segunda-feira, 18 de julho de 2022

Solavancos


A estranheza da mudança… Tanto que se passou e passa por esse mundo fora… Não somos nada.

Mas o que se estranha também é a má vontade de muitos que comentam, contra a articulista, que me parece bem ponderada nas suas afirmações de uma análise pontual, sobre o que se esperava de Biden, sobretudo a esquerda, que espera sempre qualquer coisa, mas parece que Biden tem estado distraído, refractário a muitas das toleimas. E entretanto, Putin avança, com o seu contributo para a mudança, sem parança… para gáudio ou festança de quem o defende, com temperança, e muita deferência… E falta a China, que aguarda, de olho manso e muita macieza, na pendência, para pegar talvez de atracão, como o Salcede, Dâmaso de sua graça …

Mundo macabro, como nunca, como sempre…

A revolta previsível do Partido Democrata

A América tem de se reinventar na sua profunda polarização. Ainda ninguém descobriu a fórmula, mas o antigo nacionalismo cívico já não tem o apelo do passado. A América como era já não voltará a ser.

DIANA SOLLER, Colunista do Observador

 OBSERVADOR, 17 jul 2022

Em 2019, quando se disputavam as primárias para as eleições presidenciais norte-americanas, o Partido Democrata tinha um objetivo central: derrotar Donald Trump. Não se tratava apenas do comportamento errático do presidente. Tratava-se também daquilo que a ciência política chama “comportamento tribalista”, em que um grupo, neste caso político-partidário, está mais interessado na derrota do outro do que na sua própria vitória.

Nestas circunstâncias, a esquerda norte-americana deparou-se com um dilema: eleger um candidato moderado que desse mais garantias de vitória eleitoral nas presidenciais ou um candidato outsider que pudesse causar anticorpos no eleitorado (Bernie Sanders seria a escolha mais óbvia, mas havia mais possibilidades). A escolha acabou por recair em Joe Biden. Se Hillary Clinton tinha provado, quatro anos antes, que havia questões com candidatos do sistema, os democratas estavam agora mais atentos à disrupção cibernética russa, e Biden reunia muito mais simpatias que a antecessora. Parecia disposto a unir o partido, mantendo o seu programa e fazendo cedências aos progressistas – como se viu mais tarde, na escolha de Kamala Harris para vice-presidente.

Mas a verdade é que Biden nem chegou a estar em “estado da graça”. O seu discurso de aceitação estava já manchado pelos acontecimentos de 6 de janeiro, que demonstravam que não havia grande espaço para reconciliações. E o cenário só se foi degradando nos últimos dois anos: autores que escreviam sobre polarização referem-se agora ao fenómeno americano como “extremismo político-partidário” e usam termos como “hostilidade violenta” para classificar as relações políticas e sociais nos Estados Unidos.

Com uma inflação acima dos nove por cento e um contexto internacional onde os Estados Unidos estão profundamente comprometidos com uma guerra fora de área, não será muito difícil perceber as razões imediatas pelas quais o presidente está com a pior taxa de popularidade de sempre: 33 por cento. Mas a questão central não é essa: segundo o New York Times, 64 por cento dos eleitores democratas preferiam outro candidato democrata para as eleições presidenciais de 2024. Uma das razões, segundo o estudo de opinião, é que Biden “não é suficientemente progressista”. Os eleitores democratas chegaram ao ponto de, após menos de dois anos de presidência preferirem uma disputa em primárias, do que reencaminhar o incumbente, que tradicionalmente tem maiores hipóteses de ganhar as eleições.

Pior, são as próprias elites do partido que não querem que Biden se recandidate. Alegam a idade avançada, a economia, a perda de poder de compra dos americanos. Mas também alegam que o presidente não fez o suficiente pelas alterações climáticas ou para reverter a decisão do Supremo Tribunal relativamente ao aborto.

Na verdade, o que se passa é mais complexo. O Partido Democrata está há duas décadas partido em dois: de um lado os moderados, a que se costumava chamar liberais-conservadores. Do outro os progressistas, que se identificam menos com o liberalismo, e mais com agendas identitárias, que cabem e se alargam numa sociedade dividida. Mas que também está imbuída de um “pacifismo” isolacionista que pode vir a impedir os Estados Unidos de desempenharem o seu papel de grande potência, num ambiente internacional em que este é preciso mais do que nunca.

Os progressistas têm, efectivamente, uma agenda autoritária. Querem desfazer as desigualdades sociais – o maior flagelo norte-americano que dá origem a tantos outros – através de uma cartilha que obrigaria a uma mudança social tão grande, que se fosse implementada a America tornar-se-ia irreconhecível e, seguramente, menos liberal, como já se deu conta aqui.

Mas este ano vem com duas novidades que transformam este problema. Primeiro, a invasão da Ucrânia e a necessidade de sobrevivência do mundo liberal não foi suficiente nem para unir democratas, nem para unir americanos. Segundo, pela primeira vez, a ala progressista parece estar a ter predominância sobre a ala moderada-liberal. Pode-se alegar a idade de Biden, a situação económica, a inflação. Mas a razão de fundo é que os radicais de esquerda americanos tornaram-se mais fortes, e sentem que é o momento de tomarem o partido. E isto muda tudo.

Biden tem errado, como qualquer presidente de uma grande potência. Mas a realidade é que falhou quando não percebeu uma coisa: que não vale a pena pensar que os Estados Unidos vão voltar ao que eram. A América tem de se reinventar na sua profunda polarização. Ainda ninguém descobriu a fórmula, mas o que é certo, é que o antigo nacionalismo cívico já não tem o apelo do passado. A América como era já não voltará a ser. E os progressistas perceberam-no muito mais rapidamente do que os moderados.

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COMENTÁRIOS:

João Ramos: Tempos muito perigosos se avizinham, Putin deve estar contente…            klaus muller: Os States já tiveram inúmeros problemas graves __ índios, negros, judeus, católicos, etc. __ e acabaram sempre por os resolver. Esta divisão nos Democratas é grave, mas está longe de ser insolúvel. Nem que o Partido Democrata tenha de se dividir em 2 ou mais partidos. Quem me dera que os problemas de Portugal fossem desse calibre.             J Sm: Depois de ouvir na TV com desagrado os seus comentários anti-russos ao melhor estilo América 'acima de tudo', venho hoje aqui ler o seu lamento sobre o fim da 'pax americana'. Ainda bem que está a acabar, e sobre as suas cinzas pode ser que a Europa renasça. Sobre o diagnóstico que faz da crise americana e partindo do princípio que é do partido das pombas (quem diria!) posso apenas lembrar-lhe que os Estados Unidos têm o seu ponto forte em duas instituições que herdaram dos ingleses - a constituição histórica, espécie de magna carta, e o Supremo Tribunal. Com as interferências partidárias que são conhecidas essas duas instituições ameaçam ruir e com elas a força dos estados unidos. Perdeu-se a unidade e aquilo assemelha-se a uma guerra civil permanente. O que é próprio das repúblicas, diga-se de passagem. bento guerra: O Biden é um velho caquético, secundado por uma vice burocrata. Por detrás está Obama, o grande manipulador. Conseguiram uma grande vitória, ao isolar a Rússia, por acção da Europa e outros estados dependentes. Mas ,internamente o "stop the steal" ainda tem muita força e o "trumpismo" é imparável, com as cotas de aprovação do Biden abaixo das do "challenger" Trump. José Miranda: É verdade, o mundo está perigoso.

 

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