperava de Biden,
sobretudo a esquerda, que espera sempre qualquer coisa, mas parece que Biden
tem estado distraído, refractário a muitas das toleimas. E entretanto, Putin
avança, com o seu contributo para a mudança, sem parança… para gáudio ou
festança de quem o defende, com temperança, e muita deferência… E falta a
China, que aguarda, de olho manso e muita macieza, na pendência, para pegar talvez
de atracão, como o Salcede, Dâmaso de sua graça …
Mundo macabro, como nunca, como sempre…
A revolta previsível do Partido Democrata
A América tem de se reinventar na sua
profunda polarização. Ainda ninguém descobriu a fórmula, mas o antigo
nacionalismo cívico já não tem o apelo do passado. A América como era já não
voltará a ser.
DIANA SOLLER, Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 17 jul 2022
Em
2019, quando se disputavam as primárias para as eleições presidenciais norte-americanas,
o Partido Democrata tinha um objetivo central: derrotar
Donald Trump. Não se tratava apenas do
comportamento errático do presidente. Tratava-se também daquilo que a ciência
política chama “comportamento tribalista”, em que um grupo, neste caso
político-partidário, está mais interessado na derrota do outro do que na sua
própria vitória.
Nestas
circunstâncias, a esquerda norte-americana deparou-se com um dilema: eleger um
candidato moderado que desse mais garantias de vitória eleitoral nas
presidenciais ou um
candidato outsider que pudesse causar anticorpos no eleitorado (Bernie Sanders seria a escolha mais óbvia, mas havia mais
possibilidades). A escolha
acabou por recair em Joe Biden. Se Hillary Clinton tinha provado, quatro anos antes, que havia questões
com candidatos do sistema, os democratas estavam agora mais atentos à disrupção
cibernética russa, e Biden reunia
muito mais simpatias que a antecessora.
Parecia disposto a unir o partido, mantendo o seu programa e fazendo cedências
aos progressistas – como se viu mais tarde, na escolha de Kamala Harris para
vice-presidente.
Mas a verdade é que Biden nem chegou
a estar em “estado da graça”. O seu discurso de aceitação estava já manchado
pelos acontecimentos de 6 de janeiro, que demonstravam que não havia grande
espaço para reconciliações. E o
cenário só se foi degradando nos últimos dois anos: autores que escreviam sobre
polarização referem-se agora ao fenómeno americano como “extremismo
político-partidário” e usam termos como “hostilidade violenta” para classificar
as relações políticas e sociais nos Estados Unidos.
Com uma inflação acima dos nove por cento e um contexto
internacional onde os Estados Unidos estão profundamente comprometidos com uma
guerra fora de área, não será muito difícil perceber as razões imediatas pelas
quais o presidente está com a pior taxa de popularidade de sempre: 33 por cento. Mas a questão central não é essa: segundo o New
York Times, 64 por cento dos eleitores democratas preferiam outro candidato
democrata para as eleições presidenciais de 2024. Uma das razões, segundo o
estudo de opinião, é que Biden “não é suficientemente progressista”. Os eleitores democratas chegaram ao ponto de,
após menos de dois anos de presidência preferirem uma disputa em primárias, do
que reencaminhar o incumbente, que tradicionalmente tem maiores hipóteses de
ganhar as eleições.
Pior, são as próprias elites do
partido que não querem que Biden se recandidate. Alegam
a idade avançada, a economia, a perda de poder de compra dos americanos. Mas
também alegam que o presidente não fez o suficiente pelas alterações climáticas
ou para reverter a decisão do Supremo Tribunal relativamente ao aborto.
Na
verdade, o que se passa é mais complexo. O
Partido Democrata está há duas décadas partido em dois: de um lado os moderados, a que se costumava chamar liberais-conservadores. Do outro os progressistas, que se identificam menos com o liberalismo, e mais
com agendas identitárias, que
cabem e se alargam numa sociedade dividida. Mas que também está imbuída de um “pacifismo” isolacionista que pode
vir a impedir os Estados Unidos de
desempenharem o seu papel de grande potência, num ambiente internacional em que
este é preciso mais do que nunca.
Os progressistas têm, efectivamente, uma agenda autoritária. Querem desfazer as desigualdades
sociais – o maior flagelo norte-americano que dá origem a tantos outros –
através de uma cartilha que obrigaria a uma mudança social tão grande, que se
fosse implementada a America tornar-se-ia irreconhecível e, seguramente, menos
liberal, como já se deu conta aqui.
Mas este ano vem com duas novidades
que transformam este problema. Primeiro,
a invasão da Ucrânia e a necessidade de sobrevivência do mundo liberal não foi
suficiente nem para unir democratas, nem para unir americanos. Segundo, pela primeira vez, a ala progressista
parece estar a ter predominância sobre a ala moderada-liberal. Pode-se alegar a idade de Biden, a situação económica,
a inflação. Mas
a razão de fundo é que os radicais de esquerda americanos tornaram-se mais
fortes, e sentem que é o momento de tomarem o partido. E isto muda tudo.
Biden
tem errado, como qualquer presidente de uma grande potência. Mas a realidade é
que falhou quando não percebeu uma coisa: que não vale a pena pensar que os
Estados Unidos vão voltar ao que eram. A
América tem de se reinventar na sua profunda polarização. Ainda ninguém
descobriu a fórmula, mas o que é certo, é que o antigo nacionalismo cívico já
não tem o apelo do passado. A América como era já não voltará a ser. E os
progressistas perceberam-no muito mais rapidamente do que os moderados.
ESTADOS
UNIDOS DA AMÉRICA AMÉRICA MUNDO
COMENTÁRIOS:
João Ramos: Tempos muito perigosos se avizinham, Putin deve estar contente… klaus muller: Os States já tiveram inúmeros
problemas graves __ índios, negros, judeus, católicos, etc. __ e acabaram
sempre por os resolver. Esta divisão nos Democratas é grave, mas está longe de
ser insolúvel. Nem que o Partido Democrata tenha de se dividir em 2 ou mais
partidos. Quem me dera que os problemas de Portugal fossem desse
calibre. J Sm:
Depois de ouvir
na TV com desagrado os seus comentários anti-russos ao melhor estilo América
'acima de tudo', venho hoje aqui ler o seu lamento sobre o fim da 'pax
americana'. Ainda bem que está a acabar, e sobre as suas cinzas pode ser que a
Europa renasça. Sobre o diagnóstico que faz da crise americana e partindo do princípio que
é do partido das pombas (quem diria!) posso apenas lembrar-lhe que os Estados
Unidos têm o seu ponto forte em duas instituições que herdaram dos ingleses - a
constituição histórica, espécie de magna carta, e o Supremo Tribunal. Com as
interferências partidárias que são conhecidas essas duas instituições ameaçam
ruir e com elas a força dos estados unidos. Perdeu-se a unidade e aquilo
assemelha-se a uma guerra civil permanente. O que é próprio das repúblicas,
diga-se de passagem. bento guerra: O Biden é um velho caquético, secundado
por uma vice burocrata. Por detrás está Obama, o grande manipulador. Conseguiram
uma grande vitória, ao isolar a Rússia, por acção da Europa e outros estados
dependentes. Mas ,internamente o "stop the steal" ainda tem muita
força e o "trumpismo" é imparável, com as cotas de aprovação do Biden
abaixo das do "challenger" Trump. José Miranda: É verdade, o mundo está
perigoso.
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