sexta-feira, 29 de julho de 2022

O gás de uma sobrevivência sonhada


O Dr. Salles explica, e um seu comentador também. Nós continuamos sonhando… Também já se falou em petróleo. O Algarve tem as costas largas, se bem que Solnado o localizasse antes, num seu quintal no Beato. Contentemo-nos com o quintal. Um dia, os Putins decidirão. No seu próprio proveito, decerto. Ou até mesmo os chins, que também sabem de proveito.

 

PORTUGAL E O GÁS NATURAL

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 28.07.22

Diz-se que temos importantes recursos de gás natural ao largo do Algarve.

Mesmo que seja verdade, o lobby russófilo-ambientalista encarregar-se-á de impedir a sua exploração.

Continuemos, pois, energo-dependentes…

Contudo, até prova em contrário, a Rússia nada ganha connosco pois o nosso fornecedor é a Argélia. Ou seja, na actual circunstância de redução da dependência energética europeia em relação à Rússia, os nossos consumos não pesam nessa balança. Não faz, pois, qualquer sentido que tenhamos que reduzir o nosso consumo de gás natural.

Pelo contrário, a nossa solidariedade europeia dever-se-ia traduzir num reforço do nosso aprovisionamento de modo a que nos pudéssemos constituir como fornecedor de gás aos nossos parceiros europeus.

Todavia, França não autoriza que um nosso gasoduto atravesse os Pirenéus para manter a sua electricidade nuclear como produto estratégico para os demais países europeus.

Mas parece que não é tecnicamente possível substituir parte substancial dos actuais consumos de gás por electricidade. Esta, uma questão que merece confirmação ou infirmação. Confirmada a inviabilidade, cai por terra a pretensão francesa.

Bloqueados por russófilos e por franceses, resta a possibilidade da organização de comboios de navios entre Sines e Roterdão ou Hamburgo que transportem o gás que possamos intermediar.

Julho de 2022

Henrique Salles da Fonseca

Tags:: "economia portuguesa”

COMENTÁRIOS:

 Rui Bravo Martins  28.07.2022  21:08: Muito boa caricatura, Falta dar-se conhecimento à população que tínhamos dois gasodutos, um vindo da Argélia e que passa por Marrocos e atravessa o estreito de Gibraltar, e de Espanha para Portugal, e um outro que atravessa o Mediterrâneo directamente da Argélia  para Espanha e dai pelo mesmo gasoduto entram na zona de Elvas. Deste conflito entre a Argélia e Marrocos por causa do antigo Sarah Ocidental, a Argélia Fechou o primeiro gasoduto que passa por Marrocos. Os nossos politiqueiros não falam deste assunto preocupante?!

 Adriano Miranda Lima  30.07.2022  12:24: Também havia notícia de haver petróleo no mar do Algarve e intenção de o explorar. Mas os ambientalistas e outros interesses parece terem bloqueado a exploração. Lembro-me de há alguns anos estar de férias no Algarve e ter-me sido distribuído um folheto dos ambientalistas a apelar à mobilização dos algarvios. Agora é o gás natural e o resultado é o mesmo, assim como provavelmente irá suceder o mesmo com o lítio. Isto é, será sempre um problema bicudo reunir consenso à volta do interesse nacional. O princípio é este: tudo bem, mas desde que não mexe com a minha paróquia. Mas pelo citado exemplo da electricidade nuclear da França, pode-se também concluir que no seio da UE o interesse comunitário, no problema em questão, pesa menos que o daquele país.

Não há dúvida que o gás proveniente do Norte de África poderia ser uma alternativa ao russo, uma vez que as reservas o permitem sem qualquer dúvida. Mas por aquilo que eu li na imprensa sobre a validade estratégica dessa medida e que dimensionaria a importância da península Ibérica, a França sempre colocou obstáculos, não concordando com a passagem do gasoduto no seu território, além Pirenéus. Pergunto em que ficamos, visto que, tanto quanto penso, o assunto não voltou a ser ventilado. De resto, conforme diz o Dr. Salles da Fonseca, a electricidade nuclear francesa não substitui a utilização do gás em muitas das nossas necessidades domésticas.

Resta dizer, em jeito de remate final, que tudo serve e é bem-vindo desde que nos libertemos de toda e qualquer dependência da Rússia. É lastimável chegar-se a essa conclusão numa era em que se julgava que a economia e os negócios tinham passado a substituir as bombas e os mísseis. A menos que venha a ocorrer uma revolução interna que apeie do poder a corja de criminosos que dele se apoderou, receio que caminhemos para um retrocesso civilizacional que poucos imaginariam. Os seus sinais são tenebrosos e até acho que a comunidade internacional ainda não avaliou toda a extensão da tragédia. Continua a haver países reféns do que lhe parecem ser os seus interesses, por essa Ásia e África, quer grandes quer pequenos. Foi muito oportuna a abordagem deste problema, Dr. Salles da Fonseca.


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